I – Mistérios
“Não há nada oculto que não deva ser manifestado, disse Jesus, e o que foi murmurado deve ser gritado sobre os telhados.” (“As Origens da Cabala” de Eliphas Levi)
Desde o primeiro instante em que o ser humano se viu confrontado com algo que não compreendia, algo que não estava ao alcance da sua mente e do seu discernimento, isto passou a constituir um “mistério” na sua vida. Mas nesse momento, aconteceu uma coisa mais misteriosa ainda: a de que o homem tinha tomado consciência de que havia coisas que não era capaz de compreender. Este foi um passo gigantesco na evolução do ser chamado homem. A partir dessa altura passou a considerar “mistério” todo o acontecimento que sucedia fora do seu controle, ultrapassava o seu entendimento e cuja origem lhe era totalmente desconhecida.
Creio que nos primeiros tempos, quando o homem começou a caminhar sobre a Terra, esses “mistérios” que hoje têm explicações bem simples seriam o vento, que o enchia de frio e o enregelava, ou o refrescava nos dias de calor, ou ainda lhe destruía os abrigos e arrancava as árvores quando soprava forte demais; seria a chuva que caía dos céus e o encharcava, lhe inundava a caverna; seria o trovão que ribombava com grande estrondo, assustando-o, fazendo-o encolher-se de medo; seria o fogo que acompanhava o trovão, atravessava as nuvens num relâmpago ofuscante e caía na terra, às vezes queimando árvores e outra vegetação próxima, às vezes matando gente e animais.
Estes seriam os “mistérios” daquele tempo com que o homem, ainda mal consciente de si e do meio ambiente que o rodeava, tinha que se defrontar no dia a dia difícil da sobrevivência. Mas havia mais, eles foram crescendo em número e variedade à medida que o homem foi ganhando cada vez mais consciência. Havia a sucessão dos dias e das noites; o despontar da luz na aurora que o enchia de coragem e contentamento; o percurso poderoso do Sol na abóbada celeste, que lhe reflectia a sombra, a qual também era para ele um “mistério”; o crepúsculo que o atemorizava e lhe anunciava os terrores que o acompanhavam durante as noites; havia ainda a alternância das estações, o calor do Verão e o frio e as neves do Inverno.
Tudo isto e talvez mais algumas coisas, como por exemplo as fases da Lua, devia ocupar uma parcela importante das preocupações do homem daqueles tempos remotos. De capacidades mentais ainda reduzidas, este ser nascente para a tomada de consciência das coisas não conseguia encontrar uma explicação satisfatória que o sossegasse, mas também não podia ocupar muito tempo com isso, que as árduas condições de vida na altura lhe exigiam todo o seu esforço e atenção. Então, começou a atribuir a todos estes fenómenos uma origem mágica, ainda não uma origem divina, porque nessa época, ainda não tinha concebido o conceito de divindade. Para ele, todos estes fenómenos eram criados pela magia dos seres que ele não via, forças que ele desconhecia e temia.
Quando aprendeu a fazer o fogo incendiando pequenas hastes secas pela fricção de duas lascas de sílex, verificou que podia, a partir dali, dispor dele sempre que quisesse, não tinha mais necessidade de o aproveitar quando caía do céu e fazia arder uma árvore próxima, descobrindo desta maneira o seu enorme poder de destruição mas também que podia ser uma protecção eficaz contra os animais ferozes, além do seu calor o poder aquecer nas noites frias. O fogo passou então a constituir a sua primeira divindade, o seu primeiro objecto de adoração. Apesar de o poder produzir pelas suas próprias mãos, o fogo era algo de muito misterioso que o homem não conseguia compreender (ainda hoje existe uma certa dificuldade...) e assim, esta primeira divindade alojou-se por longo tempo no seu íntimo como um grande “mistério”.
À medida em que o homem foi crescendo em consciência e capacidade de entendimento das coisas, todos estes mistérios iniciais, ou quase todos, foram sendo resolvidos. Encontrou algumas explicações para a maioria deles, que passaram a ser menos temidos. Contudo, um certo temor manteve-se no seu íntimo pois, apesar de compreendidos não deixaram de continuar a ser uma ameaça constante à segurança de pessoas e bens, e no fundo, o “mistério” permanecia. Este temor interior do qual a razão se envergonha, sobreviveu até aos dias de hoje, pois todos sabemos que, no início deste milénio e no auge desta poderosa e científica civilização, o homem continua a temer as forças da natureza, manifestem-se elas por tempestades ou convulsões telúricas. Sabe como e porque elas se desencadeiam, mas não se podem controlar.
Entretanto, o homem foi crescendo, foi tomando cada vez mais conhecimento das coisas, outros “mistérios” vieram ocupar o lugar dos antigos, sobrepondo-se às simples questões do meio envolvente e abrangendo um mais vasto e profundo equacionar de preocupações que o homem actual passou a considerar essenciais e que são, afinal, os “mistérios” de hoje. O homem tem passado o tempo a tentar eliminar os mistérios que encobrem a sua existência mas, de cada vez que consegue reduzir um deles a uma equação matemática ou a uma teoria filosófica, outros surgem, desafiando as suas capacidades, como no mito grego da hidra de nove cabeças, em que cada vez que se cortava um delas, duas outras nasciam no seu lugar.
Estes mistérios são tão importantes para o homem que são a origem e a razão de ser de todas as religiões que existiram e que existem, escondem-se por detrás de todas as filosofias e sustentam todas as organizações místicas, secretas ou iniciáticas. São o alimento de toda a busca do homem, mesmo que não o saiba ou disso não tenha consciência, ao encontro de si mesmo. E quando alguém afirma que o seu objectivo pessoal é atingir o conhecimento (leia-se iluminação), esse objectivo não é outro senão a tentativa de desvendar esses “mistérios”, presumindo-se que aquele que atinge o estado de iluminado passa a dispor de todo o conhecimento e tudo deixa de constituir mistério para ele. Não duvidamos que isto seja verdade mas, desafortunadamente para o homem, quer pelo seu estado evolutivo ainda embrionário, quer pelos apegos que o dominam, são muito raros os seres que, na história da humanidade terão atingido esse estado.
Os “mistérios” que o homem tanto tem procurado desvendar e tanto tem ocultado de outros homens, isto é, ao mesmo tempo que busca esses segredos os oculta dos outros, quando se acha possuidor de certas “chaves” que poderiam abrir as portas da revelação, são todas aquelas questões que o homem coloca a si mesmo, as perguntas que residem no seu íntimo e para as quais tem procurado sempre as respostas. Estas perguntas podem ser assim resumidas:
O que é a vida?
O que é e como surgiu a Criação?
Qual a origem do homem e qual a razão de ser da sua existência?
Deus existe?
O que fazemos aqui na Terra?
Naturalmente que estas perguntas podem ser colocadas de outra maneira ou abranger outros aspectos, mas seja como for que se coloquem, o fundo das questões é sempre o mesmo, que é o de saber o que é que, na verdade, nós, seres humanos, somos e o que fazemos aqui; o que é o universo e como foi criado. À falta de melhor, guiando-se literalmente por palavras de textos antigos que dizem que o homem foi criado à semelhança de Deus, o homem tem-se entretido a antropomorfizar Deus na assunção de que os textos dizem a verdade e, invertendo o seu sentido, então Deus é semelhante ao homem, só que divino e perfeito.
Desde os tempos mais remotos que há notícia de que certos homens, ou certas escolas, ou certos colégios, supostamente, eram detentores destes e de muitos mais segredos, os quais eram severamente ocultados e o seu acesso absolutamente restrito àqueles que mostrassem ter o mérito de os conhecer e oferecessem garantias de os guardar apenas para si e de só os transmitir da mesma forma que os recebiam, escolhendo criteriosamente entre os candidatos ao conhecimento dos “mistérios” de que eram guardiães. O motivo aparente porque isto assim acontecia, era o de que a maioria do género humano não estavam preparada para os receber nem tinha condições de os entender. Mas o verdadeiro motivo, era o de que os ensinamentos destes segredos continham em si determinado poder, e este, nas mãos de pessoas incapazes de o entender na sua verdadeira essência, podia tornar-se muito perigoso. Por outro lado, também era muito perigoso para aqueles que o possuíam, e a história está cheia de exemplos de gente que foi perseguida, encerrada em prisões, assassinada, queimada em fogueiras, apenas porque mostravam saber coisas que contrariavam as normas, o poder e a moral vigentes na época.
Mas o melhor processo de ocultar eficazmente alguma coisa, é mostrá-la aos olhos de todos, numa forma diferente da sua verdadeira forma ou numa linguagem propositadamente hermética tornando-a ilegível no seu verdadeiro significado para aqueles que não possuírem as “chaves” para a sua decifração. Assim, nem tudo foi ocultado, muita coisa ganhou a luz do dia sob a forma de parábolas, de símbolos, de lendas, de textos contando histórias, por vezes quase infantis, tornando-se por esta via insondáveis ao “profano” que se limitava a fazer deles uma leitura literal. O caso mais exemplar será o da Bíblia, que ninguém com um mínimo de senso poderá achar que ela deverá ser entendida na sua forma literal, e é por esta razão que ela tem sido objecto de inumeráveis interpretações. Muitas das personagens e dos acontecimentos ali relatados não correspondem a nenhuma realidade histórica, são apenas símbolos, metáforas de algo mais profundo que se pretende transmitir. É interessante verificar que as figuras mais proeminentes da Bíblia parecem rodeadas de uma auréola de mistério acerca dos dados concretos sobre a sua existência ou a sua acção. Por exemplo, não se sabe, rigorosamente, quando é que Moisés deixou o Egipto à frente do povo hebreu, se foi no tempo do faraó Akhenaton, se no do faraó Mernepthah ou Ramsés II; não existe nenhuma referência histórica sobre a existência do rei Salomão, apenas a Bíblia o refere; a missão cumprida por Jesus, o Cristo, não aparece referida em nenhum registo histórico.
O que proponho neste trabalho não é a resposta às questões que afligem o homem nem tão pouco a decifração dos mistérios que se abrigam no íntimo de todos os que buscam saber, que querem saber, pois isso estará sempre de maneira inviolável no coração de cada um, e cada um encontrará, porventura, como corolário dessa busca, a sua própria resposta, a qual não será igual a nenhuma outra, mas será de certeza a sua verdade.
O que proponho, é um voo de ave, uma vista de cima sobre questões como o Cosmos, a Criação, o Homem, a Humanidade. Uma meditação ou um sonho em conjunto, convicto de que cada um tem a sua própria visão destas coisas, na certeza de que ninguém pode ensinar nada a ninguém, e de que o homem não tem nada a aprender, mas sim a relembrar.
Relembremos então...
1 comentário:
DEUS VIVO
O criador dos céus e da terra, tudo foi feito,cientificamente unico planetario de vida chamado terra., homem e evoluçãosão as culturas deferenciadas com o desenvolvimento da ciência e tecnologia, diserdimento humano que Deus criou, para o homem desenvolver e criar o futuro que só a Deus pertence.
QUE APAZ DO UNIVERSO PARA HUMANIDADE.
QUE DEUS ILUMINE A HUMANIDADE.
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CELSO BRANCO
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CELSO BRANCO
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