domingo, 5 de outubro de 2008

Segredos do Cristianismo - VI - O Maior Segredo

No século XII aconteceu algo de insólito que os pesquisadores e historiadores não conseguiram decifrar até hoje. Trata-se dos Templários, da formação da Ordem do Templo, da sua extraordinária e rápida expansão, do seu poder e da sua riqueza.
A Ordem do Templo foi fundada um pouco posteriormente à Ordem do Hospital, ou dos Hospitalários, mas enquanto esta se manteve estável e comprometida com os objectivos da sua fundação – a ajuda e socorro aos peregrinos da Terra Santa, a Ordem do Templo teve um início estranho e depois, apesar de se manter na Palestina para proteger os peregrinos, expandiu-se rapidamente pela Europa, ganhando um poder superior ao da maioria dos Estados europeus.
A Ordem do Templo foi fundada por nove cavaleiros que participaram na 1ª Cruzada. De 1118, data da sua fundação, até 1127, durante nove anos, não admitiram ninguém nas suas fileiras. Permanecem em Jerusalém durante nove anos e o que estiveram a fazer durante esses nove anos pouco ou nada se sabe. Aparentemente estiveram instalados no que restava das antigas cavalariças do Templo de Salomão onde terão descoberto documentos importantes, segundo alguns, ou um grande tesouro segundo outros.
Aqui convém fazer uma pausa e pensar no que significa a descoberta de um tesouro ou, que características teria esse tesouro. Tradicionalmente um tesouro é constituído por ouro e pedras preciosas mas, pode ser constituído por outras coisas, como esses documentos importantes de que alguns falam, documentos que teriam dado à Ordem um tremendo poder e que a fez catapultar-se para a organização mais importante e mais temida da Europa. Esses documentos estariam relacionados com a história do Cristianismo, o que terá obrigado o Papa, por influência do abade de Claraval, São Bernardo, uma figura enigmática, a reconhecer a Ordem e a conferir-lhe as regras, estas também idealizadas por ele.
Bernardo de Claraval, de monge obscuro cisterciense, tornou-se a figura mais influente da sua época. Enviado em 1115 para Clairvaux (Vale Claro) para fundar uma nova abadia da Ordem de Cister, fundada em 1098, logo começa por impor uma disciplina severa, o que não impede que muitos candidatos comecem a afluir à nova abadia. Sob a sua regência, a Ordem de Cister tem uma expansão fantástica, semelhante à expansão templária pois, por alturas da sua morte aos 63 anos de idade, a Ordem de Cister tem 500 mosteiros em toda a Europa.
Considerado um ortodoxo, defendendo sempre a doutrina oficial da Igreja, Bernardo foi o “padrinho” dos Templários junto da Santa Sé, conseguindo a sua aprovação pelo Papa e dando à Ordem do Templo as regras que ele escreveu pelo seu próprio punho, daí se dizer que as regras do Templo eram semelhantes às da Ordem de Cister. Terão os templários partilhado com ele o seu segredo e assim a Ordem de Cister se expandiu também rapidamente? Seria a sua ortodoxia um escudo por detrás do qual manipulou os poderes da época?
Se os Templários possuíam um segredo capaz de abalar as estruturas do Cristianismo e da própria Igreja, esse segredo perdeu valor e entrou em descrédito depois da perseguição desencadeada por Filipe IV de França, o Belo. Acusando os Templários de heresia e de perda do sentido de missão para a qual a Ordem havia sido fundada, retirou qualquer credibilidade ao segredo que eventualmente os templários possuíssem. Apesar de absolvidos da heresia pelo Papa Clemente V, isto não obstou a que fossem torturados pela Inquisição e muitos queimados vivos, incluindo o seu Grão-Mestre, Jacques de Molay.
Depois desta absolvição não faz nenhum sentido que continuassem a ser perseguidos, torturados e queimados, a não ser que se quisesse eliminar qualquer vestígio deles à face da Terra. Por outro lado a teoria de que o rei Filipe IV desencadeou essa perseguição para deitar mão às riquezas templárias, pode isto ter sido uma das consequências, mas não, certamente, o que a motivou.
Para podermos compreender melhor o que poderia ser esse segredo, vamos voltar aos primeiros tempos do Cristianismo, vamos voltar a Paulo de Tarso. Quem era, efectivamente, Paulo ou Saulo de Tarso? De acordo com a Wikipédia, “O apóstolo Paulo de Tarso, cujo nome original era Saulo, é considerado por muitos cristãos como o mais importante discípulo de Jesus e, depois de Jesus, a figura mais importante no desenvolvimento do Cristianismo nascente.” Para além de outras considerações esta é a ideia que nos tem vindo a ser transmitida ao longo do tempo. Mas quem era o verdadeiro Paulo?
Tradicionalmente, Paulo é considerado o grande combatente contra os gnósticos heréticos. No entanto, os sábios gnósticos do início do século II consideravam Paulo o maior Apóstolo e veneravam-no por ele ter sido a inspiração do Cristianismo gnóstico. Muitos grupos gnósticos atribuíam a Paulo a sua fundação, chamando-se eles próprios de paulistas, apesar da perseguição da Igreja romana até ao século X. Se Paulo foi tão antignóstico como a Igreja reclama, é estranho que seja citado em inúmeros textos gnósticos e que alguns lhe sejam atribuídos. A biblioteca de Nag Hammadi inclui “A Oração do Apóstolo Paulo”, “O Apocalipse de Paulo” e “Os Actos de Paulo”. Este último descreve Paulo viajando com uma companheira chamada Tecla, uma mulher que efectuava baptismos.
Paulo escreve cartas a sete igrejas em sete cidades, conhecidas como centros de Cristianismo gnóstico. Das treze cartas que constam do Novo Testamento, apenas sete são consideradas genuínas, as outras são falsificações acrescentadas mais tarde. Somente nas chamadas cartas pastorais dirigidas a Timóteo e Tito, consideradas universalmente como falsificações, é que Paulo se revela antignóstico. Nestas cartas Paulo é posto a condenar veementemente as doutrinas gnósticas.
Por via destas cartas pastorais, Paulo é transformado de gnóstico em antignóstico. Na primeira metade do século II, Clemente, bispo de Roma, nega terminantemente o estatuto de Paulo como Apóstolo, dizendo inclusive que Paulo nunca viu efectivamente o Cristo ressuscitado. A revelação de Paulo na estrada de Damasco é considerada como um fenómeno demoníaco. Pedro, por sua vez, considera Paulo como seu inimigo, que convenceu alguns gentios a rejeitar a lei judaica e a ensinar coisas tolas e heréticas. Paulo é considerado um elemento de divisão do Cristianismo, inspirado por Satanás, um elemento perigoso que deveria ser expulso da Igreja.
Paulo foi contemporâneo de Jesus mas, por incrível que pareça e sendo Paulo um dos sacerdotes do templo de Jerusalém, nunca se encontrou com Jesus. Nas suas cartas verdadeiras nunca se refere a Jesus como alguém que tenha existido, refere-se ao Cristo que, em termos gnósticos significa o Cristo interno de cada um. Nas suas cartas verdadeiras usa muitos termos caros aos gnósticos como pneuma (espírito), gnosis (conhecimento divino), doxa (glória), sophia (sabedoria), teleoi (o iniciado), etc.
Paulo escreveu em grego e só faz citações da versão grega do Antigo Testamento. O seu trabalho relaciona-se com as cidades pagãs dominadas pela cultura grega. Assim, Antioquia era um centro dos Mistérios de Adónis, Éfeso era um centro dos Mistérios de Átis e Corinto o centro dos Mistérios de Dionísius. Natural de Tarso, esta cidade era o centro da filosofia pagã, ultrapassando na época Atenas e Alexandria. Tarso era a cidade onde se originaram os Mistérios de Mitra e não é possível imaginar que Paulo não se tenha dado conta das semelhanças entre estes Mistérios e as doutrinas cristãs.
Tal como os gnósticos, Paulo era extremamente depreciativo acerca das manifestações externas da religião – cerimónias, dias santos, regras, leis. Tal como os gnósticos, afirmava que os verdadeiros cristãos se tornavam em Cristo. À semelhança dos gnósticos, Paulo não prega a servidão á Lei, mas a liberdade espiritual através da Gnose. Vai ao ponto de declarar a Lei de Jeová, tradicionalmente sagrada, a própria base da religião judaica, ser uma maldição e que Cristo nos resgatou dessa Lei. Para Paulo, assim como para os gnósticos, através da partilha do sofrimento e da ressurreição de Cristo, o iniciado cristão pode ser redimido da Lei e libertado: “Agora, tendo morrido, estamos para além do alcance da Lei que nos subjugava”.
É provável que haja quem discorde do que aqui fica escrito, que afinal a Bíblia não diz nada disso, que Paulo se refere a Jesus como pessoa física, pois basta ler a Carta aos Romanos. Pois é, mas a Bíblia tem sofrido inúmeras alterações à sua versão original, adaptando o seu texto conforme os interesses do momento. Dou como exemplo o Evangelho segundo João. Logo no prólogo, as actuais Bíblias dizem: “No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus”. A anterior fraseologia dizia o seguinte: “No início era o Verbo: o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”. Parece que não, mas trata-se de uma alteração que adultera completamente o texto original, pois Verbo não é a palavra, Verbo é muito mais do que a palavra, Verbo é o som primordial através do qual a vida foi criada. Os budistas sabem isto e por isso usam os mantras, que são sons, não são palavras. Por outro lado cada uma das versões actuais do Cristianismo adaptou a Bíblia, principalmente o Novo Testamento, à sua medida. Assim, a Bíblia católica não é igual à Protestante, esta não é igual à Evangélica, etc., etc.
Para terminar, não vou revelar qual é o segredo maior, ele está implícito neste texto e nos outros que tenho vindo a escrever sobre o assunto. Cada um é livre de pensar o que quiser, ou de não pensar e agarrar-se à crença como resposta para todas as dúvidas.

1 comentário:

sidenea disse...

onde vc leu isso sobre Paulo...quero muito saber se tudo que a Biblia fala sobre Paulo é verdade ou apenas um meio de arrancar dinheiro do povo...pq eu não consigo acreditar em uma só palavra...apesar de ser crente des de o dia em que nasci...rsrsrs