quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Cartas do meu Sanctum - Em Busca da Perfeição

O ouro já foi chumbo em tempos recuados. Os diamantes e as pedras preciosas já foram pedaços de árvore, sujeitos a tremendas pressões durante milénios até se transformarem em carbono mais ou menos puro. Não sei se isto é bem assim, cientificamente talvez haja alguma incorrecção aqui, mas a ideia está correcta, na Natureza tudo parece conspirar para a perfeição. Um isótopo radioactivo é extremamente instável, mas todo o seu processo tende para a estabilidade. Se observarmos bem, tudo parece perfeito. A plumagem dos pássaros, o pelo dos animais, a imensa variedade floral, mineral, tudo nos parece em estado de perfeição, e parece existir um segredo para essa perfeição. O segredo parece estar numa sequência numérica ou matemática, conhecida como sequência de Fibonacci. A formação de uma folha, de uma flor, de uma árvore, de um mineral, parece seguir um padrão dessa sequência, que até podemos encontrar na casca de alguns moluscos. Não sei se a sequência também se aplica ao mundo animal, mas não ficaria surpreendido se alguém a encontrasse em animais ou em seres humanos. Além da sequência de Fibonacci, mas relacionado com ela, existe um outro segredo que os artistas pintores e “pedreiros” (mestres construtores) da Idade Média conheciam e aplicavam nos seus trabalhos: o número de ouro, ou a proporção áurea, produzindo uma harmonia dificilmente conseguida sem a sua aplicação. Em termos simples, o número de ouro corresponde a mais ou menos ao quociente 1,618 de uma dada divisão. Por exemplo num quadro poderá ser o resultado da divisão da altura pela largura, mas a sua aplicação toma formas bem mais complexas. A famosa “Mona Lisa” de Leonardo Da Vinci está de acordo com esse número de ouro. As catedrais góticas da Idade Média foram construídas também de acordo com a proporcionalidade desse número, por isso nos sentimos bem dentro delas, não é por se tratar de um templo, mas porque as suas proporções originam uma energia que nos faz sentir em harmonia. Por um lado temos a sequência de Fibonacci, que está presente em variadíssimas formas na Natureza, por outro o número de ouro, que permite ao ser humano aproximar-se da perfeição e da harmonia da Natureza. Independentemente da religião que professemos, ou não professemos nenhuma, sentimo-nos geralmente bem, em harmonia, dentro de uma catedral gótica, ou mesmo românica. O motivo está no padrão que presidiu à sua construção, o número de ouro. Infelizmente este conhecimento (ou a sua aplicação) parece ter desaparecido com os antigos “pedreiros livres”, porque hoje se constrói a esmo, sem respeito por nenhuma regra, excepto as referentes aos materiais aplicados e à segurança da construção. E o ser humano como é que fica no meio disto? Estará ele também em busca da perfeição? Claro que está, mas não da forma que muitos podem pensar ao ver o notável desenvolvimento tecnológico que a nossa época conhece. Não sei se o ser humano também está formado de acordo com a sequência de Fibonacci, mas estando ou não, a sua busca da perfeição realiza-se em outro plano, que não o físico. É no seu interior, no diálogo que puder ou souber manter consigo mesmo, que ele busca a perfeição. Pode ser que seja no seu nível psíquico, ou na sua alma, como agrada a alguns, ou até na procura de domínio do seu ego, mas sempre será no seu campo espiritual que o processo acontece. Nunca é do exterior para o interior, do mundo físico para o mundo espiritual. O mundo espiritual manifesta-se no mundo físico pelas acções, palavras e comportamentos de cada um, reflexo de todo um trabalho interior em busca da perfeição. À velha regra de ouro que nos diz que “o que está em cima é como o que está em baixo”, podemos acrescentar “o que está de fora é como o que está dentro, e vice-versa.” Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h58 de 4 de Setembro de 2012)

sábado, 1 de setembro de 2012

Cartas do meu Sanctum - O Bem e o Mal

Muito se tem dito e escrito sobre o bem e o mal, atribuindo-se determinadas definições a um e a outro Há os arautos do bem, porque ninguém assume que é do mal, ou seja, todos temos uma noção do que é o bem e do que é o mal, seja por influência de costumes, de educação ou por um apelo interior, que leva cada um, geralmente, a fazer o bem em vez do mal. Mas… será que o bem existe? O mal existe? Ou trata-se apenas de concepções humanas? Sem dúvida que ambos existem, mesmo que parcialmente ou no todo sejam concepções humanas. Na Natureza não existe nem bem, nem mal, tudo decorre como resultado das próprias leis naturais. Há quem defina o mal como a ausência do bem, numa correlação óbvia com a definição de trevas como ausência da luz. Mas atenção, toda a tradição nos fala que a luz despontou das trevas, basta ler, por exemplo, os primeiros versículos do Evangelho de João. As definições pecam por defeito pois não consideram um imenso leque de variantes. Ninguém é completamente bom, como ninguém é completamente mau, a condição humana é muito complexa, as variações de carácter são imensas, embora haja padrões de aproximação. Uma outra definição que me deixou um pouco perplexo foi a de que “o bem é conhecimento e o mal é ignorância”. Evidentemente que estamos perante um excesso de simplificação, quando nada na vida e especialmente essas concepções de bem e de mal podem ser assim simplificadas. A simplicidade não resulta da simplificação, as coisas mais simples podem ser muito complexas. E a propósito de coisas li recentemente uma frase que contém uma enorme sabedoria: “as coisas importantes da vida não são coisas”. Para podermos afirmar que o bem é conhecimento, temos, antes de mais, de saber o que entendemos por conhecimento. Conhecimento de quê? Conhecimento da vida resultante de experiências da mesma? Conhecimento científico? Conhecimento das leis que regem a Natureza? Conhecimento das leis divinas? Conhecimento do conjunto disto tudo ou de alguma especialidade? Considerando que isto tudo faz parte do conhecimento, não é também sabido que a diferenciação entre o bem e o mal num sábio é muito ténue? Quantos magos e bruxos escolheram o lado da sombra ao atingirem um profundo conhecimento das suas artes? Não se diz que forem eles os responsáveis pela destruição da Atlântida? Os sacerdotes de Amon no antigo Egipto tinham um enorme conhecimento, o que não impediu que muitos se tivessem dedicado à magia negra. Todos conhecemos pessoas com conhecimentos muito precários, mas que se dedicam de alma e coração a fazer o bem, a tratar dos idosos, dos doentes, dos dependentes da droga, e por aí fora. Essas pessoas, à falta de conhecimento que lhes é atribuída, parecem agir por simples impulso do coração. Tenho a felicidade de conhecer algumas pessoas assim. Por outro lado também conhecemos pessoas que se dizem muito espiritualizadas, presumivelmente dedicadas a fazer o bem, mas que vivem presas de um profundo egoísmo e são incapazes de estender uma mão para ajudar os seus irmãos mais desvalidos. Também tenho a infelicidade de conhecer pessoas assim. E por falar em mal, que tal a hipocrisia que regula a nossa sociedade profana e se estende a religiões e organizações místicas e esotéricas? As fáceis definições de bem e de mal escondem uma profunda hipocrisia. Nesta sociedade aceita-se o mal de forma hipocritamente passiva, fazendo lembrar uma frase célebre, julgo que de Luther King, que quando não se combate o mal está-se a colaborar com ele. Digo mais: está-se a fortalecê-lo. Foi assim que chegámos aos níveis de corrupção que envenenam a sociedade de hoje, não só a nível político (não esquecer que os políticos são resultado desta sociedade), mas abrangendo todos os sectores da incrível civilização que ajudámos a construir. O bem e o mal são encontrados em todos os níveis, basta estarmos atentos (e despertos) ao que acontece diariamente e não nos deixarmos alienar por receitas fáceis que pretendem explicar tudo. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 22h12 de 30 de Agosto de 2012)