7. O Homem
“Os Anjos aspiram a ser homens; pois o Homem Perfeito, o Homem-Deus, está acima dos próprios Anjos”. (Eliphas Levi)
As fontes que permitiram desenvolver a hipótese da criação do nosso planeta, assim como do nosso sistema planetário, ter tido origem numa nebulosa original chamada Saturno, da qual o actual Saturno seria o seu remanescente, também dizem que os Arcanjos fizeram várias tentativas frustradas de criação do Homem, e que essas experiências resultaram em grande parte nos animais que passaram a habitar a Terra. Esta é uma afirmação algo arriscada pois, a variedade do mundo animal é tão grande que nos é difícil conceber que grande parte do reino animal tenha tido essa origem. Aceitamo-la com reservas na convicção de que os três reinos da natureza terrestre, o mineral, o vegetal e o animal, foram criados com um sentido harmónico e de escalonamento hierárquico, em que cada um tem a sua função a desempenhar no plano evolutivo.
Muitos dos animais que povoam a Terra são, muito provavelmente, o resultado de mutações sucessivas conforme expresso na teoria de Darwin, embora seja difícil explicar as lacunas (os saltos) que aparecem entre uma forma e outra da mesma espécie. Por outro lado, existem dois grupos que se suspeita não serem originários da Terra, que não foram criados aqui, mas que foram trazidos de outro planeta. É o caso das formigas e das abelhas. De facto, tanto um como o outro, têm um comportamento, uma organização social, um sentido gregário, que não tem semelhança com qualquer outro grupo de insectos. Além disso, as formigas e as abelhas têm também um papel fundamental no equilíbrio ecológico da natureza.
A segunda estância do Livro de Dzyan diz que sem ajuda a natureza falha. A isto acrescentaríamos que, mesmo com ajuda, pode haver falhas. Isto quer dizer que a natureza, deixada livre, sem qualquer interferência na sua acção, falha no sentido de não produzir o que foi idealizado que ela produzisse. Falha apenas neste sentido, porque por outro lado ela adapta-se naturalmente às condições ambientais e produz o que essas condições permitirem. Mas se houver interferência exterior, as falhas também podem produzir-se, porque os seres que interferem também podem cometer erros. A nossa história actual está repleta de casos em que a natureza foi severamente agredida pela acção descuidada ou irresponsável do homem.
Não nos podemos surpreender que, na descrição sobre a formação do nosso sistema planetário a que entendemos chamar “A Hipótese de Saturno”, tenha ficado uma certa sensação, um certo sentimento de que as coisas nem sempre terão corrido bem. Ainda que agindo e pensando pela acção e pensamento do próprio Deus, já vimos que os seres que chamamos de Tronos, Querubins, Arqueus, Arcanjos, Anjos, não são tão perfeitos como poderíamos pensar, até porque eles próprios também estão no seu processo evolutivo. Esses seres cometeram erros, tiveram limitações na sua acção e até desencadearam uma espécie de “conflito” que terminou com a “queda” dos Anjos rebeldes.
No que se refere à criação do Homem, parece que houve algumas tentativas que saíram frustradas, das quais terão resultado os primatas que ainda hoje povoam a Terra. Depois destas tentativas, os Arcanjos conseguiram criar finalmente o Homem, mas não o homem como é hoje, criaram o Homem primordial, aquele que seria o progenitor de todos os homens pois, para chegar ao estágio actual foi necessário proceder a várias mutações, fazer algumas “correcções”. E isto não foi obra do acaso, não foi o resultado da associação aleatória de moléculas e átomos como ainda defende certa ciência (já há cientistas que não estão bem certos disto...), mas sim obra de seres criadores, deuses para toda a tradição antiga, e esses deuses nem sempre terão acertado.
Por outro lado, a partir de determinada altura, esses seres criadores não estavam totalmente de acordo uns com os outros, do que resultou a denominada “Guerra dos Céus” e que parece ter tido origem num problema de natureza sexual, pois foi a partir do momento em que Lúcifer idealizou a figura deslumbrante da futura Mulher que tudo se desencadeou. Não terá sido apenas esta a única razão, como veremos mais adiante, mas foi sem dúvida uma das peças fundamentais para a completa transformação do homem no ser que passou a habitar e a dominar a Terra. Os seres angélicos eram astral e espiritualmente andróginos, e a sua irradiação de Amor era sem perturbações e sem desejos egoístas, o que se compreende dada a sua androginia. Ora, a confusão estabeleceu-se quando apareceu a primeira tentativa de separação dos sexos, que é o mesmo que dizer a separação do homem em suas duas polaridades opostas e complementares, o homem macho e o homem fêmea, que passou a chamar-se mulher.
Tudo isto nos faz sentir que, por detrás de todas estas coisas algo se esconde e que, aparentemente escapa à nossa percepção. O surgimento de um conflito a nível espiritual entre a hierarquia dos seres é uma situação estranha e que transcende as nossas concepções acerca do modo como esses seres evoluem e agem. Para tentarmos compreender, na verdade, como se terá dado a Criação e como foi concebido o Homem, temos de tentar descortinar através da névoa com que todas estas coisas nos são transmitidas.
Na ordenação do Universo, existe uma razão para todas as coisas, porque nada foi feito e organizado ao acaso. Por este motivo, deve haver também uma razão para as hostes celestiais estarem organizadas numa hierarquia perfeitamente estabelecida. Elohim parece ser um nome genérico para muitos destes seres, pelo menos para os de mais elevada categoria, como por exemplo os Tronos e os Arqueus. Todos eles são seres criadores, pois todos têm a faculdade de criar, só que cada um pode criar até um limite específico, vimos isto na criação do Sol de Saturno em que os Arqueus não podiam criar a luz que precisavam. Vimos também isto quando os Arqueus criaram os Arcanjos para estes continuarem o processo de criação que eles tinham iniciado. Se quisermos organizar esta hierarquia de Poderes (na tradição cristã chamam-se Poderes), ou as faculdades de Deus em acção para a tradição hebraica, teremos o seguinte:
1ª Tríade – Serafins (Amor), Querubins (Harmonia) e Tronos (Vontade).
Este primeiro grupo está acima de qualquer outro Poder. Age em todo o Universo e faz parte da Esfera Divina. Está acima do espaço e do tempo, mas a sua acção manifesta-se no espaço-tempo.
2ª Tríade – Virtudes (Forma), Dominações (Movimento) e Principados (Sabedoria).
Estes são os Poderes ordenadores e equilibrantes, intermediários entre os Poderes superiores e os inferiores. Eles ordenam e equilibram todo o sistema planetário.
3ª Tríade – Arqueus (Personalidade), Arcanjos (Fogo) e Anjos (Vida).
Estes Poderes são os que estão logo acima do Homem e agem directamente com ele. Como vimos anteriormente, os Arqueus são os iniciadores, os espíritos do começo, os que fizeram saltar a primeira chispa do “Fiat Lux”. Os Arcanjos são a própria Luz, o Fogo criador, os que descem à voragem da matéria e amam o Homem, ao qual deram o sopro e a vida. Os Anjos são os seres que acompanham o Homem na sua vida terrestre, que sofrem e se alegram com ele, que o guiam através das múltiplas encarnações da sua viagem. Os Anjos não são o Eu superior do Homem, são seres independentes deste mas ligados a ele individualmente. Uma das suas missões é, precisamente, tentar despertar em cada homem o seu Eu superior.
Os Poderes destas três Tríades vêem depois a concentrar-se na individualidade que é representada por Lúcifer, ele próprio também um Arcanjo, que concedeu ao Homem e por amor deste, a liberdade.
Podemos comparar esta organização de Poderes com a Árvore Sefirótica da Cabala, onde o raio divino de En Sof percorre todas as esferas (Sefiras) de emanação até se concentrar em Malkhut, que é o mundo da matéria criada. Os cabalistas afirmam que existem quatro reinos presentes numa Árvore Sefirótica. Assim, comparando com as Tríades acima, teremos o seguinte:
· 1º Reino – AZILUT – englobando Kether, Hokhmah e Binah. Este é o reino da emanação e é correspondente à 1ª Tríade de Serafins, Querubins e Tronos.
· 2º Reino – BERIAH – contendo as Sefiras de Hesed, Gevurah e Tiferet. É o reino da criação, correspondente à 2ª Tríade de Principados, Dominações e Virtudes.
· 3º Reino – YEZIRAH – incluindo Nezah, Hod e Yesod. É o reino da formação, correspondente à 3ª Tríade e onde agem os Arqueus, Arcanjos e Anjos.
· 4º Reino – ASIYYAH – é o reino da feitura, da coisa feita. É a matéria em todo o esplendor de Malkhut. É o Homem criado, feito espírito e matéria.
Temos aqui, visto de uma maneira ou de outra, o número 10, que contém em si todos os atributos da Divindade que é o 1, pois o número 10 é igual a 1 (1+0=1). O Homem é o 10, o resultado de todo o processo da Criação, mas também é o 1, porque todos os atributos da Divindade estão nele – ele é o reflexo da face de Deus, de onde proveio e para onde volta, na sua interminável ronda ao encontro da sua natureza superior.
Voltando à chamada “Guerra dos Céus” e à impressão de que os Poderes angélicos nem sempre terão feito um trabalho perfeito, o que não nos custa aceitar, uma vez que sendo eles uma emanação da vontade Divina, tal como o Homem também o é, e estando eles também no seu plano evolutivo, é natural que haja algo de imperfeição na sua acção. Afinal a perfeição está em Deus, é Deus, e eles não são Deus, mas sim forças que agem por vontade Dele. Isto é importante porque há uma certa tendência para confundir Deus com as suas manifestações e por isso, os numerosos cultos que se formam em relação a determinadas divindades como se fossem o próprio Deus. Embora Deus seja omnipresente, uma vez que está em tudo, Ele não age directamente, Ele manifesta-se sempre através de terceiros, que são os instrumentos da sua manifestação.
No combate ou guerra dos céus que terminou com a derrota de Lúcifer e dos seus seguidores, e sua consequente queda no mundo da matéria, as coisas, provavelmente, não poderiam ter-se passado de outra forma, pois este acontecimento terá estado, desde o início, no pensamento Divino. A matéria só existe como resultado de duas energias, a positiva e a negativa, os átomos que a constituem possuem estas duas polaridades, e tudo o que existe é feito por associação de átomos. Ainda que não consigamos nem chegar perto dos chamados desígnios de Deus, é muito difícil que a matéria, como resultado último da Criação, pudesse ser formada de outro modo.
É caso para pensarmos: será que Lúcifer, na verdade, foi derrotado? Ou terá competido à sua hoste descer ao mundo espesso da matéria para aí poder prosseguir na sua obra de criação do Homem como ser independente e livre? Helena Blavatsky, a respeito do Génesis, diz o seguinte na sua “Doutrina Secreta”: “Por outra parte, a Serpente não é Satã, mas o Anjo Radioso, um dos Elohim revestido de glória e esplendor, que, havendo dito à mulher: «Se comerdes do fruto proibido, não morrereis certamente», cumpriu a promessa e tornou o homem imortal em sua natureza incorruptível. É o Iao dos Mistérios, o chefe dos Criadores Andróginos dos homens.”
Mais adiante, afirma ainda: “O Capítulo III (Génesis) contém (esotericamente) o descerramento do véu de ignorância que limitava as percepções do Homem Angélico, feito à imagem dos deuses, “sem ossos”, e o despertar nele da consciência da sua natureza real; mostra-nos deste modo o Anjo Radioso (Lúcifer) como um ser que dá imortalidade, um ser que ilumina.”
Eliphas Levi, a propósito de Lúcifer (Satã para os católicos), diz o seguinte no seu livro “As Origens da Cabala”: “Teólogos do demónio, supondes que Satã é livre? Se ele é, ainda pode voltar ao bem; se não for, não será responsável pelos seus actos, mas apenas instrumento de alguém mais forte do que ele, um escriba da justiça divina; fará tudo o que Deus quiser. Deus, para prová-lo, faz que ele tente e torture suas débeis criaturas. Então Satã não é o monarca das trevas: é o agente da luz velada. Logo, é útil a Deus; executa as obras de Deus; Deus não o arrojou longe, posto que o mantém sob a sua mão. Assim, aquele que é reprovado por Deus, por ele é rechaçado para sempre. O agente de Deus é o representante de Deus e, segundo as leis da boa política, o representante de Deus é o próprio Deus.”
Fica-nos a ideia de que, nesta altura dos acontecimentos, se tinha chegado a uma espécie de impasse, a uma solução de continuidade no processo da criação do Homem e da sua evolução: o Homem, para poder cumprir a sua missão de construção da sua própria evolução e, por extensão, da evolução planetária, teria que participar de forma integral do mundo da matéria, para daí poder renascer purificado e elevar-se ao mais alto da hierarquia na forma perfeita do Homem-Deus. Para isso era também necessária a separação dos sexos, que correspondia à imersão do homem no mundo da matéria. O homem teria que conhecer o seu lado sombra, a sua parte obscura e poder assim optar, para poder emergir em luz ou afundar-se nas trevas da animalidade.
De acordo com o Génesis da Bíblia o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. E Deus o fez homem e mulher e lhe ordenou para ser fecundo, para se multiplicar e dominar sobre a Terra. Na verdade, é bem isto o que o homem tem feito, tem sido fecundo, tem-se multiplicado e tem dominado sobre a Terra. Ele domina sobre a Terra, mas não domina a Terra nem a natureza. No seu processo de aprendizagem, o homem tem sido, a seu modo, um criador, mas tem sido mais um elemento predador do que um companheiro de viagem. Para deter completo domínio da Terra e da natureza, o homem tem de aprender a respeitá-las, mas para que isso suceda, um longo caminho tem ainda de percorrer.
Como diz a Bíblia, se o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, isto significa que ele é o espelho da Divindade, não no sentido da imagem que se reflecte num espelho, mas no de que o homem contém em si todos os predicados dessa Divindade. Dito de outra forma, ele é o objecto último da Criação, a mais perfeita criatura criada, reflecte em si todas as características da própria Divindade e do que ela concebeu quando “pensou” a Criação. Por outro lado, possui algo que mais nenhuma criatura possui, o livre arbítrio, a capacidade de pecar, a capacidade de ofender a Deus, que não é mais do que a capacidade de ir contra a sua própria natureza ou contra os desígnios com que foi criado.
A liberdade concedida ao homem (o livre arbítrio) é para ele a suprema dádiva de Deus, a oportunidade de se poder elevar por seu exclusivo mérito, pelos ditames da sua consciência sempre soberana. Ao contrário, pode constituir também a sua maior maldição, dependendo dos seus pensamentos e acções. Isto é demonstrado de forma exemplar na “Odisseia” de Homero, na viagem que Ulisses faz no seu regresso a casa, nas tentações a que tem de resistir, nos obstáculos que tem de ultrapassar. Esta é, verdadeiramente, uma viagem iniciática, uma perfeita alegoria do destino do homem sobre a Terra, do percurso que tem de fazer e das dificuldades que tem de ultrapassar, na sua volta à casa matriz, no retorno à sua origem, e neste regresso volta enriquecido com toda a experiência acumulada numa evolução feita num ambiente em que tem de conquistar, palmo a palmo, o mérito da sua ascensão, tornando-se um ser superior entre a mais alta hierarquia do círculo Divino. É a isto que também se refere a parábola de Jesus sobre o filho pródigo.
O homem, na tradição oculta, é o microcosmo que reflecte o macrocosmo. É a confirmação da lei que nos foi ensinada por Hermes Trismegistus, que para alguns seria a mesma entidade que Thoth, para outros um dos primeiros homens celestes, um dos Manus instrutores dos homens, lei essa que diz que o que está em baixo é como o que está em cima.
Z’ev ben Shimon Halevi dá-nos uma maravilhosa imagem da criação do Homem no seu livro “O Caminho da Kabbalah”. Diz ele o seguinte: “Depois que o Senhor (Adonai, o nome de Deus correspondente a Malkhut) já havia descansado em equilíbrio no sétimo dia de Malkhut, Ele observou que não havia nenhum homem para arar o solo. Isto significa que enquanto a Face superior de Yezirah era inerente à Face inferior de Beriah não havia nada abaixo para formar a Face superior de Asiyyah, simbolizada na palavra «adamah», ou “solo”. Portanto, Deus “plasmou o homem, pó da terra”: isto é, Deus seguiu pela Árvore Yezirática abaixo para “fazer” o mundo de elementos e acção, e “insuflou em suas narinas (neshamet hyim) um sopro de vida”. Aqui está o Homem no Éden, o Jardim daquele Mundo Yezirático que se estende para cima até ao Céu de Beriah e para baixo até à Terra de Asiyyah. Abaixo, a Face inferior de Asiyyah, tornou-se a parte da Terra que estava além da porta do Éden. Quando Adão e Eva caíram e foram forçados a deixar o Éden, foram baixados para essa Face inferior de Asiyyah a fim de vestirem peles de animais, que nós, humanos encarnados, portamos até hoje na forma do corpo físico. Contudo, ainda temos na Face superior de Asiyyah, uma conexão directa com o jardim inferior do Éden, e de vez em quando, em certos momentos de lucidez, entramos nela, mesmo que seja para vislumbrar a sua beleza estranhamente familiar.”
É uma bela descrição feita em termos cabalísticos. Os quatro reinos tocam-se e envolvem-se reciprocamente, nenhum deles é independente dos outros. Assim, o mundo superior, Azilut, que é emanação pura, abrange na sua circunferência o En Sof, Kether, Binah e Hokhmah; o mundo seguinte, Beriah, que é criação, inclui 3 Sefiras de cima, Kether, Binah e Hokhmah mais Gevurah, Hesed e Tiferet; O terceiro mundo, Yezirah, que é formação, envolve as três últimas Sefiras do mundo anterior mais Nezah, Hod e Yesod; por último temos o mundo de Asiyyah, a feitura, que abrange na sua circunferência Tiferet, Nezah, Hod, Yesod e Malkhut. É através de Tiferet, a Beleza, que o autor diz que pudemos por vezes estabelecer uma conexão directa com o jardim do Éden, em certos momentos de lucidez.
O primeiro Homem criado chamou-se Adão, mas este não é o nome de um indivíduo mas sim, o nome do ser criado chamado Homem. Martinés de Pasquallys diz que Adão, no seu primeiro estado de glória, era um verdadeiro émulo do Criador. Sendo um puro espírito, lia como num livro aberto os pensamentos e operações divinas. Diz ainda que Adão viu que era grande o seu poder e conhecia com exactidão todos os seres activos e passivos que habitavam desde a superfície terrestre e o seu centro até ao centro celeste chamado misteriosamente “céu de Saturno”. Diz também que Deus lhe concedeu os mais vastos poderes, ao ponto dele ser o Homem-Deus governando sobre a Terra, até ao dia da prevaricação de Adão, que fez com que fosse condenado a viver no mundo escuro da matéria: “É por isso que o anjo do Senhor diz, conforme rezam as Escrituras: «Expulsemos daqui o homem que teve conhecimento do bem e do mal, que ele poderia alterar-nos nas nossas funções espirituais, e evitemos que ele toque a árvore da vida, e que por este meio viva para todo o sempre.”
A árvore da vida aqui representa o espírito Criador, e viver por este meio para todo o sempre significa viver em função da dualidade, entre o bem e o mal, a que esta expulsão o condenou.
É interessante verificar que o Homem foi criado com todos os atributos divinos, mas que a sua condição posterior é consequência de dois episódios designados como “quedas”: primeiro a queda dos anjos, de Lúcifer, por ter idealizado Eva e, por acréscimo, a separação dos sexos, mas também por ter concedido ao homem o livre arbítrio a partir do qual, ele se sentia livre para agir segundo a sua própria vontade e consciência; a segunda queda é a do próprio Homem, de Adão, a sua expulsão do Éden por ter tido conhecimento do bem e do mal.
Podemos imaginar estas duas “quedas” como autênticas revoluções no processo da Criação, autênticos cataclismos siderais que estavam, como já dissemos, desde o início no pensamento de Deus, pois ambas eram necessárias para que o Homem pudesse cumprir a missão para que fora criado. Fica-nos, no entanto, uma estranha sensação: de que ambas as quedas são uma e a mesma coisa, ou que a última, a do Homem, está intimamente ligada à primeira, porque uma não faz sentido sem a outra. Explicando melhor, o homem não poderia aceder ao conhecimento do bem e do mal, que provocou a sua queda, sem o livre arbítrio, o qual lhe fora concedido em resultado da revolta dos Anjos. A “Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky, abre talvez uma pequena porta para que possamos entender melhor, quando diz: “A Filosofia Esotérica não admite nem o bem nem o mal per si, existindo independentes na natureza. Percebe-se a razão de ser de ambos, no que respeita ao Cosmos, na necessidade dos opostos, dos contrastes, e, relativamente ao homem, em sua natureza humana, em sua ignorância, em suas paixões. Não há demónios ou seres absolutamente pervertidos, como não há anjos absolutamente perfeitos, embora possa haver Espíritos de Luz e Espíritos de Trevas; assim, Lúcifer (O Espírito da Iluminação Intelectual e da Liberdade de Pensamento) é, metaforicamente, o farol que orienta, que ajuda o homem a encontrar o seu caminho por entre os escolhos e os bancos de areia da Vida, pois Lúcifer, no seu aspecto mais elevado, é o Logos, e, no aspecto inferior, é o “Adversário” – aspectos ambos que se reflectem no nosso ego.”
Desde o primeiro alento, o sopro de Deus, a vibração primordial, todo o processo da Criação desaguou nesse ser esplendoroso que contém em si todas as virtudes e potencialidades divinas – o Homem. Por detrás de todas as convulsões físicas da matéria, conseguimos ver a acção dos Poderes espirituais: foram os Arqueus que deram o primeiro impulso, os espíritos do começo; depois vieram os Arcanjos, espíritos do Sol, génios da Luz; em Lúcifer, uma Luz adentrando as Trevas do Abismo, a compaixão pelo Homem; o Homem, o sofrimento e o desejo, a “via-sacra” do seu caminho, os espinhos do crescimento interior; com Cristo, a redenção e a ressurreição, a promessa de um novo Éden, um novo jardim do Paraíso.
domingo, 23 de agosto de 2009
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
O Cosmos, o Homem e a Evolução
6. A Hipótese de Saturno
“Homenagem a ti, Touro de Amentet, o deus Toth rei da eternidade, está comigo. Sou o Grande Deus perto do barco divino, combati por ti. Sou um dos deuses, aqueles chefes divinos, que fazem Osíris sair vitorioso dos seus inimigos no dia da pesagem das palavras.” (Do Livro Egípcio dos Mortos).
No início, após o primeiro impulso da Criação, após a manifestação do Verbo em Luz, o nosso sistema planetário não existia. A Via Láctea era um conjunto de nebulosas indistintas constituídas pela matéria primordial da formação dos mundos (coágulos brancos). De acordo com a antiga ciência oculta que nos chegou através da Índia, a lei das transformações ou do renascimento dos mundos sob formas semelhantes mas sempre novas, após longos sonos cósmicos (noites de Brahma), aplica-se tanto às estrelas como aos planetas, tanto aos deuses como aos homens.
O nosso sistema planetário não passava de uma dessas nebulosas, à qual a tradição antiga chama Saturno. De facto, verificações recentes confirmam que este planeta ainda está num período de contracção, o seu núcleo é ainda pequeno em relação à enorme massa gasosa que o compõe mais os satélites que o circundam, e liberta três vezes mais calor do que aquele que recebe do Sol, quer dizer, está ainda, aparentemente, numa situação por que outrora passaram todos os astros do nosso sistema solar, incluindo a Terra, o que também quer dizer que o actual Saturno é o remanescente de toda aquela nebulosa de onde se criou o nosso sistema planetário.
Esta nebulosa englobava toda a massa que veio a formar mais tarde, por fases, o Sol e os planetas tal e qual os conhecemos hoje. A nebulosa saturnina, essa massa indistinta, não tinha luz mas tinha calor originado pelo conjunto de átomos que a constituía. Não havia nenhum brilho no seu interior, nenhum clarão de luz se soltava da sua imensidão que, supomos, abrangeria a distância que hoje vai do Sol ao Saturno actuais.
No entanto, essa massa não estava em repouso, não jazia adormecida, algo se agitava no seu seio, pois o seu interior era atravessado por arrepios de frio e emanações de calor. O Génesis fala-nos destas convulsões que se verificavam no interior da nebulosa quando diz: “A Terra estava sem forma e vazia; as trevas estavam sobre a superfície do abismo e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas.”
Esta é uma forma alegórica de contar a mesma história. Os Elohim, que na tradição hebraica e no singular é o Criador, mas que seriam os seres criados por Deus antes do tempo no dizer de Martinés de Pasquallys, representavam o Espírito de Deus e pertenciam à mais alta hierarquia dos Poderes.
Cabe aqui fazer um parêntese para explicar o que era esta hierarquia de Poderes. Esta hierarquia existe tanto na teologia cristã, como na tradição hebraica, caldeia ou na tradição hindu, só que nesta última tomam nomes diferentes. Podemos chamar-lhes anjos, inteligências ou energias. Na obra “A Cabala” de Papus encontram-se mapas com a descrição destes Poderes, a sua ordenação hierárquica, a sua correspondência com os nomes de Deus, com as letras do alfabeto hebraico e com as Sefiras da Árvore Sefirótica. Na tradição hindu, estes Elohim chamam-se “Dhyân-Chohans”, e na tradição caldeia, estes seres chamam-se “Asuras” ou “Devas”.
Na tradição hebraica foi Elohim que pronunciou o “Fiat Lux” dando origem a todo o processo da Criação. Isto só se pode compreender porque para esta tradição não é permitido pronunciar o nome de Deus, e então atribui-lhe o nome Elohim no singular, numa alegoria ao Deus supremo. De outro modo não se poderia compreender que os hebreus atribuam o mesmo nome Elohim a outros seres da sua hierarquia, como por exemplo, “Schaddai-Elohim”, “Elohim-Helion”, “Gibor-Elohim” e “Tseobaoth-Elohim”. Da mesma forma, o nome Jeovah aparece associado a vários dos seres que constituem a sua árvore hierárquica. Que nos perdoem os cabalistas, mas é assim que compreendemos a escala mostrada no “Mundo Divino” de R. P. Esprit Sabbathier.
Na tradição cristã, os Elohim têm o nome de Tronos e, segundo ela, eles sacrificaram-se, dando o seu corpo em holocausto para permitirem o nascimento dos Arqueus ou Espíritos do Começo. Este corpo dado assim em sacrifício, não era mais do que calor vital, emanação de amor.
Os Arqueus, também eles uma classe de Elohim, eram seres criados por Deus antes do tempo e eram provenientes de uma evolução cósmica anterior, permanecendo passivos no seio da Divindade. Tomaram novo alento com o sacrifício dos Tronos, recebendo destes a força e o calor vital que os tornava «deuses criadores» numa nova evolução cósmica.
Temos aqui uma questão interessante, a cedência do lugar e energia dos Elohim (Tronos) aos Arqueus, para que estes pudessem agir no processo criativo. Isto quer dizer que a hierarquia desses seres não resulta somente da sua importância ou poder, mas também das suas propriedades e virtudes e existem em função da necessidade. Neste caso, a necessidade do trabalho da Criação obrigou os primeiros a sacrificarem-se em favor dos últimos, para que estes pudessem prosseguir no processo criativo. Por outro lado, estes seres, os Arqueus, diz-se que vinham de uma evolução cósmica anterior e renasceram para uma nova evolução cósmica. Esta evolução cósmica é o que anteriormente referimos como “o dia de Brahma” que, de acordo com a tradição hindu, abrange um período superior a quatro biliões de anos, ao qual precede e se segue um período de duração semelhante chamado “a noite de Brahma”, em que tudo se recolhe sobre si mesmo.
Assim, o Universo renasce ao fim de um longo período de absoluto repouso, e com ele renascem também muitos seres que participaram em Universos anteriores. Se isto acontece com o Universo, como não acreditar que a evolução do homem se faz através de inúmeros renascimentos, ou encarnações? O sistema é o mesmo, o homem reflecte o Universo em si, ele é o microcosmo que repete, como um eco, o que se passa no macrocosmo. Como dizia Thoth, ou Hermes Trismegistus, o que está em baixo é como o que está em cima.
Segundo Édouard Schuré, no seu livro “A Evolução Divina da Esfinge ao Cristo”, era pela acção destes seres, os Arqueus, que se verificavam as emanações de calor no interior da nebulosa saturnina a qual, do mesmo modo que um ser vivo, tinha a sua inspiração e expiração. A inspiração produzia o frio e a expiração o calor. Durante a inspiração os Arqueus penetravam no seu seio; durante a expiração aproximavam-se dos Tronos e bebiam a sua essência. Assim, cada vez mais eles iam tomando consciência de si mesmos, e cada vez mais se desprendiam da massa saturnina. Explicando melhor, a evolução destes seres, os Arqueus, era feita através da sua actividade no interior da nebulosa saturnina e evoluíam junto com ela, depurando-se e despojando-se dos seus elementos inferiores, deixando atrás de si uma fumaça gasosa.
Então, estes seres não eram perfeitos? Não tinham sido eles emanados directamente de Deus e agiam segundo a consciência que Deus lhes imprimira? Não, nenhum ser é perfeito, mesmo que pertença à mais alta hierarquia, pois a perfeição não existe, ela é, ela está em Deus e somente aí. A evolução não é algo individualizado no homem ou na natureza terrestre, não é algo que diga respeito apenas a um mundo específico ou conjunto de mundos. A evolução engloba todo o Universo, todas as coisas e todos os seres. Portanto, a partir do primeiro instante da Criação, tudo está em evolução permanente.
Ao mesmo tempo que os Arqueus exerciam a sua tarefa criadora, outros Elohim de segunda hierarquia actuavam na nebulosa por dentro, colocando-a em rotação. Por isso, ao seu redor, a formação de um anel de fumaça gasosa que, rompendo-se mais tarde, devia formar o primeiro planeta, o Saturno actual com o seu anel e os seus oito satélites.
Por esta descrição podemos afirmar que a Criação não é obra de Deus? De modo nenhum pois, estes seres que assim operavam eram eles próprios criados por Deus e agiam de acordo com os seus desígnios. Podemos dizer que a construção de uma catedral é obra de Deus? Claro que sim, embora tenha sido erigida por seres humanos. É assim com todas as coisas, pois nada existe que não seja a expressão da vontade do Criador.
Neste momento, os cépticos, aqueles que não acreditam em nada senão naquilo que os seus sentidos físicos podem experimentar e verificar, talvez sorriam e digam para si mesmos que isto não passa de um exercício de imaginação prodigiosa, e que a formação dos planetas, das estrelas, não foi mais do que obra do acaso associando átomos ao longo de milhões e milhões de anos, de modo a surgirem em matéria concentrada na forma de planetas, estrelas e todo o mundo material que conhecemos. Respeitamos esta sua posição pois, ela faz parte do seu plano evolutivo. Mas nós sabemos que o acaso não existe, que nada acontece por acaso, que há sempre uma causa e um efeito que presidem a qualquer acontecimento. Se isto é assim, se existe sempre uma razão por detrás de qualquer ocorrência, não faz nenhum sentido, para nós, pensarmos que a formação dos sistemas planetários, como o nosso, tenha sido obra do acaso.
A própria teoria de Darwin e dos seus seguidores até aos dias de hoje sobre a evolução das espécies, não desmente isto, até o comprova, pois ela diz que as espécies vão evoluindo e se adaptando em função das condições climáticas e do meio ambiente em que vivem. Ou seja, a causa está nas condições a que têm de se adaptar, o efeito nessa adaptação. Não diz que a evolução é feita ao acaso. No entanto, os defensores desta teoria continuam a defrontar-se com um enigma para o qual ainda não conseguiram obter uma resposta satisfatória: as espécies parecem manter-se no mesmo estado, sem qualquer mutação, durante longos períodos, e de repente, de forma abrupta, sofrem uma mudança. Isto leva a crer que a evolução das espécies não é feita de forma gradual, esta condição parece não existir. O que está verificado são mutações abruptas, repentinas, no sentido em que se realizam num curto período de tempo comparado com aquele em que as espécies não sofrem nenhuma alteração.
Parece que, de repente, as espécies, sejam elas animais ou vegetais, tomam consciência de que precisam mudar. Então começam um processo rápido de adaptação às novas condições. Uma das coisas que nunca entendemos muito bem e que constitui, de certo modo, um mistério, é o caso das pestes que grassaram na Europa durante a Idade Média, quando não havia antibióticos ou penicilina, nem nenhum tipo de medicamento que as combatesse eficazmente. Estas pestes apareciam ás vezes com características extremamente virulentas, devastavam populações inteiras e depois, de repente, desapareciam. Hoje acredita-se que os vírus provocadores dessas pestes ganhavam uma certa forma de consciência de que, se continuassem o processo indefinidamente, se destruíam a si próprios por esgotarem os corpos hospedeiros onde proliferavam, e assim, em determinada altura paravam e remetiam-se a uma forma de letargia até ao dia de reaparecerem no mesmo ou em outro local.
Definitivamente, e considerando apenas a extrema complexidade dos seres mais simples, a Criação não pode ser obra do acaso, assim como o homem também não o é, mas isto veremos mais adiante. Mas para os que tenham dificuldade em aceitar a existência destes seres criados por Deus antes do tempo, os quais tenham sido, realmente, os construtores do Universo ao serviço, bem entendido, do seu Grande Arquitecto, talvez lhes seja mais fácil aceitá-los como formas de energia, controladas e operando pela vontade de Deus na grandiosa obra da Criação. Seja como formas de energia ou sob o aspecto de seres celestiais, com asas ou sem elas, o que é certo é que eles fazem parte do imaginário do homem desde os tempos mais remotos.
Com toda a sua actividade, o grande sonho dos Arqueus era o de criarem um mundo, mas não o podiam fazer na sombria nebulosa de Saturno, que englobava, como já dissemos, toda a matéria de que é formado hoje o nosso sistema planetário. O Sol ainda não existia, não havia luz, e eles precisavam de luz, de luz física, porque sem ela não podiam criar. Eles lembravam-se, ou pressentiam, essa luz criadora de outra evolução cósmica onde tinham também desempenhado o papel para que se sentiam vocacionados – criar! Na sua alma divina, eles não tinham deixado o seio de Deus, eles operavam dentro dele, idealizavam a majestade do Arcanjo, a beleza do Anjo, idealizavam o homem em toda a sua alegria e tristeza. Mas para que esse sonho de criação se concretizasse, eles precisavam de luz, precisavam de um Sol no coração de Saturno.
Neste sonho não concretizado por falta de luz, os Arqueus entorpeceram, porque eles não podiam criar a luz, isto não estava dentro das suas capacidades, embora fossem Elohim de grande poder. Voltaram então os Tronos, que se envolveram como um tufão na noite saturnina. Outros Poderes os ajudaram neste trabalho de condensação de toda aquela massa gasosa que borbulhava entre ondas de frio e calor. Quanto tempo durou esta tarefa? Não conseguimos sequer imaginar, talvez alguns largos milhões de anos. Quando os Arqueus despertaram do seu longo e profundo letargo, acharam-se a flutuar sobre uma esfera de fogo e sob uma coroa de luz etérea, ao redor de um núcleo de fumaça sombria.
O primeiro Sol tinha nascido. O astro inteiro, com o seu centro obscuro e a sua fotosfera, ocupava o espaço que vai do Sol actual ao planeta Júpiter. Os Arqueus eram os seus jovens mestres, os novos deuses que deslizavam sobre um oceano de chamas. Em júbilo, saudaram a luz envolvente. Através dos fluidos véus das ondas luminosas, eles perceberam, pela primeira vez, os Tronos, semelhantes a círculos alados que subiam afastando-se na direcção de um astro longínquo. Este ia diminuindo e se perdendo no infinito, onde os Tronos desapareceram com ele. Então os Arqueus gritaram: “A noite saturnina acabou! Eis-nos vestidos de fogo e reis da luz. Agora podemos criar segundo o nosso desejo, pois o nosso desejo é o pensamento de Deus.”
Para a nossa mente habituada ao mundo material que nos rodeia, há aqui coisas muito estranhas: seres que deslizam sobre um oceano de chamas; seres que se afastam no espaço em direcção a um astro longínquo, que pode ser um planeta ou uma estrela. Esse oceano de chamas devia ter temperaturas elevadíssimas e portanto, não podiam permitir nenhumas condições de vida. Devemos notar que estamos a falar de seres que não têm corpo material, que são seres etéreos ou, se quisermos, que vivem numa dimensão totalmente diferente da nossa. O que entendemos como condições para a vida se manifestar, são aquelas que nós concebemos no nosso plano material. Embora conheçamos a história da salamandra (fénix) que renasce das cinzas, que sobrevive ao fogo, não concebemos a ideia de que, por exemplo, num mar de fogo e chamas que deve ser o Sol, ou num planeta onde as temperaturas extremas sejam muitas vezes superiores às da Terra, ou ainda na ausência de oxigénio e na presença de gases tóxicos, de que a vida possa existir. Naturalmente que não existe, nos moldes e nos padrões da nossa dimensão. Por isso, as várias sondas que têm sido lançadas para o espaço em procura de sinais de vida, não encontraram nada nem encontrarão nunca, enquanto essas sondas forem concebidas por uma tecnologia que está conforme essa ideia, a de que a vida só pode existir pelos nossos padrões.
Por esta tecnologia que desenvolvemos, nós não conseguimos ver os átomos, conseguimos apenas percebê-los. Nós não conseguimos ver nem perceber as partículas mais pequenas que o átomo, conseguimos apenas suspeitar da sua presença, porque em campos experimentais vemos os seus efeitos e o rasto que deixam na sua passagem, por vezes a velocidades superiores à da luz. Nós não sabemos, nem sequer suspeitamos, do que possa haver ainda para lá dessas partículas. Deste modo, podem verificar-se padrões de vida que não encaixam nas nossas concepções e não os conseguimos ver porque estão em campos vibratórios muito diferentes daquelas a que conseguimos até hoje ter acesso. A vida pode ter formas de manifestação que não cabem dentro da nossa imaginação.
Por outro lado, os seres que não são da Terra, mesmo esses seres angélicos que chamamos de Elohim, podem não residir simplesmente no espaço, pois isto seria fazer do nosso planeta o único local habitado de todo o Universo. Eles podem habitar alguns do infindável número de astros que compõem a nossa galáxia, só para falar desta, como as estrelas, os planetas e alguns desses astros estranhos com uma tremenda capacidade de emissão energética chamados quasares.
Para tentarmos compreender a Bíblia e outros textos antigos de uma forma diferente daquela que a sua leitura literal nos conta, em que Deus (humanizado) agiu directamente, temos de abrir a nossa mente e tentar alcançar, nem que seja em sonho, as prodigiosas possibilidades da Criação em se manifestar, como resultado da vontade primeva, do Verbo.
Dizem que em versões mais antigas da Bíblia, a palavra Deus como Ser Criador, aparece no plural: “No princípio, os Deuses criaram o céu e a terra”. Estes Deuses seriam os Elohim, esses seres de fogo, espíritos criadores. No entanto, mesmo nessa altura, já acontecia o drama que tem envolvido a Criação em todos os tempos – a existência de seres sombrios. Os Arqueus perceberam que ao redor da luz etérea que os envolvia, vogavam espíritos elementares assombrando o Sol que nascia. O astro mostrava-se luminoso, mas era rodeado por uma auréola negra – era a primeira demonstração de que a Criação não é possível sem perda, que a luz só existe porque se opõe à sombra, que só temos consciência do bem pelo seu oposto, o mal. É a esta situação que se refere a parte do Génesis quando diz: “E Deus separou a Luz das trevas”.
Que seres elementares e sombrios seriam estes? De onde provinham? Sabemos que seres desta natureza podem ser criados por pensamentos, tornando-se formas-pensamento e agindo independentes do seu criador. Já vimos atrás os perigos que pode acarretar o mau uso da palavra, mas a palavra, antes de ser formulada, é pensamento. Alguém disse um dia que pensar mal ou desejar mal a outra pessoa, é o mesmo que fazer mal a essa pessoa. Através do pensamento nós somos criadores, podemos fazer as coisas acontecer. Os seres elementares assim criados, essas formas-pensamento, podem ser de natureza amorosa como podem ser sombrios e carregados de ódio, conforme o pensamento que os originou. O que acontecia naquela altura e que os Arqueus vislumbraram, é o que acontece hoje ao redor da Terra, esta encontra-se rodeada de seres tenebrosos originados pelo homem, por todo o mal que o homem foi capaz de criar até hoje. Estes seres exercem uma influência poderosa sobre a humanidade, os continentes, as nações, e por isso vemos a cada dia acontecerem as coisas mais inimagináveis.
Os que rodeavam o primeiro Sol não podiam ter sido criados pelos Elohim, nem os Arqueus nem os Tronos os poderiam ter criado, pois eram seres divinos e, por esta condição incapazes de o fazer. Poderiam ser oriundos de uma evolução cósmica anterior mas, o mais provável, era serem originários de algum outro ponto da Via Láctea onde haveria já mundos criados num estágio muito mais avançado do que a Terra, pois esta nem sequer ainda existia.
Helena Blavatsky, na sua “Doutrina Secreta” afirma que os seres elementares das escalas inferiores não podem ascender a escalas superiores senão numa próxima evolução cósmica. Isto pode ser uma explicação para a sua existência à volta do nosso primeiro Sol. Mas a Criação, ainda que instantânea no momento do “Fiat Lux”, é uma obra progressiva, aliás como parece demonstrado acima pelo trabalho dos Arqueus e dos Tronos, e assim, no Universo da altura, já deviam existir outros sistemas planetários com os seus mundos já habitados por seres no seu caminho de evolução e portanto, com capacidade de emitirem pensamentos sombrios. O homem já devia existir em algum lugar do Universo. Será que isto era assim? Talvez, pois parece uma hipótese aceitável.
A esfera do primeiro Sol ia até ao Júpiter actual. Mais do que qualquer dos planetas que sairiam do seu interior, este astro estava vivo. Era constituído por um núcleo tenebroso de fumaça e por uma vasta fotosfera, não de metais em fusão como a do Sol actual, mas de uma matéria mais subtil, de fogo etéreo, límpido e transparente. Um espectador que estivesse colocado em Sírius e observasse o Sol de então, teria visto periodicamente a estrela brilhar e empalidecer, reacender-se e dilatar-se. Os astrónomos têm observado inúmeros fenómenos semelhantes no firmamento. O Sol primitivo respirava, inspirava e expirava regularmente. Enquanto que a inspiração parecia que lhe fazia perder alento, a expiração era uma maravilhosa irradiação de luz que se projectava para o infinito. Esta situação provinha da actividade dos deuses, dos Elohim que reinavam no astro.
Nesta altura, a missão dos Arqueus estava cumprida. Eles eram os espíritos do começo e, como tal, tinham dado início ao nascimento do primeiro Sol do nosso sistema planetário. Chegara a hora deles partirem para outras paragens para poderem gerar outros sois. Mas não partiram abandonando atrás de si tudo quanto tinham iniciado, a obra estava apenas começada e havia que a continuar no contínuo processo da evolução cósmica. Esta tarefa competiria a outros seres, sonhados e concebidos há muito pelos Arqueus, mas apenas, nessa altura, como formas-pensamento. Entre os Elohim, os Arqueus são dos mais poderosos mágicos pois, pela sua força de vontade podem dar vida e personalidade às formas-pensamento. Assim o fizeram, deram forma aos seres que lhes sucederiam na obra que haviam encetado, revestiram-nos de um corpo luminoso, astral, e de uma sensibilidade resplandecente. Então, sob o impulso dos Arqueus, os Arcanjos elevaram-se e tornaram-se os senhores do primeiro Sol.
Havendo uma hierarquia de seres, é natural que cada um desses seres tenha uma função específica para a qual foi criado. É assim que vemos os Tronos substituírem-se aos Arqueus e estes aos Tronos, e depois darem lugar aos Arcanjos. Neste plano, como em qualquer dos planos da Criação, cada ser tem a sua própria tarefa a cumprir. O novo Sol estava criado, havia que o habitar com seres que pudessem fazer com que esse Sol se continuasse a desenvolver.
À medida que se desenvolvia a vida espiritual dos Arcanjos, estes perceberam que na linha do Zodíaco se ia concentrando, num círculo prodigioso, um exército de espíritos sublimes, de formas diversas e majestosas. Eram os Querubins, que vinham concentrar-se em círculo ao redor do mundo solar para a incubação e fecundação dos Arcanjos. Os Querubins, junto com os Serafins, pertencem à mais alta hierarquia de Elohim. Eles são os habitantes do espaço espiritual, os Elohim da harmonia e da força. Vinham de todos os lados, das profundezas da galáxia, organizados em doze grupos. Os Querubins, junto com os Serafins, que são os espíritos do amor, estão mais próximo dos mistérios de Deus do que qualquer outro ser. Este acontecimento, esta reunião de Querubins em doze grupos ao redor do mundo solar, era conhecido dos magos da Caldeia e é a origem dos doze signos do Zodíaco, designação que foi conservada até aos dias de hoje.
Os antigos identificaram cada uma das constelações do Zodíaco com uma categoria de Querubins, e os seus quatro pontos cardeais eram representados pelos caldeus, pelos egípcios e pelos hebreus sob a forma de animais sagrados. Estes animais são o touro, o leão, a águia e o anjo ou o homem. São os quatro animais sagrados representados na Arca da Aliança de Moisés; são os quatro evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas e João; são os quatro animais sagrados do Apocalipse de S. João. A Esfinge egípcia do vale de Gizé resume-os a todos numa única forma, simbolizando a evolução divina e terrestre. A águia foi mais tarde substituída pelo escorpião, não sabemos porquê, uma vez que a águia simboliza a morte e a ressurreição, e o escorpião apenas a morte.
As convulsões deste Sol primevo continuaram, agora sob o impulso da vontade dos Arcanjos, que por sua vez conceberam os Anjos. Dois novos planetas surgiram deste Sol – Júpiter e Marte. Mas a formação da Terra foi precedida de um acontecimento crucial que vem descrito em todas as tradições, nas mais diversas formas, mas cujo significado é o mesmo. Na tradição oculta chamou-se “O Combate do Céu”; para os gregos é o mito de Prometeu, ao qual se liga “O Combate dos Titãs e dos Deuses”; na tradição judaico-cristã foi chamado “A Queda de Lúcifer”.
A Terra só foi formada depois desta “Guerra dos Céus”, que terminou com a queda dos Anjos que se teriam revoltado contra Deus. Por muito que este episódio possa constituir uma alegoria, e não o podemos entender de outra forma, senão teríamos que ver Deus como um comandante supremo de um exército contra quem se teriam revoltado algumas das hostes desse exército, uma coisa do género “A Revolta na Bounty”, corresponde no entanto a algo de muito transcendente que aconteceu entre as hostes celestiais com consequências no processo de criação do Homem, pois esta revolta teve como causa exclusiva a criação do ser humano.
Parece evidente que esta revolta não poderia ser contra Deus, porque Deus não é um ser contra quem, alguém ou algum ser se possa revoltar, mesmo que esse ser pertença a uma classe elevada de Elohim, como os Arcanjos. E não é possível porque tudo está contido no seu seio, nada é exterior a Deus. Assim, entendemos que tenha sido mais o resultado de uma tomada de consciência por parte das hostes que desobedeceram ao plano idealizado, ou seja, ao plano que estava impresso nas suas consciências.
Lúcifer era um Arcanjo, o seu nome significa “Portador da Luz”, e era o Génio do conhecimento e do livre arbítrio. Todos os seres criados até então eram andróginos, sem sexo, uniam em si em perfeita harmonia as duas polaridades, a masculina e a feminina. Lúcifer concluíra que, para criar o homem como ser independente, rebelde e senhor dos seus desejos, era necessário separar os sexos, e moldou, na Luz Astral, a forma deslumbrante da futura mulher, a Eva ideal. Milhões de Anjos e Arcanjos ficaram extasiados com a imagem e, entusiasmados com a ideia, colocaram-se ao lado de Lúcifer. Foi quando toda a restante hierarquia recebeu ordem para o deter, ou seja, foi quando essa restante hierarquia agiu de acordo com o propósito para que fora criada.
Como todos sabemos, e como não poderia ser de outra forma, o combate que se seguiu (se é que chegou a haver algum combate...) terminou com a derrota de Lúcifer e dos seus pares, e a consequente queda num plano inferior, num planeta que ainda não era a Terra actual, mas a Terra primitiva semelhante à Lua.
A Bíblia não nos esclarece acerca deste acontecimento, antes ainda confunde um pouco as coisas pois, mostra-nos no Génesis duas criações sucessivas do homem: primeiro, Deus criou o homem e fê-lo homem e mulher, portanto um ser hermafrodita ou andrógino; depois criou a mulher a partir de uma costela de Adão, aqui a separação dos sexos. Mas estas duas criações não foram feitas pelo mesmo Deus, porque a primeira é referida como tendo sido feita por Deus, a segunda por Javé Deus. De qualquer maneira, entendemos que este acontecimento esteve sempre previsto, desde o primeiro instante, e corresponde a uma evolução natural na corrente da evolução cósmica. Estava, desde o princípio, inserido no plano divino. Se a vida, tal como a conhecemos na Terra, é o objectivo de toda a Criação, portanto da vontade divina, ela não poderia ser concebida na ausência da dualidade representada pelos sexos, pois tudo está feito em função dessas polaridades distintas e opostas. A Cabala fala-nos disso nas duas colunas exteriores da Árvore Sefirótica.
Então a “Guerra dos Céus” não será mais do que uma alegoria a algo que está impresso, desde o princípio, nessa Tela imensa da Duração que é o pensamento de Deus, e que Lúcifer, o Arcanjo caído (ou sacrificado), não é outro senão o Adão primeiro, o Adam Kadmon, que desceu ao mundo da matéria para aí ser o progenitor ancestral do Homem e este, através do seu corpo animal poder percorrer o caminho ascendente que o elevará a uma posição superior em toda a hierarquia dos seres. Mas para que isto pudesse ser feito, o homem precisava de dispor da sua vontade e do livre arbítrio, com os quais pudesse moldar a sua individualidade ao ser obrigado a uma escolha permanente, num mundo potencialmente criado para o bem e para o mal, tudo dependendo da sua vontade.
Édouard Schuré diz a este respeito o seguinte:
“Primeiro despertar do Desejo, do Conhecimento e da Liberdade, a tocha de Lúcifer não se acenderá com todo o seu brilho novamente senão no sol do Amor e da vida divina, em Cristo.
(......) Da elevação do Homem ao estado angélico, devia nascer no fim dos tempos planetários um novo Deus, a individualidade livre e criadora. Mas, antes, era preciso haver uma descida, em sombria espiral, no doloroso laboratório da animalidade! E quem poderia decidir qual sofrerá mais, o Homem, mais humilhado, mais atormentado à medida que toma consciência de si mesmo, ou o Anjo invisível que sofre e luta com ele?.”
“Homenagem a ti, Touro de Amentet, o deus Toth rei da eternidade, está comigo. Sou o Grande Deus perto do barco divino, combati por ti. Sou um dos deuses, aqueles chefes divinos, que fazem Osíris sair vitorioso dos seus inimigos no dia da pesagem das palavras.” (Do Livro Egípcio dos Mortos).
No início, após o primeiro impulso da Criação, após a manifestação do Verbo em Luz, o nosso sistema planetário não existia. A Via Láctea era um conjunto de nebulosas indistintas constituídas pela matéria primordial da formação dos mundos (coágulos brancos). De acordo com a antiga ciência oculta que nos chegou através da Índia, a lei das transformações ou do renascimento dos mundos sob formas semelhantes mas sempre novas, após longos sonos cósmicos (noites de Brahma), aplica-se tanto às estrelas como aos planetas, tanto aos deuses como aos homens.
O nosso sistema planetário não passava de uma dessas nebulosas, à qual a tradição antiga chama Saturno. De facto, verificações recentes confirmam que este planeta ainda está num período de contracção, o seu núcleo é ainda pequeno em relação à enorme massa gasosa que o compõe mais os satélites que o circundam, e liberta três vezes mais calor do que aquele que recebe do Sol, quer dizer, está ainda, aparentemente, numa situação por que outrora passaram todos os astros do nosso sistema solar, incluindo a Terra, o que também quer dizer que o actual Saturno é o remanescente de toda aquela nebulosa de onde se criou o nosso sistema planetário.
Esta nebulosa englobava toda a massa que veio a formar mais tarde, por fases, o Sol e os planetas tal e qual os conhecemos hoje. A nebulosa saturnina, essa massa indistinta, não tinha luz mas tinha calor originado pelo conjunto de átomos que a constituía. Não havia nenhum brilho no seu interior, nenhum clarão de luz se soltava da sua imensidão que, supomos, abrangeria a distância que hoje vai do Sol ao Saturno actuais.
No entanto, essa massa não estava em repouso, não jazia adormecida, algo se agitava no seu seio, pois o seu interior era atravessado por arrepios de frio e emanações de calor. O Génesis fala-nos destas convulsões que se verificavam no interior da nebulosa quando diz: “A Terra estava sem forma e vazia; as trevas estavam sobre a superfície do abismo e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas.”
Esta é uma forma alegórica de contar a mesma história. Os Elohim, que na tradição hebraica e no singular é o Criador, mas que seriam os seres criados por Deus antes do tempo no dizer de Martinés de Pasquallys, representavam o Espírito de Deus e pertenciam à mais alta hierarquia dos Poderes.
Cabe aqui fazer um parêntese para explicar o que era esta hierarquia de Poderes. Esta hierarquia existe tanto na teologia cristã, como na tradição hebraica, caldeia ou na tradição hindu, só que nesta última tomam nomes diferentes. Podemos chamar-lhes anjos, inteligências ou energias. Na obra “A Cabala” de Papus encontram-se mapas com a descrição destes Poderes, a sua ordenação hierárquica, a sua correspondência com os nomes de Deus, com as letras do alfabeto hebraico e com as Sefiras da Árvore Sefirótica. Na tradição hindu, estes Elohim chamam-se “Dhyân-Chohans”, e na tradição caldeia, estes seres chamam-se “Asuras” ou “Devas”.
Na tradição hebraica foi Elohim que pronunciou o “Fiat Lux” dando origem a todo o processo da Criação. Isto só se pode compreender porque para esta tradição não é permitido pronunciar o nome de Deus, e então atribui-lhe o nome Elohim no singular, numa alegoria ao Deus supremo. De outro modo não se poderia compreender que os hebreus atribuam o mesmo nome Elohim a outros seres da sua hierarquia, como por exemplo, “Schaddai-Elohim”, “Elohim-Helion”, “Gibor-Elohim” e “Tseobaoth-Elohim”. Da mesma forma, o nome Jeovah aparece associado a vários dos seres que constituem a sua árvore hierárquica. Que nos perdoem os cabalistas, mas é assim que compreendemos a escala mostrada no “Mundo Divino” de R. P. Esprit Sabbathier.
Na tradição cristã, os Elohim têm o nome de Tronos e, segundo ela, eles sacrificaram-se, dando o seu corpo em holocausto para permitirem o nascimento dos Arqueus ou Espíritos do Começo. Este corpo dado assim em sacrifício, não era mais do que calor vital, emanação de amor.
Os Arqueus, também eles uma classe de Elohim, eram seres criados por Deus antes do tempo e eram provenientes de uma evolução cósmica anterior, permanecendo passivos no seio da Divindade. Tomaram novo alento com o sacrifício dos Tronos, recebendo destes a força e o calor vital que os tornava «deuses criadores» numa nova evolução cósmica.
Temos aqui uma questão interessante, a cedência do lugar e energia dos Elohim (Tronos) aos Arqueus, para que estes pudessem agir no processo criativo. Isto quer dizer que a hierarquia desses seres não resulta somente da sua importância ou poder, mas também das suas propriedades e virtudes e existem em função da necessidade. Neste caso, a necessidade do trabalho da Criação obrigou os primeiros a sacrificarem-se em favor dos últimos, para que estes pudessem prosseguir no processo criativo. Por outro lado, estes seres, os Arqueus, diz-se que vinham de uma evolução cósmica anterior e renasceram para uma nova evolução cósmica. Esta evolução cósmica é o que anteriormente referimos como “o dia de Brahma” que, de acordo com a tradição hindu, abrange um período superior a quatro biliões de anos, ao qual precede e se segue um período de duração semelhante chamado “a noite de Brahma”, em que tudo se recolhe sobre si mesmo.
Assim, o Universo renasce ao fim de um longo período de absoluto repouso, e com ele renascem também muitos seres que participaram em Universos anteriores. Se isto acontece com o Universo, como não acreditar que a evolução do homem se faz através de inúmeros renascimentos, ou encarnações? O sistema é o mesmo, o homem reflecte o Universo em si, ele é o microcosmo que repete, como um eco, o que se passa no macrocosmo. Como dizia Thoth, ou Hermes Trismegistus, o que está em baixo é como o que está em cima.
Segundo Édouard Schuré, no seu livro “A Evolução Divina da Esfinge ao Cristo”, era pela acção destes seres, os Arqueus, que se verificavam as emanações de calor no interior da nebulosa saturnina a qual, do mesmo modo que um ser vivo, tinha a sua inspiração e expiração. A inspiração produzia o frio e a expiração o calor. Durante a inspiração os Arqueus penetravam no seu seio; durante a expiração aproximavam-se dos Tronos e bebiam a sua essência. Assim, cada vez mais eles iam tomando consciência de si mesmos, e cada vez mais se desprendiam da massa saturnina. Explicando melhor, a evolução destes seres, os Arqueus, era feita através da sua actividade no interior da nebulosa saturnina e evoluíam junto com ela, depurando-se e despojando-se dos seus elementos inferiores, deixando atrás de si uma fumaça gasosa.
Então, estes seres não eram perfeitos? Não tinham sido eles emanados directamente de Deus e agiam segundo a consciência que Deus lhes imprimira? Não, nenhum ser é perfeito, mesmo que pertença à mais alta hierarquia, pois a perfeição não existe, ela é, ela está em Deus e somente aí. A evolução não é algo individualizado no homem ou na natureza terrestre, não é algo que diga respeito apenas a um mundo específico ou conjunto de mundos. A evolução engloba todo o Universo, todas as coisas e todos os seres. Portanto, a partir do primeiro instante da Criação, tudo está em evolução permanente.
Ao mesmo tempo que os Arqueus exerciam a sua tarefa criadora, outros Elohim de segunda hierarquia actuavam na nebulosa por dentro, colocando-a em rotação. Por isso, ao seu redor, a formação de um anel de fumaça gasosa que, rompendo-se mais tarde, devia formar o primeiro planeta, o Saturno actual com o seu anel e os seus oito satélites.
Por esta descrição podemos afirmar que a Criação não é obra de Deus? De modo nenhum pois, estes seres que assim operavam eram eles próprios criados por Deus e agiam de acordo com os seus desígnios. Podemos dizer que a construção de uma catedral é obra de Deus? Claro que sim, embora tenha sido erigida por seres humanos. É assim com todas as coisas, pois nada existe que não seja a expressão da vontade do Criador.
Neste momento, os cépticos, aqueles que não acreditam em nada senão naquilo que os seus sentidos físicos podem experimentar e verificar, talvez sorriam e digam para si mesmos que isto não passa de um exercício de imaginação prodigiosa, e que a formação dos planetas, das estrelas, não foi mais do que obra do acaso associando átomos ao longo de milhões e milhões de anos, de modo a surgirem em matéria concentrada na forma de planetas, estrelas e todo o mundo material que conhecemos. Respeitamos esta sua posição pois, ela faz parte do seu plano evolutivo. Mas nós sabemos que o acaso não existe, que nada acontece por acaso, que há sempre uma causa e um efeito que presidem a qualquer acontecimento. Se isto é assim, se existe sempre uma razão por detrás de qualquer ocorrência, não faz nenhum sentido, para nós, pensarmos que a formação dos sistemas planetários, como o nosso, tenha sido obra do acaso.
A própria teoria de Darwin e dos seus seguidores até aos dias de hoje sobre a evolução das espécies, não desmente isto, até o comprova, pois ela diz que as espécies vão evoluindo e se adaptando em função das condições climáticas e do meio ambiente em que vivem. Ou seja, a causa está nas condições a que têm de se adaptar, o efeito nessa adaptação. Não diz que a evolução é feita ao acaso. No entanto, os defensores desta teoria continuam a defrontar-se com um enigma para o qual ainda não conseguiram obter uma resposta satisfatória: as espécies parecem manter-se no mesmo estado, sem qualquer mutação, durante longos períodos, e de repente, de forma abrupta, sofrem uma mudança. Isto leva a crer que a evolução das espécies não é feita de forma gradual, esta condição parece não existir. O que está verificado são mutações abruptas, repentinas, no sentido em que se realizam num curto período de tempo comparado com aquele em que as espécies não sofrem nenhuma alteração.
Parece que, de repente, as espécies, sejam elas animais ou vegetais, tomam consciência de que precisam mudar. Então começam um processo rápido de adaptação às novas condições. Uma das coisas que nunca entendemos muito bem e que constitui, de certo modo, um mistério, é o caso das pestes que grassaram na Europa durante a Idade Média, quando não havia antibióticos ou penicilina, nem nenhum tipo de medicamento que as combatesse eficazmente. Estas pestes apareciam ás vezes com características extremamente virulentas, devastavam populações inteiras e depois, de repente, desapareciam. Hoje acredita-se que os vírus provocadores dessas pestes ganhavam uma certa forma de consciência de que, se continuassem o processo indefinidamente, se destruíam a si próprios por esgotarem os corpos hospedeiros onde proliferavam, e assim, em determinada altura paravam e remetiam-se a uma forma de letargia até ao dia de reaparecerem no mesmo ou em outro local.
Definitivamente, e considerando apenas a extrema complexidade dos seres mais simples, a Criação não pode ser obra do acaso, assim como o homem também não o é, mas isto veremos mais adiante. Mas para os que tenham dificuldade em aceitar a existência destes seres criados por Deus antes do tempo, os quais tenham sido, realmente, os construtores do Universo ao serviço, bem entendido, do seu Grande Arquitecto, talvez lhes seja mais fácil aceitá-los como formas de energia, controladas e operando pela vontade de Deus na grandiosa obra da Criação. Seja como formas de energia ou sob o aspecto de seres celestiais, com asas ou sem elas, o que é certo é que eles fazem parte do imaginário do homem desde os tempos mais remotos.
Com toda a sua actividade, o grande sonho dos Arqueus era o de criarem um mundo, mas não o podiam fazer na sombria nebulosa de Saturno, que englobava, como já dissemos, toda a matéria de que é formado hoje o nosso sistema planetário. O Sol ainda não existia, não havia luz, e eles precisavam de luz, de luz física, porque sem ela não podiam criar. Eles lembravam-se, ou pressentiam, essa luz criadora de outra evolução cósmica onde tinham também desempenhado o papel para que se sentiam vocacionados – criar! Na sua alma divina, eles não tinham deixado o seio de Deus, eles operavam dentro dele, idealizavam a majestade do Arcanjo, a beleza do Anjo, idealizavam o homem em toda a sua alegria e tristeza. Mas para que esse sonho de criação se concretizasse, eles precisavam de luz, precisavam de um Sol no coração de Saturno.
Neste sonho não concretizado por falta de luz, os Arqueus entorpeceram, porque eles não podiam criar a luz, isto não estava dentro das suas capacidades, embora fossem Elohim de grande poder. Voltaram então os Tronos, que se envolveram como um tufão na noite saturnina. Outros Poderes os ajudaram neste trabalho de condensação de toda aquela massa gasosa que borbulhava entre ondas de frio e calor. Quanto tempo durou esta tarefa? Não conseguimos sequer imaginar, talvez alguns largos milhões de anos. Quando os Arqueus despertaram do seu longo e profundo letargo, acharam-se a flutuar sobre uma esfera de fogo e sob uma coroa de luz etérea, ao redor de um núcleo de fumaça sombria.
O primeiro Sol tinha nascido. O astro inteiro, com o seu centro obscuro e a sua fotosfera, ocupava o espaço que vai do Sol actual ao planeta Júpiter. Os Arqueus eram os seus jovens mestres, os novos deuses que deslizavam sobre um oceano de chamas. Em júbilo, saudaram a luz envolvente. Através dos fluidos véus das ondas luminosas, eles perceberam, pela primeira vez, os Tronos, semelhantes a círculos alados que subiam afastando-se na direcção de um astro longínquo. Este ia diminuindo e se perdendo no infinito, onde os Tronos desapareceram com ele. Então os Arqueus gritaram: “A noite saturnina acabou! Eis-nos vestidos de fogo e reis da luz. Agora podemos criar segundo o nosso desejo, pois o nosso desejo é o pensamento de Deus.”
Para a nossa mente habituada ao mundo material que nos rodeia, há aqui coisas muito estranhas: seres que deslizam sobre um oceano de chamas; seres que se afastam no espaço em direcção a um astro longínquo, que pode ser um planeta ou uma estrela. Esse oceano de chamas devia ter temperaturas elevadíssimas e portanto, não podiam permitir nenhumas condições de vida. Devemos notar que estamos a falar de seres que não têm corpo material, que são seres etéreos ou, se quisermos, que vivem numa dimensão totalmente diferente da nossa. O que entendemos como condições para a vida se manifestar, são aquelas que nós concebemos no nosso plano material. Embora conheçamos a história da salamandra (fénix) que renasce das cinzas, que sobrevive ao fogo, não concebemos a ideia de que, por exemplo, num mar de fogo e chamas que deve ser o Sol, ou num planeta onde as temperaturas extremas sejam muitas vezes superiores às da Terra, ou ainda na ausência de oxigénio e na presença de gases tóxicos, de que a vida possa existir. Naturalmente que não existe, nos moldes e nos padrões da nossa dimensão. Por isso, as várias sondas que têm sido lançadas para o espaço em procura de sinais de vida, não encontraram nada nem encontrarão nunca, enquanto essas sondas forem concebidas por uma tecnologia que está conforme essa ideia, a de que a vida só pode existir pelos nossos padrões.
Por esta tecnologia que desenvolvemos, nós não conseguimos ver os átomos, conseguimos apenas percebê-los. Nós não conseguimos ver nem perceber as partículas mais pequenas que o átomo, conseguimos apenas suspeitar da sua presença, porque em campos experimentais vemos os seus efeitos e o rasto que deixam na sua passagem, por vezes a velocidades superiores à da luz. Nós não sabemos, nem sequer suspeitamos, do que possa haver ainda para lá dessas partículas. Deste modo, podem verificar-se padrões de vida que não encaixam nas nossas concepções e não os conseguimos ver porque estão em campos vibratórios muito diferentes daquelas a que conseguimos até hoje ter acesso. A vida pode ter formas de manifestação que não cabem dentro da nossa imaginação.
Por outro lado, os seres que não são da Terra, mesmo esses seres angélicos que chamamos de Elohim, podem não residir simplesmente no espaço, pois isto seria fazer do nosso planeta o único local habitado de todo o Universo. Eles podem habitar alguns do infindável número de astros que compõem a nossa galáxia, só para falar desta, como as estrelas, os planetas e alguns desses astros estranhos com uma tremenda capacidade de emissão energética chamados quasares.
Para tentarmos compreender a Bíblia e outros textos antigos de uma forma diferente daquela que a sua leitura literal nos conta, em que Deus (humanizado) agiu directamente, temos de abrir a nossa mente e tentar alcançar, nem que seja em sonho, as prodigiosas possibilidades da Criação em se manifestar, como resultado da vontade primeva, do Verbo.
Dizem que em versões mais antigas da Bíblia, a palavra Deus como Ser Criador, aparece no plural: “No princípio, os Deuses criaram o céu e a terra”. Estes Deuses seriam os Elohim, esses seres de fogo, espíritos criadores. No entanto, mesmo nessa altura, já acontecia o drama que tem envolvido a Criação em todos os tempos – a existência de seres sombrios. Os Arqueus perceberam que ao redor da luz etérea que os envolvia, vogavam espíritos elementares assombrando o Sol que nascia. O astro mostrava-se luminoso, mas era rodeado por uma auréola negra – era a primeira demonstração de que a Criação não é possível sem perda, que a luz só existe porque se opõe à sombra, que só temos consciência do bem pelo seu oposto, o mal. É a esta situação que se refere a parte do Génesis quando diz: “E Deus separou a Luz das trevas”.
Que seres elementares e sombrios seriam estes? De onde provinham? Sabemos que seres desta natureza podem ser criados por pensamentos, tornando-se formas-pensamento e agindo independentes do seu criador. Já vimos atrás os perigos que pode acarretar o mau uso da palavra, mas a palavra, antes de ser formulada, é pensamento. Alguém disse um dia que pensar mal ou desejar mal a outra pessoa, é o mesmo que fazer mal a essa pessoa. Através do pensamento nós somos criadores, podemos fazer as coisas acontecer. Os seres elementares assim criados, essas formas-pensamento, podem ser de natureza amorosa como podem ser sombrios e carregados de ódio, conforme o pensamento que os originou. O que acontecia naquela altura e que os Arqueus vislumbraram, é o que acontece hoje ao redor da Terra, esta encontra-se rodeada de seres tenebrosos originados pelo homem, por todo o mal que o homem foi capaz de criar até hoje. Estes seres exercem uma influência poderosa sobre a humanidade, os continentes, as nações, e por isso vemos a cada dia acontecerem as coisas mais inimagináveis.
Os que rodeavam o primeiro Sol não podiam ter sido criados pelos Elohim, nem os Arqueus nem os Tronos os poderiam ter criado, pois eram seres divinos e, por esta condição incapazes de o fazer. Poderiam ser oriundos de uma evolução cósmica anterior mas, o mais provável, era serem originários de algum outro ponto da Via Láctea onde haveria já mundos criados num estágio muito mais avançado do que a Terra, pois esta nem sequer ainda existia.
Helena Blavatsky, na sua “Doutrina Secreta” afirma que os seres elementares das escalas inferiores não podem ascender a escalas superiores senão numa próxima evolução cósmica. Isto pode ser uma explicação para a sua existência à volta do nosso primeiro Sol. Mas a Criação, ainda que instantânea no momento do “Fiat Lux”, é uma obra progressiva, aliás como parece demonstrado acima pelo trabalho dos Arqueus e dos Tronos, e assim, no Universo da altura, já deviam existir outros sistemas planetários com os seus mundos já habitados por seres no seu caminho de evolução e portanto, com capacidade de emitirem pensamentos sombrios. O homem já devia existir em algum lugar do Universo. Será que isto era assim? Talvez, pois parece uma hipótese aceitável.
A esfera do primeiro Sol ia até ao Júpiter actual. Mais do que qualquer dos planetas que sairiam do seu interior, este astro estava vivo. Era constituído por um núcleo tenebroso de fumaça e por uma vasta fotosfera, não de metais em fusão como a do Sol actual, mas de uma matéria mais subtil, de fogo etéreo, límpido e transparente. Um espectador que estivesse colocado em Sírius e observasse o Sol de então, teria visto periodicamente a estrela brilhar e empalidecer, reacender-se e dilatar-se. Os astrónomos têm observado inúmeros fenómenos semelhantes no firmamento. O Sol primitivo respirava, inspirava e expirava regularmente. Enquanto que a inspiração parecia que lhe fazia perder alento, a expiração era uma maravilhosa irradiação de luz que se projectava para o infinito. Esta situação provinha da actividade dos deuses, dos Elohim que reinavam no astro.
Nesta altura, a missão dos Arqueus estava cumprida. Eles eram os espíritos do começo e, como tal, tinham dado início ao nascimento do primeiro Sol do nosso sistema planetário. Chegara a hora deles partirem para outras paragens para poderem gerar outros sois. Mas não partiram abandonando atrás de si tudo quanto tinham iniciado, a obra estava apenas começada e havia que a continuar no contínuo processo da evolução cósmica. Esta tarefa competiria a outros seres, sonhados e concebidos há muito pelos Arqueus, mas apenas, nessa altura, como formas-pensamento. Entre os Elohim, os Arqueus são dos mais poderosos mágicos pois, pela sua força de vontade podem dar vida e personalidade às formas-pensamento. Assim o fizeram, deram forma aos seres que lhes sucederiam na obra que haviam encetado, revestiram-nos de um corpo luminoso, astral, e de uma sensibilidade resplandecente. Então, sob o impulso dos Arqueus, os Arcanjos elevaram-se e tornaram-se os senhores do primeiro Sol.
Havendo uma hierarquia de seres, é natural que cada um desses seres tenha uma função específica para a qual foi criado. É assim que vemos os Tronos substituírem-se aos Arqueus e estes aos Tronos, e depois darem lugar aos Arcanjos. Neste plano, como em qualquer dos planos da Criação, cada ser tem a sua própria tarefa a cumprir. O novo Sol estava criado, havia que o habitar com seres que pudessem fazer com que esse Sol se continuasse a desenvolver.
À medida que se desenvolvia a vida espiritual dos Arcanjos, estes perceberam que na linha do Zodíaco se ia concentrando, num círculo prodigioso, um exército de espíritos sublimes, de formas diversas e majestosas. Eram os Querubins, que vinham concentrar-se em círculo ao redor do mundo solar para a incubação e fecundação dos Arcanjos. Os Querubins, junto com os Serafins, pertencem à mais alta hierarquia de Elohim. Eles são os habitantes do espaço espiritual, os Elohim da harmonia e da força. Vinham de todos os lados, das profundezas da galáxia, organizados em doze grupos. Os Querubins, junto com os Serafins, que são os espíritos do amor, estão mais próximo dos mistérios de Deus do que qualquer outro ser. Este acontecimento, esta reunião de Querubins em doze grupos ao redor do mundo solar, era conhecido dos magos da Caldeia e é a origem dos doze signos do Zodíaco, designação que foi conservada até aos dias de hoje.
Os antigos identificaram cada uma das constelações do Zodíaco com uma categoria de Querubins, e os seus quatro pontos cardeais eram representados pelos caldeus, pelos egípcios e pelos hebreus sob a forma de animais sagrados. Estes animais são o touro, o leão, a águia e o anjo ou o homem. São os quatro animais sagrados representados na Arca da Aliança de Moisés; são os quatro evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas e João; são os quatro animais sagrados do Apocalipse de S. João. A Esfinge egípcia do vale de Gizé resume-os a todos numa única forma, simbolizando a evolução divina e terrestre. A águia foi mais tarde substituída pelo escorpião, não sabemos porquê, uma vez que a águia simboliza a morte e a ressurreição, e o escorpião apenas a morte.
As convulsões deste Sol primevo continuaram, agora sob o impulso da vontade dos Arcanjos, que por sua vez conceberam os Anjos. Dois novos planetas surgiram deste Sol – Júpiter e Marte. Mas a formação da Terra foi precedida de um acontecimento crucial que vem descrito em todas as tradições, nas mais diversas formas, mas cujo significado é o mesmo. Na tradição oculta chamou-se “O Combate do Céu”; para os gregos é o mito de Prometeu, ao qual se liga “O Combate dos Titãs e dos Deuses”; na tradição judaico-cristã foi chamado “A Queda de Lúcifer”.
A Terra só foi formada depois desta “Guerra dos Céus”, que terminou com a queda dos Anjos que se teriam revoltado contra Deus. Por muito que este episódio possa constituir uma alegoria, e não o podemos entender de outra forma, senão teríamos que ver Deus como um comandante supremo de um exército contra quem se teriam revoltado algumas das hostes desse exército, uma coisa do género “A Revolta na Bounty”, corresponde no entanto a algo de muito transcendente que aconteceu entre as hostes celestiais com consequências no processo de criação do Homem, pois esta revolta teve como causa exclusiva a criação do ser humano.
Parece evidente que esta revolta não poderia ser contra Deus, porque Deus não é um ser contra quem, alguém ou algum ser se possa revoltar, mesmo que esse ser pertença a uma classe elevada de Elohim, como os Arcanjos. E não é possível porque tudo está contido no seu seio, nada é exterior a Deus. Assim, entendemos que tenha sido mais o resultado de uma tomada de consciência por parte das hostes que desobedeceram ao plano idealizado, ou seja, ao plano que estava impresso nas suas consciências.
Lúcifer era um Arcanjo, o seu nome significa “Portador da Luz”, e era o Génio do conhecimento e do livre arbítrio. Todos os seres criados até então eram andróginos, sem sexo, uniam em si em perfeita harmonia as duas polaridades, a masculina e a feminina. Lúcifer concluíra que, para criar o homem como ser independente, rebelde e senhor dos seus desejos, era necessário separar os sexos, e moldou, na Luz Astral, a forma deslumbrante da futura mulher, a Eva ideal. Milhões de Anjos e Arcanjos ficaram extasiados com a imagem e, entusiasmados com a ideia, colocaram-se ao lado de Lúcifer. Foi quando toda a restante hierarquia recebeu ordem para o deter, ou seja, foi quando essa restante hierarquia agiu de acordo com o propósito para que fora criada.
Como todos sabemos, e como não poderia ser de outra forma, o combate que se seguiu (se é que chegou a haver algum combate...) terminou com a derrota de Lúcifer e dos seus pares, e a consequente queda num plano inferior, num planeta que ainda não era a Terra actual, mas a Terra primitiva semelhante à Lua.
A Bíblia não nos esclarece acerca deste acontecimento, antes ainda confunde um pouco as coisas pois, mostra-nos no Génesis duas criações sucessivas do homem: primeiro, Deus criou o homem e fê-lo homem e mulher, portanto um ser hermafrodita ou andrógino; depois criou a mulher a partir de uma costela de Adão, aqui a separação dos sexos. Mas estas duas criações não foram feitas pelo mesmo Deus, porque a primeira é referida como tendo sido feita por Deus, a segunda por Javé Deus. De qualquer maneira, entendemos que este acontecimento esteve sempre previsto, desde o primeiro instante, e corresponde a uma evolução natural na corrente da evolução cósmica. Estava, desde o princípio, inserido no plano divino. Se a vida, tal como a conhecemos na Terra, é o objectivo de toda a Criação, portanto da vontade divina, ela não poderia ser concebida na ausência da dualidade representada pelos sexos, pois tudo está feito em função dessas polaridades distintas e opostas. A Cabala fala-nos disso nas duas colunas exteriores da Árvore Sefirótica.
Então a “Guerra dos Céus” não será mais do que uma alegoria a algo que está impresso, desde o princípio, nessa Tela imensa da Duração que é o pensamento de Deus, e que Lúcifer, o Arcanjo caído (ou sacrificado), não é outro senão o Adão primeiro, o Adam Kadmon, que desceu ao mundo da matéria para aí ser o progenitor ancestral do Homem e este, através do seu corpo animal poder percorrer o caminho ascendente que o elevará a uma posição superior em toda a hierarquia dos seres. Mas para que isto pudesse ser feito, o homem precisava de dispor da sua vontade e do livre arbítrio, com os quais pudesse moldar a sua individualidade ao ser obrigado a uma escolha permanente, num mundo potencialmente criado para o bem e para o mal, tudo dependendo da sua vontade.
Édouard Schuré diz a este respeito o seguinte:
“Primeiro despertar do Desejo, do Conhecimento e da Liberdade, a tocha de Lúcifer não se acenderá com todo o seu brilho novamente senão no sol do Amor e da vida divina, em Cristo.
(......) Da elevação do Homem ao estado angélico, devia nascer no fim dos tempos planetários um novo Deus, a individualidade livre e criadora. Mas, antes, era preciso haver uma descida, em sombria espiral, no doloroso laboratório da animalidade! E quem poderia decidir qual sofrerá mais, o Homem, mais humilhado, mais atormentado à medida que toma consciência de si mesmo, ou o Anjo invisível que sofre e luta com ele?.”
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
O Cosmos, o Homem e a Evolução
5 – O Tempo
“O Tempo não existia, porque dormia no Seio infinito da Duração” (Da Estância I do Livro de Dzyan – Cosmogénese – A Doutrina Secreta de Helena Blavatsky)
O tempo é talvez um dos conceitos mais difíceis de entender, embora, para a mente objectiva, não o seja. Para esta, o tempo é o período durante o qual uma acção ou evento ocorre; é também, uma dimensão representando uma sucessão de tais acções ou eventos. Na nossa civilização, o tempo é um dos elementos fundamentais do mundo físico, tudo é medido e regulado por ele. Existem actualmente três métodos de medição do tempo: os primeiros dois baseiam-se na rotação de Terra sobre o seu eixo, considerando o movimento aparente do Sol através do céu e o movimento aparente das estrelas. O terceiro método baseia-se na revolução da Terra à volta do Sol.
Apesar de ele ser esse elemento fundamental na nossa civilização, o tempo não deixa por isso de ser também uma das coisas mais relativas que existem. Esta relatividade foi teorizada por Einstein e comprovada mais tarde por experiências efectuadas: o tempo encurta ou contrai-se, quando uma pessoa se desloca sobre a Terra no sentido inverso ao do movimento do Sol; deslocando-se no sentido do movimento do Sol, o tempo alonga-se ou dilata-se. As diferenças verificadas são tão ínfimas que só podem ser medidas em microsegundos mas, seja como for, é uma demonstração prática de que o tempo, mesmo visto pelo lado objectivo, não é uma constante.
O tempo nasceu simultaneamente com o início da Criação, pois antes desse primordial alento que colocou tudo em movimento, o tempo não existia. Como diz a tradição antiga, na chamada “Noite do Universo”, o tempo jazia adormecido no seio infinito da Duração, e o Pai Eterno, envolto em suas vestes invisíveis, dormira mais uma vez por sete eternidades. Aqui existem três conceitos que, aparentemente, significam a mesma coisa, mas na verdade são coisas diferentes: o tempo, a duração e a eternidade. Para nós, duração seria o acumular de determinado tempo, e eternidade o tempo infinito, mas parece que não é bem assim.
A duração ou as sete eternidades nesse texto de sabedoria antiga, pertencem ao estado de não-existência, e esse estado não pode ser medido em tempo. O estado de não-existência é a condição em que tudo está vazio, nada existe, é a escuridão absoluta, são as trevas, nada pulsa, tudo está quieto – só que não sabemos o que é este tudo, uma vez que nada existe.
De acordo com essa tradição antiga, o tempo é uma ilusão que se produz pela sucessão dos nossos estados de consciência na nossa viagem através da duração eterna, e só existe onde há consciência, em que esta possa produzir a ilusão. O presente é uma linha matemática que separa a eternidade em duas partes, uma chamamos de passado e outra de futuro, mas trata-se da mesma duração eterna. O futuro e o passado são uma e a mesma realidade, se lhe podemos chamar assim. É o “Eterno Presente” dos místicos. Na nossa consciência, o tempo corre do futuro para o passado porque, à medida que vamos tomando consciência do «vir a ser» (futuro), passamos a ter consciência do «foi» (passado). Isto quer dizer que nem o futuro nem o passado existem, pois são ambos a duração eterna onde tudo permanece imóvel. Eles, o passado e o futuro, assim como o tempo, só existem como uma ilusão que é percebida pelos nossos sentidos.
Já vimos que, objectivamente, a nossa noção de tempo depende do movimento da Terra e das estrelas. Se não houvesse esse movimento teríamos, com certeza, muita dificuldade em contar o tempo. No entanto, como entender que o tempo seja uma ilusão se percebemos a sucessão dos dias e das noites, das horas, das estações do ano, dos anos, dos meses, dos séculos e dos milénios? Não é verdade que estamos já no terceiro milénio? Não é verdade que estamos no ano de 2009 da era cristã? O que fazer de todos os acontecimentos de que temos conhecimento através da História nestes dois mil anos? Como poderemos nós conceber a não existência do tempo se temos consciência de que nascemos, crescemos e morremos, da mesma forma que vemos acontecer em toda a natureza? Na verdade, nada existe que dure eternamente, tudo o que existe está sujeito a mudanças. Aquilo a que chamamos tempo não é mais do que a tomada de consciência dessas mudanças. Toda a existência está em constante e permanente mudança. Nós nunca podemos repetir uma mesma situação por mais perfeita que seja essa repetição porque, quando a repetimos, tudo o que a envolve, incluindo nós mesmos, já mudou.
É bem conhecida aquela velha lei de Lavoisier que diz que, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Ele dizia que depois de uma combustão ou um processo químico, a quantidade de matéria continuava a ser a mesma, mudava apenas de forma. Isto deixou de ser verdade a partir do desenvolvimento da ciência atómica, em que existe perda de matéria quando da desintegração do átomo. Mas no essencial, a lei continua correcta, pois na desintegração do átomo a matéria que se perde é transformada em energia, e esta, mais tarde, poderá voltar a ser matéria. Isto quer dizer que a matéria que existe é permanente, apenas assistimos e tomamos consciência das suas transformações que formam, na nossa consciência, a ilusão do tempo.
Mas se não há criação de matéria nova e se não há perda de matéria, estamos perante um problema que é o de saber como é, de facto, o processo da Criação. Julgamos que está subentendido que este processo é contínuo, é permanente, isto é, que dura desde o início, desde a primeira vibração do Verbo. Não estamos enganados, só que este processo não inclui a criação de matéria nova. Toda a matéria existente no Universo foi criada, ou activada, de uma vez numa dada altura, depois disso nada mais acontece a não ser a transformação permanente dessa matéria.
Voltamos assim à história do “Big Bang” que talvez não esteja tão longe da verdade como muitos podem pensar. Imaginemos que antes do primeiro alento, antes da vontade do Verbo se ter manifestado, tudo já existia, todos os átomos, todas as partículas, tudo mergulhado num sono letárgico onde não se verificava nenhum movimento, nenhuma troca de energia. Isto eram as trevas. Quando a vontade do Verbo se manifestou em Luz, tudo começou de repente a pulsar, a vibrar. O “Fiat Lux” terá sido a ignição que colocou tudo em marcha e foi nessa altura que começou também a acção do tempo, que não é mais do que o registo consciente das transformações que se operam permanentemente.
O Livro de Dzyan diz que o Universo está contido numa tela imensa onde os átomos se contraem e expandem permanentemente, e nessa contracção e expansão fica o registo das mudanças que se vão operando em toda a coisa criada, sendo que a Tela é a Duração Eterna, onde não existe tempo, nem passado nem futuro, apenas o Eterno Presente com todas as transformações operadas.
Evidentemente que temos muita dificuldade em absorver este conceito de tempo. Costumamos dizer que o tempo é uma coisa muito relativa, mas logo alguém nos diz que uma hora tem sempre sessenta minutos. Pois é, mas se não é assim, se o tempo não é uma coisa relativa, vejamos a questão dos sonhos com que todos estamos familiarizados. Muitas vezes temos sonhos muito longos, acordamos com a impressão de termos passado a noite inteira a sonhar mas, se formos ver, e isto já foi testado e confirmado por inúmeras experiências, esses sonhos não duraram mais do que alguns poucos minutos. No entanto, na nossa consciência, eles duraram a noite inteira. Quando estamos a fazer uma coisa que nos agrada muito ou estamos completamente absorvidos numa actividade que nos dá intenso prazer, o tempo parece que se acelera, não damos pela sua passagem. Ao contrário, quando estamos numa situação desagradável ou que nos contraria, o tempo demora uma “eternidade” a passar.
Martinés de Pasquallys, no seu livro “Tratado da Reintegração dos Seres Criados”, diz logo no princípio o seguinte:
“Antes do tempo, emanou Deus seres espirituais, para sua própria glória, na sua dimensão divina. Esses seres deviam exercer um culto que a Divindade lhes fixara em leis, preceitos e mandamentos eternos. Eles eram pois livres e distintos do Criador; e não se pode recusar-lhes o livre arbítrio com o qual foram emanados sem destruir-lhes a faculdade, a propriedade, a virtude espiritual e pessoal que lhes eram necessárias para operar com precisão nos limites em que deviam exercer o seu domínio. Estes primeiros seres não podem negar ou ignorar as convenções que o Criador produziu com eles ao dar-lhes leis, preceitos, mandamentos, pois era tão somente nessas convenções que assentava a sua emanação”.
Há aqui duas questões importantes: uma a do livre arbítrio que foi concedido a esses seres, mas sob determinadas condições, o que por si só, estabelece uma aparente contradição; a outra questão é a de terem sido criados antes do tempo.
Vejamos primeiro a questão do livre arbítrio e a aparente contradição que parece inferir-se das palavras do autor. Todos nós dispomos de livre arbítrio, isto é, podemos agir pelos ditames exclusivos da nossa consciência e não condicionados por qualquer espécie de factor externo. Esta é a verdadeira essência do livre arbítrio, que se traduz para nós, numa extrema dificuldade em o usarmos correctamente, pois dificilmente nos podemos tornar imunes a influências exteriores à nossa consciência. Então, esses seres criados por Deus antes do tempo dispunham, de facto, de livre arbítrio. As leis, os preceitos, os mandamentos a que estavam sujeitos, faziam parte da sua consciência, pois fora com eles que eles foram emanados, e assim podiam agir com pleno uso do livre arbítrio dentro dos limites estabelecidos pela sua consciência.
Antes do tempo quer dizer, em nosso entender, que não estavam sujeitos a nenhuma transformação, a nenhuma mudança. Esses seres foram criados completos, não nasceram de nenhuma mãe, não cresceram, pois isto significaria mudanças e portanto, o tempo também correria para eles. Para tentar compreender isto, socorro-me da tradição hindu, que divide os tempos de existência do Universo em dias e noites de Brahma, os quais contêm vários Mavantaras e estes vários Kalpas, o que tudo somado dá um número astronómico de anos para cada dia de Brahma e o mesmo número de anos para cada noite. Segundo esta tradição, a Criação conheceu vários ciclos, chamados dias de Brahma, e entre estes ciclos existem as noites onde tudo fica, por um incomensurável número de anos, completamente adormecido. Em cada recomeço, em cada novo dia de Brahma, o tempo recomeça a contar. Não nos custa admitir que esses seres criados antes do tempo, o tenham sido em ciclos anteriores, e assim, em relação ao actual, eles tenham permanecido adormecidos no seio da Divindade.
Evidentemente que esses seres não eram seres corpóreos, não pertenciam ao plano da matéria, e só podemos, de facto, falar em existência temporal, entendendo essa existência no plano puramente material. Pois o tempo, embora não exista como coisa criada, ele existe apenas como um conceito, uma regra ou uma lei, ele é um puro produto da concepção humana. O tempo é de natureza material. Não se pode aplicar a outros mundos ou outros planos, que se regem por regras que estão para além do nosso entendimento. Martinés de Pasquallys diz-nos que eles existiam no seio da Divindade, mas sem distinção de acção, de pensamento e de entendimento particular, não podiam agir nem sentir senão pela vontade do seu superior que os continha e no qual tudo se animava.
Já vimos que, apesar de todas estas aparentes restrições, eles dispunham, na verdade, de livre arbítrio, condicionado apenas pela sua consciência a qual, era a consciência de Deus, ou a consciência com que Deus os tinha inseminado. Eles existiam em Deus, quer dizer, agiam e pensavam segundo o pensamento de Deus, eram como que uma extensão do próprio Deus. O autor diz-nos ainda que, esta existência em Deus é de uma necessidade absoluta, pois que é ela que constitui a imensidão da potência divina. Deus não seria o pai e senhor de todas as coisas se não tivesse inata em si uma fonte inesgotável de seres que emana da sua pura vontade e quando lhe apraz. Serão pois, estes seres criados antes do tempo, puras emanações divinas, extensões do próprio Deus – em nosso entender: os «operários» da Criação.
Em relação ao tempo restam-nos ainda duas questões importantes: a primeira tem a ver com a doutrina da reencarnação; a segunda, com a existência dos chamados “arquivos acásicos”.
De forma explícita ou implícita a todo o ensinamento esotérico e a algumas religiões, a nossa evolução faz-se através de um sem número de reencarnações sucessivas, espaçadas, segundo alguns, por uma centena e pouco de anos, dizem outros, de uma forma aleatória. O objectivo das sucessivas reencarnações é o de nos irmos aperfeiçoando até atingirmos um tal grau de perfeição que já não precisemos de voltar à Terra. A evolução, atingido este estágio de perfeição, continua em outro plano, até que possamos de novo nos reintegrar na fonte de onde partimos, no Pai. Se o tempo não existe, ou não passa de uma ilusão criada pelos nossos estados de consciência, se o passado não existe e é apenas uma das partes da duração eterna (a outra é o futuro), como entender essas vidas anteriores que, segundo parece, todos nós tivemos?
Seguindo a mesma linha de raciocínio, existirão porventura os “arquivos acásicos” onde todas as existências e todos os acontecimentos ficam registados, e aos quais alguns de nós têm o dom de os poder consultar, de os acessar?
Estas parecem ser questões de resposta impossível, mas não são, se nos lembrarmos do que se disse atrás sobre a Tela, que é a duração eterna e é constituída por átomos que se contraem e expandem, registando sobre essa Tela todas as mudanças operadas em todas as coisas criadas. Ou seja, não é diferente o que se passa numa única vida ou em várias vidas – é tudo mudança. Não se trata de vidas paralelas, nem de mundos paralelos, como à primeira vista pode parecer. Trata-se de vidas sucessivas diferenciadas no tempo pelos nossos contínuos e sucessivos estados de consciência. A matriz, que é a Tela, não conhece o tempo – ela é a eternidade, o Eterno Presente, nós é que imprimimos a noção de tempo às nossas vidas através da nossa consciência.
“O Tempo não existia, porque dormia no Seio infinito da Duração” (Da Estância I do Livro de Dzyan – Cosmogénese – A Doutrina Secreta de Helena Blavatsky)
O tempo é talvez um dos conceitos mais difíceis de entender, embora, para a mente objectiva, não o seja. Para esta, o tempo é o período durante o qual uma acção ou evento ocorre; é também, uma dimensão representando uma sucessão de tais acções ou eventos. Na nossa civilização, o tempo é um dos elementos fundamentais do mundo físico, tudo é medido e regulado por ele. Existem actualmente três métodos de medição do tempo: os primeiros dois baseiam-se na rotação de Terra sobre o seu eixo, considerando o movimento aparente do Sol através do céu e o movimento aparente das estrelas. O terceiro método baseia-se na revolução da Terra à volta do Sol.
Apesar de ele ser esse elemento fundamental na nossa civilização, o tempo não deixa por isso de ser também uma das coisas mais relativas que existem. Esta relatividade foi teorizada por Einstein e comprovada mais tarde por experiências efectuadas: o tempo encurta ou contrai-se, quando uma pessoa se desloca sobre a Terra no sentido inverso ao do movimento do Sol; deslocando-se no sentido do movimento do Sol, o tempo alonga-se ou dilata-se. As diferenças verificadas são tão ínfimas que só podem ser medidas em microsegundos mas, seja como for, é uma demonstração prática de que o tempo, mesmo visto pelo lado objectivo, não é uma constante.
O tempo nasceu simultaneamente com o início da Criação, pois antes desse primordial alento que colocou tudo em movimento, o tempo não existia. Como diz a tradição antiga, na chamada “Noite do Universo”, o tempo jazia adormecido no seio infinito da Duração, e o Pai Eterno, envolto em suas vestes invisíveis, dormira mais uma vez por sete eternidades. Aqui existem três conceitos que, aparentemente, significam a mesma coisa, mas na verdade são coisas diferentes: o tempo, a duração e a eternidade. Para nós, duração seria o acumular de determinado tempo, e eternidade o tempo infinito, mas parece que não é bem assim.
A duração ou as sete eternidades nesse texto de sabedoria antiga, pertencem ao estado de não-existência, e esse estado não pode ser medido em tempo. O estado de não-existência é a condição em que tudo está vazio, nada existe, é a escuridão absoluta, são as trevas, nada pulsa, tudo está quieto – só que não sabemos o que é este tudo, uma vez que nada existe.
De acordo com essa tradição antiga, o tempo é uma ilusão que se produz pela sucessão dos nossos estados de consciência na nossa viagem através da duração eterna, e só existe onde há consciência, em que esta possa produzir a ilusão. O presente é uma linha matemática que separa a eternidade em duas partes, uma chamamos de passado e outra de futuro, mas trata-se da mesma duração eterna. O futuro e o passado são uma e a mesma realidade, se lhe podemos chamar assim. É o “Eterno Presente” dos místicos. Na nossa consciência, o tempo corre do futuro para o passado porque, à medida que vamos tomando consciência do «vir a ser» (futuro), passamos a ter consciência do «foi» (passado). Isto quer dizer que nem o futuro nem o passado existem, pois são ambos a duração eterna onde tudo permanece imóvel. Eles, o passado e o futuro, assim como o tempo, só existem como uma ilusão que é percebida pelos nossos sentidos.
Já vimos que, objectivamente, a nossa noção de tempo depende do movimento da Terra e das estrelas. Se não houvesse esse movimento teríamos, com certeza, muita dificuldade em contar o tempo. No entanto, como entender que o tempo seja uma ilusão se percebemos a sucessão dos dias e das noites, das horas, das estações do ano, dos anos, dos meses, dos séculos e dos milénios? Não é verdade que estamos já no terceiro milénio? Não é verdade que estamos no ano de 2009 da era cristã? O que fazer de todos os acontecimentos de que temos conhecimento através da História nestes dois mil anos? Como poderemos nós conceber a não existência do tempo se temos consciência de que nascemos, crescemos e morremos, da mesma forma que vemos acontecer em toda a natureza? Na verdade, nada existe que dure eternamente, tudo o que existe está sujeito a mudanças. Aquilo a que chamamos tempo não é mais do que a tomada de consciência dessas mudanças. Toda a existência está em constante e permanente mudança. Nós nunca podemos repetir uma mesma situação por mais perfeita que seja essa repetição porque, quando a repetimos, tudo o que a envolve, incluindo nós mesmos, já mudou.
É bem conhecida aquela velha lei de Lavoisier que diz que, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Ele dizia que depois de uma combustão ou um processo químico, a quantidade de matéria continuava a ser a mesma, mudava apenas de forma. Isto deixou de ser verdade a partir do desenvolvimento da ciência atómica, em que existe perda de matéria quando da desintegração do átomo. Mas no essencial, a lei continua correcta, pois na desintegração do átomo a matéria que se perde é transformada em energia, e esta, mais tarde, poderá voltar a ser matéria. Isto quer dizer que a matéria que existe é permanente, apenas assistimos e tomamos consciência das suas transformações que formam, na nossa consciência, a ilusão do tempo.
Mas se não há criação de matéria nova e se não há perda de matéria, estamos perante um problema que é o de saber como é, de facto, o processo da Criação. Julgamos que está subentendido que este processo é contínuo, é permanente, isto é, que dura desde o início, desde a primeira vibração do Verbo. Não estamos enganados, só que este processo não inclui a criação de matéria nova. Toda a matéria existente no Universo foi criada, ou activada, de uma vez numa dada altura, depois disso nada mais acontece a não ser a transformação permanente dessa matéria.
Voltamos assim à história do “Big Bang” que talvez não esteja tão longe da verdade como muitos podem pensar. Imaginemos que antes do primeiro alento, antes da vontade do Verbo se ter manifestado, tudo já existia, todos os átomos, todas as partículas, tudo mergulhado num sono letárgico onde não se verificava nenhum movimento, nenhuma troca de energia. Isto eram as trevas. Quando a vontade do Verbo se manifestou em Luz, tudo começou de repente a pulsar, a vibrar. O “Fiat Lux” terá sido a ignição que colocou tudo em marcha e foi nessa altura que começou também a acção do tempo, que não é mais do que o registo consciente das transformações que se operam permanentemente.
O Livro de Dzyan diz que o Universo está contido numa tela imensa onde os átomos se contraem e expandem permanentemente, e nessa contracção e expansão fica o registo das mudanças que se vão operando em toda a coisa criada, sendo que a Tela é a Duração Eterna, onde não existe tempo, nem passado nem futuro, apenas o Eterno Presente com todas as transformações operadas.
Evidentemente que temos muita dificuldade em absorver este conceito de tempo. Costumamos dizer que o tempo é uma coisa muito relativa, mas logo alguém nos diz que uma hora tem sempre sessenta minutos. Pois é, mas se não é assim, se o tempo não é uma coisa relativa, vejamos a questão dos sonhos com que todos estamos familiarizados. Muitas vezes temos sonhos muito longos, acordamos com a impressão de termos passado a noite inteira a sonhar mas, se formos ver, e isto já foi testado e confirmado por inúmeras experiências, esses sonhos não duraram mais do que alguns poucos minutos. No entanto, na nossa consciência, eles duraram a noite inteira. Quando estamos a fazer uma coisa que nos agrada muito ou estamos completamente absorvidos numa actividade que nos dá intenso prazer, o tempo parece que se acelera, não damos pela sua passagem. Ao contrário, quando estamos numa situação desagradável ou que nos contraria, o tempo demora uma “eternidade” a passar.
Martinés de Pasquallys, no seu livro “Tratado da Reintegração dos Seres Criados”, diz logo no princípio o seguinte:
“Antes do tempo, emanou Deus seres espirituais, para sua própria glória, na sua dimensão divina. Esses seres deviam exercer um culto que a Divindade lhes fixara em leis, preceitos e mandamentos eternos. Eles eram pois livres e distintos do Criador; e não se pode recusar-lhes o livre arbítrio com o qual foram emanados sem destruir-lhes a faculdade, a propriedade, a virtude espiritual e pessoal que lhes eram necessárias para operar com precisão nos limites em que deviam exercer o seu domínio. Estes primeiros seres não podem negar ou ignorar as convenções que o Criador produziu com eles ao dar-lhes leis, preceitos, mandamentos, pois era tão somente nessas convenções que assentava a sua emanação”.
Há aqui duas questões importantes: uma a do livre arbítrio que foi concedido a esses seres, mas sob determinadas condições, o que por si só, estabelece uma aparente contradição; a outra questão é a de terem sido criados antes do tempo.
Vejamos primeiro a questão do livre arbítrio e a aparente contradição que parece inferir-se das palavras do autor. Todos nós dispomos de livre arbítrio, isto é, podemos agir pelos ditames exclusivos da nossa consciência e não condicionados por qualquer espécie de factor externo. Esta é a verdadeira essência do livre arbítrio, que se traduz para nós, numa extrema dificuldade em o usarmos correctamente, pois dificilmente nos podemos tornar imunes a influências exteriores à nossa consciência. Então, esses seres criados por Deus antes do tempo dispunham, de facto, de livre arbítrio. As leis, os preceitos, os mandamentos a que estavam sujeitos, faziam parte da sua consciência, pois fora com eles que eles foram emanados, e assim podiam agir com pleno uso do livre arbítrio dentro dos limites estabelecidos pela sua consciência.
Antes do tempo quer dizer, em nosso entender, que não estavam sujeitos a nenhuma transformação, a nenhuma mudança. Esses seres foram criados completos, não nasceram de nenhuma mãe, não cresceram, pois isto significaria mudanças e portanto, o tempo também correria para eles. Para tentar compreender isto, socorro-me da tradição hindu, que divide os tempos de existência do Universo em dias e noites de Brahma, os quais contêm vários Mavantaras e estes vários Kalpas, o que tudo somado dá um número astronómico de anos para cada dia de Brahma e o mesmo número de anos para cada noite. Segundo esta tradição, a Criação conheceu vários ciclos, chamados dias de Brahma, e entre estes ciclos existem as noites onde tudo fica, por um incomensurável número de anos, completamente adormecido. Em cada recomeço, em cada novo dia de Brahma, o tempo recomeça a contar. Não nos custa admitir que esses seres criados antes do tempo, o tenham sido em ciclos anteriores, e assim, em relação ao actual, eles tenham permanecido adormecidos no seio da Divindade.
Evidentemente que esses seres não eram seres corpóreos, não pertenciam ao plano da matéria, e só podemos, de facto, falar em existência temporal, entendendo essa existência no plano puramente material. Pois o tempo, embora não exista como coisa criada, ele existe apenas como um conceito, uma regra ou uma lei, ele é um puro produto da concepção humana. O tempo é de natureza material. Não se pode aplicar a outros mundos ou outros planos, que se regem por regras que estão para além do nosso entendimento. Martinés de Pasquallys diz-nos que eles existiam no seio da Divindade, mas sem distinção de acção, de pensamento e de entendimento particular, não podiam agir nem sentir senão pela vontade do seu superior que os continha e no qual tudo se animava.
Já vimos que, apesar de todas estas aparentes restrições, eles dispunham, na verdade, de livre arbítrio, condicionado apenas pela sua consciência a qual, era a consciência de Deus, ou a consciência com que Deus os tinha inseminado. Eles existiam em Deus, quer dizer, agiam e pensavam segundo o pensamento de Deus, eram como que uma extensão do próprio Deus. O autor diz-nos ainda que, esta existência em Deus é de uma necessidade absoluta, pois que é ela que constitui a imensidão da potência divina. Deus não seria o pai e senhor de todas as coisas se não tivesse inata em si uma fonte inesgotável de seres que emana da sua pura vontade e quando lhe apraz. Serão pois, estes seres criados antes do tempo, puras emanações divinas, extensões do próprio Deus – em nosso entender: os «operários» da Criação.
Em relação ao tempo restam-nos ainda duas questões importantes: a primeira tem a ver com a doutrina da reencarnação; a segunda, com a existência dos chamados “arquivos acásicos”.
De forma explícita ou implícita a todo o ensinamento esotérico e a algumas religiões, a nossa evolução faz-se através de um sem número de reencarnações sucessivas, espaçadas, segundo alguns, por uma centena e pouco de anos, dizem outros, de uma forma aleatória. O objectivo das sucessivas reencarnações é o de nos irmos aperfeiçoando até atingirmos um tal grau de perfeição que já não precisemos de voltar à Terra. A evolução, atingido este estágio de perfeição, continua em outro plano, até que possamos de novo nos reintegrar na fonte de onde partimos, no Pai. Se o tempo não existe, ou não passa de uma ilusão criada pelos nossos estados de consciência, se o passado não existe e é apenas uma das partes da duração eterna (a outra é o futuro), como entender essas vidas anteriores que, segundo parece, todos nós tivemos?
Seguindo a mesma linha de raciocínio, existirão porventura os “arquivos acásicos” onde todas as existências e todos os acontecimentos ficam registados, e aos quais alguns de nós têm o dom de os poder consultar, de os acessar?
Estas parecem ser questões de resposta impossível, mas não são, se nos lembrarmos do que se disse atrás sobre a Tela, que é a duração eterna e é constituída por átomos que se contraem e expandem, registando sobre essa Tela todas as mudanças operadas em todas as coisas criadas. Ou seja, não é diferente o que se passa numa única vida ou em várias vidas – é tudo mudança. Não se trata de vidas paralelas, nem de mundos paralelos, como à primeira vista pode parecer. Trata-se de vidas sucessivas diferenciadas no tempo pelos nossos contínuos e sucessivos estados de consciência. A matriz, que é a Tela, não conhece o tempo – ela é a eternidade, o Eterno Presente, nós é que imprimimos a noção de tempo às nossas vidas através da nossa consciência.
terça-feira, 11 de agosto de 2009
O Cosmos, o Homem e a Evolução
4 – A Luz
“As Trevas irradiam a Luz, e a Luz emite um Raio solitário sobre as Águas e dentro das Entranhas da Mãe” (Da Estância III do Livro de Dzyan – Cosmogénese – A Doutrina Secreta de Helena Blavatsky)
Esta frase que transcrevemos de uma das estrofes do Livro de Dzyan incluído no volume que trata da Cosmogénese (geração do Cosmos) da Doutrina Secreta, faz-nos lembrar, com um pouco de imaginação, a gestação de um ser humano. A luz aqui é o princípio masculino que fecunda as águas que estão dentro da mãe, princípio feminino. Portanto, a Criação dá-se pela união destes dois princípios.
A Luz aparece depois do Verbo se manifestar, é assim uma emanação do Verbo, e encontramo-la em todas as descrições sobre o início da Criação:
· Para S. João, a Luz resplandeceu nas trevas, e estas não a compreenderam. Esta não compreensão diz-nos que a luz não foi irradiada pelas trevas, mas sim nas trevas, dando a ideia de que a luz era algo de estranho que surgiu no seu interior.
· No Génesis temos o conhecido “Fiat Lux” que Deus ordenou.
· Enoch diz que Adoil se partiu em dois e uma grande luz saiu dele.
· Na tradição hebraica é Elohim que diz para a luz ser feita.
· O Livro de Dzyan fala num arco luminoso e descreve a luz irradiando das trevas e emitindo um raio solitário nas águas para dentro do Abismo da Mãe.
· Na Cabala, é um raio que desce do En Sof, atravessa as Sefiras até se fixar em Malkhut, e presumimos que este raio é luminoso.
· Mesmo no caso do “Big Bang”, pelo que podemos imaginar, deve ter sido seguido por uma luz fulgurante pois, pelo que nós sabemos, existe sempre uma emissão de luz em qualquer tipo de explosão.
A Luz não é, objectivamente, o que nós percebemos através da nossa visão, como as trevas também o não são. O que nós percebemos com os nossos sentidos objectivos é o que os antigos chamavam de “Maya” (Ilusão), e sob este ponto de vista, a luz só existe como contraponto da sombra, porque sem esta não a podíamos perceber. Na tradição rosacruz a luz e as trevas são uma e a mesma coisa, são idênticas entre si, separadas apenas pela nossa mente. O ocultismo oriental ensina que as trevas são a única realidade verdadeira, a base e a raiz da luz, porque sem as trevas a luz não poderia manifestar-se. Diz ainda esta tradição oriental que as trevas são a luz subjectiva e absoluta.
Embora não partilhando inteiramente destes conceitos, compreendemos que a luz e as trevas podem ser uma e a mesma coisa porque ambas estão contidas na unidade que é Deus, e que uma e outra são manifestações de carácter diferente da Vontade Divina, a luz sendo o gerador positivo de todo o movimento que deu origem à Criação, e as trevas a quietude absoluta, a não existência. A Igreja Católica figura as trevas como a residência e origem do mal, por isso chama Trevas ao Diabo (Lúcifer), o qual, no Livro de Job, é chamado de “Filho de Deus”, a estrela resplandecente da manhã. Ele foi o primeiro Arcanjo que emergiu das profundezas do caos e foi chamado de Lux (Lúcifer), o “Filho Luminoso da Manhã”, significando que era a luz da aurora da Criação. A Igreja sacrificou-o ao novo dogma, transformando-o em Satã, porque era mais antigo e de mais elevada categoria que Jeovah e portanto, para entronizar este como o Deus criador, teve que enviar Lúcifer para as profundezas das trevas (inferno). Claro que isto é muito complicado de resolver, até para os teólogos, pois pressupõe a existência de uma hierarquia na qual Jeovah não ocuparia o lugar mais elevado, como o faz supor toda a doutrina católica.
Nas estâncias do livro de Dzyan, a Luz é representada como a Essência Radiante, o Luminoso Ovo, o Radiante Filho do Dois, o OEAOHOO que brilha como o Sol, o Germe que é Aquele, e Aquele é a Luz, a Chama Fria. São tudo formas herméticas de contar uma coisa que, de outro modo, talvez fosse bem difícil de explicar, embora estas também não sejam nada fáceis. Como todos os livros antigos, este também está escrito em forma de metáforas, para que possa ser lido e compreendido por quem possua as “chaves” para o seu entendimento.
Procurando seguir as ideias transmitidas nestas estrofes herméticas, a Criação forma-se a partir do Verbo, vibração primordial no oceano de trevas, que é o não manifestado, o que não se move, mas onde a vida permanece num estado latente e, como diz S. João, a vida manifesta-se pela Luz. A Luz é o Raio omnipresente e espiritual que fecunda o Ovo Divino e convoca a matéria cósmica (coágulos) para que comece a sua série de diferenciações. Os coágulos são a primeira diferenciação, são a matéria a partir da qual tudo se veio a formar, são a origem da Via Láctea e de todas as galáxias. Isto é o que diz o Livro de Dzyan, e aqui aparece um termo importante: diferenciações.
Para podermos compreender como este termo é importante, basta-nos pensar que a Criação se fez a partir do Um, da Unidade, onde tudo estava contido. Só começa a verdadeira obra criadora no momento em que algo se diferencia dessa unidade. A Criação é assim a multiplicidade das coisas, é a diferenciação exponencial. Esta diferenciação é tão perfeita que nada, rigorosamente nada no Universo é igual, não existem cópias.
A Via Láctea, a nossa galáxia, onde o nosso planeta Terra está inserido, possui ainda vastas regiões preenchidas por aqueles coágulos, aquela matéria primordial fecundada pela Luz e de onde se formam as estrelas, os planetas e todos os outros astros. Isto quer dizer que a Criação só terá sido um acto instantâneo no seu início, quando o Ovo Luminoso foi fecundado pelo Raio emitido pela Luz, e que depois disso é um processo contínuo, isto é, que a Criação se faz permanentemente. Planetas, estrelas, asteróides, estão sempre a ser criados, num movimento incessante. E quando uma estrela atinge o seu ocaso e morre, isto também é um acto criador, pois a sua matéria irá ser usada no nascimento de um outro astro.
O nascimento, o crescimento (desenvolvimento), a plenitude, a decadência e o ocaso (morte), é um padrão universal, tudo o que é criado está sujeito a esta lei imutável. Quer dizer, tudo o que é criado e formado, porque a essência da matéria, os átomos, esses não sofrem qualquer espécie de mudança, limitam-se a mudar de composição. Em todo este processo, a luz está sempre presente, porque só através dela é que o movimento se origina. No caso da Terra, é a luz solar que mantém este planeta como um viveiro exuberante de vida.
Um outro aspecto sempre presente na obra da Criação é a dualidade, a existência dos opostos. O Livro de Dzyan diz que “o Pai e a Mãe geram Oeaohoo, o Radiante Filho dos Dois, que passa a ser o imenso Espaço Luminoso e que brilha como o Sol”. O Espaço Luminoso é o Raio que, à primeira vibração da nova Aurora, incidiu sobre as profundezas cósmicas, de onde surgiu diferenciado como Oeaohoo, “o mais jovem” (a nova vida), para se converter no germe de todas as coisas. É o “Homem incorpóreo que traz em si mesmo a Ideia Divina”, é o gerador da Luz e da Vida; é o Resplandecente Dragão da Sabedoria para os orientais; é o Logos, o Verbo do Pensamento Divino para os filósofos gregos; é o Resplandecente “Filho do Sol” a síntese da Sabedoria Universal, que contém em si mesmo os “Sete Exércitos Criadores (Sefiras), sendo assim a essência da Sabedoria manifestada. Mais adiante veremos o significado destes “Sete Exércitos Criadores” que, em termos de Cabala poderão ser as sete Sefiras logo abaixo do primeiro triângulo da Árvore Sefirótica, mas que pode também ter outro sentido.
A Luz não é o início, mas a consequência da primeira vibração. Imaginemos como se terá dado esse início. Tudo está quieto, não existe o menor movimento, não existe tempo nem espaço, tudo está mergulhado em trevas, nada existe. Deus está recolhido em Si mesmo. Ele é o Um. De repente, um sopro, uma pulsação, sacode a quietude – é o Pensamento Divino, é o Verbo. O resultado deste sopro é uma Luz Radiante que fecunda o Ovo virginal (as profundezas cósmicas), o princípio feminino, a base de toda a existência material. Eles são o Dois, o Pai e a Mãe, que geram o Três, o Filho, ou seja, o início da Criação.
A Luz em si é fria, mas produz o Fogo, o qual produz o Calor. A Tela Universal, que é o material primordial da formação dos mundos, a matéria cósmica, é constituída por átomos os quais contém em si calor interno e calor externo. Assim a vida nasce desse calor, que resulta da existência das duas polaridades pois, como sabemos, os átomos contêm essas duas polaridades, além de uma terceira, que é neutra. Veja-se o caso da electricidade, ela própria tem calor porque é energia originada dos átomos, mas para que se manifeste tem de ter as duas polaridades, a positiva e a negativa. Sem estes dois pólos opostos não poderia haver electricidade.
A Luz é assim o Pai, o princípio masculino, o pólo positivo, o raio que vai fecundar o ovo primordial, que é a Mãe, o princípio feminino, o pólo negativo. Os números, o Um, o Dois, o Três, etc., encontramo-los na Árvore Sefirótica da Cabala, que é constituída por dez Sefiras. Aqui temos também o princípio das duas polaridades, a positiva e a negativa, que são equilibradas pela coluna central, entre as duas outras colunas de sentido oposto.
Para Z’ev ben Shimon Halevi, no seu livro “O Caminho da Kabbalah”, a palavra Sefirotes ou Sefiras significa safiras ou luzes cintilantes. Diz ele que da Infinidade sai a vontade do En Sof – temos aqui a primeira vibração. Esta (a vontade) contrai-se, ou, como dizem alguns, concentra-se ou até mesmo irradia, para permitir que o Mundo Manifesto possa emergir do Não Manifesto. A vontade do En Sof, saindo do ocultamento (trevas), é chamada de En Sof Aur, sendo que a Luz – Aur em hebraico – é o símbolo da Vontade. Temos assim que a Vontade Divina é expressa em Luz, ou seja, o Verbo, o som primordial expressou a sua vontade através da Luz.
A primeira Sefira chama-se Kether ou Coroa, é a expressão do Uno, a Unidade Manifesta Perfeita. A luz passa então ao estágio seguinte de manifestação activa, Hokhmah, que é compensada pelo terceiro estágio como manifestação passiva, Binah. Chegamos assim ao número três. Por muitos séculos, estas duas Sefiras depois da Coroa foram chamadas de “O Grande Pai” e “A Grande Mãe”.
Contudo, nada mais poderia suceder se a luz ou o raio vindo do En Sof e depois de cruzar as três primeiras Sefiras, não fosse capaz de ultrapassar o vão, ou intervalo ocupado pela Não-Sefira chamada Daat. Este vão ou intervalo é conhecido como “O Abismo” e é um ponto crucial, que pode reter a luz e evitar que ela continue a sua descida na construção da Árvore (vida), ou seja, na criação da matéria. Este “Abismo” é um dos pontos mais complexos da Cabala e os cabalistas têm muita dificuldade em o definir. Ele é o ponto de cruzamento ou sobreposição entre os diversos mundos. Por exemplo, na construção do homem usando os símbolos da Árvore Sefirótica, a face superior da Asiyyah (feitura) é ao mesmo tempo a face inferior de Yezirah (formação), ou seja, o Daat de Asiyyah é o Yesod de Yezirah, o primeiro é o conhecimento do corpo, o segundo a fundação da psique. Juntos, representam a imagem que o homem faz do seu corpo. O foco Daat-Yesod assim sobrepostos representa o órgão psicobiológico da percepção do homem.
O raio continua a sua descida, ultrapassa Daat e passa por Hesed e Gevurah, mais uma vez a manifestação positiva e negativa, para se firmar em Tiferet, também conhecida por Beleza e que é “A Coisa Chamada, Criada, Formada e Feita”. Mas ainda não há existência como nós a percebemos, continua apenas no Pensamento Divino já totalmente formada e criada. A existência só se verifica bastante mais abaixo, em Malkhut, o Reino, depois do raio passar por mais dois pólos, Nezah e Hod e ter ultrapassado mais um intervalo, neste caso uma Sefira, que é Yesod, também conhecida como Fundação ou Fundamento.
É em Yesod que a imagem começa a existir e dá forma, vida e vontade à materialidade de Malkhut, que é a Sefira que absorve na sua composição de Força, Forma e Consciência a mais densa e a mais rica de todas as combinações da substância Divina.
“As Trevas irradiam a Luz, e a Luz emite um Raio solitário sobre as Águas e dentro das Entranhas da Mãe” (Da Estância III do Livro de Dzyan – Cosmogénese – A Doutrina Secreta de Helena Blavatsky)
Esta frase que transcrevemos de uma das estrofes do Livro de Dzyan incluído no volume que trata da Cosmogénese (geração do Cosmos) da Doutrina Secreta, faz-nos lembrar, com um pouco de imaginação, a gestação de um ser humano. A luz aqui é o princípio masculino que fecunda as águas que estão dentro da mãe, princípio feminino. Portanto, a Criação dá-se pela união destes dois princípios.
A Luz aparece depois do Verbo se manifestar, é assim uma emanação do Verbo, e encontramo-la em todas as descrições sobre o início da Criação:
· Para S. João, a Luz resplandeceu nas trevas, e estas não a compreenderam. Esta não compreensão diz-nos que a luz não foi irradiada pelas trevas, mas sim nas trevas, dando a ideia de que a luz era algo de estranho que surgiu no seu interior.
· No Génesis temos o conhecido “Fiat Lux” que Deus ordenou.
· Enoch diz que Adoil se partiu em dois e uma grande luz saiu dele.
· Na tradição hebraica é Elohim que diz para a luz ser feita.
· O Livro de Dzyan fala num arco luminoso e descreve a luz irradiando das trevas e emitindo um raio solitário nas águas para dentro do Abismo da Mãe.
· Na Cabala, é um raio que desce do En Sof, atravessa as Sefiras até se fixar em Malkhut, e presumimos que este raio é luminoso.
· Mesmo no caso do “Big Bang”, pelo que podemos imaginar, deve ter sido seguido por uma luz fulgurante pois, pelo que nós sabemos, existe sempre uma emissão de luz em qualquer tipo de explosão.
A Luz não é, objectivamente, o que nós percebemos através da nossa visão, como as trevas também o não são. O que nós percebemos com os nossos sentidos objectivos é o que os antigos chamavam de “Maya” (Ilusão), e sob este ponto de vista, a luz só existe como contraponto da sombra, porque sem esta não a podíamos perceber. Na tradição rosacruz a luz e as trevas são uma e a mesma coisa, são idênticas entre si, separadas apenas pela nossa mente. O ocultismo oriental ensina que as trevas são a única realidade verdadeira, a base e a raiz da luz, porque sem as trevas a luz não poderia manifestar-se. Diz ainda esta tradição oriental que as trevas são a luz subjectiva e absoluta.
Embora não partilhando inteiramente destes conceitos, compreendemos que a luz e as trevas podem ser uma e a mesma coisa porque ambas estão contidas na unidade que é Deus, e que uma e outra são manifestações de carácter diferente da Vontade Divina, a luz sendo o gerador positivo de todo o movimento que deu origem à Criação, e as trevas a quietude absoluta, a não existência. A Igreja Católica figura as trevas como a residência e origem do mal, por isso chama Trevas ao Diabo (Lúcifer), o qual, no Livro de Job, é chamado de “Filho de Deus”, a estrela resplandecente da manhã. Ele foi o primeiro Arcanjo que emergiu das profundezas do caos e foi chamado de Lux (Lúcifer), o “Filho Luminoso da Manhã”, significando que era a luz da aurora da Criação. A Igreja sacrificou-o ao novo dogma, transformando-o em Satã, porque era mais antigo e de mais elevada categoria que Jeovah e portanto, para entronizar este como o Deus criador, teve que enviar Lúcifer para as profundezas das trevas (inferno). Claro que isto é muito complicado de resolver, até para os teólogos, pois pressupõe a existência de uma hierarquia na qual Jeovah não ocuparia o lugar mais elevado, como o faz supor toda a doutrina católica.
Nas estâncias do livro de Dzyan, a Luz é representada como a Essência Radiante, o Luminoso Ovo, o Radiante Filho do Dois, o OEAOHOO que brilha como o Sol, o Germe que é Aquele, e Aquele é a Luz, a Chama Fria. São tudo formas herméticas de contar uma coisa que, de outro modo, talvez fosse bem difícil de explicar, embora estas também não sejam nada fáceis. Como todos os livros antigos, este também está escrito em forma de metáforas, para que possa ser lido e compreendido por quem possua as “chaves” para o seu entendimento.
Procurando seguir as ideias transmitidas nestas estrofes herméticas, a Criação forma-se a partir do Verbo, vibração primordial no oceano de trevas, que é o não manifestado, o que não se move, mas onde a vida permanece num estado latente e, como diz S. João, a vida manifesta-se pela Luz. A Luz é o Raio omnipresente e espiritual que fecunda o Ovo Divino e convoca a matéria cósmica (coágulos) para que comece a sua série de diferenciações. Os coágulos são a primeira diferenciação, são a matéria a partir da qual tudo se veio a formar, são a origem da Via Láctea e de todas as galáxias. Isto é o que diz o Livro de Dzyan, e aqui aparece um termo importante: diferenciações.
Para podermos compreender como este termo é importante, basta-nos pensar que a Criação se fez a partir do Um, da Unidade, onde tudo estava contido. Só começa a verdadeira obra criadora no momento em que algo se diferencia dessa unidade. A Criação é assim a multiplicidade das coisas, é a diferenciação exponencial. Esta diferenciação é tão perfeita que nada, rigorosamente nada no Universo é igual, não existem cópias.
A Via Láctea, a nossa galáxia, onde o nosso planeta Terra está inserido, possui ainda vastas regiões preenchidas por aqueles coágulos, aquela matéria primordial fecundada pela Luz e de onde se formam as estrelas, os planetas e todos os outros astros. Isto quer dizer que a Criação só terá sido um acto instantâneo no seu início, quando o Ovo Luminoso foi fecundado pelo Raio emitido pela Luz, e que depois disso é um processo contínuo, isto é, que a Criação se faz permanentemente. Planetas, estrelas, asteróides, estão sempre a ser criados, num movimento incessante. E quando uma estrela atinge o seu ocaso e morre, isto também é um acto criador, pois a sua matéria irá ser usada no nascimento de um outro astro.
O nascimento, o crescimento (desenvolvimento), a plenitude, a decadência e o ocaso (morte), é um padrão universal, tudo o que é criado está sujeito a esta lei imutável. Quer dizer, tudo o que é criado e formado, porque a essência da matéria, os átomos, esses não sofrem qualquer espécie de mudança, limitam-se a mudar de composição. Em todo este processo, a luz está sempre presente, porque só através dela é que o movimento se origina. No caso da Terra, é a luz solar que mantém este planeta como um viveiro exuberante de vida.
Um outro aspecto sempre presente na obra da Criação é a dualidade, a existência dos opostos. O Livro de Dzyan diz que “o Pai e a Mãe geram Oeaohoo, o Radiante Filho dos Dois, que passa a ser o imenso Espaço Luminoso e que brilha como o Sol”. O Espaço Luminoso é o Raio que, à primeira vibração da nova Aurora, incidiu sobre as profundezas cósmicas, de onde surgiu diferenciado como Oeaohoo, “o mais jovem” (a nova vida), para se converter no germe de todas as coisas. É o “Homem incorpóreo que traz em si mesmo a Ideia Divina”, é o gerador da Luz e da Vida; é o Resplandecente Dragão da Sabedoria para os orientais; é o Logos, o Verbo do Pensamento Divino para os filósofos gregos; é o Resplandecente “Filho do Sol” a síntese da Sabedoria Universal, que contém em si mesmo os “Sete Exércitos Criadores (Sefiras), sendo assim a essência da Sabedoria manifestada. Mais adiante veremos o significado destes “Sete Exércitos Criadores” que, em termos de Cabala poderão ser as sete Sefiras logo abaixo do primeiro triângulo da Árvore Sefirótica, mas que pode também ter outro sentido.
A Luz não é o início, mas a consequência da primeira vibração. Imaginemos como se terá dado esse início. Tudo está quieto, não existe o menor movimento, não existe tempo nem espaço, tudo está mergulhado em trevas, nada existe. Deus está recolhido em Si mesmo. Ele é o Um. De repente, um sopro, uma pulsação, sacode a quietude – é o Pensamento Divino, é o Verbo. O resultado deste sopro é uma Luz Radiante que fecunda o Ovo virginal (as profundezas cósmicas), o princípio feminino, a base de toda a existência material. Eles são o Dois, o Pai e a Mãe, que geram o Três, o Filho, ou seja, o início da Criação.
A Luz em si é fria, mas produz o Fogo, o qual produz o Calor. A Tela Universal, que é o material primordial da formação dos mundos, a matéria cósmica, é constituída por átomos os quais contém em si calor interno e calor externo. Assim a vida nasce desse calor, que resulta da existência das duas polaridades pois, como sabemos, os átomos contêm essas duas polaridades, além de uma terceira, que é neutra. Veja-se o caso da electricidade, ela própria tem calor porque é energia originada dos átomos, mas para que se manifeste tem de ter as duas polaridades, a positiva e a negativa. Sem estes dois pólos opostos não poderia haver electricidade.
A Luz é assim o Pai, o princípio masculino, o pólo positivo, o raio que vai fecundar o ovo primordial, que é a Mãe, o princípio feminino, o pólo negativo. Os números, o Um, o Dois, o Três, etc., encontramo-los na Árvore Sefirótica da Cabala, que é constituída por dez Sefiras. Aqui temos também o princípio das duas polaridades, a positiva e a negativa, que são equilibradas pela coluna central, entre as duas outras colunas de sentido oposto.
Para Z’ev ben Shimon Halevi, no seu livro “O Caminho da Kabbalah”, a palavra Sefirotes ou Sefiras significa safiras ou luzes cintilantes. Diz ele que da Infinidade sai a vontade do En Sof – temos aqui a primeira vibração. Esta (a vontade) contrai-se, ou, como dizem alguns, concentra-se ou até mesmo irradia, para permitir que o Mundo Manifesto possa emergir do Não Manifesto. A vontade do En Sof, saindo do ocultamento (trevas), é chamada de En Sof Aur, sendo que a Luz – Aur em hebraico – é o símbolo da Vontade. Temos assim que a Vontade Divina é expressa em Luz, ou seja, o Verbo, o som primordial expressou a sua vontade através da Luz.
A primeira Sefira chama-se Kether ou Coroa, é a expressão do Uno, a Unidade Manifesta Perfeita. A luz passa então ao estágio seguinte de manifestação activa, Hokhmah, que é compensada pelo terceiro estágio como manifestação passiva, Binah. Chegamos assim ao número três. Por muitos séculos, estas duas Sefiras depois da Coroa foram chamadas de “O Grande Pai” e “A Grande Mãe”.
Contudo, nada mais poderia suceder se a luz ou o raio vindo do En Sof e depois de cruzar as três primeiras Sefiras, não fosse capaz de ultrapassar o vão, ou intervalo ocupado pela Não-Sefira chamada Daat. Este vão ou intervalo é conhecido como “O Abismo” e é um ponto crucial, que pode reter a luz e evitar que ela continue a sua descida na construção da Árvore (vida), ou seja, na criação da matéria. Este “Abismo” é um dos pontos mais complexos da Cabala e os cabalistas têm muita dificuldade em o definir. Ele é o ponto de cruzamento ou sobreposição entre os diversos mundos. Por exemplo, na construção do homem usando os símbolos da Árvore Sefirótica, a face superior da Asiyyah (feitura) é ao mesmo tempo a face inferior de Yezirah (formação), ou seja, o Daat de Asiyyah é o Yesod de Yezirah, o primeiro é o conhecimento do corpo, o segundo a fundação da psique. Juntos, representam a imagem que o homem faz do seu corpo. O foco Daat-Yesod assim sobrepostos representa o órgão psicobiológico da percepção do homem.
O raio continua a sua descida, ultrapassa Daat e passa por Hesed e Gevurah, mais uma vez a manifestação positiva e negativa, para se firmar em Tiferet, também conhecida por Beleza e que é “A Coisa Chamada, Criada, Formada e Feita”. Mas ainda não há existência como nós a percebemos, continua apenas no Pensamento Divino já totalmente formada e criada. A existência só se verifica bastante mais abaixo, em Malkhut, o Reino, depois do raio passar por mais dois pólos, Nezah e Hod e ter ultrapassado mais um intervalo, neste caso uma Sefira, que é Yesod, também conhecida como Fundação ou Fundamento.
É em Yesod que a imagem começa a existir e dá forma, vida e vontade à materialidade de Malkhut, que é a Sefira que absorve na sua composição de Força, Forma e Consciência a mais densa e a mais rica de todas as combinações da substância Divina.
sábado, 8 de agosto de 2009
O Cosmos, o Homem e a Evolução
3 – O Verbo
“... a última Vibração da Sétima Eternidade palpita através do Infinito. A Mãe entumece e se expande de dentro para fora, como o Botão de Lótus.” (Da Estância III do Livro de Dzyan – Cosmogénese – “A Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky)
O Evangelho de S. João diz-nos que no princípio era o Verbo, que o Verbo estava com Deus, e que o Verbo era Deus. Nesta única frase que, aparentemente se refere a três coisas distintas, mas que não o são – trata-se apenas de três formas diferentes do mesmo princípio – encontramos três conceitos acerca da mesma e única verdade. Por um lado, que no princípio nada mais existia senão o Verbo, pois se no princípio era o Verbo, quer dizer que nada mais havia para além dele; por outro lado, o Verbo estava com Deus, portanto, o Verbo era algo que pertencia a Deus ou que era parte de Deus; por fim, o Verbo é o próprio Deus, ou seja, Deus manifesta-se através do Verbo, que é uma emanação de Si e que é, ao mesmo tempo, Ele próprio.
Nós temos a tendência de associar o termo Verbo a uma emissão de som, à palavra proferida. Talvez não estejamos muito errados, embora uma emissão de som possa ter várias cambiantes, pode ser um som musical, uma palavra ou até um som inaudível aos nossos ouvidos humanos. Para a tradição oculta, cujo conhecimento nos chega através das estrofes do Livro de Dzyan, a emissão de um som ou de uma palavra é algo de muito responsável. A palavra não existe por si, não é independente, ela é formada primeiro no pensamento e só depois é que é proferida. Portanto, a palavra está intimamente associada ao pensamento que a criou.
Pronunciar uma palavra é dar forma sensorial a algo que já existe no plano do pensamento, é evocar esse pensamento e fazê-lo presente. Se a palavra que proferimos é um nome, neste caso estamos a definir um Ser (uma entidade), e o expomos e condenamos, por meio da emissão da palavra (ou Verbo) à influência de potências ocultas.
Nós somos criadores, no verdadeiro sentido do termo, quando pensamos, pois cada pensamento é uma criação não só da nossa mente, como também de tudo aquilo que sentimos e que leva à sua elaboração. Quando o transformamos em palavra passa a ser, para cada um de nós, aquilo que Ele, o Verbo, o converte quando a pronunciamos.
A palavra é a arma mais poderosa que o homem tem tido, desde sempre, à sua disposição, pois só através dela se conseguem mover multidões. Nenhuma guerra, nenhuma revolução é possível, se não houver a palavra a motivar as pessoas e a uni-las num objectivo comum. Nenhuma transformação da humanidade em termos políticos, económicos ou mesmo de educação, foi feita senão pelo uso apropriado da palavra. Por exemplo, há quem diga que o nazismo teve origem na profunda recessão económica que grassava na Alemanha na altura. Isto é em parte verdade, essa recessão económica não fez mais do que colocar o povo alemão em condições receptivas para a propaganda do regime que o levou a cometer as maiores atrocidades, ou seja, as condições económicas tiveram um efeito de amplificação sobre a força das palavras usadas na propaganda.
Assim, a palavra de cada homem é em si uma potência de energia e pode tornar-se, inconscientemente para ele, em bênção ou maldição, dependendo do uso que dela faça. A nossa ignorância acerca das propriedades da ideia e da matéria causa-nos frequentemente problemas sérios, e pode tornar-se fatal para nós. As agências de publicidade sabem isto, talvez de forma inconsciente ou empírica, mas sabem-no, e não há ninguém hoje em dia, nesta sociedade de mercados, que não seja, de alguma maneira, condicionado pelas ideias lançadas por elas. Veja-se o caso do azeite, produto apreciado desde a mais remota antiguidade, que nos anos recentes foi lançado ao ostracismo como prejudicial para a saúde porque era preciso lançar no grande consumo os produtos seus sucedâneos. Isto feito, toda a gente consumindo óleos e margarinas das mais variadas origens, ressuscitaram-se as qualidades do azeite, que afinal até é bom para o colesterol.
Através da palavra nós temos o poder de dispensar saúde ou malefícios de acordo com as influências ocultas, unidas pela Sabedoria Suprema aos seus elementos, isto é, as letras que os compõem e os números correspondentes a essas letras. Isto leva-nos à Cabala que, além da Árvore Sefirótica também possui um alfabeto constituído por 3 letras mães ou matrizes, 7 letras duplas e 12 letras simples. Cada uma das letras possui um significado oculto, é uma potência de energia e, conforme a sua associação, assim podemos retirar os efeitos que desejarmos – a sua combinação produz efeitos mágicos. Isto acontece da mesma forma com o sânscrito, que é também um alfabeto muito antigo, acontecia com o alfabeto egípcio e acontece com todos os alfabetos, mesmo com o que usamos hoje no mundo ocidental.
Nós habituámo-nos, nesta sociedade de hoje transformada no reino da quantidade, a não dar o devido valor às palavras que pronunciamos. Corrompemos o seu sentido, especulamos com elas, para atingirmos objectivos nem sempre os mais correctos. A palavra tornou-se uma mercadoria de uso corrente e a sua aplicação tem-se multiplicado até à infinidade. Os efeitos deste uso indiscriminado e irresponsável não podem deixar de se fazer sentir, e talvez muitos males que afligem a humanidade tenham origem, precisamente, no mau uso que fazemos do seu poder. Cabe aqui lembrar uma das profecias do Papa João XXIII:
“Babilónia tem demasiadas línguas. Quebraste a cadeia, tu o sabes. Sabê-lo-ás até à morte. Línguas diferentes para o sacramento, línguas diferentes para a palavra.
Hoje ela desapareceu.
Retiraste o exorcismo ao sacramento (pela palavra) e viste o rosto de Satanás.
Não basta falar.”
As vogais, por exemplo, são potências ocultas formidáveis. Todos conhecemos ou ouvimos falar que os “mantras” cantados pelos brâmanes e, no geral, pelas religiões orientais, são usados para produzirem determinados efeitos.
O Livro de Dzyan chama ao poder da palavra “a Legião da Voz”, uma referência às entidades ocultas por detrás desse poder. Diz que esta Legião é o protótipo da “Hoste do Logos” ou “Verbo”, o Princípio da Unidade Eterna. Isto é, por outras palavras, a mesma coisa que nos diz o Evangelho de S. João, pois o Verbo é o “UM” manifestado, não eterno na sua presença (porque é uma manifestação de Deus), mas eterno na sua essência (porque é Deus). Diz ainda o Livro de Dzyan que a “Legião da Voz” está relacionada com o som e a linguagem, como efeito e corolário da Causa – o Pensamento Divino. Quando a mente cria e evoca um pensamento, o signo representativo deste existe gravado por si mesmo no campo astral, que é o receptáculo de todas as manifestações da existência. O signo expressa a coisa, quer dizer, a coisa já existe gravada na tela astral e o pensamento apenas a coloca em actividade; a coisa é a virtude oculta do signo, ou seja, o efeito que o pensamento provoca ao despertar a força oculta.
Falando ainda do Evangelho de S. João que, por algum motivo é considerado o mais hermético, podemos afirmar que o Verbo é o Pensamento Divino, a Causa de todas as coisas criadas. Podemos imaginar esse Verbo, emanado do Pensamento Divino, como uma vibração primordial, uma vez que tudo quanto existe é vibração, tudo está em constante movimento, a própria matéria é vibração, pois os átomos que a constituem e lhe dão forma vibram permanentemente. Quando se diz que a matéria é vibração, evidentemente que não estamos a falar de como ela se apresenta aos nossos olhos físicos, porque aí não conseguimos observar nenhuma espécie de movimento, estamos a falar da sua constituição interna que é feita de átomos e outras partículas.
É notável que a ciência ainda não tenha chegado a nenhuma definição concreta sobre o comportamento dos átomos. A Física Quântica também não o conseguiu fazer, diz apenas que o comportamento é uma coisa como nunca se viu, querendo com isto dizer que transcende todas as leis da física conhecidas e testadas. Quanto ao sistema de um átomo, formado por um núcleo e rodeado de electrões, como se fosse um sistema planetário, os electrões não giram à volta do núcleo como os planetas à volta do Sol. Parecem antes movimentar-se em ondas e não é possível saber-se a posição de um electrão num determinado e exacto momento. Por outro lado, a matéria vista em termos atómicos é um imenso vazio, pois os componentes dos seus átomos encontram-se a enormes distâncias entre si. Se fosse possível aumentar o tamanho do núcleo de um átomo para 1 milímetro de diâmetro, os seus electrões estariam a 100 metros de distância. Por isso, o mundo atómico é um imenso e escuro vazio. Um átomo é tão pequeno que uma simples gota de água contém milhões de milhões de milhões de átomos.
Apesar deste imenso vazio, uma força extremamente poderosa os mantém unidos e permite formar todas as coisas a que chamamos matéria. Os electrões estão em permanente movimento, seja sob a forma de ondas ou de outra qualquer, originando o que chamamos de vibração, que abrange todo o Universo.
O Livro de Dzyan diz-nos, acerca do “Despertar do Cosmos”, que uma vibração freme através do infinito, tocando o Universo inteiro e o germe latente nas trevas. Estas, as trevas, ao serem tocadas por essa vibração primordial, irradiam luz, e esta luz vai originar o nascimento do Cosmos.
Dito de outra maneira, isto é o mesmo que encontramos no Evangelho de S. João, no Génesis, na tradição hindu e na tradição hebraica dos ensinamentos da Cabala, cuja Árvore Sefirótica nos mostra a Criação como o resultado das emanações divinas. Um raio (supomos de luz), vindo de cima, do En Sof (o mundo não manifestado), atravessa todas as Sefiras até se condensar na matéria (Malkhut), que é a Sefira mais inferior e corresponde ao mundo plenamente manifestado, ou seja, à existência da matéria. É interessante verificar que o outro nome de Malkhut é Reino, e isto pode muito bem querer dizer que, apesar de colocado no último grau da escala descendente, ele é o cume atingido por todo o processo da Criação – a obra final de Deus.
“... a última Vibração da Sétima Eternidade palpita através do Infinito. A Mãe entumece e se expande de dentro para fora, como o Botão de Lótus.” (Da Estância III do Livro de Dzyan – Cosmogénese – “A Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky)
O Evangelho de S. João diz-nos que no princípio era o Verbo, que o Verbo estava com Deus, e que o Verbo era Deus. Nesta única frase que, aparentemente se refere a três coisas distintas, mas que não o são – trata-se apenas de três formas diferentes do mesmo princípio – encontramos três conceitos acerca da mesma e única verdade. Por um lado, que no princípio nada mais existia senão o Verbo, pois se no princípio era o Verbo, quer dizer que nada mais havia para além dele; por outro lado, o Verbo estava com Deus, portanto, o Verbo era algo que pertencia a Deus ou que era parte de Deus; por fim, o Verbo é o próprio Deus, ou seja, Deus manifesta-se através do Verbo, que é uma emanação de Si e que é, ao mesmo tempo, Ele próprio.
Nós temos a tendência de associar o termo Verbo a uma emissão de som, à palavra proferida. Talvez não estejamos muito errados, embora uma emissão de som possa ter várias cambiantes, pode ser um som musical, uma palavra ou até um som inaudível aos nossos ouvidos humanos. Para a tradição oculta, cujo conhecimento nos chega através das estrofes do Livro de Dzyan, a emissão de um som ou de uma palavra é algo de muito responsável. A palavra não existe por si, não é independente, ela é formada primeiro no pensamento e só depois é que é proferida. Portanto, a palavra está intimamente associada ao pensamento que a criou.
Pronunciar uma palavra é dar forma sensorial a algo que já existe no plano do pensamento, é evocar esse pensamento e fazê-lo presente. Se a palavra que proferimos é um nome, neste caso estamos a definir um Ser (uma entidade), e o expomos e condenamos, por meio da emissão da palavra (ou Verbo) à influência de potências ocultas.
Nós somos criadores, no verdadeiro sentido do termo, quando pensamos, pois cada pensamento é uma criação não só da nossa mente, como também de tudo aquilo que sentimos e que leva à sua elaboração. Quando o transformamos em palavra passa a ser, para cada um de nós, aquilo que Ele, o Verbo, o converte quando a pronunciamos.
A palavra é a arma mais poderosa que o homem tem tido, desde sempre, à sua disposição, pois só através dela se conseguem mover multidões. Nenhuma guerra, nenhuma revolução é possível, se não houver a palavra a motivar as pessoas e a uni-las num objectivo comum. Nenhuma transformação da humanidade em termos políticos, económicos ou mesmo de educação, foi feita senão pelo uso apropriado da palavra. Por exemplo, há quem diga que o nazismo teve origem na profunda recessão económica que grassava na Alemanha na altura. Isto é em parte verdade, essa recessão económica não fez mais do que colocar o povo alemão em condições receptivas para a propaganda do regime que o levou a cometer as maiores atrocidades, ou seja, as condições económicas tiveram um efeito de amplificação sobre a força das palavras usadas na propaganda.
Assim, a palavra de cada homem é em si uma potência de energia e pode tornar-se, inconscientemente para ele, em bênção ou maldição, dependendo do uso que dela faça. A nossa ignorância acerca das propriedades da ideia e da matéria causa-nos frequentemente problemas sérios, e pode tornar-se fatal para nós. As agências de publicidade sabem isto, talvez de forma inconsciente ou empírica, mas sabem-no, e não há ninguém hoje em dia, nesta sociedade de mercados, que não seja, de alguma maneira, condicionado pelas ideias lançadas por elas. Veja-se o caso do azeite, produto apreciado desde a mais remota antiguidade, que nos anos recentes foi lançado ao ostracismo como prejudicial para a saúde porque era preciso lançar no grande consumo os produtos seus sucedâneos. Isto feito, toda a gente consumindo óleos e margarinas das mais variadas origens, ressuscitaram-se as qualidades do azeite, que afinal até é bom para o colesterol.
Através da palavra nós temos o poder de dispensar saúde ou malefícios de acordo com as influências ocultas, unidas pela Sabedoria Suprema aos seus elementos, isto é, as letras que os compõem e os números correspondentes a essas letras. Isto leva-nos à Cabala que, além da Árvore Sefirótica também possui um alfabeto constituído por 3 letras mães ou matrizes, 7 letras duplas e 12 letras simples. Cada uma das letras possui um significado oculto, é uma potência de energia e, conforme a sua associação, assim podemos retirar os efeitos que desejarmos – a sua combinação produz efeitos mágicos. Isto acontece da mesma forma com o sânscrito, que é também um alfabeto muito antigo, acontecia com o alfabeto egípcio e acontece com todos os alfabetos, mesmo com o que usamos hoje no mundo ocidental.
Nós habituámo-nos, nesta sociedade de hoje transformada no reino da quantidade, a não dar o devido valor às palavras que pronunciamos. Corrompemos o seu sentido, especulamos com elas, para atingirmos objectivos nem sempre os mais correctos. A palavra tornou-se uma mercadoria de uso corrente e a sua aplicação tem-se multiplicado até à infinidade. Os efeitos deste uso indiscriminado e irresponsável não podem deixar de se fazer sentir, e talvez muitos males que afligem a humanidade tenham origem, precisamente, no mau uso que fazemos do seu poder. Cabe aqui lembrar uma das profecias do Papa João XXIII:
“Babilónia tem demasiadas línguas. Quebraste a cadeia, tu o sabes. Sabê-lo-ás até à morte. Línguas diferentes para o sacramento, línguas diferentes para a palavra.
Hoje ela desapareceu.
Retiraste o exorcismo ao sacramento (pela palavra) e viste o rosto de Satanás.
Não basta falar.”
As vogais, por exemplo, são potências ocultas formidáveis. Todos conhecemos ou ouvimos falar que os “mantras” cantados pelos brâmanes e, no geral, pelas religiões orientais, são usados para produzirem determinados efeitos.
O Livro de Dzyan chama ao poder da palavra “a Legião da Voz”, uma referência às entidades ocultas por detrás desse poder. Diz que esta Legião é o protótipo da “Hoste do Logos” ou “Verbo”, o Princípio da Unidade Eterna. Isto é, por outras palavras, a mesma coisa que nos diz o Evangelho de S. João, pois o Verbo é o “UM” manifestado, não eterno na sua presença (porque é uma manifestação de Deus), mas eterno na sua essência (porque é Deus). Diz ainda o Livro de Dzyan que a “Legião da Voz” está relacionada com o som e a linguagem, como efeito e corolário da Causa – o Pensamento Divino. Quando a mente cria e evoca um pensamento, o signo representativo deste existe gravado por si mesmo no campo astral, que é o receptáculo de todas as manifestações da existência. O signo expressa a coisa, quer dizer, a coisa já existe gravada na tela astral e o pensamento apenas a coloca em actividade; a coisa é a virtude oculta do signo, ou seja, o efeito que o pensamento provoca ao despertar a força oculta.
Falando ainda do Evangelho de S. João que, por algum motivo é considerado o mais hermético, podemos afirmar que o Verbo é o Pensamento Divino, a Causa de todas as coisas criadas. Podemos imaginar esse Verbo, emanado do Pensamento Divino, como uma vibração primordial, uma vez que tudo quanto existe é vibração, tudo está em constante movimento, a própria matéria é vibração, pois os átomos que a constituem e lhe dão forma vibram permanentemente. Quando se diz que a matéria é vibração, evidentemente que não estamos a falar de como ela se apresenta aos nossos olhos físicos, porque aí não conseguimos observar nenhuma espécie de movimento, estamos a falar da sua constituição interna que é feita de átomos e outras partículas.
É notável que a ciência ainda não tenha chegado a nenhuma definição concreta sobre o comportamento dos átomos. A Física Quântica também não o conseguiu fazer, diz apenas que o comportamento é uma coisa como nunca se viu, querendo com isto dizer que transcende todas as leis da física conhecidas e testadas. Quanto ao sistema de um átomo, formado por um núcleo e rodeado de electrões, como se fosse um sistema planetário, os electrões não giram à volta do núcleo como os planetas à volta do Sol. Parecem antes movimentar-se em ondas e não é possível saber-se a posição de um electrão num determinado e exacto momento. Por outro lado, a matéria vista em termos atómicos é um imenso vazio, pois os componentes dos seus átomos encontram-se a enormes distâncias entre si. Se fosse possível aumentar o tamanho do núcleo de um átomo para 1 milímetro de diâmetro, os seus electrões estariam a 100 metros de distância. Por isso, o mundo atómico é um imenso e escuro vazio. Um átomo é tão pequeno que uma simples gota de água contém milhões de milhões de milhões de átomos.
Apesar deste imenso vazio, uma força extremamente poderosa os mantém unidos e permite formar todas as coisas a que chamamos matéria. Os electrões estão em permanente movimento, seja sob a forma de ondas ou de outra qualquer, originando o que chamamos de vibração, que abrange todo o Universo.
O Livro de Dzyan diz-nos, acerca do “Despertar do Cosmos”, que uma vibração freme através do infinito, tocando o Universo inteiro e o germe latente nas trevas. Estas, as trevas, ao serem tocadas por essa vibração primordial, irradiam luz, e esta luz vai originar o nascimento do Cosmos.
Dito de outra maneira, isto é o mesmo que encontramos no Evangelho de S. João, no Génesis, na tradição hindu e na tradição hebraica dos ensinamentos da Cabala, cuja Árvore Sefirótica nos mostra a Criação como o resultado das emanações divinas. Um raio (supomos de luz), vindo de cima, do En Sof (o mundo não manifestado), atravessa todas as Sefiras até se condensar na matéria (Malkhut), que é a Sefira mais inferior e corresponde ao mundo plenamente manifestado, ou seja, à existência da matéria. É interessante verificar que o outro nome de Malkhut é Reino, e isto pode muito bem querer dizer que, apesar de colocado no último grau da escala descendente, ele é o cume atingido por todo o processo da Criação – a obra final de Deus.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
O Cosmos, o Homem e a Evolução
2 – As Fontes
“ (...) Onde estava o silêncio? Onde os ouvidos para percebê-lo? Não; não havia Silêncio nem Som: nada, a não ser o Incessante Alento Eterno, para si mesmo ignoto.” (Da Estância II do Livro de Dzyan sobre Evolução Cósmica. In “A Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky.)
Uma das coisas que mais tem preocupado o homem de quase todos os tempos, é saber qual a sua origem, como foi criado, de onde vem, para onde vai, saber afinal qual o sentido da vida. Por acréscimo, e porque o homem tem a noção de que uma coisa não poderia existir sem a outra, também deseja saber o que é o Universo, qual a sua origem e como se deu, no seu conjunto, a Criação. Como veremos mais adiante, o homem nem sempre se terá preocupado com estas questões porque, nas suas primeiras existências sobre a Terra tinha esse conhecimento, estava em contacto com os «deuses», participava da Criação de uma forma integral. Terá perdido esta condição de comunhão íntima com os «deuses» quando se deu aquilo a que se convencionou chamar “A Queda”. Veremos também o que nos parece o que terá sido essa “Queda”, como terá acontecido e porquê.
Para a abordagem de um assunto desta natureza, a ciência actual, apesar das suas formidáveis conquistas no campo das experiências materiais, não nos diz quase nada, limita-se a desenvolver algumas poucas teorias que se vão desmentindo a si mesmas à medida em que novas descobertas vão sendo feitas ou novas teorias aparecem, pondo em causa as anteriores. Na verdade, a ciência anda um pouco perdida, porque há lacunas que não consegue cobrir e há coisas que não consegue demonstrar nem explicar. É um caso paradigmático aquele em que os astrónomos modernos atribuíram, «definitivamente», determinada antiguidade ao Universo contada em biliões de anos. Pouco depois, outros cientistas chegaram à conclusão de que alguns fósseis encontrados na Terra, depois de analisados ao carbono 14, mostravam ser mais antigos em idade do que o próprio Universo, o que, naturalmente, constituía uma impossibilidade, porque a Terra não podia existir sem o Universo. Ou o teste do carbono 14 estava errado ou os astrónomos tinham-se enganado no cálculo que haviam feito.
O homem não é um ser puramente material, o homem é bem mais do que o corpo que lhe serve de invólucro na sua vida na Terra. Neste pressuposto, também todo o Universo não deve ser encarado e analisado apenas pelo ponto de vista material. A ciência oficial não nos oferece nada de conclusivo acerca da Criação, nem o poderia fazer pois limita-se aos aspectos materiais e não considera que possa haver outros. Assim, preferimos recorrer às fontes antigas, textos e tradições que nos chegaram até hoje e cuja linguagem cifrada continua a constituir um verdadeiro quebra-cabeças, um teste à nossa capacidade e habilidade de os entender.
Ao recorrermos às fontes antigas, estamos bem cientes de que elas podem ter sido voluntária ou involuntariamente adulteradas ao longo do tempo. Voluntariamente para se adaptarem à vontade dos poderes terrenos e de certas religiões, involuntariamente porque sabemos que “quem conta um conto acrescenta um ponto”, isto é, que dificilmente alguém consegue transmitir algo que recebeu na sua pureza original. Apesar dos eventuais erros que elas contenham, são elas, basicamente, que nos vão servir de guia neste trabalho. Vamos também recorrer à tradição esotérica, que não se encontra em nenhum manual, mas se acha espalhada por um grande número de obras escritas.
A primeira fonte de que dispomos é a Bíblia. Ela é composta por dois grandes livros, o Antigo e o Novo Testamento. Isto significa, em nosso entender, que este último, o Novo Testamento, veio para substituir o Antigo, mas parece que não foi assim, pelo menos dentro do cristianismo, que continua a considerar os dois.
No Evangelho de S. João, um dos quatro Evangelhos que faz parte do Novo Testamento, diz-nos logo no início que no princípio era o Verbo, que este estava com Deus e que Deus era o Verbo. Algumas edições actuais da Bíblia substituíram o Verbo por “Palavra”, o que é um erro grave pois o Verbo não é a Palavra, é bem mais do que isso.
O primeiro conjunto de livros do Antigo Testamento, é chamado de Pentateuco, porque eles são cinco e foram, hipoteticamente, escritos por Moisés. Mas Moisés, se é que existiu, não deve ter escrito coisa nenhuma, pois para alguns pesquisadores a sua história foi decalcada da história de Sargão I, rei da Acádia, na Baixa Mesopotâmia, que terá vivido uns duzentos a trezentos anos antes da presumida existência de Moisés.
O primeiro livro, o Génesis, diz que Deus criou o mundo em seis dias, e ao sétimo descansou: “No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas estavam sobre a face do abismo e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas. Deus disse: «faça-se luz», e fez-se luz. Deus viu que a luz era boa. Deus separou a luz das trevas: à luz chamou «dia» e às trevas chamou «noite». Houve uma tarde e uma manhã: foi o primeiro dia.” O dia aqui não significa o dia terreno de vinte e quatro horas. O dia refere-se a um período mais ou menos longo, de alguns milhões de anos, senão mais.
Um dos personagens mais misteriosos da Bíblia chama-se Enoch, pois não se sabe exactamente quem foi. A confusão é estabelecida no Génesis: nos versículos 4-17-18, ele é filho de Caim e pai de Irad; nos versículos 5-18-21, ele é filho de Jared e pai de Matusalém; no versículo 5-24 diz que ele andava com Deus e desapareceu, porque Deus o arrebatou. Este último repete-se no Novo Testamento, na carta de S. Paulo aos Hebreus, 11-5. Ou se trata de duas figuras diferentes ou é a mesma, e então a própria Bíblia se contradiz. Presume-se que ele tenha escrito um livro, chamado precisamente "O Livro de Enoch”, considerado apócrifo, o que quer dizer que foi rejeitado de fazer parte da Bíblia. Parece que a sua versão mais antiga é em língua semita etíope, mas há outras versões em aramaico e hebreu que se diz serem as verdadeiras, parte das quais foram encontradas nas ruínas de Qumrã e portanto, terão pertencido aos essénios. Ora estas últimas terão sido escritas entre o século 1º e 2º antes de Cristo e não se sabe quem as escreveu, não foi de certeza o Enoch referido no Génesis.
Seja como for, este livro de autoria misteriosa é dividido em sete partes e inclui muito do que diz o Génesis, numa forma diferente, sendo uma das partes o que podemos chamar de apocalíptica, um prenúncio do que mais tarde viria a ser o Apocalipse de S. João. Enoch descreve-nos como Deus lhe conta como fez a Criação: “Nas partes mais baixas, ordenei que as coisas visíveis descessem do invisível, e Adoil desceu muito grande, olhei-o e ele tinha um ventre de grande luz. E eu disse-lhe: parte-te, Adoil, e deixa que o visível saia de ti. E ele partiu-se e uma grande luz saiu dele. E eu estava em meio à grande luz; e como a luz se faz da luz, nasceu uma grande era, e mostrou toda a criação, que eu havia pensado em criar. E eu vi que era bom.”
Existe um livro muito antigo, considerado o mais antigo dos livros, do qual teria sido transcrito o mais antigo documento hebreu referente à sabedoria oculta, o Siphrah Dzeniouta. Esse livro, de que parece existir apenas um único exemplar, não se sabe onde, chama-se “O Livro de Dzyan”, está escrito em forma de estâncias e contém algumas vinhetas. Numa dessas vinhetas, mostra a “Essência Divina emanando de Adão (Anthropos), à maneira de um arco luminoso que passa a formar um círculo e, depois de chegar ao ponto superior da sua circunferência, a “Glória Inefável” retrocede e volta à Terra, levando no seu vórtice um tipo de humanidade superior. À medida em que mais se aproxima do nosso planeta, a emanação faz-se mais densa e escura até que, ao tocar a Terra, é negra como a noite.
O “Rig Veda” hindu, o livro mais sagrado da Índia, fala-nos assim de como terá sido o início de todas as coisas:
“Não existe nada: nem o claro céu,
Nem ao alto a imensa abóbada celeste.
O que tudo encerrava, tudo abrigava,
E tudo encobria, que era? Era das águas
O abismo insondável? Não existia a morte,
Mas nada havia imortal. E separação
Também não existia entre a noite e o dia.
Só o UNO respirava em SI mesmo e sem ar:
Não existia nada, senão ELE. E ali
Reinavam as trevas, tudo se escondia
Na escuridão profunda: oceano sem luz.
O germe, que dormitava em seu casulo,
Desperta ao influxo do ardente calor
E faz então brotar a Natureza una.”
O Siphrah Dzeniouta que, como dissemos acima talvez seja o documento hebreu mais antigo, chama o Criador de Elohim: “No começo (Bereschit), Elohim criou o céu e a terra. E Elohim disse: que a luz seja feita, e a luz foi feita. E Elohim viu que a luz era boa.”
A Cabala (ou Kabbalah) mostra-nos a Criação através da Árvore Sefirótica, também conhecida como Árvore da Vida, explicando que o mundo manifesto emerge do mundo não manifesto. Para a Cabala, a Criação é o resultado da emanação divina através das várias Sefiras, vindo do En Sof, o mundo não manifesto, descendo até se fixar em Malkhut, o mundo manifestado na matéria. No dizer dos cabalistas, Deus não existe. Deus é! Deus está para além da existência. Deus está para além de qualquer ideia que possamos formar na nossa mente e, desta forma, evita-se a tentação de representar Deus como algo semelhante a nós, ou que nos seja familiar. Deus é “Ayin”, que quer dizer “Coisa Alguma”. A Criação acontece quando “Alguma Coisa” surge no meio da infinitude do En Sof para uma realidade não manifesta, oculta em total imobilidade e silêncio absoluto. Para alguns cabalistas, este é o “Lugar Sem Fim”. Desse lugar sai a vontade do En Sof, que se contrai, concentra ou irradia, para permitir que o mundo manifesto emirja do não manifesto.
Poderíamos continuar a consulta de fontes antigas, como por exemplo as cosmogonias caldeias e chinesas, ou as lendas incas, ou ainda as lendas celtas. Todas elas nos diriam mais ou menos a mesma coisa, ainda que por outras palavras e com outros nomes. Mas isso poderia tornar-se fastidioso. Resta-nos a posição da ciência oficial dos nossos dias. Para esta, tudo teria tido início num chamado “Big Bang”, isto é, toda a matéria contida no Universo estaria contraída num ponto minúsculo, ponto este que teria o peso incomensurável de toda a matéria existente no Universo, que em determinada altura, não se sabe bem porquê, teria explodido e iniciado um movimento de expansão, formando gradualmente todas as galáxias com o seu incontável número de estrelas, planetas e outros astros.
Por incrível que pareça, esta teoria do “Big Bang” baseada apenas em pressupostos de natureza material, confirma no essencial o que toda a tradição antiga nos diz sobre o momento primeiro da Criação – que tudo terá começado em determinada altura, num determinado ponto. No entanto, ninguém explica onde estaria contido esse ponto minúsculo que explodiu, porque esse ponto, considerando que o fenómeno teve apenas uma origem material, com um peso e submetido a uma pressão que não podemos sequer imaginar, teria que estar em algum lugar. A matéria já existia, concentrada nesse ponto. A não ser que a explicação seja outra, que não havia matéria, que não havia nenhum ponto minúsculo, que não havia nada “nesta dimensão” e, simplesmente, a Criação se deu através dessa famosa explosão, que aconteceu de forma repentina, num ponto qualquer do espaço, ponto esse que não existia antes e num espaço que também não existia, pois só passou a existir depois da explosão.
Confuso? Talvez, mas é precisamente isto que os textos mais antigos nos dizem, aos quais a teoria do “Big Bang” não veio acrescentar nada, pretende apenas explicar as coisas sob o ponto de vista exclusivamente material.
Hoje fala-se muito de “buracos negros” no espaço, com uma tão grande capacidade de atracção que podem atrair tudo a si, até a própria luz. Mas esta questão dos “buracos negros”, ao contrário do que toda a ciência reivindica, começou por ser apenas uma teoria antes de ser demonstrada na prática, ou seja, que a ciência lançou a teoria sem a poder demonstrar experimentalmente ou por registos fidedignos. Esta teoria baseia-se na teoria da relatividade de Einstein e foi desenvolvida em 1916 por dois astrónomos alemães. Somente em 1994, através de um telescópio lançado para o espaço, o Hubble, os astrónomos puderam suspeitar, apenas suspeitar, a primeira evidência de um “buraco negro”. Sendo assim, e se eles existem, porque não pensarmos que a Criação se tenha dado através de um “buraco negro invertido? Quero dizer, em vez de atrair toda a matéria, luz, radiação, de cá para lá, o teria feito de lá para cá. Penso que seja uma hipótese muito fraca, porque não vejo bem como um “buraco negro”, se é que existe mesmo, pudesse criar outros “”buracos negros” em sentido contrário como aqueles que, aparentemente, existem no Cosmos. No entanto... a hipótese do “buraco negro” faz lembrar as trevas de onde se terá dado a ignição inicial, de onde se fez luz.
A existência das trevas antes do primeiro momento de tudo coloca para mim uma outra questão. Todos os rosacruzes conhecem uma frase que diz mais ou menos isto: “...a luz não veio das trevas, porque as trevas não podem dar origem a coisa alguma.”
Esta frase encerra um ensinamento muito profundo, pois as trevas correspondem ao “não-ser”, à não existência, ao nada. As trevas não podem conter a luz, porque elas não contêm nada e portanto, também não podem originar nada. A luz ter-se-á originado nas trevas e não das trevas. Isto faz-nos lembrar de novo a Árvore Sefirótica da Cabala e a região acima da primeira Sefira, a Kether, chamada de En Sof, a “Coisa Alguma” de onde terá saído a vontade para as emanações. Seja em que ponto for que nos coloquemos nessa Árvore Sefirótica, nós só podemos ter consciência do que é manifestado, portanto, das emanações. O que se passa para além dessas emanações é para nós completamente desconhecido, são as trevas no sentido em que não conseguimos conceber na nossa mente nenhuma espécie de fenómeno. É o absoluto desconhecido, por isso, para nós, são as trevas, o que não quer dizer que sejam de facto trevas.
Embora confirmando, de certo modo, o que a tradição antiga nos diz sobre como se terá dado a Criação, a ciência de hoje não nos esclarece de forma convincente sobre o assunto, limitando-se a estabelecer algumas teorias e deixando no ar algumas lacunas muito difíceis de preencher. No que se refere ao homem, naturalmente que descartamos completamente a teoria de Darwin da evolução das espécies porque, como veremos adiante, o homem não é uma das muitas espécies criadas, mas sim, um ser totalmente diferente, constituindo ele próprio um reino à parte entre os reinos da natureza.
Independentemente de certos erros cometidos no passado por motivos de ordem religiosa, em que princípios do conhecimento fundamental foram completamente adulterados para transformar o homem no centro de toda a Criação, que de facto o é, mas não no sentido que deu origem a essas aberrações, à completa deturpação das leis e princípios universais, a ciência tem vindo a confirmar ao longo do tempo tudo o que os antigos sabiam. Exemplificando, os gregos conheciam e desenvolveram teorias acerca do átomo e da energia electromagnética. Como sabemos, isto só veio a ser comprovado nos últimos dois séculos. Os signos do Zodíaco eram do conhecimento dos egípcios, dos caldeus, dos hebreus e dos hindus, o que demonstra que eles conheciam as leis de gravitação e o movimento dos astros.
Socorrendo-nos dos textos antigos, da tradição oculta, podemos talvez aí encontrar certas “chaves” que nos forneçam alguma luz sobre como se terá formado a Criação e saber quem é o homem e como ele apareceu e tem evoluído ao longo das eras, desde o princípio, e esperar, que um dia destes, a ciência venha confirmar alguns dos conceitos que, à partida, nos podem parecer inverosímeis.
Esta compreensão, se alguma vez a chegarmos a atingir, talvez nunca a consigamos exprimir inteiramente pois, como todo o conhecimento verdadeiro, ela reside no entendimento interior de cada um. Mais do que um processo intelectual, trata-se de conseguirmos integrar dentro de nós o significado e a simbologia que nos chega desde os tempos mais remotos.
Isto faz com que cada um crie dentro de si uma concepção individual acerca da Criação e de como tudo se formou, e nenhuma destas concepções individuais é menos verdadeira que as outras, pode ser apenas que alguns consigam ir um pouco mais longe que outros, mas a essência é a mesma. Como tudo o que existe sobre a Terra, nenhum homem é igual a outro homem, em todos os aspectos um homem é um universo único, e por isso, as suas concepções acerca seja do que for, são também concepções únicas. Existe uma verdade única que está para além da nossa capacidade de entendimento, essa verdade é aquilo que cada homem procura dentro da sua verdade, que não é igual a nenhuma outra.
“ (...) Onde estava o silêncio? Onde os ouvidos para percebê-lo? Não; não havia Silêncio nem Som: nada, a não ser o Incessante Alento Eterno, para si mesmo ignoto.” (Da Estância II do Livro de Dzyan sobre Evolução Cósmica. In “A Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky.)
Uma das coisas que mais tem preocupado o homem de quase todos os tempos, é saber qual a sua origem, como foi criado, de onde vem, para onde vai, saber afinal qual o sentido da vida. Por acréscimo, e porque o homem tem a noção de que uma coisa não poderia existir sem a outra, também deseja saber o que é o Universo, qual a sua origem e como se deu, no seu conjunto, a Criação. Como veremos mais adiante, o homem nem sempre se terá preocupado com estas questões porque, nas suas primeiras existências sobre a Terra tinha esse conhecimento, estava em contacto com os «deuses», participava da Criação de uma forma integral. Terá perdido esta condição de comunhão íntima com os «deuses» quando se deu aquilo a que se convencionou chamar “A Queda”. Veremos também o que nos parece o que terá sido essa “Queda”, como terá acontecido e porquê.
Para a abordagem de um assunto desta natureza, a ciência actual, apesar das suas formidáveis conquistas no campo das experiências materiais, não nos diz quase nada, limita-se a desenvolver algumas poucas teorias que se vão desmentindo a si mesmas à medida em que novas descobertas vão sendo feitas ou novas teorias aparecem, pondo em causa as anteriores. Na verdade, a ciência anda um pouco perdida, porque há lacunas que não consegue cobrir e há coisas que não consegue demonstrar nem explicar. É um caso paradigmático aquele em que os astrónomos modernos atribuíram, «definitivamente», determinada antiguidade ao Universo contada em biliões de anos. Pouco depois, outros cientistas chegaram à conclusão de que alguns fósseis encontrados na Terra, depois de analisados ao carbono 14, mostravam ser mais antigos em idade do que o próprio Universo, o que, naturalmente, constituía uma impossibilidade, porque a Terra não podia existir sem o Universo. Ou o teste do carbono 14 estava errado ou os astrónomos tinham-se enganado no cálculo que haviam feito.
O homem não é um ser puramente material, o homem é bem mais do que o corpo que lhe serve de invólucro na sua vida na Terra. Neste pressuposto, também todo o Universo não deve ser encarado e analisado apenas pelo ponto de vista material. A ciência oficial não nos oferece nada de conclusivo acerca da Criação, nem o poderia fazer pois limita-se aos aspectos materiais e não considera que possa haver outros. Assim, preferimos recorrer às fontes antigas, textos e tradições que nos chegaram até hoje e cuja linguagem cifrada continua a constituir um verdadeiro quebra-cabeças, um teste à nossa capacidade e habilidade de os entender.
Ao recorrermos às fontes antigas, estamos bem cientes de que elas podem ter sido voluntária ou involuntariamente adulteradas ao longo do tempo. Voluntariamente para se adaptarem à vontade dos poderes terrenos e de certas religiões, involuntariamente porque sabemos que “quem conta um conto acrescenta um ponto”, isto é, que dificilmente alguém consegue transmitir algo que recebeu na sua pureza original. Apesar dos eventuais erros que elas contenham, são elas, basicamente, que nos vão servir de guia neste trabalho. Vamos também recorrer à tradição esotérica, que não se encontra em nenhum manual, mas se acha espalhada por um grande número de obras escritas.
A primeira fonte de que dispomos é a Bíblia. Ela é composta por dois grandes livros, o Antigo e o Novo Testamento. Isto significa, em nosso entender, que este último, o Novo Testamento, veio para substituir o Antigo, mas parece que não foi assim, pelo menos dentro do cristianismo, que continua a considerar os dois.
No Evangelho de S. João, um dos quatro Evangelhos que faz parte do Novo Testamento, diz-nos logo no início que no princípio era o Verbo, que este estava com Deus e que Deus era o Verbo. Algumas edições actuais da Bíblia substituíram o Verbo por “Palavra”, o que é um erro grave pois o Verbo não é a Palavra, é bem mais do que isso.
O primeiro conjunto de livros do Antigo Testamento, é chamado de Pentateuco, porque eles são cinco e foram, hipoteticamente, escritos por Moisés. Mas Moisés, se é que existiu, não deve ter escrito coisa nenhuma, pois para alguns pesquisadores a sua história foi decalcada da história de Sargão I, rei da Acádia, na Baixa Mesopotâmia, que terá vivido uns duzentos a trezentos anos antes da presumida existência de Moisés.
O primeiro livro, o Génesis, diz que Deus criou o mundo em seis dias, e ao sétimo descansou: “No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas estavam sobre a face do abismo e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas. Deus disse: «faça-se luz», e fez-se luz. Deus viu que a luz era boa. Deus separou a luz das trevas: à luz chamou «dia» e às trevas chamou «noite». Houve uma tarde e uma manhã: foi o primeiro dia.” O dia aqui não significa o dia terreno de vinte e quatro horas. O dia refere-se a um período mais ou menos longo, de alguns milhões de anos, senão mais.
Um dos personagens mais misteriosos da Bíblia chama-se Enoch, pois não se sabe exactamente quem foi. A confusão é estabelecida no Génesis: nos versículos 4-17-18, ele é filho de Caim e pai de Irad; nos versículos 5-18-21, ele é filho de Jared e pai de Matusalém; no versículo 5-24 diz que ele andava com Deus e desapareceu, porque Deus o arrebatou. Este último repete-se no Novo Testamento, na carta de S. Paulo aos Hebreus, 11-5. Ou se trata de duas figuras diferentes ou é a mesma, e então a própria Bíblia se contradiz. Presume-se que ele tenha escrito um livro, chamado precisamente "O Livro de Enoch”, considerado apócrifo, o que quer dizer que foi rejeitado de fazer parte da Bíblia. Parece que a sua versão mais antiga é em língua semita etíope, mas há outras versões em aramaico e hebreu que se diz serem as verdadeiras, parte das quais foram encontradas nas ruínas de Qumrã e portanto, terão pertencido aos essénios. Ora estas últimas terão sido escritas entre o século 1º e 2º antes de Cristo e não se sabe quem as escreveu, não foi de certeza o Enoch referido no Génesis.
Seja como for, este livro de autoria misteriosa é dividido em sete partes e inclui muito do que diz o Génesis, numa forma diferente, sendo uma das partes o que podemos chamar de apocalíptica, um prenúncio do que mais tarde viria a ser o Apocalipse de S. João. Enoch descreve-nos como Deus lhe conta como fez a Criação: “Nas partes mais baixas, ordenei que as coisas visíveis descessem do invisível, e Adoil desceu muito grande, olhei-o e ele tinha um ventre de grande luz. E eu disse-lhe: parte-te, Adoil, e deixa que o visível saia de ti. E ele partiu-se e uma grande luz saiu dele. E eu estava em meio à grande luz; e como a luz se faz da luz, nasceu uma grande era, e mostrou toda a criação, que eu havia pensado em criar. E eu vi que era bom.”
Existe um livro muito antigo, considerado o mais antigo dos livros, do qual teria sido transcrito o mais antigo documento hebreu referente à sabedoria oculta, o Siphrah Dzeniouta. Esse livro, de que parece existir apenas um único exemplar, não se sabe onde, chama-se “O Livro de Dzyan”, está escrito em forma de estâncias e contém algumas vinhetas. Numa dessas vinhetas, mostra a “Essência Divina emanando de Adão (Anthropos), à maneira de um arco luminoso que passa a formar um círculo e, depois de chegar ao ponto superior da sua circunferência, a “Glória Inefável” retrocede e volta à Terra, levando no seu vórtice um tipo de humanidade superior. À medida em que mais se aproxima do nosso planeta, a emanação faz-se mais densa e escura até que, ao tocar a Terra, é negra como a noite.
O “Rig Veda” hindu, o livro mais sagrado da Índia, fala-nos assim de como terá sido o início de todas as coisas:
“Não existe nada: nem o claro céu,
Nem ao alto a imensa abóbada celeste.
O que tudo encerrava, tudo abrigava,
E tudo encobria, que era? Era das águas
O abismo insondável? Não existia a morte,
Mas nada havia imortal. E separação
Também não existia entre a noite e o dia.
Só o UNO respirava em SI mesmo e sem ar:
Não existia nada, senão ELE. E ali
Reinavam as trevas, tudo se escondia
Na escuridão profunda: oceano sem luz.
O germe, que dormitava em seu casulo,
Desperta ao influxo do ardente calor
E faz então brotar a Natureza una.”
O Siphrah Dzeniouta que, como dissemos acima talvez seja o documento hebreu mais antigo, chama o Criador de Elohim: “No começo (Bereschit), Elohim criou o céu e a terra. E Elohim disse: que a luz seja feita, e a luz foi feita. E Elohim viu que a luz era boa.”
A Cabala (ou Kabbalah) mostra-nos a Criação através da Árvore Sefirótica, também conhecida como Árvore da Vida, explicando que o mundo manifesto emerge do mundo não manifesto. Para a Cabala, a Criação é o resultado da emanação divina através das várias Sefiras, vindo do En Sof, o mundo não manifesto, descendo até se fixar em Malkhut, o mundo manifestado na matéria. No dizer dos cabalistas, Deus não existe. Deus é! Deus está para além da existência. Deus está para além de qualquer ideia que possamos formar na nossa mente e, desta forma, evita-se a tentação de representar Deus como algo semelhante a nós, ou que nos seja familiar. Deus é “Ayin”, que quer dizer “Coisa Alguma”. A Criação acontece quando “Alguma Coisa” surge no meio da infinitude do En Sof para uma realidade não manifesta, oculta em total imobilidade e silêncio absoluto. Para alguns cabalistas, este é o “Lugar Sem Fim”. Desse lugar sai a vontade do En Sof, que se contrai, concentra ou irradia, para permitir que o mundo manifesto emirja do não manifesto.
Poderíamos continuar a consulta de fontes antigas, como por exemplo as cosmogonias caldeias e chinesas, ou as lendas incas, ou ainda as lendas celtas. Todas elas nos diriam mais ou menos a mesma coisa, ainda que por outras palavras e com outros nomes. Mas isso poderia tornar-se fastidioso. Resta-nos a posição da ciência oficial dos nossos dias. Para esta, tudo teria tido início num chamado “Big Bang”, isto é, toda a matéria contida no Universo estaria contraída num ponto minúsculo, ponto este que teria o peso incomensurável de toda a matéria existente no Universo, que em determinada altura, não se sabe bem porquê, teria explodido e iniciado um movimento de expansão, formando gradualmente todas as galáxias com o seu incontável número de estrelas, planetas e outros astros.
Por incrível que pareça, esta teoria do “Big Bang” baseada apenas em pressupostos de natureza material, confirma no essencial o que toda a tradição antiga nos diz sobre o momento primeiro da Criação – que tudo terá começado em determinada altura, num determinado ponto. No entanto, ninguém explica onde estaria contido esse ponto minúsculo que explodiu, porque esse ponto, considerando que o fenómeno teve apenas uma origem material, com um peso e submetido a uma pressão que não podemos sequer imaginar, teria que estar em algum lugar. A matéria já existia, concentrada nesse ponto. A não ser que a explicação seja outra, que não havia matéria, que não havia nenhum ponto minúsculo, que não havia nada “nesta dimensão” e, simplesmente, a Criação se deu através dessa famosa explosão, que aconteceu de forma repentina, num ponto qualquer do espaço, ponto esse que não existia antes e num espaço que também não existia, pois só passou a existir depois da explosão.
Confuso? Talvez, mas é precisamente isto que os textos mais antigos nos dizem, aos quais a teoria do “Big Bang” não veio acrescentar nada, pretende apenas explicar as coisas sob o ponto de vista exclusivamente material.
Hoje fala-se muito de “buracos negros” no espaço, com uma tão grande capacidade de atracção que podem atrair tudo a si, até a própria luz. Mas esta questão dos “buracos negros”, ao contrário do que toda a ciência reivindica, começou por ser apenas uma teoria antes de ser demonstrada na prática, ou seja, que a ciência lançou a teoria sem a poder demonstrar experimentalmente ou por registos fidedignos. Esta teoria baseia-se na teoria da relatividade de Einstein e foi desenvolvida em 1916 por dois astrónomos alemães. Somente em 1994, através de um telescópio lançado para o espaço, o Hubble, os astrónomos puderam suspeitar, apenas suspeitar, a primeira evidência de um “buraco negro”. Sendo assim, e se eles existem, porque não pensarmos que a Criação se tenha dado através de um “buraco negro invertido? Quero dizer, em vez de atrair toda a matéria, luz, radiação, de cá para lá, o teria feito de lá para cá. Penso que seja uma hipótese muito fraca, porque não vejo bem como um “buraco negro”, se é que existe mesmo, pudesse criar outros “”buracos negros” em sentido contrário como aqueles que, aparentemente, existem no Cosmos. No entanto... a hipótese do “buraco negro” faz lembrar as trevas de onde se terá dado a ignição inicial, de onde se fez luz.
A existência das trevas antes do primeiro momento de tudo coloca para mim uma outra questão. Todos os rosacruzes conhecem uma frase que diz mais ou menos isto: “...a luz não veio das trevas, porque as trevas não podem dar origem a coisa alguma.”
Esta frase encerra um ensinamento muito profundo, pois as trevas correspondem ao “não-ser”, à não existência, ao nada. As trevas não podem conter a luz, porque elas não contêm nada e portanto, também não podem originar nada. A luz ter-se-á originado nas trevas e não das trevas. Isto faz-nos lembrar de novo a Árvore Sefirótica da Cabala e a região acima da primeira Sefira, a Kether, chamada de En Sof, a “Coisa Alguma” de onde terá saído a vontade para as emanações. Seja em que ponto for que nos coloquemos nessa Árvore Sefirótica, nós só podemos ter consciência do que é manifestado, portanto, das emanações. O que se passa para além dessas emanações é para nós completamente desconhecido, são as trevas no sentido em que não conseguimos conceber na nossa mente nenhuma espécie de fenómeno. É o absoluto desconhecido, por isso, para nós, são as trevas, o que não quer dizer que sejam de facto trevas.
Embora confirmando, de certo modo, o que a tradição antiga nos diz sobre como se terá dado a Criação, a ciência de hoje não nos esclarece de forma convincente sobre o assunto, limitando-se a estabelecer algumas teorias e deixando no ar algumas lacunas muito difíceis de preencher. No que se refere ao homem, naturalmente que descartamos completamente a teoria de Darwin da evolução das espécies porque, como veremos adiante, o homem não é uma das muitas espécies criadas, mas sim, um ser totalmente diferente, constituindo ele próprio um reino à parte entre os reinos da natureza.
Independentemente de certos erros cometidos no passado por motivos de ordem religiosa, em que princípios do conhecimento fundamental foram completamente adulterados para transformar o homem no centro de toda a Criação, que de facto o é, mas não no sentido que deu origem a essas aberrações, à completa deturpação das leis e princípios universais, a ciência tem vindo a confirmar ao longo do tempo tudo o que os antigos sabiam. Exemplificando, os gregos conheciam e desenvolveram teorias acerca do átomo e da energia electromagnética. Como sabemos, isto só veio a ser comprovado nos últimos dois séculos. Os signos do Zodíaco eram do conhecimento dos egípcios, dos caldeus, dos hebreus e dos hindus, o que demonstra que eles conheciam as leis de gravitação e o movimento dos astros.
Socorrendo-nos dos textos antigos, da tradição oculta, podemos talvez aí encontrar certas “chaves” que nos forneçam alguma luz sobre como se terá formado a Criação e saber quem é o homem e como ele apareceu e tem evoluído ao longo das eras, desde o princípio, e esperar, que um dia destes, a ciência venha confirmar alguns dos conceitos que, à partida, nos podem parecer inverosímeis.
Esta compreensão, se alguma vez a chegarmos a atingir, talvez nunca a consigamos exprimir inteiramente pois, como todo o conhecimento verdadeiro, ela reside no entendimento interior de cada um. Mais do que um processo intelectual, trata-se de conseguirmos integrar dentro de nós o significado e a simbologia que nos chega desde os tempos mais remotos.
Isto faz com que cada um crie dentro de si uma concepção individual acerca da Criação e de como tudo se formou, e nenhuma destas concepções individuais é menos verdadeira que as outras, pode ser apenas que alguns consigam ir um pouco mais longe que outros, mas a essência é a mesma. Como tudo o que existe sobre a Terra, nenhum homem é igual a outro homem, em todos os aspectos um homem é um universo único, e por isso, as suas concepções acerca seja do que for, são também concepções únicas. Existe uma verdade única que está para além da nossa capacidade de entendimento, essa verdade é aquilo que cada homem procura dentro da sua verdade, que não é igual a nenhuma outra.
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