segunda-feira, 18 de junho de 2007

Galileu Galilei (revisitado)

“ (…) Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.

Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas – parece-me que estou a vê-las –,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai, Galileo!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo,
que a si mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível de suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre, ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.”
(do Poema para Galileo de António Gedeão)


Todos conhecemos ou já ouvimos falar de Galileu e do drama que passou às mãos da Inquisição. Em pleno século XVI, Galileu tomou conhecimento das teorias de Copérnico, que estabelecia o sistema heliocêntrico do nosso sistema solar, quer dizer, que eram os planetas que giravam à volta do Sol, não este e os planetas à volta da Terra. Nas suas pesquisas de astronomia Galileu aderiu a esta tese, contrariando o postulado pela Igreja, o sistema geocêntrico, delineado por Ptolomeu no primeiro século da nossa era.
A teoria aceite e defendida pela Igreja ao longo dos séculos era a teoria Ptolemaica, geocentrista, onde o Sol e os planetas giravam em torno da Terra, a qual, na sua magnitude divina, era o sagrado repositório dos seres criados pelo próprio Deus, no topo dos quais estavam os seres humanos.
O que espanta e nos dá uma certa avaliação do poder da Igreja sobre a sociedade medieval, um poder absoluto que exerceu durante quase dois milénios, é que a teoria heliocêntrica não constituía propriamente uma novidade, pois já fora defendida por um astrónomo da Grécia antiga, Aristarco de Samos, que viveu entre 310 e 230 a. C. Aristarco defendia que o Sol era um corpo estático no universo, à volta do qual giravam todos os planetas conhecidos, inclusive a Terra. Hoje sabemos que também o Sol se move através da nossa galáxia mas, na época de Galileu, século XVI, a simples ideia de que a Terra não era o centro do universo era intolerável para a Igreja.
Mas então, se já era conhecida esta teoria heliocêntrica, qual a razão da Igreja ter imposto o geocentrismo? Porque os padres eram ignorantes? Não. A cultura e o conhecimento estiveram durante muitos séculos no seio das abadias e dos conventos, a Igreja era a sua detentora quase exclusiva. O problema que se punha era o de que, para a Igreja, a Terra era o local em que Deus se manifestara e criara o homem, portanto, a Terra, como único local escolhido por Deus para o homem habitar, teria que ser o centro do universo. Aceitando o heliocentrismo teria que aceitar também que, afinal, a Terra não era tão importante assim, que não passava de mais um planeta girando em torno do Sol.
Muito inteligentemente, Galileu, ameaçado pela Inquisição de ir parar à fogueira como herético, deu o dito por não dito. Ao fazê-lo salvou a pele, mas terá pensado certamente que a sua teoria não valia o supremo sacrifício. Na verdade, os astros continuariam a mover-se segundo a sua mecânica estabelecida, talvez por Deus, independentemente do que os homens pensassem. Sabia também que a semente das suas ideias já estava lançada, que havia outros, como Copérnico, que partilhavam as mesmas opiniões e que, alguém mais liberto das amarras inquisidoras iria desenvolvê-las. A maioria ou a quase totalidade da população era analfabeta e ignorante, portanto, não valia a pena insistir na sua verdade. Ela acabaria por aparecer, como de facto veio a acontecer.
Há quem ache que Galileu foi covarde, que não foi capaz de se manter fiel àquilo em que acreditava, que se rendeu à imposição da Igreja para salvar a vida. Eu acho que foi inteligente, porque podem enclausurar-se e matar-se pessoas, não se pode prender nem matar ideias.
A história de Galileu Galilei pode levar-nos a pensar que só poderia ter acontecido naquela época, em que a Igreja enfrentava a ameaça da Reforma, que deu origem ao Protestantismo e reunia energias para contra atacar, naquilo que ficou designado como a Contra Reforma. Naturalmente que houve um endurecimento das posições da Igreja, manifestado principalmente pelo seu braço justiceiro, a Inquisição. A Europa saía a custo de um longo período de trevas a que a Igreja a submetera durante séculos e pequenas luzes de liberdade começavam a aparecer um pouco por todo o lado. Hoje, uma situação como a que Galileu viveu seria impossível de acontecer, pelo menos nas sociedades ocidentais, dada a abertura e liberdade de informação que existe. Hoje, já não é tempo de dogmas, as pessoas já deixaram de ser instrumentos às mãos de um poder qualquer. Pois é, já estive mais convencido disto do que estou actualmente.
Os Galileus de hoje já não correm o risco de ir parar a uma fogueira de um qualquer auto de fé. No entanto, os autos de fé continuam a existir, de uma forma mais sofisticada, mas enganosa como sempre, usando meios de comunicação que não existiam no tempo de Galileu, para espalhar ideias erróneas, transformadas quase em dogmas. O mais triste de tudo é que os crentes são milhões, espalhados pelo planeta inteiro.
Vivendo hoje num mundo chamado de informação, em que toda a gente pode estar informada de tudo, somos permanentemente desinformados ou levados a conclusões erradas acerca de uma variedade de assuntos que preocupam actualmente a humanidade.
A Igreja já deixou há tempos de exercer o seu poder temporal e de impor os seus dogmas à generalidade das pessoas, apenas os mais fiéis ou menos avisados continuam apegados à sua doutrina retrógrada. Mas se a Igreja baixou os braços, outros se levantaram para os substituir no controlo mental e intelectual do ser humano. Refiro-me sem qualquer espécie de receio aos numerosos grupos que pululam por todo o lado e que integram o chamado movimento da Nova Era. Se há gente muito honesta e comprometida em preservar os nossos recursos naturais, em defender políticas racionais de poupança da água, da energia e em manter o planeta um lugar saudável para todos os seres que o habitam, há uma quantidade grande de oportunistas e especuladores que, mais não fazem do que tentar criar um clima de medo e ansiedade em relação ao futuro.
O aquecimento global é um facto, não há como desmenti-lo, mas não atinge ainda as proporções dantescas que alguns querem fazer crer. Um aumento de um ou dois graus na temperatura média dos oceanos é grave, pode provocar sérias mudanças climáticas e cataclismos, e pode dar origem a um certo degelo nas calotas polares. Mas a maioria das grandes cidades não vai desaparecer sob as águas em 2010, data anunciada à exaustão na Internet há alguns anos atrás.
A Internet é o meio ideal para esses grupos difundirem as suas paranóias, porque é um meio que não tem, praticamente, qualquer espécie de controlo, e não se exige nenhuma responsabilidade a quem faz circular mensagens que procuram aterrorizar as pessoas. Como os jornais e as revistas sérias não lhes dão guarida, a Internet é usada e abusada pelas teorias mais fantasiosas.
Que se defendam as baleias, os golfinhos, as focas e outros animais em vias de extinção; que se pressione fortemente os governos para adoptarem medidas de protecção às espécies; que se lute contra a emanação de gases tóxicos na atmosfera e contra a destruição das matas e das manchas verdes, tão necessárias ao nosso oxigénio vital. Mas que seja uma atitude séria e consciente e que não se use como pretexto para especulações e desinformação, que não ajuda nada a causa da defesa da Terra como planeta habitável agora e no futuro, mas que espalha o descrédito quando as pessoas se dão conta que foram enganadas. Alguns exemplos ilustram a desonestidade de alguns desses grupos ou indivíduos:

1. Quando no ano passado os rios da Amazónia quase secaram, matando milhões de peixes e outros seres que viviam naquele ambiente, logo se levantou um coro acusando o aquecimento global dessa catástrofe. Só não explicaram porque é que esse fenómeno tem acontecido ciclicamente na região em épocas em que não havia nenhum aquecimento global nem destruição da mata amazónica.
2. Os glaciares estão a derreter e logo imagens são difundidas na Internet mostrando um desses glaciares a desfazer-se e a despenhar-se no mar em grandes blocos de gelo. Tudo isto assistido por mirones que, para ali foram, talvez integrados numa excursão turística. Só não explicaram que esse fenómeno é conhecido há séculos e se passa no sul da Argentina.
3. Por muito que queiram culpar o aquecimento global pela desertificação em África, esta vem acontecendo desde que a África se tornou conhecida do mundo ocidental, portanto, não é um fenómeno recente que se possa atribuir directamente ao aquecimento global.

A comparação que aqui faço com a figura de Galileu pode parecer forçada a muita gente pois, afinal, são também alguns cientistas que dizem que a Terra caminha para uma destruição inevitável. Galileu representa aqui a figura do cientista honesto, aquele que não especula com as situações, cujas afirmações são resultantes de pesquisas sérias e que não dá certezas absolutas. Os “donos da verdade” estão do outro lado, usando e abusando da informação existente, retirando apenas a parte mais dramática para poderem espalhar o pânico e a ansiedade entre as populações. Ah, mas os fins justificam os meios, como alguns costumam dizer, na assunção de que, espalhando o pânico mais depressa podem levar o ser humano a tomar consciência dos malefícios da sua acção. É um ponto de vista que não partilho, pois não me parece que algo de positivo possa ser atingido através da mistificação e adulteração da informação. O que acontece com esta forma de proceder, como afirmei acima, é as pessoas deixarem de acreditar que realmente o planeta está em perigo, e que é preciso tomar medidas sérias para evitar a continuação da deterioração da sua qualidade de vida. Acho que todos temos direito a saber a verdade, mas a verdade que a ciência honesta nos pode facultar. Depois… é tudo uma questão de consciência.

domingo, 17 de junho de 2007

Diário da Fatinha (28)

Olá amigos cá estou eu de novo hoje é sábado e o meu pai saiu de manhã como é costume para jogar a bola com os amigos eu sei que ele não vai jogar nada à bola mas vai divertir-se e beber umas cervejas e depois volta pra casa muito contente e começa a contar as novidades à minha mãe que ela ouve pouco interessada porque o mundo dela diz ela é outro é o mundo da arte pois já pinta muito bem e as pessoas gostam muito do que ela pinta a minha tia guilhermina veio almoçar com a gente a minha mãe fez galinha de fricassé que é uma comida que o meu pai gosta muito ele diz que nunca viu ninguém com tanto jeito prá cozinha a minha mãe não gosta de ouvir isto porque diz que ele ainda pensa que o lugar da mulher é junto do fogão mas que está muito enganado e que é melhor ele aprender também a fazer alguma coisa na cozinha porque qualquer dia é capaz de lhe dar uma coisa e passar um dia sem cozinhar a minha tia guilhermina estava com um vestido novo com a saia um pouco acima do joelho ela não gosta de usar calças diz que não tem figura para usar calças e prefere os vestidos as saias e as blusas diz ela que lhe dá um ar mais feminino que a mulher se devia cuidar melhor mostrar o seu lado feminino em vez de tentar imitar os homens com calças de jeans e sapatos de ténis eu que sou pequena nunca usei calças a minha mãe sempre me compra uns vestidos muito bonitos que eu gosto muito só não gosto de usar os sapatos que ela me compra prefiro os ténis que são muito mais práticos pra brincar então eu prestei muita atenção à conversa da minha tia guilhermina com a minha mãe elas pensam que eu não entendo mas entendo tudo e parece que a minha tia guilhermina tem novo namorado mas que é um grande problema porque o namorado é casado e não quer largar a mulher a minha tia guilhermina diz que não está pra ser a segunda para ele se entreter que ele tem que decidir de uma vez por todas se fica com a mulher ou com ela ainda mais parece que ele tem também dois filhos mais ou menos da minha idade o que torna as coisas muito complicadas para ele decidir mas a minha tia guilhermina diz que não quer saber ele tem que se decidir e pronto não está pra esperar muito tempo e andar outra vez enganada o meu pai veio com a conversa de que a candidata do partido do sócrates à câmara de lisboa diz que vai permitir o casamento entre homossexuais e que até poderão ser realizados pelo santo antónio ele diz que gosta muito do sócrates mas como católico não pode aceitar isso que é uma pouca vergonha ainda pior se misturarem com os casamentos do santo antónio que é uma festa muito bonita que cada vez entende menos as pessoas a minha mãe disse-lhe que importância tem isso se querem casar que casem que ninguém tem nada com isso que as pessoas são livres de escolher o companheiro ou a companheira que quiserem o meu pai não gostou da resposta da minha mãe disse-lhe que desde que começara a pintar estava diferente quase que se pegaram numa grande discussão não fosse a minha tia guilhermina por água na fervura dizendo que não acreditava que fossem prá frente com uma ideia dessas e o meu pai levantou-se da mesa e foi prá cozinha resmungar que não há direito que as pessoas estão doidas se já se viu uma coisa dessas um ultrage a quem é católico uma ofensa pública a minha tia guilhermina ficou muito preocupada ao vê-lo assim a resmungar mas a minha mãe disse-lhe deixa lá que isto passa-lhe na internet li algumas coisas que não gostei nada que as pessoas são muito malcriadas mas outras coisas até achei muita graça como aquela a dizer que as decisões do governo deviam ser feitas por toda a gente na internet que assim é que estava certo pois toda a gente decidia as coisas importantes para o país mas não acho que esteja certo as pessoas sem internet não podem participar e ainda há muita gente que não tem internet seria injusto pra elas e depois pra quê que era preciso o governo não era preciso pra nada as decisões eram todas feitas na internet uma loucura eu acho sem pés nem cabeça como se fosse possível uma coisa dessas depois dizem também que vão fazer queixa ao parlamento europeu como se isso adiantasse alguma coisa até parece que no parlamento europeu as pessoas não têm nada que fazer senão ouvir as queixinhas faz-me lembrar a minha escola onde alguns meninos e meninas passam a vida a fazer queixinhas às professoras mas ninguém gosta deles por serem assim queixinhas e as professoras também não gostam de ouvir as queixinhas não fazem nada mas eu sei que não gostam o que é que essas pessoas esperam que com as queixinhas o parlamento europeu venha castigar o sócrates lhe venha puxar as orelhas um disparate acho que são pessoas que nunca cresceram aprenderam a fazer queixinhas na escola e agora querem continuar da mesma maneira como diz uma senhora na internet deviam ir todos outra vez prá escola e ter aulas de educação cívica que eu sou pequena mas já sei o que isso significa acho que essa senhora tem muita razão no que diz porque é uma vergonha ver gente adulta agir como se fossem crianças queixinhas e isso é muito feio o meu pai também fica muito zangado quando lhe falam em futebol que o benfica só ficou em terceiro lugar no campeonato e não ganhou nada nem a taça de portugal uma vergonha um clube daqueles que diz que é o maior clube do mundo mas não ganha nada só vive de glórias passadas o porto é que vai ganhando tudo soma campeonatos sobre campeonatos que o pinto da costa é uma grande filho da mãe que até está envolvido em coisas muito esquisitas que compra os árbitros para o seu clube ganhar e que houve uma senhora que se zangou com ele e escreveu um livro a contar um montão de coisas que já esteve pra ser preso mas não foi e o porto continua a ganhar uma vergonha e o meu pai não se conforma a minha mãe diz que o futebol é uma porcaria que é só negociatas que é melhor ele pensar em outras coisas mais úteis e agora vou dormir que já são horas de uma menina pequena como eu ir prá cama dormir.
Fatinha do Alentejo

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Diário da Fatinha (27)

Olá amigos podem achar esquisito que eu voltei depois de dizer adeus mas alguns amigos me mandaram mensagens e até telefonaram pedindo para eu continuar a publicar o meu diário que acham muito interessante que é uma pena que eu guarde essas coisas só pra mim que gostam muito do que eu escrevo não sei porquê afinal eu sou uma menina pequena e não sei nada da vida ainda como diz a minha mãe que diz que a vida tem sido ingrata pra ela mas que afinal não se pode queixar que tem muitas coisas boas que há gente em muito pior situação e eu penso logo nas crianças da minha idade e mais pequenas do que eu que não têm nada pra comer e pra beber coitadas isto é uma grande injustiça porque ouvi dizer que no mundo há comida que chegue pra todos e porque é que uns comem tudo e engordam que se farta e outros não têm nada e ficam muito magrinhos e acabam por morrer há muitas imagens dessas que circulam na internet que eu já vi que eu já sei mexer na internet mas parece que ninguém quer saber deixam as pessoas morrer assim uma vergonha não há direito os políticos são tudo a mesma coisa só querem encher o bandulho à conta do zé povinho como diz o meu pai que agora já nem quer saber da política comunista que dizem que dão de comer a toda a gente mas é mentira é tudo a mesma coisa agora o meu pai é todo do sócrates que ele acha que é um grande primeiro ministro e que andam praí com umas calunias dizem que ele não é engenheiro que o diploma dele é falso o meu pai diz que é uma pouca vergonha não há direito porque afinal ele é primeiro ministro e deviam ter mais respeito mas agora parece que ninguém respeita ninguém e depois andam também com umas histórias da ota pra lá ota pra cá e agora descobriram alcochete onde o sporting tem uma academia e onde treinam até a selecção e se o aeroporto vai pra lá o sporting fica sem academia porque não podem treinar com os aviões a passar por cima mas agora veio o dez de junho e toda a gente ficou muito poeta para lembrar o camões coitado que perdeu um olho lá em ceuta que eu não sei bem onde é que fica e não sei o que é que ele lá andava a fazer mas coitado escreveu os lusíadas que a minha professora diz que é uma das grandes obras universais mas não lhe serviu de nada porque morreu muito pobre e cego coitado é uma injustiça ninguém dá valor a quem tem valor e ele escreveu os lusíadas o que é muito importante mas o rei na altura era um completo idiota e deixou o camões morrer na miséria e depois foi pra alcácer-quibir andar à porrada com os mouros um idiota mas não foi sozinho foram muitos outros muitos nobres tão idiotas como ele e depois fizeram toda aquela choradeira do retorno mas ele nunca mais voltou e ninguém sabe se morreu ou não e depois as pessoas dizem que o dez de junho é o dia da raça não percebo de que raça estão a falar se é raça branca preta ou mulada dizem que é a raça lusitana mas os lusitanos eram uns doidos que não se entendiam passavam a vida à porrada uns com os outros até as mulheres sabiam andar a cavalo e iam prá porrada junto com os homens até que o viriato os pôs todos na ordem que era preciso combater os romanos uns malandros que tinham vindo lá da itália para tomarem conta da península ibérica mas o viriato era muito esperto e fez-lhes a vida negra até que o mataram à traição e os lusitanos ficaram outra vez muito doidos sem saberem o que fazer até que decobriram um oficial romano que estava zangado com os romanos e se chamava quinto sertório e foram-lhe pedir pra comandar os lusitanos na luta contra os romanos tudo uma grande confusão afinal lusitanos não é raça nenhuma e não sei porquê que anda muita gente agora a falar em nação e nacionalistas não entendo afinal se somos portugueses somos todos nacionalistas de portugal mas parece que há uns mais nacionalistas que os outros e acham que as coisas só mudam à porrada mas ninguém vai pra porrada que tem medo da polícia que não está pra brincadeiras e esses nacionalistas acham que só eles é que são portugueses faz lembrar os lusitanos que não se entendiam eu agora estou em férias da escola e o meu pai diz que a gente vai pró algarve fazer praia que ele agora já anda mais contente e até pode fazer férias pois foi promovido a chefe de secção e ganha mais do que ganhava a minha tia guilhermina diz que ir pró algarve em agosto é muito mau tem muita gente e é tudo uma confusão e as coisas ficam mais caras ela agora parece que está mais sossegada não tem namorado e diz que está à espera de encontrar o homem certo pra ela a minha mãe não acredita diz que é tudo conversa fiada que ela não consegue manter as pernas fechadas que é uma doidivanas a minha mãe às vezes diz estas coisas e depois arrepende-se de falar essas coisas na minha frente porque eu sou pequena e não devia ouvir certas coisas enfim uma confusão a minha mãe ánda muito contente com a pintura parece que as pessoas gostam muito do que ela pinta e diz que vai fazer uma exposição mas ainda não sabe onde mas eu não percebo porque é que as pessoas gostam do que ela pinta dizem que é tudo abstracto tem uns riscos e umas manchas e as pessoas vêem coisas lá que eu não vejo mas dizem que a arte é assim mesmo eu gosto mais dos quadros em que eu posso ver coisas casas e paisagens e barcos e mar e céu todas essas coisas e não aquelas manchas coloridas que a minha mãe faz não tenho brincado com a ritinha que ela foi pró brasil com o pai e a mãe passar férias mas eu espero que ela volte logo porque tenho muitas coisas pra conversar com ela e com o pai dela que é uma pessoa que sabe muitas coisas e eu aprendo muito com ele coisas que eu leio na internet e não percebo e ele depois explica-me como essa dum tal hugo marçal que agora parece que vai ser juiz mas não devia ser porque dizem que é um pedófilo eu já sei o que quer dizer que o pai da ritinha já me explicou uma vez que eu lhe perguntei mas também me disse que os tribunais existem pra julgar as pessoas e ninguém é culpado até prova em contrário e portanto as pessoas não devem ser condenadas publicamente porque isso seria a reedição do passado em que as pessoas denunciadas eram logo culpadas sem julgamento sem nada mas que é assim que o zé povinho funciona que as fogueiras da inquisição eram uma festa pra ele e toda a gente gostava de ver as pessoas a arder uma vergonha não tinham pena nenhuma das pessoas condenadas o zé povinho é muito cruel e eu fico aflita ao saber estas coisas porque as pessoas podiam ser boas umas prás outras que não custa nada mas gostam de ver os outros sofrer eu agora vou terminar que a minha mãe já me disse que são horas de dormir eu continuo a escrever desta maneira mas já sei escrever como as pessoas crescidas só que desta maneira as pessoas acham mais interessante e eu fico muito contente por as pessoas gostarem do que escrevo beijinhos a todos
Fatinha do Alentejo

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Magia ou Ilusão?

Todos estamos habituados a ver aqueles truques que alguns dizem que são de magia, mas na verdade trata-se de ilusão, por isso as pessoas que os fazem se chamam ilusionistas, e não magos.
Os truques de ilusionismo baseiam-se numa técnica muito simples, embora de muito difícil execução. Com palavras e gestos dirige-se e controla-se a atenção do espectador, de modo a ele não ver o truque que está a ser feito. As luzes e a decoração do cenário ajudam à ilusão. O jogo da vermelhinha é o protótipo: com três cartas ou três copos com uma bola dentro muda-se a posição com gestos precisos e rápidos, ao mesmo tempo que o executante vai dizendo uma ladainha, conversa para desviar a atenção. A partir de determinado momento, o espectador julga que sabe onde está a carta ou o copo com a bola e depois verifica que se enganou.
Ao contrário do que se pensa normalmente, não somos enganados pelos nossos olhos, somos enganados pelo nosso cérebro. Porque vemos com o cérebro e não com os olhos e, como o nosso pensamento é muito subjectivo, acabamos por ver aquilo que queremos ver e não o que deveríamos ver. Isto parece complicado, mas não é assim tão difícil de entender. A nossa atenção é atraída por aquilo que nos é mais agradável ou mais fácil. Quando um ilusionista no palco faz aquelas deambulações e aqueles gestos teatrais, atrai dessa forma a atenção do nosso cérebro, num processo lúdico de divertimento. Certo de ter desviado a nossa atenção, o ilusionista vai criando o seu truque. No final ficamos convencidos que não perdemos um detalhe do que ele fez e ficamos admirados com o resultado.
Naturalmente que há uma porção de detalhes que o espectador não vê. Alçapões, paredes falsas, fundos falsos, luzes coloridas etc., tudo fazendo parte da decoração propositada para iludir. Enquanto as coisas se limitaram aos palcos dos teatros ou aos circos, o trabalho era todo feito à vista e em tempo real. A televisão veio acrescentar novas condições a essa arte. Pela televisão nunca sabemos que truques cinematográficos terão sido aplicados.
No entanto, apesar de sabermos que tudo não passa de truques mais ou menos bem feitos, há casos que nos deixam a pensar. Lembro-me de ter visto um oriental, julgo que japonês, com uma moeda por debaixo de uma garrafa transparente. Cobriu a garrafa com um pano e, quando a descobriu, a moeda estava dentro da garrafa. Acontece porém, que a moeda nem sequer passava pelo gargalo. Como é que a moeda foi parar dentro da garrafa? Truque de cinema, dado que o vi pela televisão? Mas havia assistência à volta do ilusionista. Teria sido aquela assistência hipnotizada, enquanto a garrafa era simplesmente trocada por outra com uma moeda dentro? Tudo é possível.
Mas para além dos ilusionistas, que são não verdade artistas de palco, há outros fenómenos que fogem completamente da racionalidade e que não se enquadram no que conhecemos das leis da natureza nem se encaixam no saber científico dos nossos dias. Falo dos magos, gurus, ou o que se lhes quiserem chamar, que, aparentemente, têm a capacidade de produzir autênticos milagres.
Toda a gente já ouviu falar de “Yogis” hindus que conseguem caminhar sobre um braseiro sem se queimarem, conseguem beber um copo de ácido sulfúrico como se fosse água fresca e conseguem materializar e desmaterializar objectos. O que conhecemos sobre a materialização vem-nos da Bíblia, do Novo Testamento, onde se descrevem alguns milagres de Jesus, como a multiplicação dos pães e dos peixes, ou a da transformação da água em vinho. Isto não nos surpreende à partida, dado que Jesus é considerado filho de Deus e, portanto, com capacidades muito superiores às dos simples mortais que somos todos nós. Mas parece que essa capacidade não era exclusiva de Jesus. Segundo rezam algumas crónicas, havia uns magos na Caldeia que tinham também esse poder. Por outro lado, parece que nem todos os milagres atribuídos a Jesus terão sido realizados por ele, para por uma personagem conhecida do mundo esotérico e místico chamado Apolónio de Tiana.
A primeira reacção que surge em relação a estas coisas é a de não acreditarmos. Que provavelmente não é bem assim, que as crónicas dos magos da Caldeia talvez não sejam verdadeiras, que Apolónio de Tiana não tenha realizado nada do que se lhe atribui, enfim, fazemos uma reserva mental a tudo quanto contribua para desestabilizar a nossa crença de que apenas Jesus, pela sua condição divina, teria sido o único ser a realizar esses prodígios.
Pois é, mas parece que essas coisas continuam a ser feitas nos nossos dias. As habilidades dos “Yogis” hindus já foram testemunhadas por muita gente e, quanto a materialização de objectos, toda a gente já ouviu falar ou conhece o Sai Baba. No seu “ashram” no sul da Índia, onde já estive, ele materializa objectos que depois oferece às pessoas que os solicitaram, como relógios em ouro, pulseiras, etc. Parece que também tem a faculdade de vomitar da sua boca objectos metálicos em formato de ovos, cujo nome não me lembro de momento. Quando assisti a uma cerimónia com o Sai Baba no seu “ashram” não vi nada disto, mas acredito nas descrições que já foram feitas a respeito e até já assisti a um filme onde se vê ele vomitar os tais ovos.
Ainda há bem pouco tempo vivia na ilha de Chipre um indivíduo a que chamavam o Mago de Strovolos. Não fazia aquelas habilidades, não materializava objectos, mas tratava as doenças das pessoas de uma forma muito especial. Usava as mãos para retirar tumores ou para corrigir a estrutura óssea, sem qualquer derramamento de sangue e não deixando a mínima cicatriz. Tinha também a faculdade de tratar as pessoas à distância por meio de projecção astral. Verdade ou não, há um livro que descreve tudo isto e explica que os tratamentos não eram feitos com o seu corpo físico, mas sim com o seu corpo etérico. Ou seja, as mãos que entravam nos corpos para retirar os tumores e acertarem os ossos, não eram as suas mãos físicas, mas as etéricas, o que permitia que pudesse tratar pessoas por projecção astral, uma vez que o seu corpo físico não estava presente.
Há uns anos atrás apareceram nas Filipinas uns curandeiros que tratavam as pessoas da mesma forma. Isto originou um grande afluxo de gente oriunda de todas as partes do mundo, em busca de alívio para os seus males. No entanto, a acção desses curandeiros era uma mascarada, tendo sido demonstrado que não passava de truques de ilusionismo. As pessoas não eram realmente tratadas, mas de qualquer das formas muitas sentiam alívio, o que pode ser explicado pelo chamado efeito placebo, que não cabe aqui falar a respeito, mas que poderá ser objecto de uma futura crónica.
Sou por natureza céptico em relação a estes fenómenos mas, tenho que confessar, que há coisas para as quais não encontro explicação. No início dos anos sessenta estava eu a trabalhar em Luanda quando recebo a visita de um desses magos ou ilusionistas. Não me lembro do nome dele mas, na altura estava a funcionar em Luanda uma feira popular, em tudo semelhante à de Lisboa, com restaurantes, carrosséis e várias barracas de adivinhos, tarólogos, etc. Esse indivíduo também tinha uma barraca lá. Fiz um comentário acerca do meu descrédito dessas coisas e ele disse-me:
- Você não acredita? Então vou lhe dizer uma coisa. Tem no seu bolso três moedas e vou-lhe dizer que modas são e quais os anos de cunhagem.
Para meu espanto disse-me exactamente o valor das moedas e o ano de cunhagem. Fiquei simplesmente pasmado. As moedas estavam o meu bolso havia tempo e nem eu sabia qual o valor delas. Ele disse-me mais ainda, que eu não acreditava que ele fosse capaz de colocar uma pessoa em estado de levitação, como fazia no seu espectáculo todas as noites na feira. Disse-me para aparecer na feira que ele faria uma demonstração especial só para mim.
Nessa noite fui à feira. Entrei na barraca dele, que estava vazia de espectadores no momento e ele disse-me que ia fazer a demonstração que me tinha prometido. Chamou a sua assistente, uma rapariga que devia ser sua filha e, perante os meus olhos, colocou-a no ar, em posição horizontal, sem nada, aparentemente, a sustentá-la. Depois disse-me:
- Já que você não acredita, veja por si mesmo, procure com as suas mãos o que quer que seja que esteja a sustentá-la no ar.
Fui verificar. Passei as minhas mãos por todos os lados, por cima, por baixo, nada, não havia nada a sustentá-la. Saí de lá convencido que tinha de facto assistido a um fenómeno de pura magia, algo que transcendia a minha compreensão.
Nunca mais ouvi falar deste sujeito. Terminada a feira popular de Luanda, parece que se eclipsou. Nunca vi um anúncio seu em jornais nem nunca soube de ninguém que o conhecesse. Lembro-me que era um homem forte, relativamente baixo e de meia-idade.
Anos mais tarde, em Lisboa, alguém me recomendou um livro em francês. Tomei nota do livro e, durante uns meses nunca mais pensei no assunto. Chegado o mês de Junho, com a abertura da Feira do Livro, achei que talvez fosse uma boa altura de o adquirir. Passei pela Feira e fui à banca da editora perguntar pelo livro. A pessoa que me atendeu, um indivíduo em tudo semelhante nas feições e compleição física ao mago de Luanda, disse-me que na Feria não se podiam vender livros em línguas estrangeiras. Mas ao ver o meu desapontamento, perguntou-me qual era o livro que eu queria. Aí surgiu um problema, não me lembrava do título do livro. “Mas temos dezenas de livros em francês deste autor ainda não traduzidos para o português. Se me disser o título, trago-lho amanhã, mas não diga nada a ninguém que lho vendi aqui”. – Disse-me ele. Respondi-lhe que não me lembrava do nome do livro mas, que no dia seguinte, como trabalhava ali perto, lho traria.
No dia seguinte, ao fim da tarde, passei de novo pela banca, já com a informação sobre o título do livro. Logo que me viu chegar, a pessoa que me tinha atendido no dia anterior disse-me: “Já tenho aqui o seu livro”. E mostrou-mo. Fiquei atónito. “Como é que sabia que era esse livro?” – Perguntei. Como resposta, ele apenas sorriu. Limitou-se depois a embrulhá-lo e a desejar-me uma boa leitura. O livro era “La voie du silence” de Omraam Mikhael Aivanhov.
Magia ou Ilusão?