segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Crónicas Avulsas

A Cura e a Oração

A oração tem o poder de curar? Habituámo-nos a ouvir falar de curas milagrosas, normalmente acontecidas durante cerimónias em santuários, como no caso de Fátima e de Lourdes. Aparentemente, parece que por ali vão acontecendo autênticos milagres, em que pessoas sofrendo de doenças graves se vêem de repente curadas de todo o mal. A tradição desses locais conta-nos o que as pessoas sentem quando abençoadas por um desses milagres, que sentem um grande calor por todo o corpo, dores lancinantes na região enferma do corpo, ou mesmo uma grande sensação de paz e plenitude. No entanto, esses pretensos milagres colocam problemas sérios, mesmo à própria Igreja.
Para a ciência o termo milagre não faz qualquer sentido, uma vez que transcende todas as leis universais e portanto, é algo de aberrante. Dizer-se que é Deus que os faz ou que são entidades divinas que provocam essas ocorrências não melhora as coisas pois, se Deus criou tudo quanto existe, também criou as leis que regem todo o universo e portanto, um milagre é um atentado contra o próprio Deus. Contrariando esta argumentação há quem afirme que se Deus criou tudo, inclusive as leis que nos regem, então, apenas Deus poderá não as cumprir, ou abrir excepções. Claro que esta discussão não leva a lado nenhum, parte de pressupostos antagónicos quando hoje, na verdade, as coisas estão mais complicadas para o entendimento de cada um.
A Igreja, à medida que os séculos têm vindo a decorrer desde a época em que foi fundada, tem tomado posições dúbias em relação ao fenómeno dos milagres. Por um lado apoia-os, porque politicamente a situação lhe é favorável, na medida em que, através deles um maior número de fiéis adere à sua doutrina. Por outro lado teme-os, mais precisamente a sua proliferação, receando ser acusada de charlatanice. Nos últimos tempos parece que até para a própria Igreja, os milagres deixaram de existir.
No caso de Lourdes, onde diariamente há uma procissão de enfermos buscando a cura, a Igreja reconheceu até hoje 66 milagres. Muito pouco, tendo em atenção que as presumíveis aparições da Virgem à pequena Bernardete ocorreram em 1858 e, daí para cá, Lourdes terá recebido mais de 200 milhões de doentes e peregrinos, procurando remédio para os seus males. Os últimos três milagres terão acontecido em 1976, 1978 e 1999. Para ilustrar os embaraços da Igreja perante os milagres de Lourdes, em 1862, quatro anos após as aparições, proclamou 7 milagres. Depois disto remeteu-se ao silêncio até 1907. Nesta altura o Papa Pio X exortou os bispos franceses a reconhecerem os milagres, de preferência com grande aparato cerimonial, e assim, entre 1907 e 1913 houve 33 proclamações, justamente metade de todas as havidas desde as aparições até aos dias de hoje. Com a morte do Papa Pio X os bispos desinteressaram-se do assunto, e nada aconteceu até à Segunda Grande Guerra. A partir de 1946 os reconhecimentos eclesiásticos foram retomados, mas de forma contida, a conta-gotas. Cessaram de novo em 1965, ano do encerramento do Concílio Vaticano II.
Em Lourdes ocorre actualmente um problema ainda mais complicado, o das curas carismáticas. Neste caso, não se trata de milagres, até porque os carismáticos não gostam dessa palavra nem a usam, mas de curas realizadas através da imposição de mãos em determinadas cerimónias que, supostamente, resultariam na descida do fogo do Espírito Santo sobre aquele que está a ser tratado. Há um centro carismático que se proclama de ter uma percentagem de curas da ordem dos 98%, número que deixaria os médicos sem nada para fazer. A hierarquia da Igreja não reconheceu até hoje uma única dessas curas carismáticas.
No caso de Fátima posso estar muito enganado, mas não conheço um único relato sobre uma cura ali verificada, depois das aparições ocorridas em 1917. Os únicos milagres atribuídos a Fátima são aqueles ocorridos naquele ano em que a Virgem terá aparecido aos três pequenos pastores. Esses milagres são: a previsão do término da 1ª Grande Guerra, que ocorreu em 11 de Novembro de 1918; uma noite iluminada por uma luz desconhecida, a aurora boreal acontecida em 25 de Janeiro de 1938; a profecia de que uma outra grande guerra começaria no papado de Pio XI, que foi a 2ª Grande Guerra; o início do comunismo na Rússia, que começou justamente em 1917; o martírio da comunidade judaica às nãos dos nazis; a vitória do Imaculado Coração sobre os povos da Terra, em 25 de Março de 1984, João Paulo II consagrou a Rússia ao Imaculado Coração de Maria. O atentado ao Papa João Paulo II ocorrido num dia 13 de Maio, dia da primeira aparição, consta também dos presumíveis milagres, neste caso estaria contido dentro do denominado 3º segredo, mas o assunto é controverso, até para muitos dos componentes da hierarquia católica.
Uma das coisas curiosas e que não podem deixar de fazer pensar, é a de que todos os videntes, à excepção da irmã Lúcia, tanto de Lourdes como de Fátima, morreram muito jovens. Bernardete, a vidente de Lourdes, morreu aos 21 anos de idade; Jacinta e Francisco, as duas crianças que acompanhavam Lúcia em Fátima, morreram com 9 e 10 anos de idade respectivamente. Lúcia, a quem se devem todas as descrições sobre Fátima, teve uma vida inteira de clausura e morreu aos 98 anos de idade. Todos eles eram crianças analfabetas e pastores de ovelhas.
Ainda sobre os milagres de Fátima, há relatos que afirmam que, quando se deu o milagre do Sol, no dia 13 de Outubro de 1917, todos os que estavam presentes e sofriam de alguma maleita, se viram de repente curados. Não sei qual a veracidade destes relatos, mas não me lembro de ter lido nada sobre alguma cura fantástica que tenha acontecido naquela altura. Nem naquela altura nem depois.
Não duvido que, pontualmente e muito raramente, tenham ocorrido algumas curas extraordinárias em Lourdes e em Fátima. Não ocorrem com mais frequência porque os peregrinos que demandam aqueles santuários vão em busca de uma solução para os seus problemas individuais. Estive várias vezes em Fátima, no 13 de Maio e uma vez em Lourdes, e assisti ao que se passava com toda aquela gente reunida. Em Lourdes vi uma procissão de doentes com as mais diversas enfermidades pedindo a ajuda dos céus e a cura para os seus padecimentos; em Fátima, o 13 de Maio é quase uma romaria, parecida com muitas que há por todo o Portugal. Com muitos farnéis e grandes almoços e jantares, as pessoas esperam a bênção da Senhora ou dos céus para os seus problemas. Quero dizer, cada um “puxa a brasa à sua sardinha”. Se em vez disso, as pessoas direccionassem as suas preces num determinado objectivo, ou seja, que as suas preces fossem a favor de um único indivíduo, certamente que os resultados seriam bem maiores.
Explicando melhor, é tudo uma questão de concentração da energia. É como naquela experiência da lente que concentra os raios do Sol num único ponto e que, dessa forma, se consegue atear o fogo num molho de gravetos. Os raios do Sol, por si só, não queimam os gravetos, mas reunidos num feixe provocado pela lente, produzem grande calor. Para que as energias do universo, que são sempre construtivas, possam actuar num processo de cura, precisariam de ser reunidas num objectivo comum. Ora isto não acontece nas peregrinações desses santuários, cada um puxa para o seu lado, dispersando completamente a capacidade regeneradora das energias cósmicas.
A Mecânica Quântica veio trazer uma nova compreensão sobre o funcionamento do universo, da natureza e dos corpos que a compõem. Ao radicalismo de Newton e Einstein, em que tudo funcionava segundo leis matemáticas bem definidas, sucedeu a ideia das hipóteses ou probabilidades e, mais importante do que isso, a verificação de que o observador, pela sua simples observação, pode influir num acontecimento e modificar o seu resultado. Esta constatação veio abrir um vasto campo de especulações sobre o que realmente se passa, mas veio também abrir a mente científica para a exploração de hipóteses e fenómenos até há pouco tempo rodeados de grande mistério. Uma nova concepção do universo começou a nascer, levando os especialistas a verificarem cada vez mais que, o que se presumia ser um vazio no mundo da matéria ao nível atómico, não o é de facto, que poderosas energias repousam nesse mundo onde, depois de muitas experiências se descobriu que, afinal, o vazio não existe. Por outro lado, confirmou-se a presença de energias que poderiam explicar determinados fenómenos, antes tidos como inexplicáveis. Por causa disto os cientistas hoje preferem expressões como “ainda não sabemos”, “é provável” ou “pode ser”, em vez de darem certezas absolutas como se nada mais houvesse de misterioso a pesquisar.
Evidentemente que logo que todas estas verificações se tornaram conhecidas, apareceu um mundo de charlatães a tentar explorar esse filão de ouro inestimável que prometia revolucionar o conhecimento humano. A natureza humana é assim mesmo, há sempre gente que se aproveita das circunstâncias do momento para poder tirar vantagem, mesmo que à custa da ignorância que grassa entre a maioria da população do planeta. Essa gente descobriu, por exemplo, que a manipulação da energia se podia tornar num bom negócio, e assistimos então ao tremendo incremento que o “Reiki” conheceu nas sociedades ocidentais, quando já estava praticamente em desuso no Oriente, de onde é originado. Há até um guru muito conhecido, com muitos livros publicados, que não sabendo o que fazer a tanto dinheiro ganho, resolveu começar a coleccionar carros “Rolls-Royce”. Acho que a última contagem dava mais de trezentos carros desses.
Mas voltando ao assunto desta crónica, há cada vez mais gente ligada à ciência que aceita que a energia pode ser manipulada e dirigida para fins benéficos, não só através da imposição das mãos, técnica que os essénios e outros povos antigos já usavam, mas também através da prece ou oração, não importando o modo como é feita, nem o local onde é realizada. Tendo chegado à conclusão, através da Física Quântica, que uma partícula pode estar interligada com outra, não importando a distância que as separa, que pode ser de alguns centímetros ou uma e outra estarem em cada extremo dos universo, entenderam que o efeito de uma oração é o mesmo, independentemente do local em que ela seja feita. Os rosacruzes sabem disto há muito tempo, mas foi preciso que a Física Quântica lhes viesse dar razão para o assunto ganhar foros de grande novidade.
Cientes desta nova realidade, os médicos de um hospital de New York resolveram fazer algumas experiências. Contactaram vários grupos e pessoas que praticam a oração com frequência, independentemente da sua confissão religiosa e do local de habitação, e estabeleceram um programa de auxílio aos doentes graves através da oração. Estes grupos e pessoas que fazem parte do programa residem em diversas partes do mundo, desde os Estados Unidos à Índia, à Austrália, à África do Sul, etc. Assim, sempre que aparece um caso muito grave e necessita de uma cirurgia de alto risco, os grupos e as pessoas são avisadas para, a partir de determinada hora, que é o início da intervenção cirúrgica, se colocarem em oração. Os resultados têm-se mostrado assombrosos, de uma percentagem de 35 a 40 por cento de mortes ocorridas durante a operação cirúrgica, passou-se a uma percentagem mínima que não chega aos 5 por cento. Mais ainda, as complicações pós operatórias são praticamente inexistentes e os doentes melhoram muito rapidamente.
Este tipo de experiência vai ser implementado no Brasil por um hospital de São Paulo, com o auxílio de pessoas ligadas às várias confissões e práticas de natureza religiosa, desde a Umbanda ao Espiritismo, ao Catolicismo, etc.
Estas experiências vêm demonstrar o que afirmo acima, que a oração tem o poder de atrair as forças cósmicas para nosso benefício, neste caso para ajudar os doentes submetidos a operações perigosas. As orações são dirigidas para um objectivo específico: a cura do doente que está a ser submetido à intervenção cirúrgica. Ao contrário do que se passa nos santuários que referi, onde as orações ficam dispersas pelos interesses individuais de cada um, neste caso são concentradas num único objectivo. Mas não haja ilusões, a oração, só por si, não cura. O doente continua a precisar da intervenção médica, a qual recebe um precioso auxilia da energia cósmica regeneradora.
O programa que aqui referi levado a cabo por um hospital de New York e que um hospital de São Paulo está em vias de implementar algo semelhante, é um programa sério. Não tem nada a ver com o que algumas Igrejas Evangélicas fazem, ao convencerem os seus fiéis a cessarem os tratamentos porque Jesus ou Deus, invocado pelos pastores, os irá curar. O que tem acontecido, e parece que ninguém tem a coragem de exigir responsabilidades a esses pastores, as pessoas pioram e; às vezes, morrem.

14 de Janeiro de 2007

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