sábado, 17 de dezembro de 2011

A IMPERMANÊNCIA E O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO

É conhecido o axioma atribuído ao químico francês Lavoisier de que, “na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Apesar das experiências com bombas nucleares terem dado indícios de que uma parte minúscula de matéria se perde durante uma explosão atómica, a regra continua válida, em meu entender, para todas as situações envolvendo a matéria. Até porque essa perda de matéria em explosões nucleares precisa de ser comprovada, coisa que parece não ter acontecido ainda. Se houver perda de matéria, ela vai para onde? Simplesmente desaparece? Vai para outra dimensão? Vai para um universo paralelo, como muitas das teorias actuais falam?
A pouco e pouco a ciência tem vindo a comprovar, cada vez com maiores evidências, o que os Antigos sabiam e que foi sendo transmitido de boca a ouvido ao longo dos séculos: tudo é vibração, tudo é energia. Depois da Física Quântica ter demonstrado que a matéria é um vastíssimo campo de energia onde acontecem as coisas mais extraordinárias, veio agora a “Teoria das Cordas” defender que a origem da matéria está justamente nessas pequeníssimas fontes de energia. Assim, parece já não haver nenhuma dúvida hoje de que tudo está em permanente transformação. Mesmo os materiais mais duros e que nos parecem indestrutíveis, estão em transformação resultante da vibração dos seus átomos, os quais vibram em frequências originadas pela sua constituição atómica. Isto aplica-se a toda a matéria e a todos os seres vivos, inclusive aos seres humanos, cujo corpo sofre também essa permanente transformação.
Devido a essa permanente vibração, tendo como consequência a permanente transformação, a impermanência surge como o estado natural de toda a Criação, seja no macrocosmos ou no microcosmos. Nada permanece igual por mais de um milionésimo de segundo. Esta é uma lei universal que temos muita dificuldade em compreender e aceitar – vejam-se os esforços desesperados contra o envelhecimento através de cirurgias e outras aplicações plásticas.
As religiões têm tido um papel importante no sentido de trazer algum conforto a essa angústia prometendo várias coisas depois da morte, situação que a generalidade das pessoas teme acima de tudo. A ressurreição dos mortos, a reencarnação (em termos espíritas), a entrada no “reino dos céus” ou no paraíso como recompensa para actos praticados em vida (cristianismo e islamismo), são algumas das promessas em que as pessoas tendem em acreditar. No entanto, apesar de tudo, o medo da morte persiste.
O medo da morte é um sentimento que garante a sobrevivência da espécie, pois se não houvesse esse medo não sei como seria o comportamento geral das pessoas. Há quem não tenha medo da morte, nomeadamente os iniciados, pois sabem que a morte é apenas a passagem de um estado para outro estado, por isso lhe chamam transição. Em termos actuais, de acordo com as últimas teorias científicas de que já falámos acima, será a passagem para uma outra dimensão, onde não sabemos se a impermanência permanece.
Um sentimento que procura atenuar essa angústia da morte é a esperança. Esperança em dias melhores que façam esquecer a incapacidade de aceitar a impermanência; esperança numa outra vida onde não haja sofrimento; esperança de que afinal, as coisas vão sempre melhorar. Sabemos que nem sempre acontece assim, ou quase nunca acontece assim – a esperança acaba por se revelar uma grande e enganadora ilusão. Para os gregos da antiguidade a esperança era algo de ruim, pois a esperança fora a única coisa que ficara no fundo da “Caixa de Pandora” quando esta a abriu e espalhou todos os males pelo mundo. Se a “Caixa” continha todos os males e não há ideia de que contivesse outras coisas além dos males, então a esperança também era um mal. Porque a esperança induz à ilusão de um futuro melhor, quando na verdade esse futuro será sempre o resultado do que fizermos agora.
A impermanência é a única permanência a que estamos sujeitos. Será que não existe nada permanente? Ignorando uma eventual resposta de que Deus é permanente, esta pergunta é um desafio que aqui deixo para quem quiser responder e comentar.