Hoje dei com uma notícia que só não me deixou mais preocupado porque já sabia que as coisas eram mais ou menos assim, mas não deixei de pensar nos graves problemas por que devem estar a passar todos aqueles que gostam de investir em bolsas, especular com o dinheiro dos outros, no meio de forrobódós monumentais com a droga solta e o álcool escorrendo pelas gargantas dos pobres meninos família e das coitadas das meninas família, que não têm alternativa senão entregarem-se aos vapores enebriantes de Baco e às sensações afrodisíacas de Astarte.
Não deixei de pensar nos pobres coitados dos empresários especuladores da bolsa e do dólar, ao verem aquela cair e este subir de cotação, ameaçando tudo quanto conseguiram amealhar à custa dos baixíssimos salários e empregos temporários. Devem estar as passar por momentos terríveis de incerteza quanto ao futuro, como é que irão conseguir manter o seu “status” no meio de uma crise destas.
Não deixei de pensar nos pobres dos bancos e dos banqueiros, que se viram de repente sem fundos, porque passaram o tempo a fazer caridade, emprestando dinheiro a quem não podiam emprestar e sabendo que não iam tê-lo de volta. Mas caridade é caridade e quem dá o que tem a mais não é obrigado e sabe-se muito bem que existe sempre uma recompensa, nem que seja no céu, para quem passou a vida a ajudar os outros. Não será preciso esperar tanto, que os santos Estados aí estão numa missão humanitária, alargando os cordões às bolsas – que não são as deles -, em socorro dos pobres banqueiros.
Desconfio seriamente que quando a ”poeira assentar”, os ricos estarão ainda mais ricos e os pobres ainda mais pobres e serão estes, naturalmente, que terão que pagar a factura dos desmandos feitos pelos ricos no seu esforço em ajudar os pobres e desvalidos da vida. Bilhão para cá, bilhão para lá, tudo se resolverá e tudo ficará na santa paz do Senhor.
Voltando à notícia que me fez pensar nestas tristes coisas, ela dizia que 18 por cento da população portuguesa, de acordo com estatísticas da União Europeia de 2006, vive abaixo do limiar de pobreza, ou seja, que vive com menos do que 366 euros por mês. Dizia ainda que Portugal, juntamente com a Irlanda, a Holanda e Malta, eram os únicos países que tinham registado progressos no combate à pobreza, que o nvel de pobreza em países como a Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Hungria, Itália, Lituânia, Letónia, Luxemburgo, Polónia, Suécia e Roménia, tinha piorado. Resumindo, na União Europeia há apenas 78 milhões de pessoas no limiar da pobreza, o que corresponde a, mais ou menos, 16 por cento da população.
Nada de mais, não é verdade? São apenas 78 milhões. O que é isso comparado com a crise das Wall Street do mundo?
Mas mais interessante ainda, a notícia dizia que morrem diariamente em todo o mundo, repito, diariamente, 50.000 pessoas devido a pobreza extrema, sendo a fome uma das faces dessa pobreza. Nada de mais, são apenas 50.000 seres humanos que, privados de tudo, do mais essencial para a sua sobrevivência, acabam por perecer na maior e extrema agonia. No final do ano são mais de dezoito milhões de pessoas que morrem nas condições mais horríveis.
Acrescenta ainda a notícia que novecentos milhões de pessoas não conseguem garantir uma alimentação adequada, quer dizer, devem passar a vida no Mac Donalds e outros similares. Mais ainda, que mais de mil milhões (1 bilhão) de pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia.
Ora bem, compreende-se assim a grande preocupação dos especuladores da bolsa, dos aforradores dos dólares, dos empreiteiros da desgraça alheia. Será que eles conseguiriam sobreviver com um dólar por dia?
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