O mais interessante é que Deus, seja lá o que for que se entenda por este nome, não criou nenhuma religião. Da mesma forma, o cristianismo não foi criado por Cristo, o islamismo não foi criado por Muhammad (Maomé) e o budismo não foi criado por Buda. Foram os homens (em sentido literal) que criaram as religiões. O feminino não está presente, ou tem um papel diminuto, nas chamadas religiões reveladas. O mesmo não acontece com muitas das religiões pagãs.
Foram também os homens que criaram a imagem de Deus, algo parecido com eles, uma figura com que se pudessem identificar e pudessem usar para domínio dos outros homens. Portanto, este conceito de Deus é uma criação puramente humana e tem muito pouco a ver com a verdade. Isto já foi devidamente explicado à antiga Sociedade Teosófica que, apesar de toda a inspiração recebida, caiu no entendimento comum do conceito de Deus.
A ideia de alguma maçonaria e de algum martinismo de substituir o conceito de Deus pelo do Grande Arquitecto do Universo é mais correcta mas peca ainda por imperfeita. Procura-se aqui, com o abstracto, dar uma ideia mais inteligente do conceito, mas é em função dele que essa ideia é criada.
A ideia do budismo sobre Deus, ou a divindade, embora não reconhecendo Deus como tal, e a divindade como um ser, apesar do culto de numerosas divindades, é uma ideia semelhante à da Cabala, principalmente à da sua “Árvore Sefirótica” onde, acima de “Kether” (A Coroa) não existe nada, é o imanifestado, o incognoscível. Esta ideia cabalística coloca a questão sobre a existência de Deus em parâmetros mais correctos, quer dizer, que ninguém pode conceber Deus pois Ele é o inominável, o incognoscível.
O budismo fala do vazio, ou vacuidade, como origem de tudo o que foi e é criado. Embora parecida com a ideia do “Ein Soft”, onde nada é dito acerca de vazio, mas de imanifestado, no budismo diz-se que é vazio, e que do vazio tudo foi e é criado.
Mas o vazio ou vacuidade entende-se como ausência de tudo, inclusive de qualquer forma de energia. Ora se nada ali existe, como é que pode ser criada alguma coisa? Os rosacruzes sabem isto e conhecem muito bem a parte de um ritual em que é dito que das trevas nada pode ser criado, que é precisa a luz para que a criação aconteça.
Pode haver uma religião sem Deus? Claro que não, porque o conceito de religião, apesar do seu significado de “religar”, está intimamente associado ao da divindade, seja ela um deus único ou um panteão de deuses – a ideia é sempre a mesma.
Uma das coisas mais difíceis que existem na actualidade é fazer com que as pessoas, quando falam de Deus ou o imaginam, entendam que a ideia desse Deus é um arquétipo muito poderoso que domina as suas mentes e controla as suas vidas. Destruir esse arquétipo é uma tarefa impossível, uma vez que está tão arraigado na sociedade e cimentado em inúmeros séculos até um passado remoto. Tarefa tão impossível que, em algumas ordens iniciáticas, apesar de se afirmar que o entendimento de Deus está no interior de cada um, o arquétipo permanece ligado à imagem arquetípica. Aqueles que conseguem libertar-se dessa imagem, libertam-se de um peso que carregam há muitos milénios, desde a época em que os deuses e os homens habitavam a mesma Terra.
Ad rosen!
(Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h45 de 15 de Março de 2012, sob a inspiração de Mestre K.)
Sem comentários:
Enviar um comentário