quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Cartas do meu Sanctum - Mudanças

Estamos a três dias da fatídica data em que, de acordo com um calendário de origem maia e outros oráculos, o mundo vai acabar no meio do estertor de inomináveis cataclismos. Mas como escrevi na última carta, é muito provável que nada de estranho ou maravilhoso vá acontecer, o que não quer dizer que não haja uma mudança em processamento. Na verdade, tudo o que existe está sujeito à lei da impermanência, portanto, em permanente mudança. Isto acontece desde o princípio dos tempos, desde o celebrado “Fiat Lux” que terá dado origem a toda a coisa criada. Como a Natureza foi infiel e não fez a vontade dos oráculos (pelo menos até agora), não estando assim previsto qualquer tipo de cataclismo de colossais dimensões, os mentores do 21/12 dizem agora que haverá uma mudança sim, mas no interior de cada um. Acho que têm razão, só não estou de acordo em que isso vá acontecer de repente, no dia 21 e que atinja todos os seres humanos viventes no planeta. É provável, e eu quero acreditar nisso, que estejamos no fim de um ciclo cósmico e no início de outro, mas estas coisas não cessam de um lado e começam de outro. Quero dizer que talvez estejamos a vivenciar há muito tempo esse final de um ciclo cósmico e, ao mesmo tempo, a vivenciar o início de outro. Isto pode levar muito tempo, várias gerações, apesar de em termos cósmicos o tempo não existir. Trata-se de uma transição onde o fim e o início acontecem em simultâneo. O fim e o início dos ciclos não são eventos separados, interpenetram-se – a Era de Peixes não terminou abruptamente em determinada data, assim como a Era de Aquário não começou numa data específica (ainda não sei se já começou). As mudanças no interior de cada um vêm se processando há muito tempo. O ser humano de hoje não é o mesmo de há cinquenta ou cem anos, ou da Idade Média. O ser humano hoje é um ser completamente diferente por causa das mudanças que se têm operado no seu interior ao longo do tempo. Mas atenção, essas mudanças não têm sido, geralmente, no melhor sentido, basta olharmos para a humanidade actual e ver a prevalência dos apegos à matéria, e a busca do “ter” em detrimento do “ser”. Apesar disso, cresceu bastante a busca por um caminho mais espiritual, ainda que em muitos casos as pessoas sejam levadas a autênticos equívocos. Essa busca existe e esta humanidade tem vindo da ser beneficiada pela elevação espiritual que muitos seres humanos têm conseguido atingir, pois como se sabe e já demonstrado, quando alguém se eleva ajuda a elevar, por pouco que seja, o resto da humanidade. No entanto, o egoismo da maioria prevalece e por isso estamos a viver uma verdadeira época de caos. Não é por acaso que as intituições (criações nossas) estão a falir ou faliram, que não existe confiança em ninguém, que só podemos confiar em nós próprios e no nosso mestre interior. Estamos todos envolvidos neste processo de mudança e talvez o caos em que somos obrigados a viver seja um bem, uma bênção, uma oportunidade cósmica de resgatarmos o “velho homem” e criarmos o “novo homem”, aproximando-nos talvez desse arquétipo chamada Adão, ou Adão Kadmon, que compartilhava com Deus as delícias do Paraíso. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h40 de 18 de Dezembro de 2012)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Cartas do meu Sanctum - 2012

Ora cá estamos todos na recta final do ano e todos somos testemunhas, se quisermos ser honestos, de que nada fora do normal aconteceu no mundo até este momento. Houve umas chuvadas, algumas inundações, um ou outro terramoto, pessoas que morreram de causas naturais (da Natureza...), uns tufões e ciclones, não me lembro se algum vulcão entrou em actividade, enfim, tudo dentro da mais estrita normalidade, inclusive com os seres humanos a continuarem a matar-se uns aos outros em guerras estúpidas, sem tomarem consciência de que colocam as suas vidas à disposição, muitas vezes, de interesses inconfessáveis. Os arautos da desgraça, como os costumo chamar, pois não conheço nenhuma profecia que não fale exclusivamente de desgraças, previram para ontem, dia 3, um alinhamento especial de alguns astros que iria trazer profundas alterações à pobre humanidade e alguns distúrbios ao planeta. Diziam ainda que tudo se passaria no signo de Escorpião (dia 3/12 não é no signo de Sagitário?) e que o oposto, o Touro, estaria com a cauda (??!) virada para as Pleiades. Alinhamentos desta natureza, como os astrónomos podem muito bem explicar, já aconteceram milhares de vezes na história desta humanidade, sem que a Terra ou os seres nela viventes tivessem sofrido algo fora do normal. Mas os delírios continuam. Agora é a data 12/12/12, que está aí à nossa frente e onde podem acontecer algumas coisas, pois só daqui a um século essa data se repetirá. Isto é apenas uma curiosidade matemática, ou de calendário, também tivemos 11/11/11, 10/10/10, e assim sucessivamente até ao 01/01/01. Estas datas acontecem nos primeiros doze anos de cada século. Entretanto aproxima-se a data maior, prevista pelos maias há uma porção de anos e, pasme-se, confirmada hoje até por programas de computador. Será no dia 21 deste mês de Natal que tudo acontecerá. Tenho uma certa desconfiança de que os maias não quiseram continuar o calendário por falta de material ou falta de paciência. Nestas coisas de previsões e profecias os arautos da desgraça não desarmam, têm uma enorme e fiel clientela ávida das coisas que eles anunciam e que se acha a viver momentos de grande espiritualidade. As alucinações aparecem sob a forma de mensagens (todas iguais) de anjos, arcanjos, e até de nomes de Deus segundo a Cabala, já que os espíritos mais humildes deixaram de render. Tudo serve para manter acesa a crença dessa enorme clientela maioritariamente feminina. Mas como até agora não aconteceu nada de especial ao mundo e ao ser humano, o discurso desses “profetas” da desgraça mudou: não, o mundo não vai explodir nem vai acontecer nenhuma das catátrofes anunciadas, o que vai acontecer é a humanidade passar a uma outra dimensão (4ª, 5ª?). Os bons vão poder renascer em outro planeta mais elevado espiritualmente, ou mais elevado na hierarquia (isto existe?) dos planetas, os maus irão para planetas de desterro para poderem reiniciar o seu processo evolutivo através de grandes dificuldades, e não será mais permitida a sua reencarnação na Terra. Isto suscita algumas questões interessantes. Desta forma, parece que não fica ninguém na Terra, dado que tanto os bons como os maus vão para outras paragens. Depois, quem ou o quê vai estabelecer essa separação? Deus? Jesus? Os Senhores do Carma? Quem é que vai definir quem é bom e quem é mau, pois em termos cósmicos o bem e o mal não existem? Os Senhores do Carma também não existem, a não ser que acreditemos numa pleiade de deuses, ou anjos, operando supercomputadores para analisarem a vida pessoal de cada uma dos largos bilhões das nossas almas. Será Jesus o encarregado da tarefa? Desconfio que não, pois o Mestre Jesus já deixou a sua mensagem na época em que por aqui passou e não me parece que esteja muito preocupado com o destino humano. Deus? Tem mais o que fazer, se é que existe como as religiões o pintam, do que tratar da vida pessoal de cada um. Obviamente que nada irá acontecer de extraordinário no dia 21 de Dezembro de 2012, excepto delírios e alucinações de alguns. Não iremos passar a outra dimensão, e é bom que comecemos a tomar um pouco mais de consciência do estado a que estamos a conduzir o mundo e colaborar, de alguma forma, para melhorar as condições de muitos milhões de seres humanos que mal têm possibilidades de sobrevivência. Que cada um possa fazer a sua parte para tornar o mundo um lugar melhor para se viver. Sinceramente, já estou muito cansado dos disparates em que transformámos a nossa vida, e muito cansado também desses pseudoprofetas, que não passam, na verdade, de oportunistas. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h53 de 04 de Dezembro de 2012)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Cartas do meu Sanctum - Em Busca da Perfeição

O ouro já foi chumbo em tempos recuados. Os diamantes e as pedras preciosas já foram pedaços de árvore, sujeitos a tremendas pressões durante milénios até se transformarem em carbono mais ou menos puro. Não sei se isto é bem assim, cientificamente talvez haja alguma incorrecção aqui, mas a ideia está correcta, na Natureza tudo parece conspirar para a perfeição. Um isótopo radioactivo é extremamente instável, mas todo o seu processo tende para a estabilidade. Se observarmos bem, tudo parece perfeito. A plumagem dos pássaros, o pelo dos animais, a imensa variedade floral, mineral, tudo nos parece em estado de perfeição, e parece existir um segredo para essa perfeição. O segredo parece estar numa sequência numérica ou matemática, conhecida como sequência de Fibonacci. A formação de uma folha, de uma flor, de uma árvore, de um mineral, parece seguir um padrão dessa sequência, que até podemos encontrar na casca de alguns moluscos. Não sei se a sequência também se aplica ao mundo animal, mas não ficaria surpreendido se alguém a encontrasse em animais ou em seres humanos. Além da sequência de Fibonacci, mas relacionado com ela, existe um outro segredo que os artistas pintores e “pedreiros” (mestres construtores) da Idade Média conheciam e aplicavam nos seus trabalhos: o número de ouro, ou a proporção áurea, produzindo uma harmonia dificilmente conseguida sem a sua aplicação. Em termos simples, o número de ouro corresponde a mais ou menos ao quociente 1,618 de uma dada divisão. Por exemplo num quadro poderá ser o resultado da divisão da altura pela largura, mas a sua aplicação toma formas bem mais complexas. A famosa “Mona Lisa” de Leonardo Da Vinci está de acordo com esse número de ouro. As catedrais góticas da Idade Média foram construídas também de acordo com a proporcionalidade desse número, por isso nos sentimos bem dentro delas, não é por se tratar de um templo, mas porque as suas proporções originam uma energia que nos faz sentir em harmonia. Por um lado temos a sequência de Fibonacci, que está presente em variadíssimas formas na Natureza, por outro o número de ouro, que permite ao ser humano aproximar-se da perfeição e da harmonia da Natureza. Independentemente da religião que professemos, ou não professemos nenhuma, sentimo-nos geralmente bem, em harmonia, dentro de uma catedral gótica, ou mesmo românica. O motivo está no padrão que presidiu à sua construção, o número de ouro. Infelizmente este conhecimento (ou a sua aplicação) parece ter desaparecido com os antigos “pedreiros livres”, porque hoje se constrói a esmo, sem respeito por nenhuma regra, excepto as referentes aos materiais aplicados e à segurança da construção. E o ser humano como é que fica no meio disto? Estará ele também em busca da perfeição? Claro que está, mas não da forma que muitos podem pensar ao ver o notável desenvolvimento tecnológico que a nossa época conhece. Não sei se o ser humano também está formado de acordo com a sequência de Fibonacci, mas estando ou não, a sua busca da perfeição realiza-se em outro plano, que não o físico. É no seu interior, no diálogo que puder ou souber manter consigo mesmo, que ele busca a perfeição. Pode ser que seja no seu nível psíquico, ou na sua alma, como agrada a alguns, ou até na procura de domínio do seu ego, mas sempre será no seu campo espiritual que o processo acontece. Nunca é do exterior para o interior, do mundo físico para o mundo espiritual. O mundo espiritual manifesta-se no mundo físico pelas acções, palavras e comportamentos de cada um, reflexo de todo um trabalho interior em busca da perfeição. À velha regra de ouro que nos diz que “o que está em cima é como o que está em baixo”, podemos acrescentar “o que está de fora é como o que está dentro, e vice-versa.” Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h58 de 4 de Setembro de 2012)

sábado, 1 de setembro de 2012

Cartas do meu Sanctum - O Bem e o Mal

Muito se tem dito e escrito sobre o bem e o mal, atribuindo-se determinadas definições a um e a outro Há os arautos do bem, porque ninguém assume que é do mal, ou seja, todos temos uma noção do que é o bem e do que é o mal, seja por influência de costumes, de educação ou por um apelo interior, que leva cada um, geralmente, a fazer o bem em vez do mal. Mas… será que o bem existe? O mal existe? Ou trata-se apenas de concepções humanas? Sem dúvida que ambos existem, mesmo que parcialmente ou no todo sejam concepções humanas. Na Natureza não existe nem bem, nem mal, tudo decorre como resultado das próprias leis naturais. Há quem defina o mal como a ausência do bem, numa correlação óbvia com a definição de trevas como ausência da luz. Mas atenção, toda a tradição nos fala que a luz despontou das trevas, basta ler, por exemplo, os primeiros versículos do Evangelho de João. As definições pecam por defeito pois não consideram um imenso leque de variantes. Ninguém é completamente bom, como ninguém é completamente mau, a condição humana é muito complexa, as variações de carácter são imensas, embora haja padrões de aproximação. Uma outra definição que me deixou um pouco perplexo foi a de que “o bem é conhecimento e o mal é ignorância”. Evidentemente que estamos perante um excesso de simplificação, quando nada na vida e especialmente essas concepções de bem e de mal podem ser assim simplificadas. A simplicidade não resulta da simplificação, as coisas mais simples podem ser muito complexas. E a propósito de coisas li recentemente uma frase que contém uma enorme sabedoria: “as coisas importantes da vida não são coisas”. Para podermos afirmar que o bem é conhecimento, temos, antes de mais, de saber o que entendemos por conhecimento. Conhecimento de quê? Conhecimento da vida resultante de experiências da mesma? Conhecimento científico? Conhecimento das leis que regem a Natureza? Conhecimento das leis divinas? Conhecimento do conjunto disto tudo ou de alguma especialidade? Considerando que isto tudo faz parte do conhecimento, não é também sabido que a diferenciação entre o bem e o mal num sábio é muito ténue? Quantos magos e bruxos escolheram o lado da sombra ao atingirem um profundo conhecimento das suas artes? Não se diz que forem eles os responsáveis pela destruição da Atlântida? Os sacerdotes de Amon no antigo Egipto tinham um enorme conhecimento, o que não impediu que muitos se tivessem dedicado à magia negra. Todos conhecemos pessoas com conhecimentos muito precários, mas que se dedicam de alma e coração a fazer o bem, a tratar dos idosos, dos doentes, dos dependentes da droga, e por aí fora. Essas pessoas, à falta de conhecimento que lhes é atribuída, parecem agir por simples impulso do coração. Tenho a felicidade de conhecer algumas pessoas assim. Por outro lado também conhecemos pessoas que se dizem muito espiritualizadas, presumivelmente dedicadas a fazer o bem, mas que vivem presas de um profundo egoísmo e são incapazes de estender uma mão para ajudar os seus irmãos mais desvalidos. Também tenho a infelicidade de conhecer pessoas assim. E por falar em mal, que tal a hipocrisia que regula a nossa sociedade profana e se estende a religiões e organizações místicas e esotéricas? As fáceis definições de bem e de mal escondem uma profunda hipocrisia. Nesta sociedade aceita-se o mal de forma hipocritamente passiva, fazendo lembrar uma frase célebre, julgo que de Luther King, que quando não se combate o mal está-se a colaborar com ele. Digo mais: está-se a fortalecê-lo. Foi assim que chegámos aos níveis de corrupção que envenenam a sociedade de hoje, não só a nível político (não esquecer que os políticos são resultado desta sociedade), mas abrangendo todos os sectores da incrível civilização que ajudámos a construir. O bem e o mal são encontrados em todos os níveis, basta estarmos atentos (e despertos) ao que acontece diariamente e não nos deixarmos alienar por receitas fáceis que pretendem explicar tudo. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 22h12 de 30 de Agosto de 2012)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Cartas do meu Sanctum - A Lei da Atracção

A lei da atracção existe? Ou é apenas mais uma das inúmeras teorias “new age” que nos têm invadido e que não correspondem a nada sério e concreto? É facto que esta lei tem sido profusamente divulgada sob a forma de livros e filmes difundidos na Internet e fazendo a felicidade material (leia-se financeira) dos seus autores. Esta lei existe de facto, mas os autores da sua divulgação, muitas vezes feita como se tratasse de um grande segredo numa aplicação de “marketing” quase perfeita, ter-se-ão esquecido de mencionar que há outras leis cósmicas além dela. Porque efectivamente se trata de uma lei cósmica, não uma lei da física como aquelas descobertas por Sir Isaac Newton e outros. Em termos gerais a lei da atracção tem sido divulgada como uma forma de atingir sucesso material e felicidade, coisas que os milhões de leitores e de crentes não terão conseguido atingir sem saberem porquê. A lei da atracção funciona em dupla polaridade, isto é, tanto pode atrair o bem como o mal, melhor dizendo, tanto pode atrair o aspecto positivo como o negativo. Como mal entendam-se os nossos medos, as nossas angústias, inseguranças, a sombra que faz parte intrínseca da nossa vida. Desejar o bem com fervor e convicção não é eliminar os medos que vivem dentro de cada um de nós. É por este motivo, essencialmente, que a tão propalada lei da atracção muito raramente funciona, pois ao mesmo tempo que desejamos o bem, os nossos receios mais profundos emergem, colocando como que um travão ao sucesso e à felicidade. Por outro lado há também uma lei cósmica que nos diz que, inexoravelmente, cada um irá ter o que merece, ainda que este merecimento possa não ter nada a ver com a vida actual. Aqui entra a questão cármica, a que muito poucos dão atenção e outros poucos dão atenção excessiva. Esta lei do merecimento, se é que podemos assim chamá-la, provoca muitas incompreensões, principalmente porque muitas vezes assistimos ou temos conhecimento de coisas que nos fazem descrer seja do que for. Por exemplo, porque é que uma criança nasce defeituosa, tem uma doença grave e morre, ou é envolvida numa luta fratricida, numa guerra, sofrendo as maiores privações e sendo ferida ou morta. Esta criança fez alguma coisa para merecer aquilo? Obviamente que só o entendimento cármico e de reencarnações poderá dar uma explicação razoável, o que não deixa de ser um sério argumento em favor dos que não crêem em nada, dos ateus, se é que existe algum ateu… Outra lei que não é mencionada é a lei de compensação. Tudo no universo tem que ser compensado, voluntária ou involuntariamente. O universo, tal como todos os seres vivos, manifesta-se permanentemente em dualidade. Por isso aquele que é rico deve compensar a sua riqueza com acções a favor dos pobres e necessitados. Por muito cruel que esta lei possa parecer, não há como fugir dela. A uma grande riqueza corresponde, na outra polaridade, uma grande pobreza. De um lado há os países ricos, do outro os pobres, tudo se completa num equilíbrio perfeito. Dito isto, alguém me perguntou um dia se a humanidade não teria hipóteses de atingir a harmonia, a paz e a felicidade colectiva. Respondi que não, que esta humanidade estava condenada a viver em dualidade e que a superação dessa dualidade nos faria passar a outra dimensão da existência. Mas esta superação seria individual e não colectiva, como alguns apregoam. Embora façamos parte do Todo, contribuindo para o bem colectivo, o caminho de ascensão é individual, tal como quando nascemos ou morremos. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h52 de 7 de Agosto de 2012)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Cartas do meu Sanctum - O CAMINHO DO MEIO

Todos nós já ouvimos falar e vimos escrito em textos e livros de várias tendências, do “caminho do meio”. O que é de facto esse “caminho do meio” e será que existe realmente? Em termos cabalísticos esse caminho seria representado pela coluna central da “árvore sefirótica”, também denominada por alguns como “árvore da vida”. Essa coluna central será o encontro ou união das energias emanadas das várias “sefiras” confluindo para a realização material ou o “Reino” em “Malkuth”. Visto assim, o caminho do meio está perfeitamente representado, desde a “Kether” (Coroa) até “Yesod” cuja ideia se manifestará em “Malkuth”, passando antes por uma “sefira” bem especial denominada “Tiphareth” à qual se atribui o simbolismo do coração. Mas se repararmos bem na representação da “árvore sefirótica”, excluindo pretensas interpretações de quem dela tem um conhecimento reduzido, verificamos que não existe nenhuma coluna do meio, ou que a mesma se acha cortada por uma “sefira” fantasma chamada “Daat”, também conhecida como o “Abismo”. Realmente trata-se de uma interrupção do caminho entre “Kether” e “Tiphareth”, separando o mundo da criação do mundo da manifestação, grosso modo. A ausência da coluna do meio ou a interrupção dela parece encerrar um ensinamento a que poucos dão atenção: que esse caminho do meio, sendo o ponto de equilíbrio entre o da esquerda e da direita, só poderá ser atingido fora do mundo da matéria e que está guardado por esse guardião eterno chamado “Daat”. Em termos materiais, o caminho do meio não existe. Ele não existe na “árvore sefirótica” da Cabala, como não existe entre as colunas do Templo de Salomão, cuja simbologia foi transposta para muitos templos maçónicos e martinistas. São as colunas “Boaz” e Jachim” cujo significado faz parte dos seus ensinamentos. Esta ausência de representação do caminho do meio mostra-nos a dualidade do ser humano, pois todas estas representações e interpretações referem-se à nossa vida e à forma como a desenvolvemos. Para haver um caminho do meio circunscrito, quer dizer, com regras rígidas e delimitadas para ser seguido, teria que o caminho esquerdo e o direito se anularem mutuamente, originando o vazio, portanto, não haveria nada no meio. No Budismo esta situação corresponde ao estado de “nirvana”, que é o estado livre de todo o sofrimento e existência individual. É um estado que os budistas referem como iluminação. Dizem ainda que ao atingir-se o “nirvana” se quebra o ciclo interminável de reencarnações. Embora perfeitamente definidos na ´”árvore sefirótica” e nas colunas do Templo de Salomão, os caminhos esquerdo e direito também não podem ser delimitados, pois são apenas reflexos de comportamentos e tendências. Isto significa que vivemos permanentemente em dualidade, entre duas forças opostas que podemos chamar de esquerda e direita, de negativa e positiva, de sombra e luz. É entre estas duas polaridades que vamos vivendo, ainda que delas tenhamos pouco conhecimento ou medo de as conhecer. Precisamos de ambas, da sombra e da luz, sem as quais não poderíamos viver. O mundo em que estamos inseridos, toda a existência material, é feita de sombra e luz, pois se fosse apenas sombra, ou apenas luz, não conseguiríamos distinguir nada. O caminho do meio será então um equilíbrio dinâmico, pois nada existe estático na natureza, entre a sombra e a luz. Dependendo de um infindável número de factores, entre os quais a nossa natureza íntima, o nosso ser interno, a sociedade a que pertencemos, podemos ser atraídos por um ou outro lado, dependendo do momento, das circunstâncias e, principalmente, da nossa consciência. Um autor americano escreveu que os monstros existem e vivem dentro de nós (sombra), e que às vezes vencem. A sombra contém os nossos demónios, a luz a nossa natureza mais nobre e elevada. A nossa consciência determinará se somos mais sombra ou mais luz. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h45 de 3 de Julho de 2012)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Cartas do meu Sanctum - O Medo da Morte

O medo da morte parece ser exclusivo dos seres humanos, pois enquanto animal é o único que tem consciência dela. Os animais possuem apenas o instinto de sobrevivência comum a toda a Criação e portanto, também comum ao ser humano através daquela parte do cérebro que herdámos dos dinossauros e que fica localizada na ligação da coluna com o cérebro. Este medo da morte tem provocado ao longo dos milénios em que esta sociedade tem existido, as mais diversas teorias acerca da continuação da vida para além da existência física terrena. Essas teorias têm formado um corpo a que poderíamos chamar de espiritualidade, dentro do qual vicejam as religiões, uma infinidade de seitas e muitos grupos de natureza ocultista, iniciática e esotérica. Na verdade a espiritualidade resulta da imensa preocupação do ser humano em relação ao propósito da vida física terrena e do medo enorme de que a morte seja o fim de tudo e que nada mais haja para além dela. Os não crentes e os ateus tentam ludibriar um sentimento que é comum a todos, pois no fundo têm tanto medo como os outros. Assim surgiram as religiões que, ao contrário dos avatares sobre os quais elas foram criadas e que existiram para dar um sentido mais elevado à existência humana (Jesus, Buda, Khrisna, etc.), basearam os seus ensinamentos ou a sua doutrina na pretensão de responder à pergunta sempre presente – o que haverá depois que eu morrer – e construíram toda uma estrutura social e política sobre esse eterno questionamento. A resposta das religiões permanecerá sempre na crença, pois nada do que possam tentar ensinar a respeito pode ser demonstrado. As organizações iniciáticas, ocultistas e esotéricas procuram reservar os seus ensinamentos apenas para os seus membros os quais, após serem “preparados” durante algum tempo estarão em condições de os compreender. Embora nem todos os ensinamentos ministrados por essas organizações digam respeito a essa questão suprema, a questão da morte, ela também é parte importante da sua nomenclatura. Muitas dessas sociedades iniciáticas e esotéricas reportam a sua origem ao Antigo Egipto onde, aparentemente, tudo terá começado em termos de espiritualidade. No Antigo Egipto as pessoas mais esclarecidas e de maior cultura tinham um medo terrível de morrer antes de terem feito as pazes com os seus inimigos. O antigo egípcio acreditava que a morte era uma passagem para a “terra dos mil anos”, que seria atingida depois de uma viagem tormentosa na barca que os transportaria. Chegados a essa “terra” ali ficariam durante os mil anos para depois renascerem. Tinham um medo terrível de ficar esse tempo todo a olhar para a cara dos seus inimigos, e assim esforçavam-se por estabelecer a paz com todos antes de partirem para essa viagem. Esta ideia tinha implícita a noção de renascimento ou reencarnação, ainda que ao fim de um longo período de mil anos. O cristianismo primitivo herdou esta noção de renascimento, mas depois a Igreja transformou-a em ressurreição dos mortos o que, na opinião de muitos, passou a constituir uma autêntica aberração, pois a ideia de ressurreição trás consigo a ideia de que é realizada com o corpo físico que nos serviu em vida. O cristianismo tenta demonstrar que é assim mesmo, e dá o exemplo da ressurreição de Lázaro e do próprio Jesus, que mais tarde aparece aos apóstolos com o mesmo corpo que tinha em vida. Evidentemente que não pode tratar-se do mesmo corpo, apesar da tumba ter sido encontrada vazia. Esta ideia de ressurreição, assim como as ideias de renascimento e reencarnação, pretende que a morte não existe, que a vida continua para lá dessa passagem tão temida. Mas a morte existe, o corpo físico morre, desaparece com o tempo. Se a morte existe para o corpo físico, o que é que transita afinal para um plano a que, principalmente grupos espiritualistas chamam de continuação da vida? A consciência? Os vários corpos subtis de acordo com teorias orientais? A alma? Na verdade quando uma luz se apaga por a lâmpada se ter fundido, a energia eléctrica continua lá, na ponta dos fios. Se colocarmos uma lâmpada nova teremos luz novamente, não a mesma luz antiga, mas uma nova usando a mesma energia (alma, espírito). Esta forma de renascimento ou reencarnação é a que faz sentido para mim. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 22h00 de 26 de Junho de 2012)

domingo, 10 de junho de 2012

Cartas do meu Sanctum - Segredos

O segredo é uma coisa inerente ao ser humano, pelo menos desde que a história humana é conhecida. Mas há diversas espécies de segredo. Há aqueles pequenos segredos individuais que revelam um pequeno vício, algo que se procura esconder do conhecimento dos outros, porque isso seria constrangedor. Há os segredos de alcova, alguma coisa que se procura esconder da mulher ou do marido, normalmente envolvendo algum relacionamento exterior o qual, quando descoberto, pode acarretar sérias consequências para a permanência do casal. Há os segredos de família, algo incómodo que permanece apenas no seio de uma família, vulgarmente ligado a posses materiais ou na taras genéticas. O segredo tem sido também uma forma de protecção das pessoas envolvidas em alguma actividade não permitida pela sociedade da altura. Estão neste caso organizações como a Maçonaria e as ordens iniciáticas, cujos membros corriam sérios riscos de vida, podiam cair sob a alçada da Inquisição, (activa na Europa até pelo menos o início do século 19 e só foi abolida pelo Vaticano em 1965) ou desagradar de alguma maneira às autoridades da região. Hoje, apesar da abertura que existe no ocidente, há ainda países e regiões onde a prática que não esteja de acordo com a religião vigente conduz geralmente à morte dos envolvidos. As próprias religiões têm os seus segredos que revelam apenas a uma elite, presumivelmente constituída por aqueles mais preparados para os compreender e não deixar que os segredos possam ameaçar a estrutura religiosa. Como exemplo claro desta situação temos a Biblioteca do Vaticano, cujo acesso a áreas mais restritas só é permitido a alguns privilegiados. Depois temos os chamados segredos de estado, que muitas vezes passam de governo para governo sem nunca termos a possibilidade de os conhecer. Este tipo de segredo, para além de outras consequências, tem provocado sérios embaraços a historiadores que, procurando compreender determinados acontecimentos, esbarram em situações para as quais não encontram motivo. A história desta humanidade está cheia de segredos deste tipo. Só para dar alguns exemplos, o papa João XXIII era ou não era rosacruz? E Napoleão Bonaparte era rosacruz? Se não era, porque é que existe um colar rosacruz cuja posse lhe é atribuída? Qual foi o motivo real que deu origem à primeira grande guerra? Nos tempos mais recentes, quem foi que assassinou Kennedy? Nos tempos actuais e graças especialmente à Internet, tem vindo a desenvolver-se uma forte campanha de informação (ou desinformação) relacionada com a Terra sobre as nossas possibilidades de sobrevivência num universo que se revela extremamente perigoso. Por um lado a poluição que causamos e que tem provocado o chamado “aquecimento global”, por outro lado a aproximação de uma grande catástrofe anunciada pelo famoso calendário maia e confirmada pelo “I-Ching” e até por programas de computador. Como previsões desta natureza atraem sempre muitos alucinados, as receitas são inúmeras acerca de como poderemos sobreviver e das modificações que iremos sofrer no nosso ADN (DNA). Não participando da “loucura” dos profetas da Nova Era anunciando o fim do mundo das e nas mais diversas formas, há no entanto algo que foge ao nosso entendimento. Apesar dos sucessivos desmentidos por parte de governos e de instituições governamentais, como por exemplo a NASA, temos a estranha sensação de que alguma coisa se passa, inexplicada, e que parece contradizer esses desmentidos. Parece-nos que estamos a lidar com segredos que ultrapassam o nível de estado, parece-nos que os segredos agora são de nível planetário. Se não é assim, porque é que se insiste no “aquecimento global” quando a ciência já demonstrou que o que está a acontecer é um “arrefecimento global” que nos pode conduzir para uma nova “idade do gelo”? Se não está prevista nenhuma catástrofe global a curto ou médio prazo, porque é que foi construída a nova “Arca de Noé”, enterrada sob o gelo do norte da Noruega e destinada a preservar as espécies vegetais terrestres? Se não existe nenhuma aproximação de um planeta intruso chamado Nibiru ou outro nome qualquer, porque é que se mandou construir dois ou três observatórios no pólo sul, na Antártida, cujas antenas estão viradas também para sul? Será porque as tabuinhas de argila da Mesopotâmia em escrita cuneiforme nos contam que esse planeta intruso invade o nosso sistema solar pelo sul? Porque é que os EUA da era Obama cancelaram todo o seu programa de viagens espaciais? Foi só por uma questão de poupança financeira? Estes são alguns casos que nos perturbam pois são sintomas de que algo grave vive escondido e não é do conhecimento geral. Parece que só agora, e mercê do progresso científico que atingimos nos últimos tempos desta humanidade, tomámos consciência de que a Terra gira sobre si e à volta do Sol a velocidades vertiginosas, de que o Universo em que estamos inseridos é muito perigoso. Tão perigoso que já por diversas vezes a vida na Terra foi praticamente eliminada, e não falo apenas dos dinossauros. Podemos estar à beira de uma situação semelhante, mas também não sei se a divulgação de algo que esteja para acontecer em breve ao planeta seria benéfica, gerando o pânico a nível global com trágicas consequências. Pessoalmente não estou nada preocupado, pois sei que a lei cósmica se cumprirá sempre, que poderei viver novamente neste planeta se houver condições para a vida, ou em outro qualquer planeta onde o Cósmico me permitir continuar a minha senda evolutiva. (Escrito em Birigui, São Paulo, às 22h10 de 5 de Junho de 2012)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cartas do meu Sanctum - Recomeços

Alguém disse e escreveu que a vida é uma sequência de recomeços, e assim é, de facto. Todos os dias, quando acordamos, recomeçamos a nossa vida, depois de uma noite em que estivemos ausentes, no sono. Quando digo ausentes, quero dizer isso mesmo, pois ninguém sabe, exactamente, por onde andamos quando dormimos e sonhamos – a teoria dos universos paralelos está cada vez mais presente nas nossas conjecturas. Mas quando despertamos o nosso corpo ganha vigor, encaramos as coisas de cabeça um pouco mais fresca, mas não eliminamos nada do que constitui a nossa vida, tudo permanece na nossa memória, os problemas, as preocupações, as alegrias, porque o novio dia é apenas a continuação de tudo. Carregamos sempre connosco o “fardo” que constitui a nossa vida. O termo “fardo” aqui não tem sentido pejorativo, significa apenas o conjunto que constitui a nossa vida, conjunto esse que pode ser mais ou menos pesado, ou até bem leve, dependendo do que fazemos no tempo em que nos é permitido viver. É assim também o renascimento ou reencarnação. Quando nascemos de novo, é um recomeço das vidas que deixámos para trás e, tal como quando acordamos de manhã, carregamos o “fardo” dessas nossas vidas passadas. Pesado ou leve, esse “fardo” irá condicionar os eventos da nossa vida. Mas ao contrário do que acontece quando despertamos de uma noite de sono, a memória parece ter desaparecido, não conseguimos lembrar-nos de nada das nossas vidas passadas. Ou lembramo-nos? Não nos lembramos de forma objectiva, mas algo nos diz que existe uma memória que reside no íntimo do nosso ser, de que não temos consciência, mas que, afinal, acaba por presidir ao nosso destino. Não é por acaso que tomamos uns caminhos em vez de outros; não é por acaso que determinadas acções nos repugnam ou seduzem; não é por acaso que escolhemos o bem e repudiamos o mal, ou o contrário. Porque somos o resultado acumulado de um infindável número de experiências de vida que expressamos na actualidade, contribuindo para a construção de uma humanidade mais fraterna, ou exercendo actividades prejudiciais ao ser humano e ao planeta, ou ainda permanecendo inerte e alienado de tudo o que se passa à volta. Quando recomeçamos a vida de manhã, quando acordamos, podemos lembrar-nos de algo bom que fizemos ontem, ou há dias, ou podemos continuar a alimentar o ódio que trazemos de conflitos absolutamente desnecessários e inapropriados. Podemos decidir-nos a fazer o possível por estabelecer a paz e a concórdia com quem se julga nosso inimigo, ou podemos acrescentar “achas à fogueira”, alimentando o conflito. Tudo isto depende de nós, depende do que o nosso mestre interior nos sugerir. De igual modo, quando nascemos, trazemos connosco o que os orientais nos ensinaram a chamar “carma”. Esse carma irá pontuar a nossa vida, ainda que disso não tenhamos consciência. Podemos dedicar-nos a construir uma vida equilibrada onde resida essencialmente o bem ou o amor, ou podemos divergir para actos menos correctos, para expressões e demonstrações de egoísmo, para pouca caridade e pouco amor. Em muitos casos podemos cair na atracção sedutora das trevas. Há quem se preocupe permanentemente com o carma, como se este fosse uma espécie de “espada de Dâmocles” sobre a cabeça, fazendo o possível por não agravar esse carma, temendo talvez uma espécie de julgamento final. Acho exagerada e desnecessária essa preocupação. A únikca preocupação que deve existir é a das nossas escolhas, se optamos ou não pelo bem. Depois, o carma se ajustará por si mesmo. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 22h17 de 31 de Maio de 2012)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Cartas do meu Sanctum - Sem Tema

Nem sempre temos um tema que possamos desenvolver, talvez por falta de inspiração, ou porque os temas mais conhecidos já estejam demasiado vulgarizados que, falar outra vez sobre eles não acrescenta nada nem estimula o interesse de quem lê.
Desta vez parece que não tenho tema, ou então, porque não, desenvolver várias ideias que, por sua vez, se transformem num tema mais abrangente?
Poderia falar sobre sonhos, por exemplo, uma coisa que interessa bastante às pessoas apegadas a tentar decifrá-los ou a tentar ver neles algo de profético, de previsão do futuro. Escrevi na última carta que o futuro não existe, assim como o passado, que tudo é eterno presente, ou a duração permanente, uma ideia que nos foi transmitida pela brilhante Helena Blavatsky. Mas a ideia da inexistência do futuro e do passado confunde-nos, porque não conseguimos abstrairmo-nos da sequência lógica do tempo.
Actualmente, segundo as pesquisas sobre universos paralelos, há quem defenda a teoria de que vivemos simultaneamente em vários universos, o que serviria para explicar alguns sonhos, viagens astrais, mediunidade, canalizações, todos esses fenómenos que somos habitualmente levados a considerar como objectos de crença, por não conseguirmos compreender e explicar como se manifestam, e porque é que se manifestam. Por outro lado esta teoria de universos paralelos ajudaria talvez a compreender melhor a sucessão de reencarnações ou renascimentos. Mas enquanto teoria nada ainda foi demonstrado, estando apenas na mente de alguns cientistas.
Carl Jung dedicou grande parte da sua vida aos sonhos, que ele considerava serem muito importantes na vida das pessoas. Jung via nos sonhos a projecção do subconsciente ou do inconsciente, esse “poço” que reside no nosso interior e nos faz, muitas vezes, tomar atitudes impensadas, que nos faz agir por instinto ou intuição.
Obras recentemente publicadas falam-nos da sombra e das projecções da sombra, querendo dizer que muitas atitudes agressivas ou pensamentos menos bondosos em relação aos outros, não são mais do que projecções da nossa sombra, daquilo que não gostamos em nós. Neste sentido, os sonhos como projecções da sombra ajudam a resgatar o inconsciente.
Os sonhos chamados de premonitórios ou proféticos são algo muito discutível, pois essa ideia coloca problemas à nossa capacidade de gerir a nossa própria vida. Acreditar em algo profético significa abdicarmos do nosso livre arbítrio, uma vez que independentemente do que fizermos, algo vai acontecer. Esses sonhos proféticos podem ser avisos que recebemos dessa forma e nos permitem tomar medidas para evitar que aconteçam. Conheço alguém que há muitos anos sonhou com a data da sua transição (morte), que aconteceria em meados de 2010. Já lá vão cerca de dois anos e não aconteceu essa transição, provavelmente porque a pessoa soube tomar as medidas adequadas em relação à sua saúde.
Em termos de profecias sabemos quanta especulação tem havido com o ano corrente de 1012, encontrando-se muita gente convencida de que não veremos o próximo ano. No entanto, a maior parte da população do planeta que já ultrapassou os 7 mil milhões (7 bilhões), não quer saber disso para nada, ou não sabe mesmo, preocupada apenas com a sua sobrevivência, como conseguir sustentar a família, ou até como conseguir ter água e alimento todos os dias. As especulações ficam para quem não tem mais preocupações ou tem pouco que fazer, e distrai-se morbidamente a tentar aterrorizar os outros.
O fim do mundo tem sido tema predominante na história humana. Desde o Cristo que terá anunciado que estaria connosco até ao fim dos tempos, à psicose colectiva de viradas de milénio, primeiro no ano 1000, depois em 2000. Quando os manifestos rosacruzes apareceram afixados nas paredes de Paris, no início do século XVII, grande parte da população e principalmente pessoas ligadas a religião ou esoterismo, estavam convencidas do fim do mundo próximo, pois o céu havia mostrado sinais inequívocos de que uma grande calamidade ia acontecer, devido à configuração especial de alguns planetas.
Para quem não tinha nenhum tema para desenvolver, parece acabei por tocar alguns.
Ad rosen!

(Birigui, São Paulo, 21h50 de 10 de Abril de 1012)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Cartas do meu Sanctum - Os Registos Acásicos ou Akasha

Já muito se escreveu sobre este assunto e muitas teorias foram desenvolvidas, levando por vezes a alguns pequenos equívocos.
Todos podemos equivocar-nos acerca de qualquer assunto, ninguém está livre de incorrer nesse erro. Assim, apesar do que escrevo ser o resultado de profunda reflexão, não tenho a menor pretensão de estar dentro da verdade. Estar dentro da verdade significa, para mim, estar próximo da verdade, na assunção de que esta, a verdade, ou a verdade absoluta, pode ser que exista, mas muito dificilmente temos acesso a ela. Quando muito conseguimos atingir a nossa verdade, que não é necessariamente a mesma verdade para os outros – cada um tem a sua verdade.
Acerca dos famosos arquivos ou registos acásicos, a que alguns dizem ter acesso, onde está realmente a verdade? Há também quem confunda arquivos acásicos com a aura ou o campo energético das pessoas, quando na realidade o que estes campos mostram é a saúde física e psíquica das pessoas, nada mais do que isso.
Mas há quem leia os arquivos acásicos, tenha acesso a eles e depois nos conte o que ali leu. Há alguns livros que foram assim escritos, segundo os seus autores. Paremos um pouco por aqui para poder explicar o que, no meu entender, são os arquivos ou registos acásicos: são registos feitos no Cósmico (ou no astral para algumas escolas), de tudo quanto aconteceu e acontece na Terra, de todos os pensamentos criados, de amor, ódio ou de qualquer outra natureza.
Para Helena Blavatsky, que disse ter tido acesso ao livro mais antigo do mundo, o “Livro de Dzyan”, o tempo e o espaço estão contidos numa imensa tela onde tudo é registado, desde o carma, com os seus débitos e créditos, a tudo quanto se pensa e acontece. Essa tela imensa é a “duração eterna”.
De acordo com essa tradição antiga, o tempo é uma ilusão que se produz pela sucessão dos nossos estados de consciência na nossa viagem através da duração eterna, e só existe onde há consciência, em que esta possa produzir a ilusão. O presente é uma linha matemática que separa a eternidade em duas partes, uma chamamos de passado e outra de futuro, mas trata-se da mesma duração eterna. O futuro e o passado são uma e a mesma realidade, se lhe podemos chamar assim. É o “Eterno Presente” dos místicos. Na nossa consciência, o tempo corre do futuro para o passado porque, à medida que vamos tomando consciência do «vir a ser» (futuro), passamos a ter consciência do «foi» (passado). Isto quer dizer que nem o futuro nem o passado existem, pois são ambos a duração eterna onde tudo permanece imóvel. Eles, o passado e o futuro, assim como o tempo, só existem como uma ilusão que é percebida pelos nossos sentidos.
Por muito difícil que seja a compreensão disto, algo nos diz que podemos estar dentro ou a rondar a verdade. A própria ciência encaminha-se a passos largos para essa compreensão, senão não faria sentido a teoria da relatividade de Einstein, a teoria das cordas ou super cordas, a nanotecnologia (já em aplicações práticas) e a percepção, cada vez mais presente de que o tempo não existe, que resulta apenas dos nossos estados sucessivos de consciência.
Tudo o que pensarmos e fizermos fica registado nessa tela da “duração eterna” a que chamam arquivos ou registos acásicos. Estes registos vão-se reforçando à medida em que mais pessoas forem elaborando formas-pensamento semelhantes, ou seja, quando muitas pessoas acreditam em determinado acontecimento, esse acontecimento passa a ser considerado verdadeiro, passa a ser verdade – está neste caso, como exemplo, a génese, o desenvolvimento e a solidificação de conceitos de algumas das principais religiões.
A possibilidade de consulta dos registos acásicos não nos garante a sua natureza, e deve haver o maior cuidado de não tirar conclusões precipitadas da sua leitura. Porque quando se diz que ali fica tudo registado, quer dizer tudo, a verdade e a mentira, o verdadeiro e o falso, as criações mentais mais elaboradas, os sentimentos de raiva, de ódio, de prazer e de amor, enfim tudo. Numa qualquer biblioteca podemos encontrar livros com os temas mais diversos, podemos encontrar romances criados pela imaginação dos seus autores, biografias geralmente muito subjectivas, livros técnicos e de ciências. Podemos encontrar também documentos ali depositados, nem sempre verdadeiros, podemos encontrar falsificações, fraudes várias, descrições mentirosas. Como exemplo bem esclarecedor, temos as cartas de Paulo incluídas no Novo Testamento da Bíblia, em que praticamente todos os teólogos concordam que, pelo menos metades delas são falsas, que foram escritas tardiamente por padres da Igreja.
Assim são os arquivos acásicos, tudo ali está registado, o bem e o mal, a verdade e a mentira, pensamentos construtivos e destrutivos, tudo, por isso deve haver o maior cuidado na interpretação dos factos que nos são relatados provenientes da sua consulta.
Ad rosen!


(Escrito em Birigui, São Paulo, às 23h00 horas de 3 de Abril de 2012)

quinta-feira, 22 de março de 2012

Cartas do meu sanctum - Peregrinação

- O que procuras, peregrino?
- Não sei, Mestre. Talvez a minha alma, que sinto perdida.
- Não procures fora o que não podes encontrar. Procura dentro de ti.
A peregrinação é uma prática, normalmente de natureza religiosa, que remonta aos primórdios da humanidade. Consiste essencialmente numa viagem a um local considerado sagrado. Essa viagem pode ser feita de vários modos, usando diferentes meios de transporte ou simplesmente a pé.
A verdadeira essência da peregrinação a um lugar sagrado implica um sacrifício, por isso as longas caminhadas a pé, exigindo do caminhante grande força de vontade para prosseguir através das dores do corpo e, quantas vezes, as da alma.
Existem no mundo numerosos locais de peregrinação, incluindo os centros marianos, sobre os quais falaremos em outra altura, quando abordarmos o culto de Ísis e das suas ramificações dentro do paganismo, até ao desembocar no culto mariano cristão.
No cristianismo os lugares de peregrinação mais conhecidos são Jerusalém, Roma e Santiago de Compostela. Neste último caso a tradição é anterior ao cristianismo, pois a região do cabo Finisterra foi sempre considerada um local sagrado desde a mais remota antiguidade. Jerusalém é simultaneamente um lugar sagrado para as três religiões do “Livro”, o cristianismo, o islamismo e o judaísmo.
O local mais sagrado do islamismo é Meca, cidade procurada por milhões de muçulmanos na sua peregrinação anual. Outros locais, Jerusalém como já foi dito acima e Medina.
Outros lugares há no mundo que atraem essa vontade de os procurar, lugares sagrados por algum motivo, por uma lenda, pela força de uma aparição, por ser um lugar de suplício, por se acreditar que ali existe uma energia diferente, por se achar que ali existe uma porta para uma outra dimensão, enfim, os motivos são inúmeros e muitos desses lugares ganham de repente grande projecção por algum factor externo que os faz sair da obscuridade e serem procurados por autênticas multidões. A peregrinação a Santiago de Compostela ganhou um incremento extraordinário após a publicação do livro de Paulo Coelho, “O Diário de um Mago”. Neste caso, já não é apenas uma peregrinação religiosa, mas também mágica, onde acontecem coisas extraordinárias ao caminhante.
Mas essas coisas extraordinárias não acontecem somente ali, acontecem em todo o lado na nossa vida quotidiana, das quais mal nos apercebemos ou sequer lhes prestamos atenção. No entanto, se estivermos atentos, descobrimos que afinal a magia existe, que faz parte da nossa vida.
A verdadeira peregrinação, como diria o Mestre, é a peregrinação ao nosso interior. Para isso precisamos de nos centrar no nosso ser, sem influências externas que nos desviem o foco. O sacrifício que se exige ao caminhante de Santiago faz com que ele se centre em si mesmo, as dores do corpo e as feridas dos pés, mais o silêncio das longas estradas e das serranias, fazem com que ele se centre na sua pessoa, no verdadeiro ser que é.
Mas para a peregrinação ao nosso interior não precisamos das dores das grandes caminhadas. Pode ser conseguida, tranquilamente, através da meditação, no recolhimento num local tranquilo em algum lugar da nossa casa. Não deve ser uma meditação conduzida por outrem, mas uma meditação solitária, onde se possa, no segredo do coração, entrar em contacto com o nosso mestre interior, nosso verdadeiro guia ao longo da vida.
É difícil chegar lá. Às vezes são necessários anos de prática e muita coragem para ultrapassarmos os obstáculos que nos impedem de olharmos para o nosso verdadeiro “eu”, o principal dos quais é a nossa sombra, o lado mais obscuro do nosso ser, que temos de enfrentar e aprender a lidar com ele, porque ele faz parte intrínseca da nossa vida, é necessário à nossa vida assente na dualidade – não seria possível viver se fossemos só luz ou só sombra. Se não houvesse sombras os nossos olhos não conseguiriam distinguir nenhum objecto.
O verdadeiro peregrino é aquele que não precisa de locais externos mais ou menos sagrados. O verdadeiro peregrino é aquele que mergulha para dentro de si mesmo, em busca do anjo, do guia, do guardião, que eu prefiro chamar de mestre interior, com quem pode estabelecer um diálogo silencioso, aprendendo o que não pode aprender em nenhum manual, nem com nenhum auto-denominado mestre.
A vida é a grande peregrinação que nos foi sugerida no momento em que nascemos, queiramos nós aprender com os ensinamentos que ela nos oferece de graça.
Ad rosen!

Cartas do meu Sanctum - Ano Novo R+C

Neste Equinócio da Primavera, no Hemisfério Norte, ou do Outono, no Hemisfério Sul, inicia-se mais um ano R+C, será o ano 3365. Este número pode ser reduzido a 8 ou 17 (3+3+6+5=17=8).
Ambos os números correspondem a cartas importantes no Tarot. O número 8 é o Arcano maior denominado “Ajustamento” ou “Justiça”. Representa, esotericamente, as forças de equilíbrio do Universo, o “Caminho do Meio” e também, em algumas leituras, a “Consciência Crística”
O número 17 é o Arcano Maior chamado “A Estrela”, e à semelhança do número 8, representa a visão cósmica e global. É o princípio de renovação e consciência de integração no Universo.
Sabemos assim, por esta pequena análise dos Arcanos do Tarot, que este será um ano muito especial para a Ordem, provavelmente o inicio de um tempo em que comece a prevalecer uma maior consciência universal, uma renovação da nossa forma de encarar a vida no seu contexto alargado, global e universal, talvez a caminho da aquisição de uma consciência cósmica.
Estas lâminas do Tarot falam-nos de renovação e elevação da nossa consciência. Que melhor projecto para darmos as boas-vindas a esse Ano Novo, para o recebermos com alegria e certeza de que estamos a caminhar para uma melhor humanidade?
Renovação não significa negar ou destruir o que foi feito, pois muito foi construído com muita força de vontade e muito sacrifício. A renovação não é fazer de novo, é continuar a “Obra” que já vem de alguns milénios, desde o tempo em que Tutmés III governava o Egipto. Renovação é dar-lhe uma roupagem nova mas não desmerecer dos nossos ancestrais, daqueles que através dos séculos souberam preservar o conhecimento antigo e doá-lo a quem o merecesse receber.
Neste início de Ano Novo, para além das comemorações que muito acertadamente devem ocorrer, recolho-me no meu sanctum e procuro sintonizar-me com os Mestres e com a Egrégora, pedindo a sua bênção (porque não a sua presença?) para todos os rosacruzes que fazem desta via a sua senda espiritual.
Que a harmonia do número 3365 (8, 17) se estabeleça em todo o universo rosacruz, nos seus organismos afiliados, nas suas Grandes Lojas, e que os seus responsáveis possam dirigir os destinos da Ordem com harmonia (caminho do meio), com rigor, justiça e visão cósmica.
A todos os “trabalhadores” místicos, oficiais e membros dos organismos afiliados, membros de sanctum, o desejo sincero de um excelente trabalho e que todos possam colher benefícios espirituais.
Ad rosen!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Cartas do meu Sanctum - Pode haver uma religião sem Deus?

O mais interessante é que Deus, seja lá o que for que se entenda por este nome, não criou nenhuma religião. Da mesma forma, o cristianismo não foi criado por Cristo, o islamismo não foi criado por Muhammad (Maomé) e o budismo não foi criado por Buda. Foram os homens (em sentido literal) que criaram as religiões. O feminino não está presente, ou tem um papel diminuto, nas chamadas religiões reveladas. O mesmo não acontece com muitas das religiões pagãs.
Foram também os homens que criaram a imagem de Deus, algo parecido com eles, uma figura com que se pudessem identificar e pudessem usar para domínio dos outros homens. Portanto, este conceito de Deus é uma criação puramente humana e tem muito pouco a ver com a verdade. Isto já foi devidamente explicado à antiga Sociedade Teosófica que, apesar de toda a inspiração recebida, caiu no entendimento comum do conceito de Deus.
A ideia de alguma maçonaria e de algum martinismo de substituir o conceito de Deus pelo do Grande Arquitecto do Universo é mais correcta mas peca ainda por imperfeita. Procura-se aqui, com o abstracto, dar uma ideia mais inteligente do conceito, mas é em função dele que essa ideia é criada.
A ideia do budismo sobre Deus, ou a divindade, embora não reconhecendo Deus como tal, e a divindade como um ser, apesar do culto de numerosas divindades, é uma ideia semelhante à da Cabala, principalmente à da sua “Árvore Sefirótica” onde, acima de “Kether” (A Coroa) não existe nada, é o imanifestado, o incognoscível. Esta ideia cabalística coloca a questão sobre a existência de Deus em parâmetros mais correctos, quer dizer, que ninguém pode conceber Deus pois Ele é o inominável, o incognoscível.
O budismo fala do vazio, ou vacuidade, como origem de tudo o que foi e é criado. Embora parecida com a ideia do “Ein Soft”, onde nada é dito acerca de vazio, mas de imanifestado, no budismo diz-se que é vazio, e que do vazio tudo foi e é criado.
Mas o vazio ou vacuidade entende-se como ausência de tudo, inclusive de qualquer forma de energia. Ora se nada ali existe, como é que pode ser criada alguma coisa? Os rosacruzes sabem isto e conhecem muito bem a parte de um ritual em que é dito que das trevas nada pode ser criado, que é precisa a luz para que a criação aconteça.
Pode haver uma religião sem Deus? Claro que não, porque o conceito de religião, apesar do seu significado de “religar”, está intimamente associado ao da divindade, seja ela um deus único ou um panteão de deuses – a ideia é sempre a mesma.
Uma das coisas mais difíceis que existem na actualidade é fazer com que as pessoas, quando falam de Deus ou o imaginam, entendam que a ideia desse Deus é um arquétipo muito poderoso que domina as suas mentes e controla as suas vidas. Destruir esse arquétipo é uma tarefa impossível, uma vez que está tão arraigado na sociedade e cimentado em inúmeros séculos até um passado remoto. Tarefa tão impossível que, em algumas ordens iniciáticas, apesar de se afirmar que o entendimento de Deus está no interior de cada um, o arquétipo permanece ligado à imagem arquetípica. Aqueles que conseguem libertar-se dessa imagem, libertam-se de um peso que carregam há muitos milénios, desde a época em que os deuses e os homens habitavam a mesma Terra.
Ad rosen!

(Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h45 de 15 de Março de 2012, sob a inspiração de Mestre K.)

quinta-feira, 8 de março de 2012

Cartas do meu Sanctum - Ignorância

Todos nós somos ignorantes, porque se não fossemos não estaríamos aqui a fazer nada.
A ignorância é o motor do nosso desenvolvimento, tanto material como espiritual. Sem ignorância não haveria ciência, tecnologia; não haveria descobertas que tornaram a nossa vida mais cómoda e confortável; ainda estaríamos provavelmente no nosso estado inicial quando começámos a viver na Terra. Sem ignorância não pode haver evolução, pois é ela que nos empurra para tentarmos sabe um pouco mais acerca de nós mesmos, da nossa vida, do que estamos aqui a fazer, qual o propósito e muito mais. Por isso somos buscadores, reconhecemos a nossa ignorância e vamos à procura, vamos em busca de uma sabedoria, de um conhecimento que sentimos existir no nosso interior, provavelmente um conhecimento primordial do qual temos apenas uma leve suspeita.
Há quem ache que sabe mais que todos os outros, que não sofre dessa coisa chamada ignorância. É aquele professor que acha que os alunos não passam de um bando de ignorantes e que ele faz o supremo sacrifício de os ensinar. Só que, como todos os pretensiosos, incorre num grande equívoco: ele não pode ensinar nada a ninguém, as pessoas aprendem se quiserem e se puderem – ele apenas fornece pistas, explicações, material para que as pessoas possam aprender.
As últimas conquistas tecnológicas a nível de informação vieram trazer uma nova abordagem da questão educativa assim como da organização social. Com o desenvolvimento da internet as pessoas recebem a informação em casa, sem censura (por enquanto), e podem aprender de forma muito mais rápida do que frequentando uma escola. As pessoas podem passar a ser menos ignorantes, ainda que exista muita desinformação na internet. Por esse motivo, alguns governos querem estabelecer uma forma de censura sobre o que ali se publica e querem também controlar o seu acesso.
Em termos espirituais a nossa ignorância impele-nos para uma religião, uma escola iniciática, uma escola esotérica, para grupos “new age” para associações de vária ordem, inclusive maçónicas (só algumas). Buscamos a resposta ou o esclarecimento para a nossa ignorância. Mas descobrimos com alguma frustração que ali não há respostas – ali há apenas caminhos pelos quais podemos encontrar-nos com o nosso mestre interior, se tivermos coragem e abrirmos a nossa mente. Tudo quanto buscamos está ali, no nosso mestre interior.
É preciso coragem para poder resistir à manipulação de consciências, tão usada pelas religiões, sem excepção, através da qual procuram dominar as populações a elas sujeitas, incutindo-lhes dogmas e doutrinações. Conseguem-no com bastante sucesso, pois usam técnicas bastante desenvolvidas para esse fim e não explicam a verdade porque como alguém disse, a verdade liberta.
Mal avisados são aqueles que se consideram a si mesmos mestres, gurus, professores, orientadores, julgando-se donos da verdade e senhores do conhecimento das coisas, como se o resto dos seres humanos não passe de um conjunto de ignorantes. Considerar outros ignorantes, só porque têm ideias diferentes das suas, é no mínimo falta de educação, falta de respeito pelo próximo, prepotência, falta de senso, falta de sentido ético e mais grave ainda, falta de compaixão, onde o amor não tem lugar.
Mas felizmente que nem tudo é assim. Apesar da confusão dos tempos que estamos vivendo, da desorientação que parece ter tomado conta de tudo, há muita gente que não se importa nem dá importância às luzes da fama, e se dedica de corpo e espírito ao bem dos outros, sem pedir nada em troca.
Na última carta publicada, subordinada ao tema “Espiritualidade”, recebi vários comentários elogiosos por e-mail, pelo “blog” e pelo “facebook”. A todos o meu agradecimento sincero e meu abraço fraterno.
Ad rosen!


Birigui, 8 de Março de 2012

quarta-feira, 7 de março de 2012

Cartas do meu Sanctum

ESPIRITUALIDADE

Esta é uma palavra que deixou as paredes dos templos, das igrejas, dos conventos, como tem vindo a ser usada há muitos e muitos séculos, e passou a fazer parte do dia-a-dia corrente, sendo aplicada a inúmeras situações e sendo utilizada arbitrariamente na execução de milhares de livros, na realização de convenções, palestras “workshops” (seja lá o que for que isto queira dizer), e cursos, supostamente dirigidos ao despertar da espiritualidade que, dizem, reside no interior de cada um.
Pode-se aprender espiritualidade em livros? Julgo que não, apesar de haver muita gente que tem ganho autênticas fortunas editando livros dedicados ao tema. Pode-se aprender espiritualidade em convenções, palestras e “workshops”? Penso também que não, que é um grande equívoco. Pode-se aprender espiritualidade em cursos de meditação ou algo semelhante? A minha resposta continua a ser negativa. Pode-se aprender espiritualidade nos templos, nas igrejas e nos conventos? Também não. Pode alguém ensinar espiritualidade a alguém? Não. Porque ninguém ensina nada a ninguém e a espiritualidade não se aprende.
O ser humano é um espírito experimentando a vida num corpo físico, logo, a espiritualidade é uma condição natural. Ele nasce espírito e morre espírito, embora esta designação de espírito tenha vários significados, alguns bem diferentes, consoante as escolas que a usam.
Não importa o nome por que é conhecido, espírito, alma, personalidade-alma ou outro qualquer. Trata-se de algo transcendente que engloba o nosso ser por inteiro e que nos faz saber que somos mais do que o corpo físico, que nos faz sonhar com lugares especiais, que nos faz desejar voltar para casa, ainda que não saibamos onde é que a casa é.
O ser humano nasceu espírito e em espírito cumpre o longo caminho das encarnações. Desde a mais remota antiguidade que ele sente que é um pouco mais do que o corpo. Começou por adorar as forças da Natureza, que o aterrorizavam. Estabeleceu vários cultos a vários deuses e assim foi subindo na escala evolutiva, até desembocar nas actuais religiões, supostamente detentoras de espiritualidade.
Mas pode haver espiritualidade numa igreja que criou a inquisição e se estabeleceu durante muitos séculos como um império governando o mundo? Poderá haver espiritualidade no mundo muçulmano, que propõe a “guerra santa” contra os infiéis, só que os infiéis são todos os que não são muçulmanos? Poderá haver espiritualidade entre o judaísmo, com toda a sabedoria dos seus livros sagrados e da Cabala, mas agarrado a formas de vingança corporizadas no “olho por olho, dente por dente”? Poderá haver espiritualidade no hinduísmo, no panteão dos 300 mil deuses, apesar da trindade original e superior, mas insistindo em costumes atávicos de verdadeira miséria? Poderá haver espiritualidade no budismo, cujos monges criadores das mandalas e cantores de inúmeros mantras, mas que prosseguem numa religião que alguém já chamou de “religião sem Deus”?
Evidentemente que sim, que pode haver espiritualidade dentro de todas essas religiões, pois a espiritualidade não reside na religião, mas em cada um dos seres que constituem os seus membros. Enquanto religiões e estabelecendo rituais e mediadores (sacerdotes, pastores, etc.) entre o membro e a divindade ou as divindades, perseguem interesses materiais pouco condizentes com a doutrina que apregoam.
Quem se debruça um pouco sobre a história das religiões verifica que se trata, na verdade, de uma história de sangue e de domínio e exploração por uma elite auto-constituída que se assume detentora da verdade e da salvação dos pobres súbditos. O próprio budismo, apesar das pretensões de alguns, não foge à regra. Nascido na Índia, onde é muito pouco apreciado, atingiu a sua mais forte expressão no Tibete, onde se estabeleceu um reino governado por monges, cujo principal responsável tomou o nome de Dalai lama, que não significa nenhuma atribuição espiritual, mas designa apenas o rei do Tibete. O que é que os monges fizeram pela população pagã durante séculos? Nada, absolutamente nada, mantiveram essa população nas condições da idade medieval europeia. Quando os chineses invadiram o Tibete em 1950, foram recebidos em festa pela maior parte da população.
Apesar de se considerar geralmente que a espiritualidade está ligada à religião, em muitos casos as coisas se confundem de tal modo que há quem ache que é a mesma coisa, de facto não está. A espiritualidade faz parte de todo o ser humano, só precisando de condições e oportunidade para se manifestar, o que pode levar várias vidas. As religiões e todas as formas de culto, as ordens iniciáticas e de cavalaria, os costumes tradicionais ritualizados nas sociedades mais antigas, são apenas caminhos ou meios através dos quais se pode evoluir e expressar a espiritualidade.
Aquele ou aquela que consegue expressar a espiritualidade de forma plena, está num grau de evolução superior e a espiritualidade passa a fazer parte de todo o seu ser, reflectindo-se nos seus actos, pensamentos e na vida do ser como um todo. Não há espiritualidade a meio tempo, tem que ser a tempo inteiro.
Ad rosen!

(A partir do 4º parágrafo, texto recebido por inspiração de Mestre K. no dia 6 de Março, cerca das 21h30 horas de Birigui.)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Em Busca de um Propósito

Crónicas Avulsas
por: Manuel Pina



EM BUSCA DE UM PROPÓSITO

Um filósofo zen do século XX, Bhagwan Shree Rajneesh, mais conhecido no mundo ocidental como Osho, ainda que este não seja um nome, mas um título equivalente a “mestre” dentro da filosofia zen, dizia que a vida não tem propósito, que a vida é alegria, contentamento, diversão, riso – sem qualquer propósito. Que a vida é a própria meta de cada um, que não há mais nenhuma meta.
Entendido no sentido literal, significa que para ele, Osho, as pessoas deviam portar-se como crianças, deviam sentir-se com a inocência das crianças, ou seja, sem qualquer sentido de responsabilidade que advém do facto de entendermos a vida com um propósito. Porque sem um propósito, e enquanto seres humanos, a vida deixaria de ter qualquer sentido. Sem um propósito não teríamos civilização, viveríamos ainda como simples animais, como era, aparentemente, a situação da Eva (ou das Evas) e do Adão (ou dos Adãos) descrita no Génesis da Bíblia, tendo assumido a liberdade e a condução do seu destino após comerem do fruto proibido. Na verdade, Adão e Eva, quando no Paraíso, deviam ser mais uma espécie de “flores de estufa”, ou os melhores espécimes de um jardim zoológico para distracção dos “deuses”, do que seres inteligentes e responsáveis.
Na Natureza e no Universo parece que tudo conspira para desacreditar a teoria das crianças inocentes, parece que existe sempre um propósito em todo o movimento permanente que faz com que tudo seja impermanente. O ouro já foi chumbo num passado remoto; o diamante já foi um pedaço de árvore; muitos isótopos radioactivos se vão transformando, perdendo a sua instabilidade e adquirindo cada vez mais a estabilidade de uma matéria qualquer.
A natureza humana precisa de um propósito para sobreviver, sem o qual deixaria de ser humana. Da natureza humana fazem parte as emoções, os sentimentos, os sonhos, a inteligência, a força de vontade, muitas virtudes, mas também muitos defeitos, e o propósito, se não houver mais nenhum, é o de equilibrar na vida essas duas forças antagónicas, essa dualidade que muitos chamam de luz e sombra. Ao contrário de algumas ideias acerca da transformação da sombra em luz, ou de superação da sombra, o que temos de fazer é aprender a lidar com a nossa sombra, trazê-la para o consciente e compreendê-la, para a podermos dominar, já que não a podemos eliminar. A sombra é necessária para o nosso equilíbrio psíquico.
A necessidade de um propósito constitui também a essência das religiões, pois elas oferecem sempre um caminho, um objectivo a alcançar, justificando assim as duras penas a que estamos sujeitos na vida. Ganhar o céu, ou pelo menos o purgatório, é o grande propósito do cristianismo e islamismo, já que ninguém quer ganhar o inferno. As religiões orientais propõem o renascimento ou reencarnação sendo o propósito a evolução através das inúmeras vidas. Para a tradição esotérica o propósito será o retorno à origem através de várias encarnações, um retorno ao nosso estado primordial.
Podemos não saber qual o propósito da vida, o que não quer dizer que, pelo facto de não o sabermos, possamos concluir que a vida é sem propósito. Por intuição, e não por inteligência, ainda que esta faça também parte daquela, sabemos que esse propósito existe. No coração de alguns de nós, talvez dos mais sensíveis ou sensitivos, como agora se usa dizer, bate de quando em vez uma espécie de saudade, uma ânsia de voltar a um estado que não sabemos explicar mas que representa a casa, o “Nosso Lar” como diz uma obra de Francisco Xavier, um lugar a que sabemos pertencer, sem contudo sabermos explicar esse sentimento. Talvez seja por não pertencermos a esta Terra, por estarmos aqui de passagem, de visita ou, para resgatar os nossos pecados acontecidos em outros mundos. De facto, como já vi escrito algures, o ser humano é o único animal que não se encontra adaptado aos vários climas da Terra: enrola-se em peles e agasalhos nos climas frios e despe-se quase totalmente nos climas quentes; procura aquecer-se no inverno e refrescar-se no verão. Será essa “Volta a Casa”, como tão bem está demonstrado na parábola do “Filho Pródigo” do Novo Testamento o propósito da nossa vida, ou das inúmeras vidas por que temos de passar?