segunda-feira, 9 de julho de 2012

Cartas do meu Sanctum - O CAMINHO DO MEIO

Todos nós já ouvimos falar e vimos escrito em textos e livros de várias tendências, do “caminho do meio”. O que é de facto esse “caminho do meio” e será que existe realmente? Em termos cabalísticos esse caminho seria representado pela coluna central da “árvore sefirótica”, também denominada por alguns como “árvore da vida”. Essa coluna central será o encontro ou união das energias emanadas das várias “sefiras” confluindo para a realização material ou o “Reino” em “Malkuth”. Visto assim, o caminho do meio está perfeitamente representado, desde a “Kether” (Coroa) até “Yesod” cuja ideia se manifestará em “Malkuth”, passando antes por uma “sefira” bem especial denominada “Tiphareth” à qual se atribui o simbolismo do coração. Mas se repararmos bem na representação da “árvore sefirótica”, excluindo pretensas interpretações de quem dela tem um conhecimento reduzido, verificamos que não existe nenhuma coluna do meio, ou que a mesma se acha cortada por uma “sefira” fantasma chamada “Daat”, também conhecida como o “Abismo”. Realmente trata-se de uma interrupção do caminho entre “Kether” e “Tiphareth”, separando o mundo da criação do mundo da manifestação, grosso modo. A ausência da coluna do meio ou a interrupção dela parece encerrar um ensinamento a que poucos dão atenção: que esse caminho do meio, sendo o ponto de equilíbrio entre o da esquerda e da direita, só poderá ser atingido fora do mundo da matéria e que está guardado por esse guardião eterno chamado “Daat”. Em termos materiais, o caminho do meio não existe. Ele não existe na “árvore sefirótica” da Cabala, como não existe entre as colunas do Templo de Salomão, cuja simbologia foi transposta para muitos templos maçónicos e martinistas. São as colunas “Boaz” e Jachim” cujo significado faz parte dos seus ensinamentos. Esta ausência de representação do caminho do meio mostra-nos a dualidade do ser humano, pois todas estas representações e interpretações referem-se à nossa vida e à forma como a desenvolvemos. Para haver um caminho do meio circunscrito, quer dizer, com regras rígidas e delimitadas para ser seguido, teria que o caminho esquerdo e o direito se anularem mutuamente, originando o vazio, portanto, não haveria nada no meio. No Budismo esta situação corresponde ao estado de “nirvana”, que é o estado livre de todo o sofrimento e existência individual. É um estado que os budistas referem como iluminação. Dizem ainda que ao atingir-se o “nirvana” se quebra o ciclo interminável de reencarnações. Embora perfeitamente definidos na ´”árvore sefirótica” e nas colunas do Templo de Salomão, os caminhos esquerdo e direito também não podem ser delimitados, pois são apenas reflexos de comportamentos e tendências. Isto significa que vivemos permanentemente em dualidade, entre duas forças opostas que podemos chamar de esquerda e direita, de negativa e positiva, de sombra e luz. É entre estas duas polaridades que vamos vivendo, ainda que delas tenhamos pouco conhecimento ou medo de as conhecer. Precisamos de ambas, da sombra e da luz, sem as quais não poderíamos viver. O mundo em que estamos inseridos, toda a existência material, é feita de sombra e luz, pois se fosse apenas sombra, ou apenas luz, não conseguiríamos distinguir nada. O caminho do meio será então um equilíbrio dinâmico, pois nada existe estático na natureza, entre a sombra e a luz. Dependendo de um infindável número de factores, entre os quais a nossa natureza íntima, o nosso ser interno, a sociedade a que pertencemos, podemos ser atraídos por um ou outro lado, dependendo do momento, das circunstâncias e, principalmente, da nossa consciência. Um autor americano escreveu que os monstros existem e vivem dentro de nós (sombra), e que às vezes vencem. A sombra contém os nossos demónios, a luz a nossa natureza mais nobre e elevada. A nossa consciência determinará se somos mais sombra ou mais luz. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h45 de 3 de Julho de 2012)