terça-feira, 23 de janeiro de 2007

A Ordem do Templo e os Descobrimentos Portugueses (1ª Parte)

Introdução
Falar da Ordem do Templo, mais conhecida vulgarmente como Ordem dos Templários ou, simplesmente, Templários, em ligação com os Descobrimentos Portugueses pode parecer à primeira vista estranho pois, aparentemente, nada tem a ver uma coisa com a outra: a Ordem do Templo aparece no início do século XII, fundada oficialmente em 1118, e os Descobrimentos Portugueses começam quase três séculos mais tarde, no final do século XIV, e prolongam-se pelo século XV e início do século XVI. Quando se iniciam as primeiras viagens marítimas dos portugueses, já a Ordem do Templo fora extinta por decreto papal (bula), os seus membros perseguidos, torturados e mortos, principalmente em França, país de onde terão saído os cavaleiros que a haviam criado.
Existem centenas, talvez milhares de livros sobre a Ordem do Templo. No entanto, quanto mais se escreve, quanto mais se pesquisa parece que os mistérios que a rodeiam se adensam, tornando-nos incapazes de perceber como é que uma organização inicialmente criada sob um voto de pobreza (ela chamava-se “Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo”, com a finalidade de defesa dos peregrinos em viagem à Terra Santa e Jerusalém, se torna num curto espaço de tempo na organização mais poderosa e mais rica da Europa, ao ponto de não só o papa, como reis e imperadores preferirem manter as melhores relações com ela a enfrentar o seu poder de alguma forma. Durante o tempo em que existiu, a Ordem do Templo era quem mandava, efectivamente na Europa.
Nessa altura, a Europa era o mundo. Nada mais existia a não ser mitos e fantasias. O mundo reduzia-se ao Oriente próximo, norte de África e, especialmente, a Europa. Mandando na Europa, os Templários eram na verdade os senhores do mundo.
O conhecimento que eles demonstraram ter na época ainda hoje nos espanta. Vivendo em pleno final da Idade Média, uns dois séculos antes do movimento renascentista, eles dominavam a matemática e a arquitectura com conhecimentos que ultrapassavam em muito o que se sabia na época. Como exemplo deste conhecimento deixaram-nos aquelas jóias maravilhosas chamadas de catedrais góticas cujos segredos de construção há muito perdidos continuam a fascinar os arquitectos de hoje. Eles fizeram com que o comércio se desenvolvesse de maneira espantosa ao criarem a “carta de crédito”, uma inovação que dinamizou os negócios a distância e fez desaparecer os perigos do transporte de grandes somas em dinheiro (ouro), sempre sujeito a roubos e assaltos nas estradas europeias. Assim, por exemplo, alguém em França que tivesse negócios com Espanha e precisasse de efectuar o pagamento entregava o valor aos templários em França, que emitiam a “carta de crédito”. Em Espanha os Templários devolviam o dinheiro mediante a “carta de crédito” apresentada, deduzindo naturalmente os juros da transacção. Podemos dizer que foram eles os fundadores das modernas instituições bancárias.
Por outro lado, no plano esotérico ou espiritual, eles apoderaram-se e ocuparam todos os pontos onde, desde a mais remota antiguidade se sabia serem pontos de energias telúricas especiais. O paganismo havia aí construído os seus locais de culto. Os templários substituíram-nos por capelas devotas à Senhora do Ó, a São Miguel, a Maria Madalena.
Os Templários foram, no seu tempo, o que podemos chamar de uma “grande multinacional”, uma vez que operavam em quase todos os países existentes na época com uma organização uniforme. Eles foram o que a Igreja Católica veio a ser mais tarde, por meios menos lícitos, principalmente a partir da Inquisição. Os Templários tinham uma hierarquia perfeitamente definida, uma regra única e espalhavam-se pelos diversos países na forma de Priorados, cada um dos quais com a sua própria hierarquia encabeçada pelo Grão-Mestre. As autoridades locais, os reis, os imperadores, não tinham nenhum poder sobre eles – eram como um Estado dentro de outro Estado.
Tendo sido inovadores na sua organização como protótipos das grandes multinacionais dos dias de hoje, foram também inovadores nos aspectos de publicidade e “marketing”, a grande arma das empresas dos nossos dias. Eles lançaram talvez a primeira grande campanha de “marketing” de que há registo na História, que foi a saga dos Cavaleiros da Távola Redonda, do Rei Artur e a demanda do Santo Graal. Não se sabe bem se o rei Artur existiu de facto ou se foi a transformação em mito de uma divindade celta. Não se sabe bem onde ficava Avalon, A maioria apontam-na em Inglaterra mas a saga do rei Artur fala da Bretanha, e a Bretanha, região de grande implantação celta, fica situada no noroeste da França. Por outro lado a historia do rei Artur e dos seus cavaleiros da Távola Redonda é escrita mais de 500 anos depois da sua provável existência.
A demanda do Santo Graal é também escrita no século XII, época de grande expansão templária na Europa. Os seus principais escritores, Chrétien de Troyes e Wolfram von Eschenbach viveram nesse século.
As virtudes atribuídas aos Cavaleiros da Távola Redonda são as virtudes atribuídas aos Cavaleiros Templários. Os Cavaleiros Templários são também considerados como os “Guardiães do Santo Graal”. Foi esta a grande primeira campanha de “marketing” que se conhece da História e catapultou os Templários, tornando-os conhecidos, respeitados e temidos em toda a Europa, e adensando os mistérios que os rodeavam.
António José Saraiva, ilustre historiador da cultura portuguesa, afirma que os “os templários são ainda hoje (e sobretudo hoje) uma instituição difícil de entender”. Para Paulo Alexandre Loução, autor de alguns livros sobre os templários, diz que “não poderia estar mais de acordo. Estando a Ordem do Templo tão ligada ao gnosticismo primitivo e à tradição esotérica universal, tal não é para admirar. A seu ver, só podemos compreender esta Cavalaria dó Graal, penetrando, na medida do possível, na sua missão esotérica”.
Como verdadeira Escola de Mistérios, a Ordem do Templo encerra em si, ainda hoje, muitos mistérios. Ninguém sabe qual a razão da sua formação e quais eram os seus reais objectivos. Sabe-se apenas que 9 Cavaleiros demandaram a Palestina integrados na 1ª Cruzada e aí fundaram a Ordem, inicialmente como Milícia dos Pobres Cavaleiros de Cristo, com a missão de defenderem os peregrinos à Terra Santa. Destes 9 Cavaleiros, alguns estão perfeitamente identificados, como Hughes de Payens, que foi seu primeiro Grão-Mestre entre 1118 e 1136. Seriam todos oriundos do centro da Europa, França, mas sobre alguns existem sérias dúvidas sobre a sua verdadeira identidade.
O que motivou estes 9 Cavaleiros a formarem a Ordem do Templo? Victor Mendanha diz no seu livro “História Misteriosa de Portugal” que, “por detrás de uma Ordem Secreta existe sempre outra Ordem Secreta”. Raymond Bernard, no seu livro “As Mansões Secretas da Rosacruz” informa-nos de que Cavaleiros e Mestres Espirituais de várias regiões da Europa se terão reunido na famosa “Gruta Ferrata”, próximo de Roma, e aí, numa cerimónia muito especial, terão decidido a criação da Ordem do Templo. Para alguns, esta reunião teria sido realizada por uma sociedade secreta, hoje tão controversa, denominada “Priorado do Sião”. O que é facto é que a tradição fala de uma colaboração estreita entre a Ordem do Templo e o Priorado do Sião, sendo aquela o braço armado desta. Esta colaboração terá cessado por motivos que ainda hoje desconhecemos e teria sido consumada numa cerimónia denominada “O Corte do Olmo”.
Os reais objectivos da Ordem do Templo permanecem na obscuridade. Aqueles 9 Cavaleiros mantiveram-se em Jerusalém durante 9 anos. Durante este tempo não há notícia de terem admitido mais ninguém nas suas fileiras. Não vemos como é que uma força de 9 Cavaleiros poderia oferecer alguma protecção eficaz aos peregrinos da Terra Santa. Conta-se que tomaram como residência inicial os antigos estábulos do Templo de Salomão e aí terem descoberto segredos que lhes permitiram desenvolver rapidamente a sua organização e atingirem um poder tal que os colocava acima dos soberanos da época. Para mim, como mais tarde se veio a demonstrar na génese de Portugal, os seus objectivos eram dois:

· Entrar em contacto com o gnosticismo das primitivas igrejas cristãs.
· Entrar em contacto com o mundo esotérico islâmico.

Desta forma pretendia-se unir a tradição ocidental com a tradição oriental.
O que é facto é que alguma coisa aconteceu durante a permanência desses 9 Cavaleiros em Jerusalém. Não é possível atingir-se o poder que a Ordem do Templo atingiu se não se possui um grande segredo que atemorize os senhores mais poderosos da Terra, reis, imperadores e a Igreja de Roma. Que segredo era esse? Talvez documentos sobre a verdadeira história de Jesus e as primitivas igrejas cristãs.
Como se sabe, foi S. Jerónimo que compilou os Evangelhos e os organizou na vulgata, para nós designada como Bíblia. Numa carta aos bispos Chromatius e Heliodorus fala de um Evangelho secreto de S. Mateus, escrito em hebraico pelo próprio punho de S. Mateus. Segundo S. Jerónimo “continha matérias que são mais para destruir (a igreja de Roma) do que para edificar.
A Ordem do Templo, apesar da vastíssima e variada documentação publicada a seu respeito, muita da qual não corresponde minimamente à verdade, continua, depois de toda a pesquisa que tem sido efectuada, a guardar um segredo, aparentemente inviolável. Segundo Fernando Pessoa, ela foi implantada para tentar encontrar o segredo que foi perdido. Diz mais Fernando Pessoa:

“Cristo foi morto pela incompreensão dos judeus, pelo fanatismo da Ordem Sacerdotal e pelo poder da Ordem Materialista de Roma.
A Ordem do Templo foi morta pela incompreensão de alguns dos seus membros, que a denunciaram, pelo fanatismo de Roma e pela Ordem Temporal na pessoa do rei de França.
Morta deste modo, só a sua morte sobreviveu, e a demanda consiste em descobrir o que se esconde sob ela”.


Os Templários em Portugal
Alguém já afirmou que Portugal foi fundado como uma nação templária. Esta não é uma afirmação gratuita pois há numerosos indícios que nos podem levar a essa conclusão.
A fundação de Portugal e da Ordem do Templo acontecem ao mesmo tempo: a Ordem do Templo foi fundada em 1118 e, ainda que a independência definitiva de Portugal só tenha ocorrido em 1143, podemos considerar que a batalha de S. Mamede, de D. Afonso Henriques contra sua mãe D. Teresa em 1128, no dia de S. João Baptista, estabelece a independência de facto. S. João Baptista é o santo mais venerado pelos Templários. Coincidência? Vejamos.
Dentro da Igreja Católica o grande defensor e promotor da Ordem do Templo junto ao Papa, e que lhe confere as regras à semelhança das da Ordem Monástica de Cister, é o abade Bernardo de Claraval, hoje S. Bernardo. É através dele que a Ordem do Templo é reconhecida pela Igreja de Roma. Bernardo de Claraval é primo do Conde D. Henrique, que é natural da Borgonha e que veio para a Península Ibérica onde lhe foi dado a governar o Condado Portucalense. D. Henrique esteve na Terra Santa pouco antes da fundação da Ordem do Templo.
O Conde D. Henrique, esposo de D. Teresa e pai do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, é oriundo da Borgonha, região de onde partiram alguns dos Cavaleiros que fundaram a Ordem do Templo. Desta forma, D. Afonso Henriques também era primo de Bernardo de Claraval.
Bernardo do Claraval é também o grande advogado e defensor da independência de Portugal, e foi graças à sua influência junto da Santa Sé que a independência de Portugal foi reconhecida pelo Papa.
Os 9 Cavaleiros fundadores da Ordem do Templo permanecem em Jerusalém até, pelo menos, ao ano de 1127. No entanto. Há registos de que os Templários já estavam instalados em Portugal em 1126, pertencendo-lhes já nessa altura as terras de Font’Arcada e o castelo de Soure, doações feitas por D. Teresa, na altura já viúva do Conde D. Henrique.
Na batalha de S. Mamede, o então infante D. Afonso Henriques vence as forças de sua mãe, D. Teresa, e toma as rédeas do poder. D. Afonso Henriques, já aclamado rei, concede à Ordem de Cister, a Ordem de S. Bernardo, vastas regalias e privilégios, doação de terras e construção do Mosteiro de Alcobaça.
O território português abrange quase a totalidade da antiga Lusitânia, nome que etimologicamente significa “expansão da luz”. Luz, como todos sabemos significa “conhecimento”. Não quer dizer que o conhecimento tivesse origem na Lusitânia, mas que lhe competia expandi-lo recolhendo-o de onde ele estivesse. E foi isto mesmo que aconteceu mais tarde. Portugal levou e trouxe; levou o que de melhor havia na Europa em matéria de conhecimento científico e trouxe para a Europa o conhecimento de outros povos. Esta missão, prevista ou não pelos Templários, mas queremos acreditar que sim, no dizer de Jaime Cortesão, na sua “História dos Descobrimentos Portugueses” “(…) a obra da unificação humana.”
Mas para que esta obra de unificação humana pudesse ser realizada, era necessário reunir os meios e as condições. A fundação de Portugal, no extremo ocidental da Europa, virado para o grande mar Atlântico, cumpria uma das primeiras condições. A outra seria a de expandir o seu território e garantir a independência e estabilidade de fronteiras. A Ordem do Templo teve participação muito activa na conquista e consolidação do território português, alargando as suas fronteiras até às que hoje ainda conserva, tornando Portugal o país com as fronteiras mais antigas da Europa.
Já vimos que um dos objectivos da Ordem do Templo na Palestina era o de entrar em contacto com o gnosticismo primitivo das primeiras igrejas cristãs. Ora ninguém sabe como é que o Cristianismo chegou à Península Ibérica. Talvez tivesse chegado pelo norte de África, uma vez que se mantinham contactos e relações entre a península e os estados mouros africanos. No século IV surgiu um movimento gnóstico cristão que marcou de forma indelével a religiosidade dos povos da Galiza e da Lusitânia. A este movimento chamou-se “Priscilianismo. Este movimento está na base do cristianismo português que mais tarde os Templários, a Ordem de Cister, a rainha Stª Isabel, os frades franciscanos e a Ordem de Cristo modelaram.
Aquele que deu o nome ao movimento, Prisciliano, era um galego rico, instruído e de estirpe nobre. Aparentemente viajou pelo Egipto e pela Síria onde se terá iniciado nas doutrinas gnósticas. Ao chegar ao território que mais tarde veio a ser Portugal, encontrou já um grupo de gnósticos liderado por um Mestre Marcos. O priscilianismo, logo catalogado de heresia pela Igreja de Roma, teve forte implantação no território e durou até à fundação de Portugal.
O priscialianismo era uma Confraria formada por uma elite muito culta e que, paradoxalmente, teve também forte adesão popular. Praticavam o ideal da fraternidade humana, tinham reuniões nocturnas e secretas e o seu ensinamento era iniciático, razão pela qual o voto de silêncio era total. A Confraria era formada por homens e mulheres, estando estas em total igualdade com aqueles, tendo muitas um papel activo nas liturgias, como era norma entre os movimentos gnósticos. Defendiam o livre exame e a investigação individual das escrituras e adoptaram muitos dos Evangelhos apócrifos.
Este movimento foi considerado herético pela Igreja de Roma, que não podia permitir que a sua doutrina prosperasse, pois já suscitara a atenção de gente tão importante como Sto. Agostinho. Prisciliano acabou por ser assassinado legalmente pela Igreja de Roma, em nome de Deus e do Cristianismo.
Os Templários encontraram assim terreno fértil para a sua implantação.
A Ordem do Templo tinha duas faces, a invisível e a visível. A invisível era secreta e constituía o seu núcleo duro. A face visível era a manifestação da vontade ditada pela face invisível. Não é de estranhar assim que, D. Afonso Henriques tenha pertencido a essa face invisível, tal foi a colaboração que ele recebeu da Ordem nas suas campanhas de conquista do território. Não se sabe qual a função que ele desempenhava na Ordem, mas tratando-se do monarca, essa função teria que ser importante.
Com o alargamento territorial impunha-se estabelecer as bases da sua administração e defesa. As Ordens Monásticas, principalmente as que tinham uma componente guerreira, foram as grandes beneficiadas na distribuição de terras e doações. A Ordem do Templo recebeu uma parte importante dessas doações. Muitos dos castelos localizados em pontos estratégicos foram construídos pela Ordem do Templo.
Os Templários tinham particular estima por S. João Baptista e São Miguel Arcanjo. Já vimos que a batalha de S. Mamede foi travada no dia de S. João Baptista. O Patrono de Portugal até ao século XVII era São Miguel Arcanjo transformado em S. Jorge.
Os reis que sucederam a D. Afonso Henriques, sempre ajudados pelos Templários, continuaram o trabalho de consolidação territorial, estabelecendo as fronteiras mais antigas da Europa. Mas foi com D. Dinis que os meios ganharam um forte impulso. Quando falo em meios, quero dizer que não é possível um país, grande ou pequeno, lançar-se numa aventura marítima, como o fez Portugal, se não tiver os navios e os materiais para os construir.
D. Dinis foi rei entre 1279 e 1325. Os Descobrimentos Portugueses começaram com a redescoberta da Ilha da Madeira em 1420 e dos Açores em 1427 no reinado de D. João I, cerca de 100 anos depois de D. Dinis. Casado com Isabel, princesa de Aragão, mais tarde rainha Sta. Isabel, D. Dinis foi autor de uma obra extraordinária:

· Desenvolveu a agricultura tornando o país autónomo neste capítulo
· Fundou a Universidade de Coimbra, uma das mais antigas do mundo.
· Como pessoa de grande cultura para a época, apoiou as artes e as letras, ele próprio poeta e autor de numerosos poemas e “cantigas de amigo” e “cantigas de maldizer”.
· Desenvolveu a construção naval, criando uma armada.
· Conduziu as negociações e firmou o primeiro tratado de aliança com a Inglaterra, um tratado que ainda se encontra em vigor e foi útil a Portugal em diversas ocasiões.
· Mandou florestar o território e plantar pinhais, como o de Leiria, que viriam a dar, 100 anos mais tarde a matéria-prima para a construção das caravelas que viriam a navegar por todo o planeta.
· Foi um diplomata de enorme talento, como ficou provado na questão dos Templários.

A forma como D. Dinis tratou a questão dos Templários foi talvez a realização mais notável do seu reinado.
Felipe IV de França, conhecido como Felipe o Belo, temeroso do poder da Ordem do Templo, que constituía um Estado dentro do Estado, e ambicionando as riquezas que esta parecia possuir, com o apoio do Papa Clemente V mandou prender todos os Cavaleiros do Templo, numa sexta-feira dia 13 de Outubro de 1307. O Papa aprovou a extinção da Ordem do Templo no Concílio de Viena em 1312. A maioria dos Templários foi executada na fogueira, incluindo o seu Grão-Mestre Jacques de Molay, em 1314. O rei Filipe tentou tomar posse dos tesouros dos templários, no entanto quando seus homens chegaram ao porto, a frota templária já havia partido misteriosamente com todos os tesouros, e jamais foi encontrada. Os possíveis destinos dessa frota seriam Portugal, onde os templários seriam protegidos; Inglaterra, onde se poderiam refugiar por algum tempo, e Escócia onde também se poderiam refugiar com bastante segurança.
É de supor que essa frota ou parte dessa frota tenha demandado portos portugueses.
Quando D. Dinis recebeu instruções de Roma para extinguir a Ordem do Templo e prender os seus Cavaleiros, não fez nada disso. Rodeou a questão com rara mestria: protegeu os Templários portugueses e os que haviam fugido de França e procurado refúgio em Portugal; criou uma nova Ordem, a que chamou “Ordem de Cristo” e transferiu para ela todos os bens dos Templários e os próprios Cavaleiros; e o mais extraordinário de tudo, conseguiu a aprovação do Papa para esta mudança e para a nova “Ordem de Cristo”.
Que motivos tinha D. Dinis para assim proceder? Quando em toda a Europa os Templários foram perseguidos, presos, torturados e queimados na fogueira, D. Dinis protege-os e acolhe-os na “Ordem de Cristo” cujo emblema irá emoldurar as velas das caravelas portuguesas.
E o que é que teria motivado D. Dinis quando resolveu nacionalizar outras Ordens, como a de Santiago, libertando-a da dependência da Ordem do mesmo nome de Castela e Leão, como a Ordem de Avis, libertando-a dos laços que a ligavam à sua irmã castelhana “Ordem de Calatrava”.
A protecção da Ordem do Templo por D. Dinis começa logo no início do seu reinado. No livro do mestrado de Cristo da Chancelaria de D. Manuel I, podemos ler o seguinte:

“D.Dinis diz que o Mestre da Cavalaria do Templo lhe mandou dizer que ricos-homens, cavaleiros, alcaides e outros homens pousam nos casais e lugares da Ordem do Templo, e fazem muito mal e muita força, e filham ende pão e vinho, carne e cevada e outras cousas, contra a vontade sua e dos que hi moram.
Isso, diz El-Rei, só ele o pode fazer: quem o fizer ficará por seu inimigo”

Logo que a ordem do Papa foi recebida, D. Dinis determinou de imediato que ninguém tocasse nem nos bens nem nos próprios Cavaleiros, gorando assim a expectativa de muitos membros do clero que logo começaram a tentar apropriar-se de propriedades templárias. O próprio Papa, na altura João XXII, viu neutralizada pelo rei português a sua oferta do castelo de Tomar ao seu amigo Cardeal Bertrand.
D. Isabel, a esposa de D. Dinis, que viria a tornar-se santa pelos muitos milagres que lhe são atribuídos, foi a principal promotora do culto do Espírito Santo em Portugal. Este culto era muito caro aos templários que o haviam levado para Portugal e que também constituía uma heresia aos olhos de Roma. O aio de D. Isabel era Cavaleiro Templário. Quando o clero, apoiado por Roma, quis abolir o culto do Espírito Santo, nada pôde fazer, pois este culto tinha o apoio explícito do rei, da rainha, da Ordem do Templo e mais tarde da Ordem de Cristo.

Sem comentários: