quarta-feira, 27 de março de 2013

Cartas do meu Sanctum O PASSADO DO FUTURO Há quem diga que o tempo não existe, que não é mais do que uma sucessão de percepções da nossa consciência. É bastante difícil compreender isto quando nos deparamos a todo o momento com variações da escala do tempo. Se um dia tem vinte e quatro horas é porque o nosso planeta leva esse tempo a fazer uma rotação completa; se o ano tem mais ou menos trezentos e sessenta e cinco dias é porque a Terra leva esses dias todos a rodear o Sol. Tudo se passa a velocidades vertiginosas das quais não temos a menor consciência. Se o tempo não existe, como compreender a vida desde o seu nascimento até à sua morte, como ocorre com todos os animais e vegetais? Como compreender aquelas fotos de família que nos mostram como éramos quando crianças? Como compreender o desenrolar da História ao longo dos séculos e dos milénios? Para alguns cientistas menos comprometidos com concepções conservadoras, o tempo é uma das dimensões em que vivemos. Assim, não vivemos em três dimensões, mas em quatro. Cientistas mais arrojados nas suas projecções dizem que podemos estar a viver, pasme-se, não em três ou quatro, mas em dezanove ou vinte e uma dimensões. Considerando esta última hipótese, as várias teorias de que estamos a sair da terceira para entrar na quarta ou quinta dimensão estão ultrapassadas. De acordo com alguns elementos da Tradição Primordial que a Teosofia adoptou, o tempo é constituído por uma imensa tela onde tudo é registado. Essa tela é o “eterno presente”, não existindo portanto, nem passado, nem futuro. Então, não existindo passado quer dizer que vivemos sempre nesse “eterno presente”, o que torna a compreensão sobre o tempo um pouco mais complicada. Se o tempo é uma das quatro dimensões em que vivemos, parece-me ser a dimensão da percepção, da mesma forma que só temos a percepção das outras três dimensões através da dualidade de luz e sombra, dos vários cambiantes da luz. Se não houvesse sombras, apenas luz, não conseguiríamos distinguir nenhum objecto. Para aumentar ainda mais a dificuldade de compreensão da natureza do tempo, as recentes teorias das cordas e das supercordas vêm dizer-nos que vivemos simultaneamente em vários universos, que o nosso universo não é único, que existem muitos universos que seriam como bolhas de sabão em contacto umas com as outras. Esta teoria parece disparatada, mas talvez nos ajude a começar a compreender muitos fenómenos para os quais não conseguimos ainda explicações definitivas ou satisfatórias. Refiro fenómenos como os sonhos, a paranormalidade, a mediunidade, as projecções psíquicas para fora do corpo, as memórias que nos chegam sem sabermos de onde. Tal como a teoria de Einstein sobre os buracos de minhoca, que nos permitiriam cortar muito caminho em eventuais viagens espaciais, também esta uma teoria muito difícil de compreender, a dos universos paralelos peca pela mesma dificuldade. No entanto, talvez estejamos no limiar de descobertas espantosas nunca antes imaginadas. Resta saber se a actual humanidade estará preparada para esse verdadeiro novo mundo, ou se terá de haver uma purga, conforme rezam inúmeras mensagens canalizadas por médiuns, assim como também acreditam os espíritas. Acredito sinceramente que depois da imersão, do mergulho na matéria que está a acontecer com a grande maioria dos seres humanos, uma aurora inovadora nos iluminará e transformará a Terra num lugar muito mais aprazível para se viver. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 22h03 de 26 de Março de 2013)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Cartas do meu Sanctum O PAPA HUMILDE Mais uma vez uma profecia saiu “furada”, quero dizer, não se realizou, apesar das eventuais interpretações simbólicas que se possam fazer. De acordo com a profecia dos papas cuja autoria se atribui a São Malaquias, um bispo irlandês do século XII, este papa, Francisco, será o último e a Igreja terminará em grande tribulação. Mas a profecia diz também que o nome dele seria Pedro, o Romano, que tomaria o nome de Pedro II, dado que o primeiro é São Pedro, o apóstolo que, segundo a Igreja de Roma terá sido o seu fundador. O papa agora eleito não tem Pedro no seu nome e não é romano, mas argentino, o que constituiu uma notável surpresa, boa ou má conforme os interesses em jogo, para todo o mundo católico. O papa Francisco (ainda não entendi porque é que não é Francisco I) foi eleito numa altura em que a Igreja atravessa uma crise mais séria do que vulgarmente se pode conceber. A renúncia de Bento XVI, apesar das piedosas explicações de vários integrantes da hierarquia católica, tem razões que o mundo desconhece. Não sou normalmente partidário de teorias de conspiração mas, os sucessivos escândalos que têm abalado o Vaticano, envolvendo muitos daquela hierarquia, fazem-nos pensar que haverá poderosas razões ocultas que obrigaram Bento XVI a desistir de lutar e assim renunciar. Este papa Francisco tem surpreendido pelas várias quebras de protocolo e por actos de humildade pouco comuns na pessoa do Sumo Pontífice da Igreja Católica. Estas atitudes têm entusiasmado o mundo católico, como se isso fosse realmente importante para a missão reservada a Francisco. Era talvez importante quando arcebispo de Buenos Aires e que gostava de ter uma vida simples e de contacto com os pobres, mas não como papa, pois não se pode esquecer que ele agora é um chefe de estado, o chefe de estado do Vaticano. Portanto, recusar o uso de insígnias e a utilização do carro de luxo parece-me mais um processo de “marketing” tentando fazer passar uma imagem de humildade e despojo. O que importa saber é como é que ele vai enfrentar a crise que se vem agudizando nas últimas décadas, como é que vai enfrentar o poder de alguns cardeais e como é que vai agir em relação aos problemas sempre pendentes e que nenhum papa até hoje conseguiu resolver. O único papa que tentou renovar de facto a Igreja foi João XXIII, que conseguiu convocar e iniciar o Concílio Vaticano II, mas morreu antes de ver a sua obra terminada. Logo os sectores mais conservadores tomaram as rédeas e reduziram drasticamente as conquistas desse Concílio. Será que este papa irá aceitar uma maior participação da mulher na Igreja? Será que terá coragem de resolver de uma vez por todas, dado que não se trata de um dogma, a questão do celibato dos sacerdotes? Será que terá uma atitude mais compreensiva em relação à homossexualidade? Será que vai aceitar os processos contraceptivos, como o uso de preservativos, evitando a continuada contaminação pelo vírus da sida (aids), como tem acontecido em várias regiões de grande influência católica? Será que vai conseguir sanar a corrupção financeira que grassa no Vaticano, afastando os seus responsáveis, ou levando-os a julgamento? Será que irá aceitar a “Teologia da Libertação” nascida no continente de onde é natural e condenada por duas vezes pela inquisição moderna e pelo anterior papa, Bento XVI? Será que irá conseguir que a Igreja se volte para os pobres, quando tradicionalmente tem estado sempre ao lado dos ricos, poderosos e opressores, se não de forma explícita, pelo menos implicitamente. É uma enorme e árdua tarefa que espera o papa Francisco. Espero que consiga, realmente, transformar os actuais actos de humildade e quebras de protocolo numa verdadeira revolução dentro da Igreja. Assim o Cósmico o ajude. Ad rosen! (Escrito em Birigui, São Paulo, às 21h58 de 19 de Março de 2013)