sábado, 1 de setembro de 2012
Cartas do meu Sanctum - O Bem e o Mal
Muito se tem dito e escrito sobre o bem e o mal, atribuindo-se determinadas definições a um e a outro Há os arautos do bem, porque ninguém assume que é do mal, ou seja, todos temos uma noção do que é o bem e do que é o mal, seja por influência de costumes, de educação ou por um apelo interior, que leva cada um, geralmente, a fazer o bem em vez do mal.
Mas… será que o bem existe? O mal existe? Ou trata-se apenas de concepções humanas?
Sem dúvida que ambos existem, mesmo que parcialmente ou no todo sejam concepções humanas. Na Natureza não existe nem bem, nem mal, tudo decorre como resultado das próprias leis naturais.
Há quem defina o mal como a ausência do bem, numa correlação óbvia com a definição de trevas como ausência da luz. Mas atenção, toda a tradição nos fala que a luz despontou das trevas, basta ler, por exemplo, os primeiros versículos do Evangelho de João. As definições pecam por defeito pois não consideram um imenso leque de variantes. Ninguém é completamente bom, como ninguém é completamente mau, a condição humana é muito complexa, as variações de carácter são imensas, embora haja padrões de aproximação.
Uma outra definição que me deixou um pouco perplexo foi a de que “o bem é conhecimento e o mal é ignorância”. Evidentemente que estamos perante um excesso de simplificação, quando nada na vida e especialmente essas concepções de bem e de mal podem ser assim simplificadas. A simplicidade não resulta da simplificação, as coisas mais simples podem ser muito complexas. E a propósito de coisas li recentemente uma frase que contém uma enorme sabedoria: “as coisas importantes da vida não são coisas”.
Para podermos afirmar que o bem é conhecimento, temos, antes de mais, de saber o que entendemos por conhecimento. Conhecimento de quê? Conhecimento da vida resultante de experiências da mesma? Conhecimento científico? Conhecimento das leis que regem a Natureza? Conhecimento das leis divinas? Conhecimento do conjunto disto tudo ou de alguma especialidade?
Considerando que isto tudo faz parte do conhecimento, não é também sabido que a diferenciação entre o bem e o mal num sábio é muito ténue? Quantos magos e bruxos escolheram o lado da sombra ao atingirem um profundo conhecimento das suas artes? Não se diz que forem eles os responsáveis pela destruição da Atlântida? Os sacerdotes de Amon no antigo Egipto tinham um enorme conhecimento, o que não impediu que muitos se tivessem dedicado à magia negra.
Todos conhecemos pessoas com conhecimentos muito precários, mas que se dedicam de alma e coração a fazer o bem, a tratar dos idosos, dos doentes, dos dependentes da droga, e por aí fora. Essas pessoas, à falta de conhecimento que lhes é atribuída, parecem agir por simples impulso do coração. Tenho a felicidade de conhecer algumas pessoas assim.
Por outro lado também conhecemos pessoas que se dizem muito espiritualizadas, presumivelmente dedicadas a fazer o bem, mas que vivem presas de um profundo egoísmo e são incapazes de estender uma mão para ajudar os seus irmãos mais desvalidos. Também tenho a infelicidade de conhecer pessoas assim.
E por falar em mal, que tal a hipocrisia que regula a nossa sociedade profana e se estende a religiões e organizações místicas e esotéricas? As fáceis definições de bem e de mal escondem uma profunda hipocrisia. Nesta sociedade aceita-se o mal de forma hipocritamente passiva, fazendo lembrar uma frase célebre, julgo que de Luther King, que quando não se combate o mal está-se a colaborar com ele. Digo mais: está-se a fortalecê-lo. Foi assim que chegámos aos níveis de corrupção que envenenam a sociedade de hoje, não só a nível político (não esquecer que os políticos são resultado desta sociedade), mas abrangendo todos os sectores da incrível civilização que ajudámos a construir.
O bem e o mal são encontrados em todos os níveis, basta estarmos atentos (e despertos) ao que acontece diariamente e não nos deixarmos alienar por receitas fáceis que pretendem explicar tudo.
Ad rosen!
(Escrito em Birigui, São Paulo, às 22h12 de 30 de Agosto de 2012)
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