V – Apocalipse
Como sabemos, o Apocalipse é o último livro do Novo Testamento e terá sido escrito na ilha de Patmos por um certo João, que ali estaria detido. Aqui começa o mistério: supõe-se que este João seria o discípulo de Jesus, o “mais amado”, que teria na altura da crucificação de Jesus cerca de 17 anos de idade, e assim, podia ter escrito o Apocalipse numa idade já bem avançada; o exílio na ilha de Ptamos é o próprio autor que nos informa logo no início do texto; diz-se que a ilha de Patmos era usada pelo Império Romano para banimento de criminosos e por isso, João, acusado de heresia perante o Império, teria sido para ali banido no final do reinado do imperador Domiciano.
Bem, não querendo ser demasiadamente racionalistas, temos no entanto algumas dúvidas sobre a veracidade destes factos. Não existem referências históricas que os confirmem, as únicas referências são as do próprio João ou de alguns padres da Igreja da época em que o Apocalipse terá sido escrito. Não existem referências históricas de que a ilha de Patmos fosse uma colónia penal no tempo do Império Romano, pelo menos não as conhecemos. Os cristãos que se recusavam a adoptar a doutrina oficial do Império de adoração dos imperadores, eram condenados à morte, como alguns o foram. Então porque é que João também não foi condenado à morte? Por maioria de razão dado que ele, além de cristão era, perante o Império, um agitador.
Mas presumindo que esta história seja verídica, prisioneiro em liberdade numa ilha a uma distância segura da costa da actual Turquia, João escreve os seus textos e faz, não se sabe como, com que sejam entregues a algumas comunidades cristãs nascentes. Por isso se dirige inicialmente às Sete Igrejas.
Apocalipse, termo latino que vem do grego “apokálypsis”, significa literalmente “revelação”. Para o cristianismo trata-se de revelações sobre o fim do mundo, ou o fim dos tempos. Mas os textos são dirigidos às comunidades cristãs da época, revelando a existência do mal e as suas formas de expressão, numa previsão de combate entre o mal, caracterizado na realidade pelo Império Romano, e o bem, personificado nos ensinamentos e na pessoa de Jesus.
O imperador Vespasiano (69-79 d. C.) tinha criado a religião imperial, o culto dos imperadores mortos, atribuindo-se a si próprio títulos como “salvador”, “benfeitor”, “senhor”. O imperador que se seguiu, Domiciano (81-96 d. C.), endureceu a situação impondo essa religião imperial e exigindo o culto ao imperador vivo. Quem recusasse esse culto e seguisse uma religião diferente, era perseguido e morto. Por isso João queria exortar as comunidades cristãs a manterem-se firmes na sua fé, apesar do perigo que corriam.
Neste quadro, a existência de João na ilha de Patmos escrevendo para os cristãos, exortando-os a rebelarem-se contra as ordens do imperador, não faz sentido.
Como todos os textos proféticos, e são assim chamados porque procuram predizer o futuro, o Apocalipse tem sido aplicado a numerosos acontecimentos ao longo da História, na presunção de que esses acontecimentos estariam previstos nas palavras de João. Mas na verdade, João dirigia-se apenas ao seu tempo. Por este motivo ele diz logo no princípio que o tempo está próximo, que os acontecimentos que descreve estão para acontecer em breve.
Apesar da transposição para tempos posteriores e para os nossos dias ser abusiva e não corresponder à ideia original de João, o texto reflecte no entanto a eterna luta entre o bem e o mal ao longo de toda a história da humanidade. Há quem diga, e a ideia vive inclusive dentro de algumas escolas místicas, de que o mal não existe, que não passa da ausência do bem. Mas isto é um sofisma, o mal existe da mesma forma que o bem, além do que, os conceitos de bem e de mal são de exclusiva criação nossa, pois na Natureza eles não existem. Como falámos na crónica anterior dos “Filhos de Belial”, não é difícil com um pouco de habilidade, ler no Apocalipse o que tem acontecido ao longo do tempo até aos nossos dias.
Da mesma forma que o Apocalipse, o Crânio de Cristal, de uma forma mais subtil, sem os “efeitos especiais” do texto de João, alerta-nos para esse eterno combate quando diz que os “Filhos do Um” só poderão vencer os seres grosseiros que têm dominado o planeta, quando unirem as suas mentes e se tornarem Um. Enquanto isso não acontecer, a Terra caminha inexoravelmente para o extermínio.
Mas ao contrário de todas as previsões, o Crânio diz-nos que não haverá uma guerra atómica. Que essa ideia foi criada pelos seres grosseiros como forma de domínio, que pela ameaça pendente de uma guerra atómica e o temor que ela implica, estamos sob controle, conduzidos pelos caminhos por eles idealizados. A este respeito, a voz do Crânio insiste dizendo: “Não vejam com os olhos… ouçam com a vossa mente! Não ouçam com os ouvidos… Ouçam com a vossa mente!
Durante todo o tempo posterior à 2ª Grande Guerra, temos vivido no terror de um holocausto nuclear. Esse temor é legítimo, pois em face das numerosas armas nucleares em posse de vários governos e, talvez em posse de algumas organizações criminosas, uma vez que não se sabe exactamente o destino de algumas dessas armas após a dissolução da União Soviética, vivemos literalmente com a “espada de Dâmocles” sobre a cabeça.
A utilização de armas nucleares em guerras não é novidade para a humanidade e não se limitou à catástrofe de Hiroshima e Nagazaki. Zecharia Sitchin conta-nos num dos seus livros da série “Crónicas da Terra”, que elas foram usadas no episódio bíblico de Sodoma e Gomorra e mais quatro cidades, exterminando toda a vida na região e em toda a Mesopotâmia devido às nuvens radioactivas que originaram, dando origem provável ao Mar Morto, cujas águas se encontram a mais de quatrocentos metros abaixo do nível do Mediterrâneo e são tão densas, devido ao seu alto teor de salinidade, que não contêm nenhum vestígio de vida.
Durante todo o período da “guerra-fria” em que o mundo viveu num equilíbrio aparentemente precário entre as duas grandes potências, o Apocalipse de João foi interpretado diversas vezes como prevendo uma inevitável guerra atómica com terríveis consequências para a humanidade. Como dissemos antes, essas interpretações foram um aproveitamento oportunista do texto de João, já que ele se refere apenas ao seu tempo e às dificuldades do cristianismo nascente face ao Império Romano. Para João, a “Besta” era o imperador romano ou o Império Romano; para essas interpretações, até porque a “Besta” era escarlate, era o comunismo ou o seu dirigente máximo.
Na verdade, o perigo da guerra atómica era fictício, uma noção criada, como diz o Crânio, para nos manter sob controlo. Porque nenhum dos presumíveis contendores iria iniciar uma guerra que provocaria, com toda a certeza, a sua própria destruição, embora essa guerra estivesse, ou sempre tem estado, nos planos dos militares. Se tivessem deixado o poder exclusivamente na mão dos militares, temos poucas dúvidas de que teria acontecido um holocausto nuclear. Salvou-nos talvez o medo incrustado na sociedade civil ou, a intervenção do “santo descalço”, como referem as profecias de João XXIII. Porque para os militares a guerra é uma condição natural, pois é para isso que eles existem, na presunção da defesa dos seus territórios mas, na realidade, essa defesa pode tomar facilmente o carácter de agressão.
Para podermos entender um pouco a mentalidade militar, lembremos a 1ª Grande Guerra, considerada a mais estúpida de todas as guerras. Tratou-se apenas de uma espécie de jogo mortal entre os militares de um lado e do outro, estabelecendo planos de batalha com total desprezo pelas baixas que causariam às suas próprias fileiras, pois o que importava era o seu ego, expresso em estratégias que beiravam a completa loucura. Ninguém sabe exactamente porquê que houve essa guerra, nem quais eram os objectivos a atingir. No terreno lamacento ficaram milhões de mortos, testemunhas silenciosas da imbecilidade a que o ser humano pode chegar.
O Crânio de Cristal insiste, dizendo que o grande perigo para esta humanidade não está na guerra atómica, que não haverá, mas na utilização do som como arma destruidora, e que essa arma já tem sido testada.
Jean-Paul Sartre, um dos ideólogos do existencialismo que teve a sua maior expressão em França nos anos quarenta e cinquenta do século passado, recusava o direito à existência da bomba H. Para ele a bomba H era contra a História, pois esta seria o movimento das massas em direcção ao poder. Este, nas mãos de uma elite reduzida, alguns sábios, políticos e militares, controlariam o movimento das massas, retirando-lhe a possibilidade de se emanciparem e tomarem o poder.
O desarmamento nuclear, política em curso nos últimos anos entre os EUA e a Rússia, não passa também de uma ficção. Reduzir o armamento não resolve a situação. Esta só seria resolvida se o desarmamento implicasse a destruição de todas as armas, que não é o caso. Possuir dez mil armas ou mil armas apenas, não reduz o perigo de uma guerra, os efeitos seriam sempre os mesmos.
Enquanto andamos distraídos com estas questões nucleares, laboratórios secretos vão criando outras armas, mais subtis mas talvez mais perigosas. Esperemos que não venham a cair em mãos erradas e que fiquem, indefinidamente, escondidas nos locais em que estão.
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