Como eu não entendo nada de economia, me expliquem por favor o que é essa crise financeira, crediária, hipotecária, económica, que estourou nos EUA e ameaça estender-se a todo o mundo, com consequências que ninguém sabe, exactamente, quais serão. Parece que os bancos emprestaram dinheiro para as pessoas poderem comprar casas, o que é absolutamente normal. Mas continuaram a emprestar mesmo depois do valor das casas começar a cair, para as pessoas poderem fazer negócios para além das suas próprias casas, o que deixa de ser normal. Resultado: com tanto dinheiro emprestado sobre valores imobiliários muito superiores aos que atingiram depois da queda desses valores, pimba, os bancos deixaram de receber o que tinham a receber e começaram a não ter dinheiro suficiente para honrar os seus depósitos. Mais grave ainda, emitiram uma espécie de acções sobre os créditos concedidos e venderam essas acções nas bolsas de todo o mundo. Como consequência, parece que há não sei quantos bilhões de dólares em créditos incobráveis e não sei quantos bilhões de dólares em papeis sem valor na posse de muitos bancos ao redor do mundo. Este é o retrato que alguém vê quando, como eu, não percebe nada de economia. Aliás, nem sei se alguém hoje entende o que se está a passar e o que se avizinha.
A ideia que ressalta de toda esta situação, é a de que a economia dos países assenta hoje sobre bases falsas. Quando as moedas deixaram de ser garantidas pelo ouro depositado nos bancos centrais de cada país, passaram a ter um valor apenas facial, quer dizer, passaram a valer apenas o que estava escrito nos papeis moeda, valor apenas garantido pelo Estado. O valor relativo de uma moeda em relação às outras, situação conhecida como cambial, passou a depender de um conjunto de factores, como o produto bruto interno, o saldo da balança de pagamentos, a quantidade de moeda externa existente internamente, etc., enfim, um emaranhado de situações que não corresponde hoje a nenhum padrão. Por exemplo, no Brasil, a moeda local, o real, tem vindo a valorizar-se em relação ao dólar pela simples razão de existirem dólares em excesso no mercado interno e o saldo da comercial entre importações e exportações é ainda favorável em cerca de 4 bilhões de dólares. A grosso modo e perdoem-me os especialistas, é isto o que acontece.
Evidentemente que a crise que se vive actualmente resulta do excessivo consumismo promovido incessantemente na sociedade, levando esta a consumir cada vez mais coisas que não precisa e a endividar-se cada vez mais. Depois resulta também da competição entre as empresas na conquista de mercados, oferecendo facilidades de crédito sem quaisquer garantias.
Há uns dois ou três anos que ouço falar na crise do mercado imobiliário nos EUA. Não acredito que os bancos americanos não soubessem da situação e que esta se estava a tornar perigosa. Mesmo assim continuaram a emprestar dinheiro. Não acredito que os bancos internacionais também não estivessem informados. Mesmo assim, compraram os tais papeis emitidos pelos bancos americanos e que agora não têm nenhum valor.
Mas nada parece estar perdido, o Estado americano tem um plano de empréstimo (é empréstimo?) para salvar os bancos e as instituições financeiras da bancarrota, qualquer coisa como 800 mil bilhões de dólares, uma quantia que não consigo sequer imaginar. A Comunidade Europeia parece que quer fazer a mesma coisa para salvar os bancos que compraram os tais papeis falsos. Injectando todo esse dinheiro, as instituições financeiras passam a ter de novo liquidez e podem continuar a operar no mercado. Mas… quem vai pagar tudo isso? Onde é que o Estado americano vai buscar esse dinheiro todo? Vai simplesmente emitir papel moeda, aumentando a sua dívida interna que julgo que é a maior do mundo e que nunca será paga certamente? Vai continuar a fomentar guerras para se recuperar à custa da desgraça dos outros?
Os tempos que se avizinham estão carregados de perspectivas sombrias. Sabemos quem é que irá pagar a factura, não serão certamente aqueles que provocaram toda a situação. Provavelmente os países fornecedores de matérias primas verão os preços desses produtos baixarem demasiadamente, aumentando a sua pobreza e dependência; teremos muito provavelmente uma grande carestia de vida, acompanhada por uma subida em flexa dos impostos. O dinheiro poderá perder completamente o seu valor e as propriedades não terão qualquer valor pois não haverá dinheiro para comprá-las. Estarei a ser demasiadamente pessimista? Aguardemos.
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