Começo esta segunda parte por uma questão que me foi levantada por um leitor. Ele diz que a vinda de seres de Capela não é estranha à tradição pois há registos antigos que falam da vinda dessas almas para o planeta Terra.
É verdade que existem registos antigos sobre a vinda de seres de outros planetas para povoarem a Terra, mas esses registos não falam nem de Capela nem de nenhum planeta em particular. Por exemplo, no “Lemurian Scrolls” (rolos lemurianos) da autoria, julgo, de Satguru Boditinatha Veylanwami, podemos ler o seguinte em tradução livre da versão inglesa: “Os seres humanos migraram para este planeta no corpo da sua divina alma durante o Sat Yuga, a idade da iluminação. Eles tinham atingido um estágio final de evolução no seu planeta. O risco de migrar para um planeta de fogo era grande, mas também gratificante. Eles estavam, contudo, numa fase de evolução precisando de um planeta de fogo para se catalizarem através de novas experiências completando o seu desenvolvimento para a realização final do Self, porque não o tinham feito previamente e estavam apenas boiando na sua felicidade, ou eram grandes seres que já tinham realizado o Self e vieram para ajudar os outros.”
De facto este livro, ou tradução de rolos da Lemúria, fala na vinda de seres de outros planetas, não apenas de um, mas não menciona quais. A identificação de Capela como origem da humanidade não concorda com outras tradições. Exemplificando: entre os essénios havia a noção de que a sua origem estava no planeta azul, Vénus, e figuravam-no como uma estrela de cinco pontas; no Egipto Antigo acreditava-se que tinham vindo de Sírius ou de Orion, atribuíam a Ísis a sua origem em Sírius, e a Osíris a constelação de Orion. Portanto, a ideia da vinda de Capela é absolutamente nova, não encontra confirmação na tradição antiga.
Quanto à Lemúria, parece que efectivamente a humanidade começou ali, ainda que de uma forma muito primária, pois inicialmente parece que a atmosfera era muito densa e os corpos eram translúcidos, ainda não completamente formados fisicamente. Ali teriam existido as chamadas 1ª, 2ª e 3ª raças, mas nisto o livro “Os Exilados de Capela” segue a par e passo as descrições algo confusas da “Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky, embora as datas não sejam coincidentes. Assim, e também de acordo com a “Doutrina Secreta”, A Lemúria acabou por desaparecer em prováveis convulsões que assolaram a Terra, salvando-se apenas uma minoria de seres, uma “casta” de eleitos que foram depois iniciar o povoamento da Atlântida. Este cataclismo teria sido originado pela degeneração da raça humana, que teria caído em grandes depravações, nas quais se incluíam também muitos dos seres superiores, que se tinham deixado seduzir pelos prazeres físicos, relacionando-se inclusive com as filhas dos homens.
Nisto parece estar quase tudo de acordo: A Bíblia diz que os filhos de Deus (deuses) se apaixonaram pelas filhas dos homens; a “Doutrina Secreta”, baseada nas estrofes de um livro tido como o mais antigo de todos, O “Livro de Dzyan”, refere que a Lemúria teria sido destruída pelos deuses porque a raça teria caído em grandes depravações; até Martinés de Pasqually fala em prevaricação no seu “Tratado de Reintegração dos Seres”. Naturalmente que o livro “Os Exilados de Capela” atribui o cataclismo que terá destruído a Lemúria a um castigo divino.
Com base apenas nestas descrições, a Terra no tempo da presumível existência da Lemúria não estava ainda numa situação relativamente estável, como acontece há uns bons milhares de anos. A atmosfera era muito densa, provavelmente o ar ainda não era aquela composição química que tem hoje (78% de nitrogénio, 21% de oxigénio e o resto constituído por outros gases, inclusive o dióxido de carbono). A atmosfera densa podia ser devida a convulsões sísmicas e vulcânicas. Portanto, estando a Terra nessa situação, é natural que mais dia, menos dia um grande cataclismo tenha feito desaparecer grande parte da sua massa, que as águas se tenham elevado, que montanhas tenham sido submergidas e outras montanhas se elevado. Obviamente que não se tratou de qualquer castigo divino, apenas consequências trágicas de um planeta ainda jovem e em formação.
Voltando aos “Lemurian Scrolls”, podemos ler o seguinte: “As almas mais evoluídas que primeiro chegaram à Terra durante o Sat Yuga continuaram a trazer para a forma física mais seres divinos de outros planetas. Isso era parte da sua missão. Lord Skanda veio para a Terra durante o Sat Yuga. Ele era uma das almas mais altamente desenvolvidas. Ele veio como o líder do primeiro grupo para os guiar até ao próximo Sat Yuga. Ele era o rei celestial da Lemúria. Foi por esta razão e através da antiga prática de oferecer essências de frutos e perfumadas ambrósias aos corpos etéricos das almas para estes as absorverem e tornarem-se densos que este planeta se tornou habitado no Sat Yuga. À medida em que o planeta se movia no tempo e espaço, raças diferentes vieram de vários planetas e se instalaram em diversas áreas.” Isto é algo muito diferente do que lemos no livro “Os Exilados de Capela”, e algo que nada tem a ver com culpa ou castigo divino.
O sentimento de culpa resultante do castigo divino foi herdado, principalmente, pelas religiões do “Livro”, as que se reportam ao Antigo Testamento, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Nas religiões orientais, como no hinduísmo, esse sentimento não existe. Daí a necessidade da vinda de um “salvador”. Como o espiritismo tem a sua raiz no cristianismo, naturalmente que “Os Exilados de Capela” não podia deixar de reforçar essa componente de culpa.
Para além de seguir a par e passo as descrições teosóficas de Helena Blavatsky na “Doutrina Secreta”, o livro também recorre ao que a Antropologia nos pode dizer sobre a ancestralidade dos vários tipos humanos, sobre a qual, como sabemos, existem bastantes divergências entre os pesquisadores que se dedicam ao assunto. Para uns o homem actual (homo sapiens sapiens) não tem mais de 30.000 a 60.000 anos, para outros apareceu na África Oriental há cerca de 200.000 anos. Isto para lá de outras controvérsias. No entanto, o livro “Os Exilados de Capela” tenta fundamentar a sua teoria com base nos diferentes espécimes fósseis de esqueletos humanos encontrados em diversos pontos do planeta, ou seja, que esses diferentes seres são o resultado da intervenção dos “veladores” no sentido de melhorar a espécie humana.
Procura também fundamentar-se na Bíblia, em Moisés, como um dos seres superiores que vieram de Capela para ajudar a espécie humana, refere os profetas e especialmente Jesus, governante do nosso sistema planetário, que terá incentivado as almas vindas de Capela a regenerarem-se e a poderem voltar para o seu planeta de origem. Isto terá acontecido com grande parte dos egípcios, os quais, segundo o autor, seriam de uma “casta” mais elevada e portanto, não tiveram que passar por muitas experiências para poderem voltar.
Resumindo e para não me alongar mais nesta crónica, o ser humano veio para a Terra como castigo divino (ou dos seres superiores), e tem reencarnado sucessivamente no seu longo caminho de reabilitação. As catástrofes naturais foram decretadas para castigo e destruição dos humanos que se afastaram do objectivo para que tinham vindo e caíram no vício, na depravação e na luxúria. Assim foi destruída a Lemúria, a Grande Atlântida e a Pequena Atlântida.
Transcrevo algumas passagens do livro que considero significativas:
“Com a chegada dos remanescentes da Atlântida, os povos Hiperbóreos ganharam forte impulso civilizador e, após várias transformações operadas no seu tipo fundamental biológico, por efeito do clima, dos costumes e dos cruzamentos com os tipos-base, já previamente selecionados pelos auxiliares do Cristo, conseguiram estabelecer os elementos etnográficos essenciais e definitivos do homem branco, de estatura elegante e magnífica, cabelos ruivos, olhos azuis, rosto de feições delicadas.”
“Como se vê, a Quinta Raça foi a última, no tempo, e a mais aperfeiçoada, que apareceu na Terra, como fruto natural de um longo processo evolutivo, superiormente orientado pelos Dirigentes Espirituais do planeta. Ao se estabelecerem no centro da Europa os Hiperbóreos, logo a seguir e antes que pudessem definitivamente se fixar, foram defrontados pelos negros que subiam da África, sob a chefia de conquistadores violentos e aguerridos, que abrigavam suas hordas sob o estandarte do Touro, símbolo da força bruta e da violência.”
“Assim, sobrepondo-se, mesmo, às sacerdotisas que exerciam completo predomínio religioso, Rama assumiu a direção efetiva do povo, levantou o estandarte do Cordeiro - símbolo da paz e da renúncia - e, no momento julgado oportuno, conduziu-o para os lados do Oriente, atravessando a Pérsia e invadindo a Índia, desalojando os rutas primitivos e aí estabelecendo, sob o nome de Árias, os homens da gloriosa Quinta Raça.”
“Esses mesmos homens que, tempos mais tarde, se espalharam dominadoramente em várias direções, mas, notadamente para o Ocidente, conquistando novamente a Europa até as bordas do Mediterrâneo, nessas regiões plantaram os fundamentos de uma civilização mais avançada que todas as precedentes e da qual somos todos os homens brancos, os atuais descendentes e herdeiros. Após essas impressionantes depurações, os remanescentes humanos agrupados, cruzados e selecionados aqui e ali, por vários processos, e em cujas veias já corria, dominadoramente, o sangue espiritual dos Exilados da Capela, passaram a formar quatro povos principais, a saber: os Árias, na Europa; os Hindus, na Ásia; os Egípcios, na África e os Israelitas, na Palestina.”
Deixo estas transcrições para que cada um interprete como entender. No resto, esta obra, como todas as obras espíritas, não pode ser confrontada como nenhumas provas documentais. Trata-se apenas de acreditar, ou não acreditar.
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