quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Cartas do meu Sanctum

MITOLOGIA MODERNA Ou deveria dizer pós-moderna, uma vez que se refere aos tempos actuais? Há quem tenha afirmado que a nossa história, a história desta humanidade, é feita de mitos, em que não se sabe onde acaba a fantasia e começa a verdade. Quando falamos em verdade queremos dizer algo mais próximo daquilo que sucedeu, pois não existe verdade, existe apenas a percepção individual de algum acontecimento. Escusado será aqui enunciar as experiências que têm sido feitas para demonstrar que a verdade é uma coisa muito relativa, que cada um tem a sua verdade. Quando falamos desta humanidade significa que já houve outras, que desapareceram sabe-se lá porquê e em que condições. Para os que não acreditam e acham que somos únicos e fomos criados do pó ou do barro há uns seis mil anos, olhem para o que essas outras humanidades nos deixaram como testemunho espalhado por todo o globo, na forma de monumentos e construções gigantescas de pedra, que continuam a desafiar a nossa imaginação e a nossa capacidade de explicar para que é que serviam. O racionalismo que invadiu as mentes europeias pouco antes da Revolução Francesa, que chamaram de “Iluminismo”, levou-nos a considerar que as histórias de antigas civilizações como a grega, a egípcia e as da região da Mesopotâmia, pricipalmente as suas histórias que envolviam deuses, como mitos, querendo com isto dizer que não eram mais do que resultados da fértil imaginação do povo. Mas sempre suspeitei que a mitologia devia corresponder a algo que se passou e que terá chegado aos nossos dias completamente deturpado, aqui sim, pela imaginação de cada um e pelo controlo e influência religiosa. Os mitos sempre fizeram parte do imaginário popular, aproveitados muitas vezes para se atingir algum objectivo, umas vezes como forma de instrução, outras para reforçar a religiosidade, outras ainda para tentar modificar a sociedade. O melhor exemplo é a saga arturiana e a busca do Graal, que na altura em que foi elaborada pretendia melhorar as condições morais em que se vivia na Europa. Foi uma lenda elaborada com precisão para atingir determinado objectivo, para nós aquele que já referimos, pois não é possível acreditar numa história escrita cerca de quinhentos anos após a presumível existência, nunca confirmada, do rei Artur. O final do século XX e o início do século XXI tem sido uma época pródiga na produção de novos mitos, alimentada por muitas fantasias, alucinações e aproveitamentos abusivos da facilidade e liberdade que a Internet oferece para a difusão das suas ideias. Alguém me disse um dia que o papel aceita tudo quanto lá queira escrever. A Internet também, com a agravante de se arregimentar logo um grupo mais ou menos numeroso de fieis seguidores. Não vamos falar do mais que famoso calendário maia como mito moderno ou pós-moderno, porque já se falou dele exaustivamente, já excitou demasiadas mentes sedentas de que algo de muito grave aconteça com esta humanidade, para que as suas almas descansem, finalmente, em paz. Como não tem acontecido nada do que profetizaram, não conseguem sossegar. A actual crise que grassa na Europa, principalmente nos seus países classificados como periféricos, constitui talvez o mito mais importante com que lidamos neste tempo. Como se pretende escamotear o que realmente está a acontecer, para isso a colaboração dos média (mídia no Brasil), da comunicação social, tem sido excelente, quase ninguém vê que, na verdade, não existe crise nenhuma, existe apenas um processo político e económico que corresponde ao estertor do capitalismo como forma de sociedade, que não me atrevo a chamar de justa. A democracia não existe ou nunca existiu, pois dela temos apenas na liberdade de ir a votos eleger algo já cozinhado anteriormente e com resultados mais do que previsíveis. O capitalismo (selvagem?) usa a democracia, ou a ideia de democracia, para se impor como a única alternativa para esta humanidade, mas está ferido de morte, pois não é possível continuar por muito mais tempo a exploração, conhecida como consumismo, em que esta sociedade foi mergulhada. Alguns espíritos que se julgam a si mesmos de mais esclarecidos, tentam explicar o que se passa no planeta como a consequência da acção de grupos demoníacos, cujo único objectivo será a exploração do ser humano. Falam de uma “Nova Ordem Mundial”, do grupo de Bildelberg, do “Clube de Roma”, da “Comissão Trilateral” e, finalmente, dos “Illuminati”, um grupo satânico interessado em subverter a moral e dominar as nações através daqueles organismos. Mas exerçamos um pouco de lucidez: alguém pode acreditar que aqueles cuja fortuna é muitas vezes superior ao produto interno de alguns países, que dispôem de um poder inimaginável que o dinheiro lhes faculta, estão interessados em fazer parte de uma qualquer associação para dominar o mundo? Uma coisa que já fazem sem terem necessidade de se associarem a ninguém. São “animais” predadores que têm o lucro e a destruição da concorrência como única finalidade, pois não é por acaso que a riqueza está cada vez mais concentrada num reduzido número de indivíduos. Parece-me também que o actual mito dos “illuminati” foi inventado pelo senhor Dan Brown, que os incluiu nas suas obras como figuras do mal. Parece que existiu um grupo assim intitulado no final da Idade Média, durante a época do “Iluminismo” que já referimos, que era chamado de “Iluminados da Baviera” (Bavária no Brasil). A sua existência actual como força para dominar o mundo, acho que é pura fantasia. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h59 de 15 de Janeiro de 2013)