quarta-feira, 19 de julho de 2023

Honestidade (des)

Honestidade (des) Parece que o ser humano foi criado com um defeito grave de fabricação – a falta de honestidade. Criado à semelhança dos deuses (a Bíblia, apesar das más leituras, dá-lhe essa origem), parece que essa semelhança ficou mais pelos defeitos do que pelas qualidades. A honestidade seria uma dessas qualidades, mas como era rara entre os deuses, ou inexistente, pois passavam a vida em guerra ou a enganarem-se uns aos outros, o ser humano, mau grado as teorias do macaco original, foi criado para ser completamente desonesto. Quem não conhece os “mitos” gregos e os deuses do Olimpo? Parece exagero o que aqui começo por afirmar, mas se estudarmos bem a história desta humanidade durante os últimos milénios, verifica-se que ela é feita de mentiras, de trapaças, de castas, de gente poderosa e de gente miserável, neste caso a grande maioria, de lutas e guerras por domínio sobre a população do seu país e de outros países. Quanto mais desenvolvida tecnologicamente está a civilização, mais as pessoas se encontram enclausuradas mental e fisicamente em processos que apenas existem pela sede de poder de alguns. Em pleno século XXI assistimos a guerras devastadoras baseadas em mentiras, mostrando a arrogância daqueles que se julgam iguais aos deuses, arrogando-se o poder de vida e morte sobre a população. Uma das coisas que mais me impressiona e é prova de desonestidade, é o sacrifício de toda uma juventude que é obrigada a ir combater, a morrer ou ficar desfigurada, ferida ou deficiente para toda a restante vida, enquanto os que a mandam para lá permanecem nos seus “bunkers” ou afastados a uma distância segura o suficiente para não correrem qualquer risco, acabando alguns por serem considerados heróis sem terem corrido qualquer perigo. Longe vão os tempos em que os reis, imperadores, faraós, comandavam eles próprios os seus exércitos, apesar de serem bem protegidos por uma guarda especial à sua volta. A falta de honestidade ou, mais precisamente, a desonestidade, atinge todos os sectores da vida actual, mas nunca foi diferente, é de todas as épocas. A pior forma de manifestação é a desonestidade intelectual – a pessoa sabe que não sabe, emite considerações como se soubesse, mente ou ignora evidências que podem colocar em causa as suas opiniões e conclusões. Os casos mais constantes desta falta de honestidade são as religiões, supostas ciências como a arqueologia e ideologias políticas. As religiões por dominarem o poder há milénios através de crenças que não podem provar e demonstrar a sua existência; a arqueologia por estar presa a preconceitos sobre a existência histórica humana e por falta de humildade em reconhecer que não pode saber tudo e que conclusões de supostos “mestres” podem estar completamente erradas; as ideologias políticas que se presume servirem a raça humana, mas que na realidade servem apenas os seus ideólogos, com resultados algumas vezes catastróficos para a humanidade. Não é por acaso que está cada vez mais difícil hoje encontrar políticos sérios, não corruptos, que se prestem unicamente a servirem o seu país. Também é provável que sempre tenha sido assim, que salvo raras excepções, nunca tenha havido políticos sérios. A política e a religião sempre andaram de mãos dadas desde a mais remota antiguidade, porque sempre serviram o mesmo propósito de poder mas, era a religião que tinha precedência sobre a política, dado que supostamente tratavam da alma e da salvação, enquanto a política tratava de coisas mais materiais. A separação entre religião e estado, ideia muito fortalecida pela Revolução Francesa de 1789 e que veio a ter grande influência nas sociedades democráticas modernas, tornando os estados laicos, quer dizer, sem influência religiosa na administração e nas leis, uma vez que a parte religiosa pertence ao foro íntimo de cada um, funciona, na verdade, num número reduzido de países. A maior parte dos países, mesmo democráticos, tem a religião como forte suporte do poder ao ponto de ser ela o verdadeiro poder ou, determinar quem deve dirigir os destinos da nação através da sua influência junto da população. A arqueologia é talvez uma das ciências onde a desonestidade intelectual mais impera, seja por influência religiosa, como por exemplo o caso do Antigo Egipto, em que um dos locais do mundo com maior presença da antiguidade através de uma infinidade de peças e monumentos que têm sido descobertos e investigados, está entregue a uma direcção islâmica que recusa qualquer outra explicação a não ser a determinada pela sua religião. A maioria dos arqueólogos em todo o mundo segue as suas pisadas, talvez por orgulho e protecção do seu estatuto de especialista. A construção das pirâmides de Gizé tem sido objecto das maiores fantasias à falta de se saber, exactamente, como é que foram construídas, quem as mandou construir e quando foram construídas. Insiste-se, por exemplo, na ideia de que foram construídas como túmulos de faraós quando nenhuma múmia foi alguma vez encontrada dentro duma pirâmide. Para se poder determinar a antiguidade de determinado objecto ou construção é normalmente usado um processo através do carbono 14, um isótopo instável do carbono. Este tipo de medição necessita da existência de matéria orgânica, como acontece com as múmias e outros artefactos de origem animal ou vegetal. Ora as pirâmides não foram construídas com material orgânico, foram construídas em pedra, por isso não podem ser datadas. Outros processos de datação há, mas todos precisam da existência de matéria orgânica para se poder determinar a sua antiguidade. A atribuição da construção da Grande Pirâmide ao faraó Kéops, ou Kufu, choca-se com problemas matemáticos de impossível solução. Segundo os cálculos efectuados, a pirâmide deve conter cerca de 2,3 milhões de blocos de pedra pesando em média 02 toneladas, alguns chegando a pesar até 60 toneladas. Acredita-se..., termo usado pelos egiptólogos, uma especialidade da arqueologia dedicada ao Egipto, por aqui se vê a importância arqueológica do Antigo Egipto, que a construção da grande pirâmide teria durado cerca de vinte anos. Por contas simples dividindo os 2,3 milhões de blocos por 20 anos, dividindo o resultado por 365 dias e depois por 24 horas, chega-se à conclusão de que teriam de ser colocados 13 blocos por hora durante as 24 horas do dia e durante os 20 anos, sem nenhuma interrupção. Hoje, com toda a tecnologia, não seria possível a sua construção e o assentamento perfeito de cada bloco nesse período de tempo. O mais grave é dizer-se que a construção foi possível devido ao trabalho de centenas de milhares de escravos, ou seja, esses escravos tinham conhecimento duma técnica especial de construção que não passaram à posteridade. Este argumento é semelhante a muitas publicações actuais que defendem que o planeta Terra pode parar de repente a sua rotação, teoria alimentada por uma infinidade de razões de gente que não conhece os conceitos básicos da física. Se a Terra parasse de repente, tudo quanto existisse à sua superfície seria disparado para o espaço pela força duma coisa chamada inércia. Da mesma forma, o uso de milhares de escravos para arrastar as pedras durante a construção da pirâmide tem um limite – a partir de determinado número o peso das pessoas ligadas às cordas para puxar as pedras vira-se ao contrário, quer dizer, vai perdendo força pela inércia de tanta gente a puxar, portanto, uma tarefa impraticável. Há quem afirme que é possível e diz-se engenheiro, mas repito a questão: são 13 blocos pesando no mínimo duas toneladas, dois mil quilos, por hora, ininterruptamente durante vinte anos. Não seria mais honesto dizer-se que não se sabe, verdadeiramente, quem mandou construir a pirâmide, como foi construída e qual a sua verdadeira antiguidade? E dizer-se também que não se sabe para que serviam essa e todas as outras pirâmides? Por que se recusam sistematicamente evidências da existência duma civilização altamente desenvolvida, que na Mesopotâmia receberam o nome de deuses, ou anunnakis, e na Bíblia, antes da sua deturpação por conveniências religiosas, são chamados de elohins? Outro factor importante em relação à grande pirâmide é o conhecimento científico que permitiu a sua construção em termos arquitectónicos tão perfeitos e que não teve nenhuma evolução posterior. Como tudo o que existe sobre a Terra tende para a perfeição, evolui para a perfeição, porque será que esse conhecimento e essa técnica se perdeu definitivamente e nunca mais se construiu nada igual? O planeta inteiro está cheio de vestígios duma era remota em que se construía em pedra e ninguém sabe porquê. A maioria dos especialistas prefere olhar para o lado e agarrar-se aos seus preconceitos estabelecidos em cátedra, como se fossem conhecimento científico. Não, não é conhecimento, é desonestidade. Os poucos que procuram outras explicações, às vezes exagerando nas suas próprias crenças, são descriminados, desautorizados e ridicularizados. Há livros, apoiados em estudos de especialistas de várias universidades espalhadas pelo mundo, que explicam como esta civilização começou na Suméria, como cidades-estado se organizaram à volta dum templo dedicado a determinado deus, mas não explicam como essas populações foram ensinadas, como é que deram nome ao seu deus, como é que aprenderam a organizar-se dessa maneira. Em livro recente, o antigo tradutor de textos antigos no Vaticano, Mauro Biglino, diz-nos coisas muito interessantes que os teólogos e os fanáticos bíblicos não gostam. Ele diz e demonstra que a Bíblia não é um livro sagrado e que não fala nunca em Deus, mas em Elohins. O não ser um livro sagrado, como muitos outros espalhados por outras religiões que não o cristianismo, não surpreende porque a Bíblia tem sofrido ao longo do tempo alterações no texto de modo a conformar-se com a vontade de quem tem o poder religioso na época. Muitas dessas alterações adulteraram completamente os textos e significados originais. Uma das versões muito usada actualmente é a versão do frade João Ferreira de Almeida, que é a preferida das igrejas pentecostais e neopentecostais e que teve a sua última revisão completa em 1956. Mauro Biglino diz o seguinte: “Uma história que os detentores do conhecimento idealizaram, utilizando os textos considerados sagrados como mero pretexto, como inspiração para dar voz a uma criação artificial”. Para mim, o Antigo Testamento só é verdadeiro porque se trata dum conjunto de escritos antigos que relatam, na opinião dos antigos escribas ou de quem os mandou escrever, a história de Israel, ou do povo judeu. Chamar a Jeová, Yahweh ou Javé, nunca foi a intenção de o considerar o Deus criador de todas as coisas, criador do Universo, das galáxias, etc., porque esse Deus não se deve nomear. Quem o transformou nesse Deus criador de todas as coisas foram os cristãos, os rabinos judeus nunca o consideraram com tal. Manuel Pina Julho de 2023

sexta-feira, 26 de abril de 2013

RELEMBRANDO ABRIL Era Primavera, final de Abril, o tempo estava morno. Na noite de 24 fomos ao cinema, ao velho Tivoli, ver o filme chamado “A Golpada”, com Paul Newman – que raio de coincidência... Já madrugada o telefone toca, atendo estremunhado. Uma voz do outro lado: - Já ouviu o rádio? - Que rádio? – perguntei, caiu algum avião? - Não, não é esse rádio. É a emissora. A Rádio Renascença ou a Rádio Comercial. Parece que começou uma revolução. Saltei da cama e fui ouvir o aparelho de rádio. Era verdade. Parecia que havia uma revolução, cujos soldados já tinham ocupado aquelas emissoras de rádio. Ouvi ainda várias vezes o “Depois do Adeus” na voz do Paulo de Carvalho, e o “Grândola Vila Morena” na voz do Zeca Afonso. O dia amanheceu sem eu ter dado conta, colado ao aparelho de rádio, sorvendo todas as notícias que iam chegando. Parecia que o velho regime ia finalmente cair. Não me lembro do que aconteceu a seguir durante aquela manhã. Não sei a que horas liguei a televisão para ter imagens em directo do que se passava no Largo do Carmo e do Terreiro do Paço, que parecia ter sido bombardeado por uma corveta da Marinha. Mas parece que a corveta só tinha disparado dois tiros e a sua tripulação tinha aderido à revolução. Acho que a determinada altura do dia 25 a emissora de televisão tinha sido ocupada pelos revoltosos. Era Abril, era Primavera, parecia que a nação ia finalmente ser resgatada, ia ressuscitar do longo período sombrio de mais de quarenta anos. Renascia a esperança, embora a esperança seja duvidosa, pois não se sabe se é um bem. Os antigos gregos desconfiavam da esperança, pois fora a única coisa que restara no fundo da “Caixa de Pandora” quando esta a abriu e espalhou todos os males pelo mundo. Se a esperança ficou no fundo, é porque também era um mal. As pessoas foram chegando e foram-se sentando, olhando para a pequena tela do aparelho de televisão que continuava a transmitir o que se passava. Alguém tivera a ideia de colocar flores, cravos vermelhos, nos canos das armas, ideia que veio a ficar como o símbolo da revolução de Abril. As pessoas continuaram a chegar. Já não havia cadeiras, sentaram-se no chão. No outro aposento as crianças brincavam ruidosamente. Para o fim do dia tudo estava consumado, Marcelo Caetano tinha sido aprisionado e recolhido num “chaimite” que o levou para algures, juntamente com o então ministro dos Estrangeiros. A nação renascia em flores e festa. Nascia também o “espírito de Abril”, que fez mover multidões, alheias à verdadeira guerra que se estabeleceu entre as várias correntes partidárias, desde a extrema esquerda à extrema direita. O “espírito de Abril” morreu no dia em que mataram o Sá Carneiro e o Amaro da Costa, crime hediondo que ficou impune, pela covardia de muitos e o conluio de outros. Hoje a nação está de novo muribunda. Nas palavras de um grande amigo, podemos estar a assistir à maior tragédia da nossa História. Desapareceu a esperança, o “espírito” há muito morto. Nada resta, somente o nevoeiro como disse Fernando Pessoa. No fim do dia abrimos o champanhe. Afinal... era o dia do meu aniversário. Nesse dia já parecendo tão longínquo, eu fazia trinta e um anos de idade.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Cartas do meu Sanctum O PASSADO DO FUTURO Há quem diga que o tempo não existe, que não é mais do que uma sucessão de percepções da nossa consciência. É bastante difícil compreender isto quando nos deparamos a todo o momento com variações da escala do tempo. Se um dia tem vinte e quatro horas é porque o nosso planeta leva esse tempo a fazer uma rotação completa; se o ano tem mais ou menos trezentos e sessenta e cinco dias é porque a Terra leva esses dias todos a rodear o Sol. Tudo se passa a velocidades vertiginosas das quais não temos a menor consciência. Se o tempo não existe, como compreender a vida desde o seu nascimento até à sua morte, como ocorre com todos os animais e vegetais? Como compreender aquelas fotos de família que nos mostram como éramos quando crianças? Como compreender o desenrolar da História ao longo dos séculos e dos milénios? Para alguns cientistas menos comprometidos com concepções conservadoras, o tempo é uma das dimensões em que vivemos. Assim, não vivemos em três dimensões, mas em quatro. Cientistas mais arrojados nas suas projecções dizem que podemos estar a viver, pasme-se, não em três ou quatro, mas em dezanove ou vinte e uma dimensões. Considerando esta última hipótese, as várias teorias de que estamos a sair da terceira para entrar na quarta ou quinta dimensão estão ultrapassadas. De acordo com alguns elementos da Tradição Primordial que a Teosofia adoptou, o tempo é constituído por uma imensa tela onde tudo é registado. Essa tela é o “eterno presente”, não existindo portanto, nem passado, nem futuro. Então, não existindo passado quer dizer que vivemos sempre nesse “eterno presente”, o que torna a compreensão sobre o tempo um pouco mais complicada. Se o tempo é uma das quatro dimensões em que vivemos, parece-me ser a dimensão da percepção, da mesma forma que só temos a percepção das outras três dimensões através da dualidade de luz e sombra, dos vários cambiantes da luz. Se não houvesse sombras, apenas luz, não conseguiríamos distinguir nenhum objecto. Para aumentar ainda mais a dificuldade de compreensão da natureza do tempo, as recentes teorias das cordas e das supercordas vêm dizer-nos que vivemos simultaneamente em vários universos, que o nosso universo não é único, que existem muitos universos que seriam como bolhas de sabão em contacto umas com as outras. Esta teoria parece disparatada, mas talvez nos ajude a começar a compreender muitos fenómenos para os quais não conseguimos ainda explicações definitivas ou satisfatórias. Refiro fenómenos como os sonhos, a paranormalidade, a mediunidade, as projecções psíquicas para fora do corpo, as memórias que nos chegam sem sabermos de onde. Tal como a teoria de Einstein sobre os buracos de minhoca, que nos permitiriam cortar muito caminho em eventuais viagens espaciais, também esta uma teoria muito difícil de compreender, a dos universos paralelos peca pela mesma dificuldade. No entanto, talvez estejamos no limiar de descobertas espantosas nunca antes imaginadas. Resta saber se a actual humanidade estará preparada para esse verdadeiro novo mundo, ou se terá de haver uma purga, conforme rezam inúmeras mensagens canalizadas por médiuns, assim como também acreditam os espíritas. Acredito sinceramente que depois da imersão, do mergulho na matéria que está a acontecer com a grande maioria dos seres humanos, uma aurora inovadora nos iluminará e transformará a Terra num lugar muito mais aprazível para se viver. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 22h03 de 26 de Março de 2013)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Cartas do meu Sanctum O PAPA HUMILDE Mais uma vez uma profecia saiu “furada”, quero dizer, não se realizou, apesar das eventuais interpretações simbólicas que se possam fazer. De acordo com a profecia dos papas cuja autoria se atribui a São Malaquias, um bispo irlandês do século XII, este papa, Francisco, será o último e a Igreja terminará em grande tribulação. Mas a profecia diz também que o nome dele seria Pedro, o Romano, que tomaria o nome de Pedro II, dado que o primeiro é São Pedro, o apóstolo que, segundo a Igreja de Roma terá sido o seu fundador. O papa agora eleito não tem Pedro no seu nome e não é romano, mas argentino, o que constituiu uma notável surpresa, boa ou má conforme os interesses em jogo, para todo o mundo católico. O papa Francisco (ainda não entendi porque é que não é Francisco I) foi eleito numa altura em que a Igreja atravessa uma crise mais séria do que vulgarmente se pode conceber. A renúncia de Bento XVI, apesar das piedosas explicações de vários integrantes da hierarquia católica, tem razões que o mundo desconhece. Não sou normalmente partidário de teorias de conspiração mas, os sucessivos escândalos que têm abalado o Vaticano, envolvendo muitos daquela hierarquia, fazem-nos pensar que haverá poderosas razões ocultas que obrigaram Bento XVI a desistir de lutar e assim renunciar. Este papa Francisco tem surpreendido pelas várias quebras de protocolo e por actos de humildade pouco comuns na pessoa do Sumo Pontífice da Igreja Católica. Estas atitudes têm entusiasmado o mundo católico, como se isso fosse realmente importante para a missão reservada a Francisco. Era talvez importante quando arcebispo de Buenos Aires e que gostava de ter uma vida simples e de contacto com os pobres, mas não como papa, pois não se pode esquecer que ele agora é um chefe de estado, o chefe de estado do Vaticano. Portanto, recusar o uso de insígnias e a utilização do carro de luxo parece-me mais um processo de “marketing” tentando fazer passar uma imagem de humildade e despojo. O que importa saber é como é que ele vai enfrentar a crise que se vem agudizando nas últimas décadas, como é que vai enfrentar o poder de alguns cardeais e como é que vai agir em relação aos problemas sempre pendentes e que nenhum papa até hoje conseguiu resolver. O único papa que tentou renovar de facto a Igreja foi João XXIII, que conseguiu convocar e iniciar o Concílio Vaticano II, mas morreu antes de ver a sua obra terminada. Logo os sectores mais conservadores tomaram as rédeas e reduziram drasticamente as conquistas desse Concílio. Será que este papa irá aceitar uma maior participação da mulher na Igreja? Será que terá coragem de resolver de uma vez por todas, dado que não se trata de um dogma, a questão do celibato dos sacerdotes? Será que terá uma atitude mais compreensiva em relação à homossexualidade? Será que vai aceitar os processos contraceptivos, como o uso de preservativos, evitando a continuada contaminação pelo vírus da sida (aids), como tem acontecido em várias regiões de grande influência católica? Será que vai conseguir sanar a corrupção financeira que grassa no Vaticano, afastando os seus responsáveis, ou levando-os a julgamento? Será que irá aceitar a “Teologia da Libertação” nascida no continente de onde é natural e condenada por duas vezes pela inquisição moderna e pelo anterior papa, Bento XVI? Será que irá conseguir que a Igreja se volte para os pobres, quando tradicionalmente tem estado sempre ao lado dos ricos, poderosos e opressores, se não de forma explícita, pelo menos implicitamente. É uma enorme e árdua tarefa que espera o papa Francisco. Espero que consiga, realmente, transformar os actuais actos de humildade e quebras de protocolo numa verdadeira revolução dentro da Igreja. Assim o Cósmico o ajude. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h58 de 19 de Março de 2013)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Cartas do meu Sanctum

DA RENÚNCIA DO PAPA AO METEORITO DOS URAIS Há quem veja nestes acontecimentos sinais do final dos tempos. Se entendermos que final dos tempos é o final desta civilização, essas pessoas devem estar certas ou muito próximas de uma verdade que nos escapa, pois de facto, tudo aponta para um certo ocaso desta humanidade. Há algo de caricato na renúncia do papa, habituados a ver essa figura cimeira da Igreja de Roma resistir até os seus actos e aparições em público se transformarem num verdadeiro martírio, num enorme sofrimento, tão do agrado do mundo católico conservador. Há algo de caricato num papa que escolheu vestir-se como o faziam os seus antecessores na Idade Média. Há algo de caricato na figura de um papa que pretende passar uma imagem de bondade, depois de ter sido o cardeal responsável por um dos sectores mais sinistros do Vaticano, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, outrora e não há muito tempo conhecido como Inquisição de muito má memória. Nunca entendi o fascínio de João Paulo II junto da população, especialmente das mulheres. Foi ele um papa também muito conservador e reaccionário, que recusou sempre, para além de outras atitudes do mesmo género, um papel mais efectivo da mulher dentro de Igreja. Ele, como o seu sucessor que agora abdicou, tiveram que enfrentar os escândalos sucessivos que fustigaram a Igreja de Roma, desde os escândalos financeiros com alguns homicídios e suicídios à mistura, até às centenas ou milhares de acusações de pedofilia de padres e bispos. Esquecendo-se que a Igreja não é mais tão poderosa como o foi na Idade Média, estes dois pontífices foram acobertando os escândalos, transferindo para outras paróquias os visados por essas acusações pedófilas. Só muito recentemente Bento XVI aceitou que os padres envolvidos fossem sujeitos às leis civis dos países que habitam. Considerando as fortes e graves divisões que grassam no Vaticano, a Igreja parece ter entrado numa via descendente, cujas consequências ninguém consegue prever. Evidentemente que a crise que se instalou tem nefastos efeitos sobre a sociedade, já muito parca de valores. Para alguns esta situação foi prevista por São Malaquias nas suas profecias, que indicam que o próximo papa, Pedro Romano, será o último. Não sei se Pedro será o nome adoptado pelo próximo papa, como Pedro II, ou se o Pedro Romano tem a ver com o seu nome de baptismo. De notar que dois dos cardeais apontados como possíveis sucessores de Bento XVI, têm Pedro no seu nome. Portanto, estamos às portas do fim dos tempos, para quem acredita nisso. Entretanto o espaço exterior do nosso mundo trouxe-nos algumas surpresas. Por um lado, um asteroide com cerca de 45 metros de diâmetro iria passar numa verdadeira razante à Terra, a cerca de 28 mil quilómetros de distância, um décimo da distância até à Lua. Por outro lado, um meteorito entrou vertiginosamente na nosssa atmosfera e foi despenhar-se na Rússia, nos montes Urais. Não sei quando é que um meteorito passa à condição de asteroide, deve ser uma questão de tamanho, mas esse que caiu na Rússia tinha 17 metros de diâmetro. Não me lembro de ver nenhuma previsão sobre a sua queda, pois talvez o monitoramento que é feito abranja apenas as “pedras” maiores. Esta “pedra” que caiu num lago dos montes Urais, atravessou a nossa atmosfera a uma velocidade de 30 qulómetros por segundo, o que nos leva à fantástica velocidade de mais de 100.000 quilómetros por hora. Não consigo imaginar o que teria acontecido se esse meteorito tivesse caído numa área mais povoada, ou numa cidade. O que fez com que essa “pedra” fosse cair nos montes Urais, evitando uma catástrofe de terríveis dimensões? Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h54 de 19 de Fevereiro de 2013)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Cartas do meu Sanctum

MITOLOGIA MODERNA Ou deveria dizer pós-moderna, uma vez que se refere aos tempos actuais? Há quem tenha afirmado que a nossa história, a história desta humanidade, é feita de mitos, em que não se sabe onde acaba a fantasia e começa a verdade. Quando falamos em verdade queremos dizer algo mais próximo daquilo que sucedeu, pois não existe verdade, existe apenas a percepção individual de algum acontecimento. Escusado será aqui enunciar as experiências que têm sido feitas para demonstrar que a verdade é uma coisa muito relativa, que cada um tem a sua verdade. Quando falamos desta humanidade significa que já houve outras, que desapareceram sabe-se lá porquê e em que condições. Para os que não acreditam e acham que somos únicos e fomos criados do pó ou do barro há uns seis mil anos, olhem para o que essas outras humanidades nos deixaram como testemunho espalhado por todo o globo, na forma de monumentos e construções gigantescas de pedra, que continuam a desafiar a nossa imaginação e a nossa capacidade de explicar para que é que serviam. O racionalismo que invadiu as mentes europeias pouco antes da Revolução Francesa, que chamaram de “Iluminismo”, levou-nos a considerar que as histórias de antigas civilizações como a grega, a egípcia e as da região da Mesopotâmia, pricipalmente as suas histórias que envolviam deuses, como mitos, querendo com isto dizer que não eram mais do que resultados da fértil imaginação do povo. Mas sempre suspeitei que a mitologia devia corresponder a algo que se passou e que terá chegado aos nossos dias completamente deturpado, aqui sim, pela imaginação de cada um e pelo controlo e influência religiosa. Os mitos sempre fizeram parte do imaginário popular, aproveitados muitas vezes para se atingir algum objectivo, umas vezes como forma de instrução, outras para reforçar a religiosidade, outras ainda para tentar modificar a sociedade. O melhor exemplo é a saga arturiana e a busca do Graal, que na altura em que foi elaborada pretendia melhorar as condições morais em que se vivia na Europa. Foi uma lenda elaborada com precisão para atingir determinado objectivo, para nós aquele que já referimos, pois não é possível acreditar numa história escrita cerca de quinhentos anos após a presumível existência, nunca confirmada, do rei Artur. O final do século XX e o início do século XXI tem sido uma época pródiga na produção de novos mitos, alimentada por muitas fantasias, alucinações e aproveitamentos abusivos da facilidade e liberdade que a Internet oferece para a difusão das suas ideias. Alguém me disse um dia que o papel aceita tudo quanto lá queira escrever. A Internet também, com a agravante de se arregimentar logo um grupo mais ou menos numeroso de fieis seguidores. Não vamos falar do mais que famoso calendário maia como mito moderno ou pós-moderno, porque já se falou dele exaustivamente, já excitou demasiadas mentes sedentas de que algo de muito grave aconteça com esta humanidade, para que as suas almas descansem, finalmente, em paz. Como não tem acontecido nada do que profetizaram, não conseguem sossegar. A actual crise que grassa na Europa, principalmente nos seus países classificados como periféricos, constitui talvez o mito mais importante com que lidamos neste tempo. Como se pretende escamotear o que realmente está a acontecer, para isso a colaboração dos média (mídia no Brasil), da comunicação social, tem sido excelente, quase ninguém vê que, na verdade, não existe crise nenhuma, existe apenas um processo político e económico que corresponde ao estertor do capitalismo como forma de sociedade, que não me atrevo a chamar de justa. A democracia não existe ou nunca existiu, pois dela temos apenas na liberdade de ir a votos eleger algo já cozinhado anteriormente e com resultados mais do que previsíveis. O capitalismo (selvagem?) usa a democracia, ou a ideia de democracia, para se impor como a única alternativa para esta humanidade, mas está ferido de morte, pois não é possível continuar por muito mais tempo a exploração, conhecida como consumismo, em que esta sociedade foi mergulhada. Alguns espíritos que se julgam a si mesmos de mais esclarecidos, tentam explicar o que se passa no planeta como a consequência da acção de grupos demoníacos, cujo único objectivo será a exploração do ser humano. Falam de uma “Nova Ordem Mundial”, do grupo de Bildelberg, do “Clube de Roma”, da “Comissão Trilateral” e, finalmente, dos “Illuminati”, um grupo satânico interessado em subverter a moral e dominar as nações através daqueles organismos. Mas exerçamos um pouco de lucidez: alguém pode acreditar que aqueles cuja fortuna é muitas vezes superior ao produto interno de alguns países, que dispôem de um poder inimaginável que o dinheiro lhes faculta, estão interessados em fazer parte de uma qualquer associação para dominar o mundo? Uma coisa que já fazem sem terem necessidade de se associarem a ninguém. São “animais” predadores que têm o lucro e a destruição da concorrência como única finalidade, pois não é por acaso que a riqueza está cada vez mais concentrada num reduzido número de indivíduos. Parece-me também que o actual mito dos “illuminati” foi inventado pelo senhor Dan Brown, que os incluiu nas suas obras como figuras do mal. Parece que existiu um grupo assim intitulado no final da Idade Média, durante a época do “Iluminismo” que já referimos, que era chamado de “Iluminados da Baviera” (Bavária no Brasil). A sua existência actual como força para dominar o mundo, acho que é pura fantasia. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h59 de 15 de Janeiro de 2013)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Cartas do meu Sanctum - Mudanças

Estamos a três dias da fatídica data em que, de acordo com um calendário de origem maia e outros oráculos, o mundo vai acabar no meio do estertor de inomináveis cataclismos. Mas como escrevi na última carta, é muito provável que nada de estranho ou maravilhoso vá acontecer, o que não quer dizer que não haja uma mudança em processamento. Na verdade, tudo o que existe está sujeito à lei da impermanência, portanto, em permanente mudança. Isto acontece desde o princípio dos tempos, desde o celebrado “Fiat Lux” que terá dado origem a toda a coisa criada. Como a Natureza foi infiel e não fez a vontade dos oráculos (pelo menos até agora), não estando assim previsto qualquer tipo de cataclismo de colossais dimensões, os mentores do 21/12 dizem agora que haverá uma mudança sim, mas no interior de cada um. Acho que têm razão, só não estou de acordo em que isso vá acontecer de repente, no dia 21 e que atinja todos os seres humanos viventes no planeta. É provável, e eu quero acreditar nisso, que estejamos no fim de um ciclo cósmico e no início de outro, mas estas coisas não cessam de um lado e começam de outro. Quero dizer que talvez estejamos a vivenciar há muito tempo esse final de um ciclo cósmico e, ao mesmo tempo, a vivenciar o início de outro. Isto pode levar muito tempo, várias gerações, apesar de em termos cósmicos o tempo não existir. Trata-se de uma transição onde o fim e o início acontecem em simultâneo. O fim e o início dos ciclos não são eventos separados, interpenetram-se – a Era de Peixes não terminou abruptamente em determinada data, assim como a Era de Aquário não começou numa data específica (ainda não sei se já começou). As mudanças no interior de cada um vêm se processando há muito tempo. O ser humano de hoje não é o mesmo de há cinquenta ou cem anos, ou da Idade Média. O ser humano hoje é um ser completamente diferente por causa das mudanças que se têm operado no seu interior ao longo do tempo. Mas atenção, essas mudanças não têm sido, geralmente, no melhor sentido, basta olharmos para a humanidade actual e ver a prevalência dos apegos à matéria, e a busca do “ter” em detrimento do “ser”. Apesar disso, cresceu bastante a busca por um caminho mais espiritual, ainda que em muitos casos as pessoas sejam levadas a autênticos equívocos. Essa busca existe e esta humanidade tem vindo da ser beneficiada pela elevação espiritual que muitos seres humanos têm conseguido atingir, pois como se sabe e já demonstrado, quando alguém se eleva ajuda a elevar, por pouco que seja, o resto da humanidade. No entanto, o egoismo da maioria prevalece e por isso estamos a viver uma verdadeira época de caos. Não é por acaso que as intituições (criações nossas) estão a falir ou faliram, que não existe confiança em ninguém, que só podemos confiar em nós próprios e no nosso mestre interior. Estamos todos envolvidos neste processo de mudança e talvez o caos em que somos obrigados a viver seja um bem, uma bênção, uma oportunidade cósmica de resgatarmos o “velho homem” e criarmos o “novo homem”, aproximando-nos talvez desse arquétipo chamada Adão, ou Adão Kadmon, que compartilhava com Deus as delícias do Paraíso. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h40 de 18 de Dezembro de 2012)