quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O Cosmos, o Homem e a Evolução

2 – As Fontes

“ (...) Onde estava o silêncio? Onde os ouvidos para percebê-lo? Não; não havia Silêncio nem Som: nada, a não ser o Incessante Alento Eterno, para si mesmo ignoto.” (Da Estância II do Livro de Dzyan sobre Evolução Cósmica. In “A Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky.)

Uma das coisas que mais tem preocupado o homem de quase todos os tempos, é saber qual a sua origem, como foi criado, de onde vem, para onde vai, saber afinal qual o sentido da vida. Por acréscimo, e porque o homem tem a noção de que uma coisa não poderia existir sem a outra, também deseja saber o que é o Universo, qual a sua origem e como se deu, no seu conjunto, a Criação. Como veremos mais adiante, o homem nem sempre se terá preocupado com estas questões porque, nas suas primeiras existências sobre a Terra tinha esse conhecimento, estava em contacto com os «deuses», participava da Criação de uma forma integral. Terá perdido esta condição de comunhão íntima com os «deuses» quando se deu aquilo a que se convencionou chamar “A Queda”. Veremos também o que nos parece o que terá sido essa “Queda”, como terá acontecido e porquê.
Para a abordagem de um assunto desta natureza, a ciência actual, apesar das suas formidáveis conquistas no campo das experiências materiais, não nos diz quase nada, limita-se a desenvolver algumas poucas teorias que se vão desmentindo a si mesmas à medida em que novas descobertas vão sendo feitas ou novas teorias aparecem, pondo em causa as anteriores. Na verdade, a ciência anda um pouco perdida, porque há lacunas que não consegue cobrir e há coisas que não consegue demonstrar nem explicar. É um caso paradigmático aquele em que os astrónomos modernos atribuíram, «definitivamente», determinada antiguidade ao Universo contada em biliões de anos. Pouco depois, outros cientistas chegaram à conclusão de que alguns fósseis encontrados na Terra, depois de analisados ao carbono 14, mostravam ser mais antigos em idade do que o próprio Universo, o que, naturalmente, constituía uma impossibilidade, porque a Terra não podia existir sem o Universo. Ou o teste do carbono 14 estava errado ou os astrónomos tinham-se enganado no cálculo que haviam feito.
O homem não é um ser puramente material, o homem é bem mais do que o corpo que lhe serve de invólucro na sua vida na Terra. Neste pressuposto, também todo o Universo não deve ser encarado e analisado apenas pelo ponto de vista material. A ciência oficial não nos oferece nada de conclusivo acerca da Criação, nem o poderia fazer pois limita-se aos aspectos materiais e não considera que possa haver outros. Assim, preferimos recorrer às fontes antigas, textos e tradições que nos chegaram até hoje e cuja linguagem cifrada continua a constituir um verdadeiro quebra-cabeças, um teste à nossa capacidade e habilidade de os entender.
Ao recorrermos às fontes antigas, estamos bem cientes de que elas podem ter sido voluntária ou involuntariamente adulteradas ao longo do tempo. Voluntariamente para se adaptarem à vontade dos poderes terrenos e de certas religiões, involuntariamente porque sabemos que “quem conta um conto acrescenta um ponto”, isto é, que dificilmente alguém consegue transmitir algo que recebeu na sua pureza original. Apesar dos eventuais erros que elas contenham, são elas, basicamente, que nos vão servir de guia neste trabalho. Vamos também recorrer à tradição esotérica, que não se encontra em nenhum manual, mas se acha espalhada por um grande número de obras escritas.
A primeira fonte de que dispomos é a Bíblia. Ela é composta por dois grandes livros, o Antigo e o Novo Testamento. Isto significa, em nosso entender, que este último, o Novo Testamento, veio para substituir o Antigo, mas parece que não foi assim, pelo menos dentro do cristianismo, que continua a considerar os dois.
No Evangelho de S. João, um dos quatro Evangelhos que faz parte do Novo Testamento, diz-nos logo no início que no princípio era o Verbo, que este estava com Deus e que Deus era o Verbo. Algumas edições actuais da Bíblia substituíram o Verbo por “Palavra”, o que é um erro grave pois o Verbo não é a Palavra, é bem mais do que isso.
O primeiro conjunto de livros do Antigo Testamento, é chamado de Pentateuco, porque eles são cinco e foram, hipoteticamente, escritos por Moisés. Mas Moisés, se é que existiu, não deve ter escrito coisa nenhuma, pois para alguns pesquisadores a sua história foi decalcada da história de Sargão I, rei da Acádia, na Baixa Mesopotâmia, que terá vivido uns duzentos a trezentos anos antes da presumida existência de Moisés.
O primeiro livro, o Génesis, diz que Deus criou o mundo em seis dias, e ao sétimo descansou: “No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas estavam sobre a face do abismo e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas. Deus disse: «faça-se luz», e fez-se luz. Deus viu que a luz era boa. Deus separou a luz das trevas: à luz chamou «dia» e às trevas chamou «noite». Houve uma tarde e uma manhã: foi o primeiro dia.” O dia aqui não significa o dia terreno de vinte e quatro horas. O dia refere-se a um período mais ou menos longo, de alguns milhões de anos, senão mais.
Um dos personagens mais misteriosos da Bíblia chama-se Enoch, pois não se sabe exactamente quem foi. A confusão é estabelecida no Génesis: nos versículos 4-17-18, ele é filho de Caim e pai de Irad; nos versículos 5-18-21, ele é filho de Jared e pai de Matusalém; no versículo 5-24 diz que ele andava com Deus e desapareceu, porque Deus o arrebatou. Este último repete-se no Novo Testamento, na carta de S. Paulo aos Hebreus, 11-5. Ou se trata de duas figuras diferentes ou é a mesma, e então a própria Bíblia se contradiz. Presume-se que ele tenha escrito um livro, chamado precisamente "O Livro de Enoch”, considerado apócrifo, o que quer dizer que foi rejeitado de fazer parte da Bíblia. Parece que a sua versão mais antiga é em língua semita etíope, mas há outras versões em aramaico e hebreu que se diz serem as verdadeiras, parte das quais foram encontradas nas ruínas de Qumrã e portanto, terão pertencido aos essénios. Ora estas últimas terão sido escritas entre o século 1º e 2º antes de Cristo e não se sabe quem as escreveu, não foi de certeza o Enoch referido no Génesis.
Seja como for, este livro de autoria misteriosa é dividido em sete partes e inclui muito do que diz o Génesis, numa forma diferente, sendo uma das partes o que podemos chamar de apocalíptica, um prenúncio do que mais tarde viria a ser o Apocalipse de S. João. Enoch descreve-nos como Deus lhe conta como fez a Criação: “Nas partes mais baixas, ordenei que as coisas visíveis descessem do invisível, e Adoil desceu muito grande, olhei-o e ele tinha um ventre de grande luz. E eu disse-lhe: parte-te, Adoil, e deixa que o visível saia de ti. E ele partiu-se e uma grande luz saiu dele. E eu estava em meio à grande luz; e como a luz se faz da luz, nasceu uma grande era, e mostrou toda a criação, que eu havia pensado em criar. E eu vi que era bom.”
Existe um livro muito antigo, considerado o mais antigo dos livros, do qual teria sido transcrito o mais antigo documento hebreu referente à sabedoria oculta, o Siphrah Dzeniouta. Esse livro, de que parece existir apenas um único exemplar, não se sabe onde, chama-se “O Livro de Dzyan”, está escrito em forma de estâncias e contém algumas vinhetas. Numa dessas vinhetas, mostra a “Essência Divina emanando de Adão (Anthropos), à maneira de um arco luminoso que passa a formar um círculo e, depois de chegar ao ponto superior da sua circunferência, a “Glória Inefável” retrocede e volta à Terra, levando no seu vórtice um tipo de humanidade superior. À medida em que mais se aproxima do nosso planeta, a emanação faz-se mais densa e escura até que, ao tocar a Terra, é negra como a noite.
O “Rig Veda” hindu, o livro mais sagrado da Índia, fala-nos assim de como terá sido o início de todas as coisas:
“Não existe nada: nem o claro céu,
Nem ao alto a imensa abóbada celeste.
O que tudo encerrava, tudo abrigava,
E tudo encobria, que era? Era das águas
O abismo insondável? Não existia a morte,
Mas nada havia imortal. E separação
Também não existia entre a noite e o dia.
Só o UNO respirava em SI mesmo e sem ar:
Não existia nada, senão ELE. E ali
Reinavam as trevas, tudo se escondia
Na escuridão profunda: oceano sem luz.
O germe, que dormitava em seu casulo,
Desperta ao influxo do ardente calor
E faz então brotar a Natureza una.”
O Siphrah Dzeniouta que, como dissemos acima talvez seja o documento hebreu mais antigo, chama o Criador de Elohim: “No começo (Bereschit), Elohim criou o céu e a terra. E Elohim disse: que a luz seja feita, e a luz foi feita. E Elohim viu que a luz era boa.”
A Cabala (ou Kabbalah) mostra-nos a Criação através da Árvore Sefirótica, também conhecida como Árvore da Vida, explicando que o mundo manifesto emerge do mundo não manifesto. Para a Cabala, a Criação é o resultado da emanação divina através das várias Sefiras, vindo do En Sof, o mundo não manifesto, descendo até se fixar em Malkhut, o mundo manifestado na matéria. No dizer dos cabalistas, Deus não existe. Deus é! Deus está para além da existência. Deus está para além de qualquer ideia que possamos formar na nossa mente e, desta forma, evita-se a tentação de representar Deus como algo semelhante a nós, ou que nos seja familiar. Deus é “Ayin”, que quer dizer “Coisa Alguma”. A Criação acontece quando “Alguma Coisa” surge no meio da infinitude do En Sof para uma realidade não manifesta, oculta em total imobilidade e silêncio absoluto. Para alguns cabalistas, este é o “Lugar Sem Fim”. Desse lugar sai a vontade do En Sof, que se contrai, concentra ou irradia, para permitir que o mundo manifesto emirja do não manifesto.
Poderíamos continuar a consulta de fontes antigas, como por exemplo as cosmogonias caldeias e chinesas, ou as lendas incas, ou ainda as lendas celtas. Todas elas nos diriam mais ou menos a mesma coisa, ainda que por outras palavras e com outros nomes. Mas isso poderia tornar-se fastidioso. Resta-nos a posição da ciência oficial dos nossos dias. Para esta, tudo teria tido início num chamado “Big Bang”, isto é, toda a matéria contida no Universo estaria contraída num ponto minúsculo, ponto este que teria o peso incomensurável de toda a matéria existente no Universo, que em determinada altura, não se sabe bem porquê, teria explodido e iniciado um movimento de expansão, formando gradualmente todas as galáxias com o seu incontável número de estrelas, planetas e outros astros.
Por incrível que pareça, esta teoria do “Big Bang” baseada apenas em pressupostos de natureza material, confirma no essencial o que toda a tradição antiga nos diz sobre o momento primeiro da Criação – que tudo terá começado em determinada altura, num determinado ponto. No entanto, ninguém explica onde estaria contido esse ponto minúsculo que explodiu, porque esse ponto, considerando que o fenómeno teve apenas uma origem material, com um peso e submetido a uma pressão que não podemos sequer imaginar, teria que estar em algum lugar. A matéria já existia, concentrada nesse ponto. A não ser que a explicação seja outra, que não havia matéria, que não havia nenhum ponto minúsculo, que não havia nada “nesta dimensão” e, simplesmente, a Criação se deu através dessa famosa explosão, que aconteceu de forma repentina, num ponto qualquer do espaço, ponto esse que não existia antes e num espaço que também não existia, pois só passou a existir depois da explosão.
Confuso? Talvez, mas é precisamente isto que os textos mais antigos nos dizem, aos quais a teoria do “Big Bang” não veio acrescentar nada, pretende apenas explicar as coisas sob o ponto de vista exclusivamente material.
Hoje fala-se muito de “buracos negros” no espaço, com uma tão grande capacidade de atracção que podem atrair tudo a si, até a própria luz. Mas esta questão dos “buracos negros”, ao contrário do que toda a ciência reivindica, começou por ser apenas uma teoria antes de ser demonstrada na prática, ou seja, que a ciência lançou a teoria sem a poder demonstrar experimentalmente ou por registos fidedignos. Esta teoria baseia-se na teoria da relatividade de Einstein e foi desenvolvida em 1916 por dois astrónomos alemães. Somente em 1994, através de um telescópio lançado para o espaço, o Hubble, os astrónomos puderam suspeitar, apenas suspeitar, a primeira evidência de um “buraco negro”. Sendo assim, e se eles existem, porque não pensarmos que a Criação se tenha dado através de um “buraco negro invertido? Quero dizer, em vez de atrair toda a matéria, luz, radiação, de cá para lá, o teria feito de lá para cá. Penso que seja uma hipótese muito fraca, porque não vejo bem como um “buraco negro”, se é que existe mesmo, pudesse criar outros “”buracos negros” em sentido contrário como aqueles que, aparentemente, existem no Cosmos. No entanto... a hipótese do “buraco negro” faz lembrar as trevas de onde se terá dado a ignição inicial, de onde se fez luz.
A existência das trevas antes do primeiro momento de tudo coloca para mim uma outra questão. Todos os rosacruzes conhecem uma frase que diz mais ou menos isto: “...a luz não veio das trevas, porque as trevas não podem dar origem a coisa alguma.”
Esta frase encerra um ensinamento muito profundo, pois as trevas correspondem ao “não-ser”, à não existência, ao nada. As trevas não podem conter a luz, porque elas não contêm nada e portanto, também não podem originar nada. A luz ter-se-á originado nas trevas e não das trevas. Isto faz-nos lembrar de novo a Árvore Sefirótica da Cabala e a região acima da primeira Sefira, a Kether, chamada de En Sof, a “Coisa Alguma” de onde terá saído a vontade para as emanações. Seja em que ponto for que nos coloquemos nessa Árvore Sefirótica, nós só podemos ter consciência do que é manifestado, portanto, das emanações. O que se passa para além dessas emanações é para nós completamente desconhecido, são as trevas no sentido em que não conseguimos conceber na nossa mente nenhuma espécie de fenómeno. É o absoluto desconhecido, por isso, para nós, são as trevas, o que não quer dizer que sejam de facto trevas.
Embora confirmando, de certo modo, o que a tradição antiga nos diz sobre como se terá dado a Criação, a ciência de hoje não nos esclarece de forma convincente sobre o assunto, limitando-se a estabelecer algumas teorias e deixando no ar algumas lacunas muito difíceis de preencher. No que se refere ao homem, naturalmente que descartamos completamente a teoria de Darwin da evolução das espécies porque, como veremos adiante, o homem não é uma das muitas espécies criadas, mas sim, um ser totalmente diferente, constituindo ele próprio um reino à parte entre os reinos da natureza.
Independentemente de certos erros cometidos no passado por motivos de ordem religiosa, em que princípios do conhecimento fundamental foram completamente adulterados para transformar o homem no centro de toda a Criação, que de facto o é, mas não no sentido que deu origem a essas aberrações, à completa deturpação das leis e princípios universais, a ciência tem vindo a confirmar ao longo do tempo tudo o que os antigos sabiam. Exemplificando, os gregos conheciam e desenvolveram teorias acerca do átomo e da energia electromagnética. Como sabemos, isto só veio a ser comprovado nos últimos dois séculos. Os signos do Zodíaco eram do conhecimento dos egípcios, dos caldeus, dos hebreus e dos hindus, o que demonstra que eles conheciam as leis de gravitação e o movimento dos astros.
Socorrendo-nos dos textos antigos, da tradição oculta, podemos talvez aí encontrar certas “chaves” que nos forneçam alguma luz sobre como se terá formado a Criação e saber quem é o homem e como ele apareceu e tem evoluído ao longo das eras, desde o princípio, e esperar, que um dia destes, a ciência venha confirmar alguns dos conceitos que, à partida, nos podem parecer inverosímeis.
Esta compreensão, se alguma vez a chegarmos a atingir, talvez nunca a consigamos exprimir inteiramente pois, como todo o conhecimento verdadeiro, ela reside no entendimento interior de cada um. Mais do que um processo intelectual, trata-se de conseguirmos integrar dentro de nós o significado e a simbologia que nos chega desde os tempos mais remotos.
Isto faz com que cada um crie dentro de si uma concepção individual acerca da Criação e de como tudo se formou, e nenhuma destas concepções individuais é menos verdadeira que as outras, pode ser apenas que alguns consigam ir um pouco mais longe que outros, mas a essência é a mesma. Como tudo o que existe sobre a Terra, nenhum homem é igual a outro homem, em todos os aspectos um homem é um universo único, e por isso, as suas concepções acerca seja do que for, são também concepções únicas. Existe uma verdade única que está para além da nossa capacidade de entendimento, essa verdade é aquilo que cada homem procura dentro da sua verdade, que não é igual a nenhuma outra.

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