Quantidade não é qualidade. Quanto maior a multiplicação de uma determinada coisa, menor e mais fraca será a sua energia original. Da mesma forma, quando as manifestações exotéricas se sobrepõem às esotéricas, tende a perder-se a essência original, o verdadeiro sentido ou significado do simbolismo. Ou seja, quando a coisa se torna pública, perde a sua verdadeira natureza. E não adianta o argumento do “núcleo central”, o tal grupo de eleitos que se supõe preservar a pureza original, o verdadeiro segredo. Presumindo que existam esses “núcleos centrais”, não se percebe muito bem qual seria a sua missão. É óbvio que muitas coisas se passam no gabinete do Papa que não são do conhecimento de mais ninguém, a não ser dele e de alguns cardeais assistentes. Mas esta é uma situação normal em qualquer organização – há sempre decisões tomadas que não serão nunca do conhecimento da “arraia miúda”, como diria o Fernão Lopes .
Os antigos mistérios perderam a sua força original quando passaram a ser acessíveis a quem tinha dinheiro para comprar a sua iniciação, mesmo que não entendesse uma letra do seu significado. Passaram para os gnósticos que tentaram reproduzir, sob novas vestimentas, as antigas iniciações. Mas o significado das suas palavras perdeu-se, como aconteceu com Paulo, no mar exotérico do cristianismo literalista. Os antigos maçons, os que tentaram manter viva a chama legada pela velha Atlântida, viram-se forçados ao esquecimento, a ocultarem-se, a confundirem-se na multidão, tentando preservar a todo o custo os velhos ensinamentos.
Foi preciso chegarmos ao século XVIII para vermos despontar por todo o lado na Europa inúmeras Lojas maçónicas, inúmeros ritos, inúmeras Ordens iniciáticas, tudo numa enorme confusão. A maioria dos nomes famosos de ocultistas, alquimistas, mestres iniciados, viveram nesse século de luzes, em que as luzes se acenderam realmente, depois de uma muito escura travessia dos séculos em que a Igreja teve o domínio absoluto das mentes e da vida de cada um. Mas quando se passa do muito escuro para o muito iluminado, corremos o risco de nos ofuscarmos. Foi o que aconteceu com grande parte das organizações que surgiram, muitas delas não passaram do papel ou das ideias de alguns “iluminados”
Mas foi um século de luzes, sem dúvida. É nesse século que surgem e são contemporâneos nomes como Louis-Claude de Saint-Martin, Jean Baptiste Willermoz, Martinez de Pasqually, Conde de Saint Germain, Conde Cagliostro, só para citar os mais conhecidos. Muitos deles, como Martinez de Pasqually e o Conde de Saint Germain fizeram da sua vida um mistério, sobre o qual se estabeleceram lendas e especulações, como no que concerne à sua origem, quantos anos viveram, etc. Muitos deles, também, procuraram fazer ressurgir uma tradição antiga há muito esquecida. Não sabemos hoje até que ponto foram fiéis a essa tradição antiga, pois muito do que existe hoje em termos de rituais maçónicos foi criado justamente nessa altura.
Martinez de Pasqually tornou-se uma figura controversa. Apareceu aparentemente do nada e organizou a Ordem dos Elus Cohen (Sacerdotes Eleitos), da qual participaram e foram seus discípulos Louis-Claude de Saint-Martin e Jean Baptiste Willermoz. Escreveu um livro intitulado “Tratado da Reintegração dos Seres”, que mais não é do que um discurso sobre os primeiros Livros da Bíblia, o Pentateuco. Não se sabe ao certo a sua origem e nacionalidade, dizem uns que nasceu em Grenoble, na França, mas outros que era um judeu espanhol. Houve alguns que alvitraram a ideia de se tratar de um judeu de origem portuguesa, mas esta ideia não parece ter qualquer fundamento, ou tem o mesmo fundamento da origem do Conde de Saint Germain, acerca de quem um “iluminado” escreveu um livro dando-o como nascido na rua do Ouro em Lisboa, filho de um ourives judeu.
Não se sabe onde é que Martinez de Pasqually foi buscar os rituais que implementou na Ordem dos Elus Cohen, a qual deu origem depois a várias Ordens Martinistas e teve influência na maçonaria, através de Willermoz, que reformulou o ritual do Rito Escocês, criando assim o Rito Escocês Rectificado.
O mais estranho da figura de Martinez de Pasqually foi ele ter aparecido como encarregado de uma missão, que fez por cumprir, retomando a antiga tradição dos mistérios através dos Elus Cohen, e depois retirou-se para a ilha do Haiti, onde terá morrido longe da obra que implementou na Europa. Aparentemente encarregado por alguém de uma missão pois, em carta que dirigiu a Willermoz, refere-se ao “chefe” por duas vezes, explicitando que, acima dele havia mais alguém. Esse “chefe” permaneceu incógnito pois, até à data, não se faz a menor ideia de quem seria.
Os herdeiros de Martinez de Pasqually seguiram caminhos diferentes: Jean Baptiste Willermoz levou para a maçonaria do Rito Escocês a operatividade teúrgica dos Elus Cohen; Louis-Claude de Saint-Martin não estava de acordo com essa parte teúrgica, afastou-se e acabou por fundar a Sociedade dos Filósofos Desconhecidos, que mais tarde, pela mão de Papus, deu origem ao Martinismo. Papus achava que as antigas escolas iniciáticas egípcias e orientais tinham por base leis universais que usavam símbolos e glifos só decifráveis por iniciados e transmitidos, no decorrer dos séculos, em formas inalteradas e inalteráveis. A transmissão desses segredos esotéricos era, naturalmente, reservada para um número restrito de pessoas, pertencentes a Sociedades Secretas, cujo fim era a perpetuação desses ensinamentos. Quis estabelecer uma ponte ou ligação entre o Martinismo e o Rito Escocês da maçonaria, mas não conseguiu levar por diante esse intento, pois morreu em 1916, durante a 1ª Grande Guerra, de tuberculose.
Outra figura misteriosa foi o Conde de Saint Germain, sobre o qual se têm estabelecido inúmeras especulações e contado algumas lendas. É suposto ter sido visto em pontos diferentes simultaneamente, ora em Itália, ora em França, ora na Alemanha; é suposto ter vivido muito tempo, qualquer coisa como mais de trezentos anos; é suposto ter aparecido a Guy Ballard, no monte Shasta na Califórnia, e transmitido ensinamentos que depois esse senhor Ballard transformou num livro a que chamou “O Livro de Ouro de Saint Germain”. O que se sabe ao certo é que de facto existiu e foi contemporâneo de outros Mestres, como já vimos anteriormente.
Falta falar do outro Mestre do século XVIII, Alessandro Cagliostro, que previu a Revolução Francesa e o seu triunfo, e foi a última vítima da Inquisição, que o encarcerou no Castelo de Sant´Angelo, em Roma, devido aos seus dotes mediúnicos e de cura. Quando o povo o quis libertar do cativeiro, em 26 de Agosto de 1795, foi informado pelos seus carcereiros e inquisidores que José Bálsamo, um nome por que também era conhecido, acabara de morrer.
Como homenagem a esses Mestres do nosso passado próximo, termino com a transcrição da “Mesa dos Três Mestres”, tal como foi publicada no livro “As Profecias do Papa João XXIII” de Pier Carpi, editado em português pelas Edições António Ramos, em 1977.
“…
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PARA AQUELE QUE NÃO SE DEVE NOMEAR
Paz. Paz no triângulo, na pirâmide, nos três pontos que conhecemos, reconhecemos, revelámos.
A Paz dos três mestres do passado, nas três cores sagradas.
Reconhecemo-nos no encarnado do sacrifício que cimenta o casamento do branco e do preto, que ninguém poderá jamais separar, até ao fim dos tempos escondidos nos tempos. As asas do pelicano estão abertas. O peito está rasgado pelos nossos mestres, para nós, os discípulos.
Para aqueles que chamaremos mestres.
Para os irmãos.
Hoje a rosa floresce sobre a cruz.
H. M. T.
Livres os irmãos, livres os mestres no plano que continua. Livres na espada, na máscara, na mão.
Quando pediram para destruir, foi conservado. Mas os descendentes da águia e da serpente, da flecha e da serpente, saberão reconhecer-se fora das prisões.
Hoje, eles saem e encontram-se na estrada com a carne viva dos mestres do passado. E juntos são a luz.
O Templo foi destruído porque é imortal. Não tinha tecto, hoje não tem paredes. É como a mesa do Sol.
O Templo está em toda a parte e os nossos passos serão sempre mais leves.
Escolhei a hora e o nome. Escolhei o homem. E imponde pela força que possuís.
Vós conheceis o gesto e a palavra. Sede livres, como foram os mestres.
Apenas com o silêncio construí a palavra.
Procurai-a dentro de vós. Seja ela sempre a mesma da operação do Sol. No grande Templo, ressuscitado nasce o Templo no momento em que vos encontrareis. E não quebreis nunca as cadeias. Nós testemunharemos isso.
H. M. T.
Trabalhai e enriquecereis.
Deixai profundas marcas no vosso caminho sempre do sul para o norte, como o vento quer. Não voltai atrás.
Estas são as quatro partes do mundo.
A primeira luz.
A cadeia de luz.
A luz na mão.
A primeira luz que dareis.
Sede livres ao fazê-lo. Escutai o apelo dos que querem. Sede livres de escolher.
E lançai fogo aos vossos juramentos, pela vossa liberdade de existir.
H. M. T.
Procurai os túmulos. Os nossos mestres não os tiveram, nós não os teremos, vós não os tereis. Eles vivem. Procurai-os.
Para aquele que não se deve nomear.
…
…
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…….
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(Assinaturas autografadas)
LOUIS-CLAUDE DE SAINT-MARTIN S. I. I. (……)
LE COMPTE DE SAINT-GERMAIN R+C
LE COMPTE DE CAGLIOSTRO G. C.”
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Há Algo de Podre no Reino da Dinamarca
Mal saberia Shakespeare, que esta frase de Hamlet, na peça teatral do mesmo nome, seria tantas vezes usada e tantas vezes corresponderia a uma situação real no futuro.
Na semana passada tivemos uma “novela” que ocupou os canais de televisão quase a cem por cento e continua a ocupar, pelo menos nos programas diurnos, que depois das 6 da tarde há que dar lugar às novelas de ficção e aos programas de grande audiência tipo “Big Brother” e semelhantes, que a “novela” real é dada nas horas das donas de casa, das empregadas domésticas (aqui chamadas secretárias domésticas), dos reformados (aqui chamam-se aposentados) e no intervalo dos programas infantis e infantilizadores.
A história, que no Brasil já toda a gente conhece, conta-se em poucas palavras: na segunda-feira da semana passada um sujeito que julgo ter cerca de 22 anos invadiu o apartamento da sua ex-namorada de 15 anos de idade, de nome Eloá, e sequestrou-a com a ameaça de uma arma de fogo, juntamente com uma amiga desta. Motivo: Eloá tinha acabado o namoro e o rapaz não aceitou.
O sequestro durou, dizem, cerca de 100 horas, o que corresponde a 4 dias e mais algumas horas. A polícia cercou imediatamente o local e, durante esses 4 dias e algumas horas, tentaram negociar com o sequestrador, sem quaisquer resultados. O sequestrador acabou por soltar a amiga da Eloá, mas ela voltou a entrar no apartamento, sabe-se lá porquê. Durante esse tempo todo as duas raparigas assomaram várias vezes a uma janela, vendo-se também por várias vezes a cara do sequestrador.
No final desses 4 dias e algumas horas acabou a peça dramática: Eloá levou dois tiros, um na virilha e outro na cabeça, e a amiga levou um tiro que lhe atravessou a boca de lado a lado. Eloá acabou por morrer no hospital, mas a amiga está fora de perigo.
Após este desfecho sangrento, as televisões afadigam-se em encontrar os “verdadeiros” motivos do drama, com entrevistas a “técnicos especializados”, a advogados, ao comandante da polícia, etc. mais uma chusma de gente tentando justificar o acto tresloucado como devido a forte “stress” emocional, e que se tratou mais de um acto impensado, passional, do que de um assassínio frio e premeditado. O rapaz, a “vítima” infeliz dos acontecimentos, foi levado para uma prisão preventiva (só faltava não ser preso) e colocado numa cela individual porque os outros presos não se sentiam bem na sua companhia. A advogada do rapaz diz que ele só disparou porque a polícia arrombou o apartamento.
Este é um caso paradigmático do estado a que a sociedade chegou e que merece alguma reflexão:
- A polícia tinha atiradores especiais colocados estrategicamente e teve várias oportunidades de abater o criminoso. Não o fez, não aproveitou as oportunidades, porque o rapaz era um jovem, provavelmente com um futuro promissor – de certeza um verdadeiro vencedor na vida à custa de um revólver –, e porque se a polícia tivesse atirado e o tivesse abatido, aí sim, todos os meios de comunicação lhe cairiam em cima, devido à sua crueldade e falta de respeito pelos direitos humanos (do rapaz, que das verdadeiras vítimas, não interessa).
- Durante 4 dias e algumas horas, o criminoso teve que se alimentar, teve que ir ao banheiro, teve que dormir ou dormitar, que ninguém aguenta tanto tempo sem cair no sono. Durante esse tempo todo as raparigas assomaram várias vezes à janela. Apesar disto tudo, não houve coragem de arrombar o apartamento e acabar de vez com a história.
- Somente depois de ouvir os disparos dos tiros é que a polícia arrombou e entrou no apartamento, ao contrário do que diz a advogada do rapaz. Este levou 4 dias para pensar no que iria fazer e, ao fim desse tempo todo não consegui uma saída melhor do que assassinar a ex-namorada e ferir a amiga.
- Durante toda a tragédia, a polícia só estava autorizada a usar balas de borracha.
Uma amiga minha, gente do povo, expressou assim o que pensava: não existe mais senso nenhum do que é certo e do que errado.
Ela tem toda a razão. Existe realmente uma autêntica corrupção de valores da sociedade que nos está a levar para um abismo, onde ninguém mais saiba o que é certo e o que é errado. Graças a essa corrupção de valores o número de vítimas reais é cada vez maior, porque estas não têm ninguém a defendê-las nos seus direitos humanos, pois estes hoje em dia, parece que pertencem exclusivamente aos criminosos.
Na semana passada tivemos uma “novela” que ocupou os canais de televisão quase a cem por cento e continua a ocupar, pelo menos nos programas diurnos, que depois das 6 da tarde há que dar lugar às novelas de ficção e aos programas de grande audiência tipo “Big Brother” e semelhantes, que a “novela” real é dada nas horas das donas de casa, das empregadas domésticas (aqui chamadas secretárias domésticas), dos reformados (aqui chamam-se aposentados) e no intervalo dos programas infantis e infantilizadores.
A história, que no Brasil já toda a gente conhece, conta-se em poucas palavras: na segunda-feira da semana passada um sujeito que julgo ter cerca de 22 anos invadiu o apartamento da sua ex-namorada de 15 anos de idade, de nome Eloá, e sequestrou-a com a ameaça de uma arma de fogo, juntamente com uma amiga desta. Motivo: Eloá tinha acabado o namoro e o rapaz não aceitou.
O sequestro durou, dizem, cerca de 100 horas, o que corresponde a 4 dias e mais algumas horas. A polícia cercou imediatamente o local e, durante esses 4 dias e algumas horas, tentaram negociar com o sequestrador, sem quaisquer resultados. O sequestrador acabou por soltar a amiga da Eloá, mas ela voltou a entrar no apartamento, sabe-se lá porquê. Durante esse tempo todo as duas raparigas assomaram várias vezes a uma janela, vendo-se também por várias vezes a cara do sequestrador.
No final desses 4 dias e algumas horas acabou a peça dramática: Eloá levou dois tiros, um na virilha e outro na cabeça, e a amiga levou um tiro que lhe atravessou a boca de lado a lado. Eloá acabou por morrer no hospital, mas a amiga está fora de perigo.
Após este desfecho sangrento, as televisões afadigam-se em encontrar os “verdadeiros” motivos do drama, com entrevistas a “técnicos especializados”, a advogados, ao comandante da polícia, etc. mais uma chusma de gente tentando justificar o acto tresloucado como devido a forte “stress” emocional, e que se tratou mais de um acto impensado, passional, do que de um assassínio frio e premeditado. O rapaz, a “vítima” infeliz dos acontecimentos, foi levado para uma prisão preventiva (só faltava não ser preso) e colocado numa cela individual porque os outros presos não se sentiam bem na sua companhia. A advogada do rapaz diz que ele só disparou porque a polícia arrombou o apartamento.
Este é um caso paradigmático do estado a que a sociedade chegou e que merece alguma reflexão:
- A polícia tinha atiradores especiais colocados estrategicamente e teve várias oportunidades de abater o criminoso. Não o fez, não aproveitou as oportunidades, porque o rapaz era um jovem, provavelmente com um futuro promissor – de certeza um verdadeiro vencedor na vida à custa de um revólver –, e porque se a polícia tivesse atirado e o tivesse abatido, aí sim, todos os meios de comunicação lhe cairiam em cima, devido à sua crueldade e falta de respeito pelos direitos humanos (do rapaz, que das verdadeiras vítimas, não interessa).
- Durante 4 dias e algumas horas, o criminoso teve que se alimentar, teve que ir ao banheiro, teve que dormir ou dormitar, que ninguém aguenta tanto tempo sem cair no sono. Durante esse tempo todo as raparigas assomaram várias vezes à janela. Apesar disto tudo, não houve coragem de arrombar o apartamento e acabar de vez com a história.
- Somente depois de ouvir os disparos dos tiros é que a polícia arrombou e entrou no apartamento, ao contrário do que diz a advogada do rapaz. Este levou 4 dias para pensar no que iria fazer e, ao fim desse tempo todo não consegui uma saída melhor do que assassinar a ex-namorada e ferir a amiga.
- Durante toda a tragédia, a polícia só estava autorizada a usar balas de borracha.
Uma amiga minha, gente do povo, expressou assim o que pensava: não existe mais senso nenhum do que é certo e do que errado.
Ela tem toda a razão. Existe realmente uma autêntica corrupção de valores da sociedade que nos está a levar para um abismo, onde ninguém mais saiba o que é certo e o que é errado. Graças a essa corrupção de valores o número de vítimas reais é cada vez maior, porque estas não têm ninguém a defendê-las nos seus direitos humanos, pois estes hoje em dia, parece que pertencem exclusivamente aos criminosos.
sábado, 18 de outubro de 2008
A Crise Financeira dos Pobres
Hoje dei com uma notícia que só não me deixou mais preocupado porque já sabia que as coisas eram mais ou menos assim, mas não deixei de pensar nos graves problemas por que devem estar a passar todos aqueles que gostam de investir em bolsas, especular com o dinheiro dos outros, no meio de forrobódós monumentais com a droga solta e o álcool escorrendo pelas gargantas dos pobres meninos família e das coitadas das meninas família, que não têm alternativa senão entregarem-se aos vapores enebriantes de Baco e às sensações afrodisíacas de Astarte.
Não deixei de pensar nos pobres coitados dos empresários especuladores da bolsa e do dólar, ao verem aquela cair e este subir de cotação, ameaçando tudo quanto conseguiram amealhar à custa dos baixíssimos salários e empregos temporários. Devem estar as passar por momentos terríveis de incerteza quanto ao futuro, como é que irão conseguir manter o seu “status” no meio de uma crise destas.
Não deixei de pensar nos pobres dos bancos e dos banqueiros, que se viram de repente sem fundos, porque passaram o tempo a fazer caridade, emprestando dinheiro a quem não podiam emprestar e sabendo que não iam tê-lo de volta. Mas caridade é caridade e quem dá o que tem a mais não é obrigado e sabe-se muito bem que existe sempre uma recompensa, nem que seja no céu, para quem passou a vida a ajudar os outros. Não será preciso esperar tanto, que os santos Estados aí estão numa missão humanitária, alargando os cordões às bolsas – que não são as deles -, em socorro dos pobres banqueiros.
Desconfio seriamente que quando a ”poeira assentar”, os ricos estarão ainda mais ricos e os pobres ainda mais pobres e serão estes, naturalmente, que terão que pagar a factura dos desmandos feitos pelos ricos no seu esforço em ajudar os pobres e desvalidos da vida. Bilhão para cá, bilhão para lá, tudo se resolverá e tudo ficará na santa paz do Senhor.
Voltando à notícia que me fez pensar nestas tristes coisas, ela dizia que 18 por cento da população portuguesa, de acordo com estatísticas da União Europeia de 2006, vive abaixo do limiar de pobreza, ou seja, que vive com menos do que 366 euros por mês. Dizia ainda que Portugal, juntamente com a Irlanda, a Holanda e Malta, eram os únicos países que tinham registado progressos no combate à pobreza, que o nvel de pobreza em países como a Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Hungria, Itália, Lituânia, Letónia, Luxemburgo, Polónia, Suécia e Roménia, tinha piorado. Resumindo, na União Europeia há apenas 78 milhões de pessoas no limiar da pobreza, o que corresponde a, mais ou menos, 16 por cento da população.
Nada de mais, não é verdade? São apenas 78 milhões. O que é isso comparado com a crise das Wall Street do mundo?
Mas mais interessante ainda, a notícia dizia que morrem diariamente em todo o mundo, repito, diariamente, 50.000 pessoas devido a pobreza extrema, sendo a fome uma das faces dessa pobreza. Nada de mais, são apenas 50.000 seres humanos que, privados de tudo, do mais essencial para a sua sobrevivência, acabam por perecer na maior e extrema agonia. No final do ano são mais de dezoito milhões de pessoas que morrem nas condições mais horríveis.
Acrescenta ainda a notícia que novecentos milhões de pessoas não conseguem garantir uma alimentação adequada, quer dizer, devem passar a vida no Mac Donalds e outros similares. Mais ainda, que mais de mil milhões (1 bilhão) de pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia.
Ora bem, compreende-se assim a grande preocupação dos especuladores da bolsa, dos aforradores dos dólares, dos empreiteiros da desgraça alheia. Será que eles conseguiriam sobreviver com um dólar por dia?
Não deixei de pensar nos pobres coitados dos empresários especuladores da bolsa e do dólar, ao verem aquela cair e este subir de cotação, ameaçando tudo quanto conseguiram amealhar à custa dos baixíssimos salários e empregos temporários. Devem estar as passar por momentos terríveis de incerteza quanto ao futuro, como é que irão conseguir manter o seu “status” no meio de uma crise destas.
Não deixei de pensar nos pobres dos bancos e dos banqueiros, que se viram de repente sem fundos, porque passaram o tempo a fazer caridade, emprestando dinheiro a quem não podiam emprestar e sabendo que não iam tê-lo de volta. Mas caridade é caridade e quem dá o que tem a mais não é obrigado e sabe-se muito bem que existe sempre uma recompensa, nem que seja no céu, para quem passou a vida a ajudar os outros. Não será preciso esperar tanto, que os santos Estados aí estão numa missão humanitária, alargando os cordões às bolsas – que não são as deles -, em socorro dos pobres banqueiros.
Desconfio seriamente que quando a ”poeira assentar”, os ricos estarão ainda mais ricos e os pobres ainda mais pobres e serão estes, naturalmente, que terão que pagar a factura dos desmandos feitos pelos ricos no seu esforço em ajudar os pobres e desvalidos da vida. Bilhão para cá, bilhão para lá, tudo se resolverá e tudo ficará na santa paz do Senhor.
Voltando à notícia que me fez pensar nestas tristes coisas, ela dizia que 18 por cento da população portuguesa, de acordo com estatísticas da União Europeia de 2006, vive abaixo do limiar de pobreza, ou seja, que vive com menos do que 366 euros por mês. Dizia ainda que Portugal, juntamente com a Irlanda, a Holanda e Malta, eram os únicos países que tinham registado progressos no combate à pobreza, que o nvel de pobreza em países como a Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Hungria, Itália, Lituânia, Letónia, Luxemburgo, Polónia, Suécia e Roménia, tinha piorado. Resumindo, na União Europeia há apenas 78 milhões de pessoas no limiar da pobreza, o que corresponde a, mais ou menos, 16 por cento da população.
Nada de mais, não é verdade? São apenas 78 milhões. O que é isso comparado com a crise das Wall Street do mundo?
Mas mais interessante ainda, a notícia dizia que morrem diariamente em todo o mundo, repito, diariamente, 50.000 pessoas devido a pobreza extrema, sendo a fome uma das faces dessa pobreza. Nada de mais, são apenas 50.000 seres humanos que, privados de tudo, do mais essencial para a sua sobrevivência, acabam por perecer na maior e extrema agonia. No final do ano são mais de dezoito milhões de pessoas que morrem nas condições mais horríveis.
Acrescenta ainda a notícia que novecentos milhões de pessoas não conseguem garantir uma alimentação adequada, quer dizer, devem passar a vida no Mac Donalds e outros similares. Mais ainda, que mais de mil milhões (1 bilhão) de pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia.
Ora bem, compreende-se assim a grande preocupação dos especuladores da bolsa, dos aforradores dos dólares, dos empreiteiros da desgraça alheia. Será que eles conseguiriam sobreviver com um dólar por dia?
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Cadernos Esotéricos - Origens do Ritual Maçónico - 2ª Parte
O ritual da maçonaria e o ritual da Igreja brotaram da mesma fonte: o Gnosticismo original, herdeiro dos segredos dos mistérios egípcios. Mas enquanto a maçonaria deu continuidade a esses mistérios através, na época, do cristianismo esotérico, a Igreja organizou-se a partir do paganismo exotérico.
Há quem ache que a maçonaria tem a sua origem na lenda de Hiram, ou Hiram Abiff, mas esta lenda é um mito criado não antes do século XVIII e que encerra em si profundos ensinamentos através da sua simbologia. Por exemplo, em termos astrológicos, três companheiros assassinam Hiram, representando os meses do Outono, culminando no solstício de Inverno, e 9 mestres procuram o seu corpo, representando os restantes meses do ano. Tem a ver também com o processo de morte e ressurreição, pois a natureza está aparentemente morta nesses dias obscuros de inverno, para ressuscitar com o crescimento dos dias (mais Sol) que antecedem a Primavera.
A introdução na maçonaria do espírito bíblico também é tardia e acontece também depois do século XVIII. Aqueles que sustentam a origem em Hiram argumentam que os maçons são conhecidos como “os filhos da viúva”, e que Hiram, chamado por Salomão para a construção do templo, era filho de uma viúva da tribo de Neftali, cujo pai era natural de Tiro (1Reis 7-13).
Mas se nos reportarmos às origens egípcias, vamos encontrar a história de Hórus, cujo pai, Osíris, foi morto por Seth e Ísis, sua mãe, é viúva na altura do seu nascimento. Esta história fazia parte dos mistérios interiores egípcios, mais tarde adoptados pelo gnosticismo ou cristianismo esotérico. Ragon, escritor e um dos mais ilustres maçons do século XIX, membro do Grande Oriente do Rito de Mizraim, realizou algumas representações ritualísticas para o público. A primeira, realizada em 15 de Maio de 1817, foi uma representação do 1º grau, a iniciação de Hórus. A segunda representação foi realizada em 1 de Junho do mesmo ano e tratou-se da admissão de Hórus às 5 viagens do 2º grau. Dias mais tarde fez uma terceira representação em que Hórus se apresentou ao público coroado de flores de lótus, marchando à frente de uma procissão de Ísis – a manifestação do iniciado. Nestas representações se vê claramente as origens egípcias da maçonaria tradicional. Claro que depois destas representações públicas Ragon teve que abandonar o rito de Mizraim.
Da mesma forma que muitas igrejas, o tecto dos templos maçónicos é, muitas vezes, pintado de azul e juncado de estrelas, numa alegoria à abóbada celeste. Isto foi copiado dos templos egípcios onde o Sol e as estrelas eram adorados.
É do oriente que nasce o Sol, de onde vem a luz e a vida. Por este motivo as igrejas são orientadas de oriente para ocidente, ficando o altar no oriente, simbolizando o caminho da luz. O mesmo acontece com os templos maçónicos, cujo interior pode ter algumas variações conforme os ritos, mas são orientados para oriente, de onde vem o “Rei da Glória”, o Sol, que em termos humanos se transformou no Cristo. No tempo de Constantino, quando este legalizou o cristianismo em todo o império romano, a religião pagã que vigorava era a do “Sol Invictus”, à qual ele se manteve fiel até aos seus últimos dias, pois só se deixou converter ao cristianismo pouco antes de morrer. “Sol est Dominus Meus”, diz David no salmo 95, mas nas traduções autorizadas da Bíblia, foi convenientemente transformado em: “Porque Javé é um Deus grande, o soberano de todos os deuses”. Esta frase traduzida assim tem muito que ver com politeísmo, mas vou deixar isto para outra crónica.
Como já disse numa crónica anterior, os primitivos cristãos abominavam templos e altares. Eles achavam que não tinham que se esconder, nem esconder o seu objecto de adoração – o Sol. Seguiam os ensinamentos de Paulo, o Mestre Iniciado, o “Mestre Construtor”, de não orar em sinagogas e em templos, como fazem os hipócritas “para serem vistos pelos homens”. A razão principal era a existência de uma luz maior, a imagem do Grande Arquitecto, alegoricamente simbolizada pelo astro-rei, o Sol.
Para Ragon, “os templos maçónicos são iluminados por três luzes astrais, – o Sol, a Lua e a Estrela Geométrica –, e por três luzes vitais, – o hierofante e seus dois vigilantes, – porque um dos pais da maçonaria, Pitágoras, sugeriu que não deveríamos falar das coisas divinas sem estarmos esclarecidos pela luz.” Por este motivo os pagãos celebravam a “festa das luzes” em homenagem a Minerva, Prometeu e Vulcano, o que causava embaraços aos iniciados no cristianismo esotérico que afirmavam: “Se eles se dignassem contemplar essa luz que nós chamamos Sol, reconheceriam imediatamente que Deus não precisa das suas luzes”. Mas entre a adoração do ideal em si e a adoração do símbolo, há um abismo. Para o egípcio culto, o Sol era o olho de Osíris, não o próprio Osíris. O mesmo acontecia com os primeiros maçons: o Sol era a representação do Grande Arquitecto, não o Grande Arquitecto.
O ritual da cristianismo primitivo, ou esotérico, deriva da antiga maçonaria, a qual, por sua vez, era a herdeira dos antigos mistérios. Estes eram transmitidos aos neófitos previamente seleccionados, nas criptas dos templos, em voz baixa, de boca a ouvido. Num ritual representando os mistérios era transmitida a antiga sabedoria atlante, tentando sobreviver às deturpações criadas pelo ego de muitos hierofantes e iniciados. De acordo com a “Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky, os mistérios foram revelados a eleitos da nossa raça, a 5ª, pelas primeiras dinastias de reis divinos, que reinaram sobre os descendentes nascidos do “Santo Rebanho”. Mais tarde, não se sabe bem porquê, esses reis divinos tornaram a descer (presume-se que na Terra), fizeram a paz com a 5ª raça, instruíram-na e ensinaram-na. Esta paz, significando que houve uma contenda anterior, está expressa na Bíblia através das várias alianças feitas com Javé.
A contenda subentendida pode ter a ver com a corrupção dos ensinamentos recebidos porque, apesar de ter havido um esforço de milhares de anos em tentar manter os mistérios na sua pureza original, os iniciados egípcios foram tentados pela sua ambição pessoal e acabaram por desfigurar uma sabedoria que nos fora transmitida pelos deuses. O significado original de muitos símbolos acabou por se perder devido a interpretações pessoais e jogos de poder.
É sabido que os únicos mistérios que conservaram por mais tempo a sua pureza original, foram os mistérios de Elêusis, em Atenas, celebrados em honra da deusa Deméter e em que se louvava a Natureza. Mas mesmo estes acabaram por cair em decadência quando o Estado Ateniense resolveu transformá-los numa fonte de renda. As iniciações passaram a ser pagas e era iniciado quem tinha dinheiro, não quem merecia. Os mistérios interiores acabaram por ser profanados por sacerdotes corruptos que, a troco de dinheiro iniciavam quem não tinha a menor preparação para entender os ensinamentos. Antes desta queda no obscurantismo, a iniciação era descrita como um “passeio no Templo”, e a “purificação” ou “reconstrução do Templo” referia-se ao corpo do iniciado na sua última e suprema prova. É isto que está escrito no evangelho de João, 2-19: “Destruam esse Templo e em três dias eu o levantarei”.
Desaparecidos os mistérios, a antiga sabedoria tentou sobreviver através dos gnósticos, que eram verdadeiramente os antigos maçons. Apesar da ascensão ao poder de Roma do cristianismo, através de Constantino, o gnosticismo continuou a ser uma força muito poderosa. Perante a situação, o cristianismo fez o que se habituou a fazer dali para a frente: esmagou o gnosticismo. Teodósio I, imperador romano, aprovou e fez publicar mais de cem leis contra os gnósticos. No ano de 381 o gnosticismo passou à condição de heresia e de crime contra o Estado. As escrituras gnósticas foram completamente destruídas e queimadas e todo o debate filosófico foi suprimido. Uma das proclamações dizia: “Não haverá oportunidade para nenhum homem sair a público e discutir religião ou debatê-la ou dar qualquer conselho”.
Um abade assistente de Cirilio, poderoso bispo de Alexandria no início do século V, dirigiu ataques às comunidades heréticas, dizendo: “Farei com que reconheçam o arcebispo Cirilo, ou então a espada eliminará a maioria de vós, e além disso aqueles que foram poupados irão para o exílio”.
Agostinho, o santo Agostinho porta-voz do cristianismo católico, achava que a força militar era necessária para suprimir os heréticos.
A espiritualidade tinha assim os dias contados, a gnose de Paulo tinha-se transformado na religião de obediência e terror da Igreja romana. A imensa vaga de obscurantismo invadiu tudo, obrigando todos sem excepção e sob pena de severa punição, a uma obediência cega à sua doutrina. Durante séculos, os iniciados tiveram que se esconder ou assumir papeis que não eram verdadeiramente os deles. Apesar das perseguições e dos riscos para a própria vida, os alquimistas continuaram á procura do ouro espiritual, da verdadeira Pedra Filosofal.
(Continua)
Há quem ache que a maçonaria tem a sua origem na lenda de Hiram, ou Hiram Abiff, mas esta lenda é um mito criado não antes do século XVIII e que encerra em si profundos ensinamentos através da sua simbologia. Por exemplo, em termos astrológicos, três companheiros assassinam Hiram, representando os meses do Outono, culminando no solstício de Inverno, e 9 mestres procuram o seu corpo, representando os restantes meses do ano. Tem a ver também com o processo de morte e ressurreição, pois a natureza está aparentemente morta nesses dias obscuros de inverno, para ressuscitar com o crescimento dos dias (mais Sol) que antecedem a Primavera.
A introdução na maçonaria do espírito bíblico também é tardia e acontece também depois do século XVIII. Aqueles que sustentam a origem em Hiram argumentam que os maçons são conhecidos como “os filhos da viúva”, e que Hiram, chamado por Salomão para a construção do templo, era filho de uma viúva da tribo de Neftali, cujo pai era natural de Tiro (1Reis 7-13).
Mas se nos reportarmos às origens egípcias, vamos encontrar a história de Hórus, cujo pai, Osíris, foi morto por Seth e Ísis, sua mãe, é viúva na altura do seu nascimento. Esta história fazia parte dos mistérios interiores egípcios, mais tarde adoptados pelo gnosticismo ou cristianismo esotérico. Ragon, escritor e um dos mais ilustres maçons do século XIX, membro do Grande Oriente do Rito de Mizraim, realizou algumas representações ritualísticas para o público. A primeira, realizada em 15 de Maio de 1817, foi uma representação do 1º grau, a iniciação de Hórus. A segunda representação foi realizada em 1 de Junho do mesmo ano e tratou-se da admissão de Hórus às 5 viagens do 2º grau. Dias mais tarde fez uma terceira representação em que Hórus se apresentou ao público coroado de flores de lótus, marchando à frente de uma procissão de Ísis – a manifestação do iniciado. Nestas representações se vê claramente as origens egípcias da maçonaria tradicional. Claro que depois destas representações públicas Ragon teve que abandonar o rito de Mizraim.
Da mesma forma que muitas igrejas, o tecto dos templos maçónicos é, muitas vezes, pintado de azul e juncado de estrelas, numa alegoria à abóbada celeste. Isto foi copiado dos templos egípcios onde o Sol e as estrelas eram adorados.
É do oriente que nasce o Sol, de onde vem a luz e a vida. Por este motivo as igrejas são orientadas de oriente para ocidente, ficando o altar no oriente, simbolizando o caminho da luz. O mesmo acontece com os templos maçónicos, cujo interior pode ter algumas variações conforme os ritos, mas são orientados para oriente, de onde vem o “Rei da Glória”, o Sol, que em termos humanos se transformou no Cristo. No tempo de Constantino, quando este legalizou o cristianismo em todo o império romano, a religião pagã que vigorava era a do “Sol Invictus”, à qual ele se manteve fiel até aos seus últimos dias, pois só se deixou converter ao cristianismo pouco antes de morrer. “Sol est Dominus Meus”, diz David no salmo 95, mas nas traduções autorizadas da Bíblia, foi convenientemente transformado em: “Porque Javé é um Deus grande, o soberano de todos os deuses”. Esta frase traduzida assim tem muito que ver com politeísmo, mas vou deixar isto para outra crónica.
Como já disse numa crónica anterior, os primitivos cristãos abominavam templos e altares. Eles achavam que não tinham que se esconder, nem esconder o seu objecto de adoração – o Sol. Seguiam os ensinamentos de Paulo, o Mestre Iniciado, o “Mestre Construtor”, de não orar em sinagogas e em templos, como fazem os hipócritas “para serem vistos pelos homens”. A razão principal era a existência de uma luz maior, a imagem do Grande Arquitecto, alegoricamente simbolizada pelo astro-rei, o Sol.
Para Ragon, “os templos maçónicos são iluminados por três luzes astrais, – o Sol, a Lua e a Estrela Geométrica –, e por três luzes vitais, – o hierofante e seus dois vigilantes, – porque um dos pais da maçonaria, Pitágoras, sugeriu que não deveríamos falar das coisas divinas sem estarmos esclarecidos pela luz.” Por este motivo os pagãos celebravam a “festa das luzes” em homenagem a Minerva, Prometeu e Vulcano, o que causava embaraços aos iniciados no cristianismo esotérico que afirmavam: “Se eles se dignassem contemplar essa luz que nós chamamos Sol, reconheceriam imediatamente que Deus não precisa das suas luzes”. Mas entre a adoração do ideal em si e a adoração do símbolo, há um abismo. Para o egípcio culto, o Sol era o olho de Osíris, não o próprio Osíris. O mesmo acontecia com os primeiros maçons: o Sol era a representação do Grande Arquitecto, não o Grande Arquitecto.
O ritual da cristianismo primitivo, ou esotérico, deriva da antiga maçonaria, a qual, por sua vez, era a herdeira dos antigos mistérios. Estes eram transmitidos aos neófitos previamente seleccionados, nas criptas dos templos, em voz baixa, de boca a ouvido. Num ritual representando os mistérios era transmitida a antiga sabedoria atlante, tentando sobreviver às deturpações criadas pelo ego de muitos hierofantes e iniciados. De acordo com a “Doutrina Secreta” de Helena Blavatsky, os mistérios foram revelados a eleitos da nossa raça, a 5ª, pelas primeiras dinastias de reis divinos, que reinaram sobre os descendentes nascidos do “Santo Rebanho”. Mais tarde, não se sabe bem porquê, esses reis divinos tornaram a descer (presume-se que na Terra), fizeram a paz com a 5ª raça, instruíram-na e ensinaram-na. Esta paz, significando que houve uma contenda anterior, está expressa na Bíblia através das várias alianças feitas com Javé.
A contenda subentendida pode ter a ver com a corrupção dos ensinamentos recebidos porque, apesar de ter havido um esforço de milhares de anos em tentar manter os mistérios na sua pureza original, os iniciados egípcios foram tentados pela sua ambição pessoal e acabaram por desfigurar uma sabedoria que nos fora transmitida pelos deuses. O significado original de muitos símbolos acabou por se perder devido a interpretações pessoais e jogos de poder.
É sabido que os únicos mistérios que conservaram por mais tempo a sua pureza original, foram os mistérios de Elêusis, em Atenas, celebrados em honra da deusa Deméter e em que se louvava a Natureza. Mas mesmo estes acabaram por cair em decadência quando o Estado Ateniense resolveu transformá-los numa fonte de renda. As iniciações passaram a ser pagas e era iniciado quem tinha dinheiro, não quem merecia. Os mistérios interiores acabaram por ser profanados por sacerdotes corruptos que, a troco de dinheiro iniciavam quem não tinha a menor preparação para entender os ensinamentos. Antes desta queda no obscurantismo, a iniciação era descrita como um “passeio no Templo”, e a “purificação” ou “reconstrução do Templo” referia-se ao corpo do iniciado na sua última e suprema prova. É isto que está escrito no evangelho de João, 2-19: “Destruam esse Templo e em três dias eu o levantarei”.
Desaparecidos os mistérios, a antiga sabedoria tentou sobreviver através dos gnósticos, que eram verdadeiramente os antigos maçons. Apesar da ascensão ao poder de Roma do cristianismo, através de Constantino, o gnosticismo continuou a ser uma força muito poderosa. Perante a situação, o cristianismo fez o que se habituou a fazer dali para a frente: esmagou o gnosticismo. Teodósio I, imperador romano, aprovou e fez publicar mais de cem leis contra os gnósticos. No ano de 381 o gnosticismo passou à condição de heresia e de crime contra o Estado. As escrituras gnósticas foram completamente destruídas e queimadas e todo o debate filosófico foi suprimido. Uma das proclamações dizia: “Não haverá oportunidade para nenhum homem sair a público e discutir religião ou debatê-la ou dar qualquer conselho”.
Um abade assistente de Cirilio, poderoso bispo de Alexandria no início do século V, dirigiu ataques às comunidades heréticas, dizendo: “Farei com que reconheçam o arcebispo Cirilo, ou então a espada eliminará a maioria de vós, e além disso aqueles que foram poupados irão para o exílio”.
Agostinho, o santo Agostinho porta-voz do cristianismo católico, achava que a força militar era necessária para suprimir os heréticos.
A espiritualidade tinha assim os dias contados, a gnose de Paulo tinha-se transformado na religião de obediência e terror da Igreja romana. A imensa vaga de obscurantismo invadiu tudo, obrigando todos sem excepção e sob pena de severa punição, a uma obediência cega à sua doutrina. Durante séculos, os iniciados tiveram que se esconder ou assumir papeis que não eram verdadeiramente os deles. Apesar das perseguições e dos riscos para a própria vida, os alquimistas continuaram á procura do ouro espiritual, da verdadeira Pedra Filosofal.
(Continua)
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Cadernos Esotéricos - Origens do Ritual Maçónico - 1ª Parte
A Maçonaria dividiu-se em vários ramos, ou tendências, ou obediências, conforme cada um o entenda, principalmente depois do século XVII. Por este motivo hoje conhecemos um sem número de tendências ou Ritos. Não vou aqui descrever esses Ritos porque a explicação pode ser encontrada facilmente na Internet, onde há vários “sites” com explicações bem pormenorizadas.
O fundamentalismo religioso cristão tem considerado desde sempre a Maçonaria como seu inimigo principal. Por este motivo, durante muitos séculos os seus membros reuniam-se secretamente, assim como a identidade dos que se reuniam só era conhecida deles mesmo. Hoje já não há muita necessidade desse secretismo mas, mesmo que seja por tradição, a Maçonaria continua a ser uma organização que se diz secreta, embora os seus membros e dirigentes sejam conhecidos, senão da generalidade do público, pelo menos daqueles que se interessam por estes assuntos.
Na origem da Maçonaria não existia secretismo, mas sim exclusivismo, quer dizer, no Antigo Egipto os Mistérios Interiores era reservados a uma elite escolhida pelos membros de cada Escola de Mistérios. Os Mistérios Exteriores eram dedicados ao público em geral, o qual assistia aos rituais realizados no exterior do templo. Nos Mistérios Interiores, participava apenas essa elite e realizava-se no interior do templo sem acesso ao público. Foi assim que muitos dos sábios e filósofos gregos foram iniciados nas Escolas de Mistérios do Antigo Egipto.
O secretismo começou a tornar-se necessário logo nos primeiros tempos do Cristianismo, longe estava ainda a Maçonaria de ser conhecida por esse nome. Como já vimos em crónicas anteriores, os gnósticos foram os herdeiros das Escolas de Mistério do Egipto, as quais tinham entrado em decadência depois da invasão de Alexandre Magno, cerca de 320 a.C. A pouco e pouco os grupos gnósticos foram resguardando os ensinamentos das antigas Escolas de Mistérios, transformando-os num movimento interno que veio a desaguar mais tarde no Cristianismo ou, na busca do Cristo interior através da Gnose. Mas o Cristianismo Gnóstico sofreu logo de início a perseguição dos que começaram a formar as várias igrejas impondo a sua visão literalista do Cristianismo. Foi o fanatismo que estabeleceu os alicerces da nova religião, que se fixou definitivamente com o imperador Constantino.
Apesar da liberdade de que hoje desfrutamos no mundo ocidental, em que cada um é livre de seguir a crença ou filosofia que entender e que estiver de acordo com o seu íntimo, o fanatismo continua vivo e actuante, arregimentando milhares ou milhões de pessoas às suas ideias. Foi assim que dei com um “site” na Internet, aparentemente com largos milhares de aderentes e defendendo as doutrinas evangélicas, que logo no título dizia: “Maçonaria, o Braço Direito do Diabo – Desmascarando essa Filial do Império das Trevas”. E depois acrescentava: “Maçonaria: Ramificações: AMORC, Lions Club, Rotary Club, De Molays, Shrines, The Daughters of the Nile, Amaranth, Estrela do Oriente, Grotto, Cavaleiros Templários, Rito de York, Rito Escocês, Illuminati, P2, Skull and Bones, Ordem do Dragão.” O resto do texto é um conjunto de argumentos baseados nos evangelhos, dos quais faz inúmeras citações, atribuindo à Maçonaria e aos grupos acima indicados, todos os males do mundo. Para essas igrejas Jesus é Deus, ou o Filho de Deus encarnado na Terra, quando o próprio Jesus recusou essa condição: “Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” Jesus respondeu: “Porque me chamas de bom? Só Deus é bom, e ninguém mais” (Marcos 10-17). Um “site” a evitar para quem quiser manter uma certa saúde mental e psíquica.
Evidentemente que qualquer pessoa com um pouco de lucidez vê que se trata de uma manifestação do fanatismo mais primário, além de que, mistura indiscriminadamente no mesmo saco organizações de natureza diferente. Isto não causaria nenhuma preocupação, apenas um sorriso pela ignorância das pessoas que escrevem no “site”, se esses mesmos indivíduos não estivessem a fazer todo o possível por atingir lugares proeminentes a nível governamental em alguns países.
Mas mesmo a Igreja Católica, apesar da tentativa de abertura que constituiu o Concílio Vaticano II, considera que pertencer à Maçonaria é incompatível com a doutrina da Igreja e que os católicos que se inscrevam em qualquer organização maçónica, depois de saberem a posição da Igreja, incorrem em grave pecado. O Documento da Congregação para a Doutrina da Fé, com data de 26 de Novembro de 1983, e que trata da atitude oficial da Igreja frente à Maçonaria, utiliza a expressão "associações maçónicas", sem distinguir uma das outras. Diz que é vedado a todos, eclesiásticos ou leigos, ingressar nessa organização e quem o fizer, está "em estado de pecado grave e não pode aproximar-se da Sagrada Comunhão".
A influência da Maçonaria na nossa sociedade ganhou maior relevo depois da Revolução Francesa, em que a Igreja foi perdendo terreno à medida em que se atingia uma maior liberdade. Sob o lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” o mundo se foi transformando, as monarquias foram-se despojando do seu poder absoluto, algumas foram substituídas por repúblicas, muitos países conquistaram a sua independência, como os EUA e os países da América do Sul. No entanto, a atribuição à Maçonaria desse lema é errónea, como é errada também a atribuição à Revolução Francesa, cujo lema era “Liberdade, Igualdade, ou a Morte”. Também se atribuiu a criação desse lema a Louis-Claude de Saint-Martin, o que também é errado. Esse lema é bem mais antigo e não se sabe, exactamente, qual a sua origem.
Atribuem-se à Maçonaria, através do seu braço armado, a Carbonária, muitos atentados à bomba e assassínios, especialmente contra figuras monárquicas, dentre os quais o atentado que vitimou o rei D. Carlos de Portugal, em 1 de Fevereiro de 1908, prelúdio da revolução que iria instaurar a República em 1910.
Embora alguns elementos da Maçonaria tivessem ligações com a Carbonária, esta não é, nem nunca foi o braço armado daquela. Era e é, porque ainda existe, uma organização independente, cujas acções por vezes, embora de forma brutal, correspondiam a objectivos da Maçonaria. Nestes objectivos estariam, por exemplo, a abolição da monarquia em alguns países. É interessante ler um texto notável de Fernando Pessoa, insurgindo-se contra uma proposta de lei que visava a proibição das sociedades secretas: “Ora no nosso país, caída há muito em dormência a Ordem Templária de Portugal, desaparecida a Carbonária – formada para fins transitórios, que se realizaram –, não existem, suponho, à parte uma outra possível Loja Martinista ou semelhante, mais do que duas associações secretas dessa espécie. Uma é a Maçonaria, a outra essa curiosa organização que, em um dos seus ramos, usa o nome profano de Companhia de Jesus, exactamente como, na Maçonaria, a Ordem de Heredom e Kilwinning usa o nome profano de Real Ordem da Escócia”. Talvez a figura mais notável pertencente à Carbonária, terá sido Giuseppe Garibaldi, de cujas acções foi unificada a Itália e o Vaticano deixou de ter poder sobre a cidade de Roma.
A acusação de ateísmo que é feita, na generalidade, à Maçonaria, deve-se à existência de algumas organizações maçónicas que se dizem ateias. Não se percebe muito bem com o é que se pode ser ateu a actuar num recinto sagrado efectuando rituais e se reportarem ao G.A.D.U. (Grande Arquitecto do Universo). É verdade que essas organizações não são hoje mais do que grupos de tráfego de influências, o que acontece também com algumas das organizações não ateias. No entanto, apesar dos condicionalismos do mundo de hoje, em que o profano se impõe ao sagrado, existem ainda organizações maçónicas fiéis aos seus princípios milenários de grande espiritualidade.
O fundamentalismo religioso cristão tem considerado desde sempre a Maçonaria como seu inimigo principal. Por este motivo, durante muitos séculos os seus membros reuniam-se secretamente, assim como a identidade dos que se reuniam só era conhecida deles mesmo. Hoje já não há muita necessidade desse secretismo mas, mesmo que seja por tradição, a Maçonaria continua a ser uma organização que se diz secreta, embora os seus membros e dirigentes sejam conhecidos, senão da generalidade do público, pelo menos daqueles que se interessam por estes assuntos.
Na origem da Maçonaria não existia secretismo, mas sim exclusivismo, quer dizer, no Antigo Egipto os Mistérios Interiores era reservados a uma elite escolhida pelos membros de cada Escola de Mistérios. Os Mistérios Exteriores eram dedicados ao público em geral, o qual assistia aos rituais realizados no exterior do templo. Nos Mistérios Interiores, participava apenas essa elite e realizava-se no interior do templo sem acesso ao público. Foi assim que muitos dos sábios e filósofos gregos foram iniciados nas Escolas de Mistérios do Antigo Egipto.
O secretismo começou a tornar-se necessário logo nos primeiros tempos do Cristianismo, longe estava ainda a Maçonaria de ser conhecida por esse nome. Como já vimos em crónicas anteriores, os gnósticos foram os herdeiros das Escolas de Mistério do Egipto, as quais tinham entrado em decadência depois da invasão de Alexandre Magno, cerca de 320 a.C. A pouco e pouco os grupos gnósticos foram resguardando os ensinamentos das antigas Escolas de Mistérios, transformando-os num movimento interno que veio a desaguar mais tarde no Cristianismo ou, na busca do Cristo interior através da Gnose. Mas o Cristianismo Gnóstico sofreu logo de início a perseguição dos que começaram a formar as várias igrejas impondo a sua visão literalista do Cristianismo. Foi o fanatismo que estabeleceu os alicerces da nova religião, que se fixou definitivamente com o imperador Constantino.
Apesar da liberdade de que hoje desfrutamos no mundo ocidental, em que cada um é livre de seguir a crença ou filosofia que entender e que estiver de acordo com o seu íntimo, o fanatismo continua vivo e actuante, arregimentando milhares ou milhões de pessoas às suas ideias. Foi assim que dei com um “site” na Internet, aparentemente com largos milhares de aderentes e defendendo as doutrinas evangélicas, que logo no título dizia: “Maçonaria, o Braço Direito do Diabo – Desmascarando essa Filial do Império das Trevas”. E depois acrescentava: “Maçonaria: Ramificações: AMORC, Lions Club, Rotary Club, De Molays, Shrines, The Daughters of the Nile, Amaranth, Estrela do Oriente, Grotto, Cavaleiros Templários, Rito de York, Rito Escocês, Illuminati, P2, Skull and Bones, Ordem do Dragão.” O resto do texto é um conjunto de argumentos baseados nos evangelhos, dos quais faz inúmeras citações, atribuindo à Maçonaria e aos grupos acima indicados, todos os males do mundo. Para essas igrejas Jesus é Deus, ou o Filho de Deus encarnado na Terra, quando o próprio Jesus recusou essa condição: “Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” Jesus respondeu: “Porque me chamas de bom? Só Deus é bom, e ninguém mais” (Marcos 10-17). Um “site” a evitar para quem quiser manter uma certa saúde mental e psíquica.
Evidentemente que qualquer pessoa com um pouco de lucidez vê que se trata de uma manifestação do fanatismo mais primário, além de que, mistura indiscriminadamente no mesmo saco organizações de natureza diferente. Isto não causaria nenhuma preocupação, apenas um sorriso pela ignorância das pessoas que escrevem no “site”, se esses mesmos indivíduos não estivessem a fazer todo o possível por atingir lugares proeminentes a nível governamental em alguns países.
Mas mesmo a Igreja Católica, apesar da tentativa de abertura que constituiu o Concílio Vaticano II, considera que pertencer à Maçonaria é incompatível com a doutrina da Igreja e que os católicos que se inscrevam em qualquer organização maçónica, depois de saberem a posição da Igreja, incorrem em grave pecado. O Documento da Congregação para a Doutrina da Fé, com data de 26 de Novembro de 1983, e que trata da atitude oficial da Igreja frente à Maçonaria, utiliza a expressão "associações maçónicas", sem distinguir uma das outras. Diz que é vedado a todos, eclesiásticos ou leigos, ingressar nessa organização e quem o fizer, está "em estado de pecado grave e não pode aproximar-se da Sagrada Comunhão".
A influência da Maçonaria na nossa sociedade ganhou maior relevo depois da Revolução Francesa, em que a Igreja foi perdendo terreno à medida em que se atingia uma maior liberdade. Sob o lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” o mundo se foi transformando, as monarquias foram-se despojando do seu poder absoluto, algumas foram substituídas por repúblicas, muitos países conquistaram a sua independência, como os EUA e os países da América do Sul. No entanto, a atribuição à Maçonaria desse lema é errónea, como é errada também a atribuição à Revolução Francesa, cujo lema era “Liberdade, Igualdade, ou a Morte”. Também se atribuiu a criação desse lema a Louis-Claude de Saint-Martin, o que também é errado. Esse lema é bem mais antigo e não se sabe, exactamente, qual a sua origem.
Atribuem-se à Maçonaria, através do seu braço armado, a Carbonária, muitos atentados à bomba e assassínios, especialmente contra figuras monárquicas, dentre os quais o atentado que vitimou o rei D. Carlos de Portugal, em 1 de Fevereiro de 1908, prelúdio da revolução que iria instaurar a República em 1910.
Embora alguns elementos da Maçonaria tivessem ligações com a Carbonária, esta não é, nem nunca foi o braço armado daquela. Era e é, porque ainda existe, uma organização independente, cujas acções por vezes, embora de forma brutal, correspondiam a objectivos da Maçonaria. Nestes objectivos estariam, por exemplo, a abolição da monarquia em alguns países. É interessante ler um texto notável de Fernando Pessoa, insurgindo-se contra uma proposta de lei que visava a proibição das sociedades secretas: “Ora no nosso país, caída há muito em dormência a Ordem Templária de Portugal, desaparecida a Carbonária – formada para fins transitórios, que se realizaram –, não existem, suponho, à parte uma outra possível Loja Martinista ou semelhante, mais do que duas associações secretas dessa espécie. Uma é a Maçonaria, a outra essa curiosa organização que, em um dos seus ramos, usa o nome profano de Companhia de Jesus, exactamente como, na Maçonaria, a Ordem de Heredom e Kilwinning usa o nome profano de Real Ordem da Escócia”. Talvez a figura mais notável pertencente à Carbonária, terá sido Giuseppe Garibaldi, de cujas acções foi unificada a Itália e o Vaticano deixou de ter poder sobre a cidade de Roma.
A acusação de ateísmo que é feita, na generalidade, à Maçonaria, deve-se à existência de algumas organizações maçónicas que se dizem ateias. Não se percebe muito bem com o é que se pode ser ateu a actuar num recinto sagrado efectuando rituais e se reportarem ao G.A.D.U. (Grande Arquitecto do Universo). É verdade que essas organizações não são hoje mais do que grupos de tráfego de influências, o que acontece também com algumas das organizações não ateias. No entanto, apesar dos condicionalismos do mundo de hoje, em que o profano se impõe ao sagrado, existem ainda organizações maçónicas fiéis aos seus princípios milenários de grande espiritualidade.
domingo, 5 de outubro de 2008
Segredos do Cristianismo - VI - O Maior Segredo
No século XII aconteceu algo de insólito que os pesquisadores e historiadores não conseguiram decifrar até hoje. Trata-se dos Templários, da formação da Ordem do Templo, da sua extraordinária e rápida expansão, do seu poder e da sua riqueza.
A Ordem do Templo foi fundada um pouco posteriormente à Ordem do Hospital, ou dos Hospitalários, mas enquanto esta se manteve estável e comprometida com os objectivos da sua fundação – a ajuda e socorro aos peregrinos da Terra Santa, a Ordem do Templo teve um início estranho e depois, apesar de se manter na Palestina para proteger os peregrinos, expandiu-se rapidamente pela Europa, ganhando um poder superior ao da maioria dos Estados europeus.
A Ordem do Templo foi fundada por nove cavaleiros que participaram na 1ª Cruzada. De 1118, data da sua fundação, até 1127, durante nove anos, não admitiram ninguém nas suas fileiras. Permanecem em Jerusalém durante nove anos e o que estiveram a fazer durante esses nove anos pouco ou nada se sabe. Aparentemente estiveram instalados no que restava das antigas cavalariças do Templo de Salomão onde terão descoberto documentos importantes, segundo alguns, ou um grande tesouro segundo outros.
Aqui convém fazer uma pausa e pensar no que significa a descoberta de um tesouro ou, que características teria esse tesouro. Tradicionalmente um tesouro é constituído por ouro e pedras preciosas mas, pode ser constituído por outras coisas, como esses documentos importantes de que alguns falam, documentos que teriam dado à Ordem um tremendo poder e que a fez catapultar-se para a organização mais importante e mais temida da Europa. Esses documentos estariam relacionados com a história do Cristianismo, o que terá obrigado o Papa, por influência do abade de Claraval, São Bernardo, uma figura enigmática, a reconhecer a Ordem e a conferir-lhe as regras, estas também idealizadas por ele.
Bernardo de Claraval, de monge obscuro cisterciense, tornou-se a figura mais influente da sua época. Enviado em 1115 para Clairvaux (Vale Claro) para fundar uma nova abadia da Ordem de Cister, fundada em 1098, logo começa por impor uma disciplina severa, o que não impede que muitos candidatos comecem a afluir à nova abadia. Sob a sua regência, a Ordem de Cister tem uma expansão fantástica, semelhante à expansão templária pois, por alturas da sua morte aos 63 anos de idade, a Ordem de Cister tem 500 mosteiros em toda a Europa.
Considerado um ortodoxo, defendendo sempre a doutrina oficial da Igreja, Bernardo foi o “padrinho” dos Templários junto da Santa Sé, conseguindo a sua aprovação pelo Papa e dando à Ordem do Templo as regras que ele escreveu pelo seu próprio punho, daí se dizer que as regras do Templo eram semelhantes às da Ordem de Cister. Terão os templários partilhado com ele o seu segredo e assim a Ordem de Cister se expandiu também rapidamente? Seria a sua ortodoxia um escudo por detrás do qual manipulou os poderes da época?
Se os Templários possuíam um segredo capaz de abalar as estruturas do Cristianismo e da própria Igreja, esse segredo perdeu valor e entrou em descrédito depois da perseguição desencadeada por Filipe IV de França, o Belo. Acusando os Templários de heresia e de perda do sentido de missão para a qual a Ordem havia sido fundada, retirou qualquer credibilidade ao segredo que eventualmente os templários possuíssem. Apesar de absolvidos da heresia pelo Papa Clemente V, isto não obstou a que fossem torturados pela Inquisição e muitos queimados vivos, incluindo o seu Grão-Mestre, Jacques de Molay.
Depois desta absolvição não faz nenhum sentido que continuassem a ser perseguidos, torturados e queimados, a não ser que se quisesse eliminar qualquer vestígio deles à face da Terra. Por outro lado a teoria de que o rei Filipe IV desencadeou essa perseguição para deitar mão às riquezas templárias, pode isto ter sido uma das consequências, mas não, certamente, o que a motivou.
Para podermos compreender melhor o que poderia ser esse segredo, vamos voltar aos primeiros tempos do Cristianismo, vamos voltar a Paulo de Tarso. Quem era, efectivamente, Paulo ou Saulo de Tarso? De acordo com a Wikipédia, “O apóstolo Paulo de Tarso, cujo nome original era Saulo, é considerado por muitos cristãos como o mais importante discípulo de Jesus e, depois de Jesus, a figura mais importante no desenvolvimento do Cristianismo nascente.” Para além de outras considerações esta é a ideia que nos tem vindo a ser transmitida ao longo do tempo. Mas quem era o verdadeiro Paulo?
Tradicionalmente, Paulo é considerado o grande combatente contra os gnósticos heréticos. No entanto, os sábios gnósticos do início do século II consideravam Paulo o maior Apóstolo e veneravam-no por ele ter sido a inspiração do Cristianismo gnóstico. Muitos grupos gnósticos atribuíam a Paulo a sua fundação, chamando-se eles próprios de paulistas, apesar da perseguição da Igreja romana até ao século X. Se Paulo foi tão antignóstico como a Igreja reclama, é estranho que seja citado em inúmeros textos gnósticos e que alguns lhe sejam atribuídos. A biblioteca de Nag Hammadi inclui “A Oração do Apóstolo Paulo”, “O Apocalipse de Paulo” e “Os Actos de Paulo”. Este último descreve Paulo viajando com uma companheira chamada Tecla, uma mulher que efectuava baptismos.
Paulo escreve cartas a sete igrejas em sete cidades, conhecidas como centros de Cristianismo gnóstico. Das treze cartas que constam do Novo Testamento, apenas sete são consideradas genuínas, as outras são falsificações acrescentadas mais tarde. Somente nas chamadas cartas pastorais dirigidas a Timóteo e Tito, consideradas universalmente como falsificações, é que Paulo se revela antignóstico. Nestas cartas Paulo é posto a condenar veementemente as doutrinas gnósticas.
Por via destas cartas pastorais, Paulo é transformado de gnóstico em antignóstico. Na primeira metade do século II, Clemente, bispo de Roma, nega terminantemente o estatuto de Paulo como Apóstolo, dizendo inclusive que Paulo nunca viu efectivamente o Cristo ressuscitado. A revelação de Paulo na estrada de Damasco é considerada como um fenómeno demoníaco. Pedro, por sua vez, considera Paulo como seu inimigo, que convenceu alguns gentios a rejeitar a lei judaica e a ensinar coisas tolas e heréticas. Paulo é considerado um elemento de divisão do Cristianismo, inspirado por Satanás, um elemento perigoso que deveria ser expulso da Igreja.
Paulo foi contemporâneo de Jesus mas, por incrível que pareça e sendo Paulo um dos sacerdotes do templo de Jerusalém, nunca se encontrou com Jesus. Nas suas cartas verdadeiras nunca se refere a Jesus como alguém que tenha existido, refere-se ao Cristo que, em termos gnósticos significa o Cristo interno de cada um. Nas suas cartas verdadeiras usa muitos termos caros aos gnósticos como pneuma (espírito), gnosis (conhecimento divino), doxa (glória), sophia (sabedoria), teleoi (o iniciado), etc.
Paulo escreveu em grego e só faz citações da versão grega do Antigo Testamento. O seu trabalho relaciona-se com as cidades pagãs dominadas pela cultura grega. Assim, Antioquia era um centro dos Mistérios de Adónis, Éfeso era um centro dos Mistérios de Átis e Corinto o centro dos Mistérios de Dionísius. Natural de Tarso, esta cidade era o centro da filosofia pagã, ultrapassando na época Atenas e Alexandria. Tarso era a cidade onde se originaram os Mistérios de Mitra e não é possível imaginar que Paulo não se tenha dado conta das semelhanças entre estes Mistérios e as doutrinas cristãs.
Tal como os gnósticos, Paulo era extremamente depreciativo acerca das manifestações externas da religião – cerimónias, dias santos, regras, leis. Tal como os gnósticos, afirmava que os verdadeiros cristãos se tornavam em Cristo. À semelhança dos gnósticos, Paulo não prega a servidão á Lei, mas a liberdade espiritual através da Gnose. Vai ao ponto de declarar a Lei de Jeová, tradicionalmente sagrada, a própria base da religião judaica, ser uma maldição e que Cristo nos resgatou dessa Lei. Para Paulo, assim como para os gnósticos, através da partilha do sofrimento e da ressurreição de Cristo, o iniciado cristão pode ser redimido da Lei e libertado: “Agora, tendo morrido, estamos para além do alcance da Lei que nos subjugava”.
É provável que haja quem discorde do que aqui fica escrito, que afinal a Bíblia não diz nada disso, que Paulo se refere a Jesus como pessoa física, pois basta ler a Carta aos Romanos. Pois é, mas a Bíblia tem sofrido inúmeras alterações à sua versão original, adaptando o seu texto conforme os interesses do momento. Dou como exemplo o Evangelho segundo João. Logo no prólogo, as actuais Bíblias dizem: “No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus”. A anterior fraseologia dizia o seguinte: “No início era o Verbo: o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”. Parece que não, mas trata-se de uma alteração que adultera completamente o texto original, pois Verbo não é a palavra, Verbo é muito mais do que a palavra, Verbo é o som primordial através do qual a vida foi criada. Os budistas sabem isto e por isso usam os mantras, que são sons, não são palavras. Por outro lado cada uma das versões actuais do Cristianismo adaptou a Bíblia, principalmente o Novo Testamento, à sua medida. Assim, a Bíblia católica não é igual à Protestante, esta não é igual à Evangélica, etc., etc.
Para terminar, não vou revelar qual é o segredo maior, ele está implícito neste texto e nos outros que tenho vindo a escrever sobre o assunto. Cada um é livre de pensar o que quiser, ou de não pensar e agarrar-se à crença como resposta para todas as dúvidas.
A Ordem do Templo foi fundada um pouco posteriormente à Ordem do Hospital, ou dos Hospitalários, mas enquanto esta se manteve estável e comprometida com os objectivos da sua fundação – a ajuda e socorro aos peregrinos da Terra Santa, a Ordem do Templo teve um início estranho e depois, apesar de se manter na Palestina para proteger os peregrinos, expandiu-se rapidamente pela Europa, ganhando um poder superior ao da maioria dos Estados europeus.
A Ordem do Templo foi fundada por nove cavaleiros que participaram na 1ª Cruzada. De 1118, data da sua fundação, até 1127, durante nove anos, não admitiram ninguém nas suas fileiras. Permanecem em Jerusalém durante nove anos e o que estiveram a fazer durante esses nove anos pouco ou nada se sabe. Aparentemente estiveram instalados no que restava das antigas cavalariças do Templo de Salomão onde terão descoberto documentos importantes, segundo alguns, ou um grande tesouro segundo outros.
Aqui convém fazer uma pausa e pensar no que significa a descoberta de um tesouro ou, que características teria esse tesouro. Tradicionalmente um tesouro é constituído por ouro e pedras preciosas mas, pode ser constituído por outras coisas, como esses documentos importantes de que alguns falam, documentos que teriam dado à Ordem um tremendo poder e que a fez catapultar-se para a organização mais importante e mais temida da Europa. Esses documentos estariam relacionados com a história do Cristianismo, o que terá obrigado o Papa, por influência do abade de Claraval, São Bernardo, uma figura enigmática, a reconhecer a Ordem e a conferir-lhe as regras, estas também idealizadas por ele.
Bernardo de Claraval, de monge obscuro cisterciense, tornou-se a figura mais influente da sua época. Enviado em 1115 para Clairvaux (Vale Claro) para fundar uma nova abadia da Ordem de Cister, fundada em 1098, logo começa por impor uma disciplina severa, o que não impede que muitos candidatos comecem a afluir à nova abadia. Sob a sua regência, a Ordem de Cister tem uma expansão fantástica, semelhante à expansão templária pois, por alturas da sua morte aos 63 anos de idade, a Ordem de Cister tem 500 mosteiros em toda a Europa.
Considerado um ortodoxo, defendendo sempre a doutrina oficial da Igreja, Bernardo foi o “padrinho” dos Templários junto da Santa Sé, conseguindo a sua aprovação pelo Papa e dando à Ordem do Templo as regras que ele escreveu pelo seu próprio punho, daí se dizer que as regras do Templo eram semelhantes às da Ordem de Cister. Terão os templários partilhado com ele o seu segredo e assim a Ordem de Cister se expandiu também rapidamente? Seria a sua ortodoxia um escudo por detrás do qual manipulou os poderes da época?
Se os Templários possuíam um segredo capaz de abalar as estruturas do Cristianismo e da própria Igreja, esse segredo perdeu valor e entrou em descrédito depois da perseguição desencadeada por Filipe IV de França, o Belo. Acusando os Templários de heresia e de perda do sentido de missão para a qual a Ordem havia sido fundada, retirou qualquer credibilidade ao segredo que eventualmente os templários possuíssem. Apesar de absolvidos da heresia pelo Papa Clemente V, isto não obstou a que fossem torturados pela Inquisição e muitos queimados vivos, incluindo o seu Grão-Mestre, Jacques de Molay.
Depois desta absolvição não faz nenhum sentido que continuassem a ser perseguidos, torturados e queimados, a não ser que se quisesse eliminar qualquer vestígio deles à face da Terra. Por outro lado a teoria de que o rei Filipe IV desencadeou essa perseguição para deitar mão às riquezas templárias, pode isto ter sido uma das consequências, mas não, certamente, o que a motivou.
Para podermos compreender melhor o que poderia ser esse segredo, vamos voltar aos primeiros tempos do Cristianismo, vamos voltar a Paulo de Tarso. Quem era, efectivamente, Paulo ou Saulo de Tarso? De acordo com a Wikipédia, “O apóstolo Paulo de Tarso, cujo nome original era Saulo, é considerado por muitos cristãos como o mais importante discípulo de Jesus e, depois de Jesus, a figura mais importante no desenvolvimento do Cristianismo nascente.” Para além de outras considerações esta é a ideia que nos tem vindo a ser transmitida ao longo do tempo. Mas quem era o verdadeiro Paulo?
Tradicionalmente, Paulo é considerado o grande combatente contra os gnósticos heréticos. No entanto, os sábios gnósticos do início do século II consideravam Paulo o maior Apóstolo e veneravam-no por ele ter sido a inspiração do Cristianismo gnóstico. Muitos grupos gnósticos atribuíam a Paulo a sua fundação, chamando-se eles próprios de paulistas, apesar da perseguição da Igreja romana até ao século X. Se Paulo foi tão antignóstico como a Igreja reclama, é estranho que seja citado em inúmeros textos gnósticos e que alguns lhe sejam atribuídos. A biblioteca de Nag Hammadi inclui “A Oração do Apóstolo Paulo”, “O Apocalipse de Paulo” e “Os Actos de Paulo”. Este último descreve Paulo viajando com uma companheira chamada Tecla, uma mulher que efectuava baptismos.
Paulo escreve cartas a sete igrejas em sete cidades, conhecidas como centros de Cristianismo gnóstico. Das treze cartas que constam do Novo Testamento, apenas sete são consideradas genuínas, as outras são falsificações acrescentadas mais tarde. Somente nas chamadas cartas pastorais dirigidas a Timóteo e Tito, consideradas universalmente como falsificações, é que Paulo se revela antignóstico. Nestas cartas Paulo é posto a condenar veementemente as doutrinas gnósticas.
Por via destas cartas pastorais, Paulo é transformado de gnóstico em antignóstico. Na primeira metade do século II, Clemente, bispo de Roma, nega terminantemente o estatuto de Paulo como Apóstolo, dizendo inclusive que Paulo nunca viu efectivamente o Cristo ressuscitado. A revelação de Paulo na estrada de Damasco é considerada como um fenómeno demoníaco. Pedro, por sua vez, considera Paulo como seu inimigo, que convenceu alguns gentios a rejeitar a lei judaica e a ensinar coisas tolas e heréticas. Paulo é considerado um elemento de divisão do Cristianismo, inspirado por Satanás, um elemento perigoso que deveria ser expulso da Igreja.
Paulo foi contemporâneo de Jesus mas, por incrível que pareça e sendo Paulo um dos sacerdotes do templo de Jerusalém, nunca se encontrou com Jesus. Nas suas cartas verdadeiras nunca se refere a Jesus como alguém que tenha existido, refere-se ao Cristo que, em termos gnósticos significa o Cristo interno de cada um. Nas suas cartas verdadeiras usa muitos termos caros aos gnósticos como pneuma (espírito), gnosis (conhecimento divino), doxa (glória), sophia (sabedoria), teleoi (o iniciado), etc.
Paulo escreveu em grego e só faz citações da versão grega do Antigo Testamento. O seu trabalho relaciona-se com as cidades pagãs dominadas pela cultura grega. Assim, Antioquia era um centro dos Mistérios de Adónis, Éfeso era um centro dos Mistérios de Átis e Corinto o centro dos Mistérios de Dionísius. Natural de Tarso, esta cidade era o centro da filosofia pagã, ultrapassando na época Atenas e Alexandria. Tarso era a cidade onde se originaram os Mistérios de Mitra e não é possível imaginar que Paulo não se tenha dado conta das semelhanças entre estes Mistérios e as doutrinas cristãs.
Tal como os gnósticos, Paulo era extremamente depreciativo acerca das manifestações externas da religião – cerimónias, dias santos, regras, leis. Tal como os gnósticos, afirmava que os verdadeiros cristãos se tornavam em Cristo. À semelhança dos gnósticos, Paulo não prega a servidão á Lei, mas a liberdade espiritual através da Gnose. Vai ao ponto de declarar a Lei de Jeová, tradicionalmente sagrada, a própria base da religião judaica, ser uma maldição e que Cristo nos resgatou dessa Lei. Para Paulo, assim como para os gnósticos, através da partilha do sofrimento e da ressurreição de Cristo, o iniciado cristão pode ser redimido da Lei e libertado: “Agora, tendo morrido, estamos para além do alcance da Lei que nos subjugava”.
É provável que haja quem discorde do que aqui fica escrito, que afinal a Bíblia não diz nada disso, que Paulo se refere a Jesus como pessoa física, pois basta ler a Carta aos Romanos. Pois é, mas a Bíblia tem sofrido inúmeras alterações à sua versão original, adaptando o seu texto conforme os interesses do momento. Dou como exemplo o Evangelho segundo João. Logo no prólogo, as actuais Bíblias dizem: “No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus”. A anterior fraseologia dizia o seguinte: “No início era o Verbo: o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”. Parece que não, mas trata-se de uma alteração que adultera completamente o texto original, pois Verbo não é a palavra, Verbo é muito mais do que a palavra, Verbo é o som primordial através do qual a vida foi criada. Os budistas sabem isto e por isso usam os mantras, que são sons, não são palavras. Por outro lado cada uma das versões actuais do Cristianismo adaptou a Bíblia, principalmente o Novo Testamento, à sua medida. Assim, a Bíblia católica não é igual à Protestante, esta não é igual à Evangélica, etc., etc.
Para terminar, não vou revelar qual é o segredo maior, ele está implícito neste texto e nos outros que tenho vindo a escrever sobre o assunto. Cada um é livre de pensar o que quiser, ou de não pensar e agarrar-se à crença como resposta para todas as dúvidas.
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Uma Crise Anunciada!
Como eu não entendo nada de economia, me expliquem por favor o que é essa crise financeira, crediária, hipotecária, económica, que estourou nos EUA e ameaça estender-se a todo o mundo, com consequências que ninguém sabe, exactamente, quais serão. Parece que os bancos emprestaram dinheiro para as pessoas poderem comprar casas, o que é absolutamente normal. Mas continuaram a emprestar mesmo depois do valor das casas começar a cair, para as pessoas poderem fazer negócios para além das suas próprias casas, o que deixa de ser normal. Resultado: com tanto dinheiro emprestado sobre valores imobiliários muito superiores aos que atingiram depois da queda desses valores, pimba, os bancos deixaram de receber o que tinham a receber e começaram a não ter dinheiro suficiente para honrar os seus depósitos. Mais grave ainda, emitiram uma espécie de acções sobre os créditos concedidos e venderam essas acções nas bolsas de todo o mundo. Como consequência, parece que há não sei quantos bilhões de dólares em créditos incobráveis e não sei quantos bilhões de dólares em papeis sem valor na posse de muitos bancos ao redor do mundo. Este é o retrato que alguém vê quando, como eu, não percebe nada de economia. Aliás, nem sei se alguém hoje entende o que se está a passar e o que se avizinha.
A ideia que ressalta de toda esta situação, é a de que a economia dos países assenta hoje sobre bases falsas. Quando as moedas deixaram de ser garantidas pelo ouro depositado nos bancos centrais de cada país, passaram a ter um valor apenas facial, quer dizer, passaram a valer apenas o que estava escrito nos papeis moeda, valor apenas garantido pelo Estado. O valor relativo de uma moeda em relação às outras, situação conhecida como cambial, passou a depender de um conjunto de factores, como o produto bruto interno, o saldo da balança de pagamentos, a quantidade de moeda externa existente internamente, etc., enfim, um emaranhado de situações que não corresponde hoje a nenhum padrão. Por exemplo, no Brasil, a moeda local, o real, tem vindo a valorizar-se em relação ao dólar pela simples razão de existirem dólares em excesso no mercado interno e o saldo da comercial entre importações e exportações é ainda favorável em cerca de 4 bilhões de dólares. A grosso modo e perdoem-me os especialistas, é isto o que acontece.
Evidentemente que a crise que se vive actualmente resulta do excessivo consumismo promovido incessantemente na sociedade, levando esta a consumir cada vez mais coisas que não precisa e a endividar-se cada vez mais. Depois resulta também da competição entre as empresas na conquista de mercados, oferecendo facilidades de crédito sem quaisquer garantias.
Há uns dois ou três anos que ouço falar na crise do mercado imobiliário nos EUA. Não acredito que os bancos americanos não soubessem da situação e que esta se estava a tornar perigosa. Mesmo assim continuaram a emprestar dinheiro. Não acredito que os bancos internacionais também não estivessem informados. Mesmo assim, compraram os tais papeis emitidos pelos bancos americanos e que agora não têm nenhum valor.
Mas nada parece estar perdido, o Estado americano tem um plano de empréstimo (é empréstimo?) para salvar os bancos e as instituições financeiras da bancarrota, qualquer coisa como 800 mil bilhões de dólares, uma quantia que não consigo sequer imaginar. A Comunidade Europeia parece que quer fazer a mesma coisa para salvar os bancos que compraram os tais papeis falsos. Injectando todo esse dinheiro, as instituições financeiras passam a ter de novo liquidez e podem continuar a operar no mercado. Mas… quem vai pagar tudo isso? Onde é que o Estado americano vai buscar esse dinheiro todo? Vai simplesmente emitir papel moeda, aumentando a sua dívida interna que julgo que é a maior do mundo e que nunca será paga certamente? Vai continuar a fomentar guerras para se recuperar à custa da desgraça dos outros?
Os tempos que se avizinham estão carregados de perspectivas sombrias. Sabemos quem é que irá pagar a factura, não serão certamente aqueles que provocaram toda a situação. Provavelmente os países fornecedores de matérias primas verão os preços desses produtos baixarem demasiadamente, aumentando a sua pobreza e dependência; teremos muito provavelmente uma grande carestia de vida, acompanhada por uma subida em flexa dos impostos. O dinheiro poderá perder completamente o seu valor e as propriedades não terão qualquer valor pois não haverá dinheiro para comprá-las. Estarei a ser demasiadamente pessimista? Aguardemos.
A ideia que ressalta de toda esta situação, é a de que a economia dos países assenta hoje sobre bases falsas. Quando as moedas deixaram de ser garantidas pelo ouro depositado nos bancos centrais de cada país, passaram a ter um valor apenas facial, quer dizer, passaram a valer apenas o que estava escrito nos papeis moeda, valor apenas garantido pelo Estado. O valor relativo de uma moeda em relação às outras, situação conhecida como cambial, passou a depender de um conjunto de factores, como o produto bruto interno, o saldo da balança de pagamentos, a quantidade de moeda externa existente internamente, etc., enfim, um emaranhado de situações que não corresponde hoje a nenhum padrão. Por exemplo, no Brasil, a moeda local, o real, tem vindo a valorizar-se em relação ao dólar pela simples razão de existirem dólares em excesso no mercado interno e o saldo da comercial entre importações e exportações é ainda favorável em cerca de 4 bilhões de dólares. A grosso modo e perdoem-me os especialistas, é isto o que acontece.
Evidentemente que a crise que se vive actualmente resulta do excessivo consumismo promovido incessantemente na sociedade, levando esta a consumir cada vez mais coisas que não precisa e a endividar-se cada vez mais. Depois resulta também da competição entre as empresas na conquista de mercados, oferecendo facilidades de crédito sem quaisquer garantias.
Há uns dois ou três anos que ouço falar na crise do mercado imobiliário nos EUA. Não acredito que os bancos americanos não soubessem da situação e que esta se estava a tornar perigosa. Mesmo assim continuaram a emprestar dinheiro. Não acredito que os bancos internacionais também não estivessem informados. Mesmo assim, compraram os tais papeis emitidos pelos bancos americanos e que agora não têm nenhum valor.
Mas nada parece estar perdido, o Estado americano tem um plano de empréstimo (é empréstimo?) para salvar os bancos e as instituições financeiras da bancarrota, qualquer coisa como 800 mil bilhões de dólares, uma quantia que não consigo sequer imaginar. A Comunidade Europeia parece que quer fazer a mesma coisa para salvar os bancos que compraram os tais papeis falsos. Injectando todo esse dinheiro, as instituições financeiras passam a ter de novo liquidez e podem continuar a operar no mercado. Mas… quem vai pagar tudo isso? Onde é que o Estado americano vai buscar esse dinheiro todo? Vai simplesmente emitir papel moeda, aumentando a sua dívida interna que julgo que é a maior do mundo e que nunca será paga certamente? Vai continuar a fomentar guerras para se recuperar à custa da desgraça dos outros?
Os tempos que se avizinham estão carregados de perspectivas sombrias. Sabemos quem é que irá pagar a factura, não serão certamente aqueles que provocaram toda a situação. Provavelmente os países fornecedores de matérias primas verão os preços desses produtos baixarem demasiadamente, aumentando a sua pobreza e dependência; teremos muito provavelmente uma grande carestia de vida, acompanhada por uma subida em flexa dos impostos. O dinheiro poderá perder completamente o seu valor e as propriedades não terão qualquer valor pois não haverá dinheiro para comprá-las. Estarei a ser demasiadamente pessimista? Aguardemos.
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