Acreditar que o mundo, o universo e o homem foram criados há cerca de seis mil anos, número deduzido do Génesis da Bíblia somando a idade dos patriarcas, é pura ignorância. Mas se a pessoa não é ignorante, de presumível cultura e conhecimentos, então passa à condição de imbecil. Pior ainda, se tenta convencer outros destas suas ideias criacionistas, será um imbecil de má fé.
É um facto que a ciência tem tido sérias dificuldades para chegar a um consenso sobre a origem e evolução do homem. Mas também é um facto incontroverso que todos os dias surgem mais pistas, mais fósseis são achados, o que não vem esclarecer nada, mas aumentar apenas a confusão E depois há essa coisa do elo perdido, quer dizer, não se percebe muito bem como é que o homem passou de um estágio a outro mais evoluído sem haver uma ligação visível com o estágio anterior. Mas se a confusão existe, é porque há muito material a ser investigado e muitas teorias a serem desenvolvidas de forma coerente, o que não justifica que nos voltemos para o criacionismo literal da Bíblia para resovermos a questão.
Apesar de tudo já se sabe muito sobre a ancestralidade do homem, ou do homo sapiens, como somos actualmente classificados. Apesar de ter havido vários homos, nenhum deles sobreviveu de modo a que pudéssemos achar um elo entre esses homos e o actual.
Durante muito tempo acreditou-se que o homo sapiens tivesse evoluído a partir do homem de Neanderthal, mas as análises recentes de DNA vieram demonstrar que não há nenhuma ligação genética entre os dois, embora tivessem sido mais ou menos contemporâneos há cerca de 200.000 anos. Em tempos mais remotos vamos encontrar vários espécimes de homo, como por exemplo o homo habilis, o ergaster ou o homo erectus, todos vivendo entre cerca de 2,4 e 1,25 milhões de anos atrás. Depois vem o homo heidelbergensis com uma antiguidade entre 800 e 300 mil anos. Há 160 mil anos terá vivido o homo sapiens idaltu, muito parecido anatomicamente com o homem actual. Em 2004 descobriu-se o homo floresiensis, que terá vivido há cerca de 12 mil anos e era praticamente um anão, de tamanho muito pequeno. O homo sapiens, os nossos verdadeiros ancestrais, surgiram há 200 mil anos.
Como é que este homo sapiens apareceu ninguém sabe verdadeiramente, daí o chamado elo perdido. Podemos até pensar numa intervenção alienígena, alterando geneticamente algum dos homos existente, a qual teria passado a intervenção divina em termos religiosos, mas se houve intervenção, foi há muito mais tempo dos que os 6 mil anos bíblicos. Seja como for, parece que os nossos antepassados eram africanos e, provavelmente, negros, para desespero dos ainda racistas, apesar de demonstrado que pode haver mais diferenças genéticas entre dois homens da mesma raça do que de raças diferentes.
Para comprovar a nossa origem africana, a Universidade da Califórnia realizou em 1986 uma pesquisa através do DNA mitocondrial, a parte do DNA que só se transmite pela via feminina, com o fim de tentar saber qual a nossa origem mais remota, a Eva primordial. Seleccionaram várias mulheres de várias raças e etnias e chegaram à conclusão de que todos temos origem numa Eva africana que terá vivido no sudeste daquele continente há 150 mil anos.
Nos últimos anos, grupos pertencentes principalmente a igrejas evangélicas e protestantes, têm levado a cabo nos EUA e Inglaterra uma verdadeira guerra jurídica exigindo que as escolas passem a ensinar o criacionismo bíblico em vez da teoria da evolução das espécies. Ou seja, pretendem apagar das mentes das crianças todo o conhecimento actual sobre a evolução da vida, substituindo-o pela crença de que o mundo e tudo o resto foi criado por Deus há seis mil anos. Para além da militância destes grupos protestantes, há também entre os católicos e os anglicanos quem acredite que o mundo não tem mais de seis mil anos.
Em recente discurso na Inglaterra, o reverendo anglicano Michael Reiss sugeriu que as escolas deveriam incluir o criacionismo no currículo escolar. O mais grave de tudo foi esta sugestão vir de alguém que tinha o cargo de director de educação da Royal Society, a mais famosa e prestigiada sociedade científica da Inglaterra. Estas declarações provocaram uma tempestade de reacções, a começar pela sua imediata demissão do cargo que ocupava na Royal Society. A Igreja Anglicana pediu desculpas públicas dizendo que a posição de alguns clérigos não é a posição oficial da Igreja, que nunca condenou Darwin pelas suas ideias. O Vaticano reagiu também dizendo que não há contradição entre as teorias evolucionistas e a fé católica.
Ponho-me a imaginar se algum desses clérigos atingisse o poder em alguns dos países onde se candidatam a cargos, incluindo o de presidente da república, como é que ficaria a educação. Voltaríamos aos tempos pré-Galileu?
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Segredos do Cristianismo - V - A Jihad Cristã
“Jihad” é um termo que se aplica quase exclusivamente ao Islamismo, em cujo livro sagrado, o “Alcorão”, que terá sido transmitido ao profeta Muhammad (Maomé) pelo anjo Gabriel, aparece umas vinte e três ou vinte e quatro vezes referido. O seu significado em termos literais quer dizer luta, combate. Na verdade, parece que o “Alcorão” não terá sido escrito por Muhammad, mas sim pelos seus seguidores após a sua morte e ascensão aos céus no local de Jerusalém hoje chamado de “Cúpula Dourada”, pois encima uma das principais mesquitas do Islão e foi também o local onde Abraão foi convidado por Deus a sacrificar o seu filho Isaac. O “Alcorão” terá assim sido compilado segundo relatos orais de Muhammad.
Segundo a interpretação de muçulmanos mais eruditos, este combate realiza-se a dois níveis: o interno e o externo. Internamente, trata-se da luta que o homem trava consigo mesmo, tentando controlar os seus desejos e emoções mais primárias para que se torne num homem justo de acordo com os mandamentos de Allah. Externamente é a luta pela defesa da Nação Islâmica, quando esta se encontra ameaçada.
Como em todas as religiões, existem os grupos e elementos mais radicais que interpretam as coisas à sua maneira e de modo a coincidirem com os seus objectivos. Estes elementos, de que os talibãs são o exemplo vivo, interpretam a “Jihad” como a guerra contra o infiel, sendo infiel todo aquele que não segue as regras do Islão. Portanto, trata-se, neste caso, da chamada “Guerra Santa” que o mundo muçulmano trava contra o Ocidente. Infelizmente temos hoje numerosos exemplos desta “Guerra Santa”, traduzidos em atentados contra alvos ocidentais ou, contra Israel, que representa esse mundo ocidental e é uma faca espetada no meio da nação árabe. A escalada de violência a que temos assistido nos últimos tempos reflecte a luta entre o islamismo radical e as forças “satânicas” do poder ocidental, mas este será assunto para uma outra crónica de características diferentes.
Não se sabe quando é que a designação de “Guerra Santa” começou a ser usada. Talvez tenha começado a ser usada quando da invasão árabe da Península Ibérica, em 711, embora não se possa chamar propriamente de invasão árabe, dado que se tratava mais de povos berberes do norte de África, conhecidos como mouros. Mas esta invasão foi mais para atender um pedido de ajuda dos povos submetidos pelo império Visigodo do que por iniciativa dos muçulmanos. Pela primeira vez na Europa se defrontavam duas religiões: de um lado os muçulmanos, do outro os cristãos, tratando-se uns aos outros por infiéis.
Claro que já tinha havido confrontos, mas não na Europa. Depois da morte de Muhammad (632), os muçulmanos lançam-se contra o Império Bizantino (cristão ortodoxo) e conseguem conquistar a Síria, a Palestina e o Egipto. Os bizantinos conseguem manter a sua capital, Constantinopla. Lançam-se depois contra a Europa do sul e as ilhas mediterrânicas. E assim, conquistam um extenso império mas, devido à sua natureza tolerante e uma brilhante cultura, muito acima da existente na Europa na época, não conseguem manter a unidade desse império que, a pouco e pouco começa a desagregar-se. Por um lado começam a ter de enfrentar a reacção dos países cristãos no seu esforço de reconquista, por outro lado começam a aparecer novos califas e potentados que tentam a separação e independência nos territórios mais distantes.
No início do 2º milénio a Europa era o que ficou expresso nos romances da demanda do Santo Graal como “uma terra devastada”. Este tema prende-se com a situação que se vivia na Europa naquele tempo. Ultrapassada a data “fatídica” do 1º milénio, carregada com as sombras negras das profecias de fim do mundo, a Europa vivia num autêntico caos, dominada pelo poder absoluto de Roma. Terra devastada refere-se à dissolução de costumes, ausência de valores morais e à injustiça de uma sociedade compartimentada entre nobres ociosos, padres viciosos e uma população miserável e escravizada. Esta população era constituída maioritariamente por camponeses que trabalhavam a terra para os seus senhores. Não possuíam a terra, não eram escravos, pois não podiam ser vendidos, mas viviam numa servidão absoluta ligada à terra de onde não poderiam nunca sair. Se a terra fosse vendida, esses servos acompanhavam a terra para os novos senhores. A sua situação miserável e de servidão era imutável. Apesar da quase totalidade da população estar agregada à terra, a agricultura era incipiente na maioria dos Estados. Os nobres e senhores das terras passavam o tempo quase exclusivamente a guerrearem-se mutuamente, a combater uns com os outros, conquistando terras e castelos e fazendo variar as fronteiras indefinidamente. A fome e a doença grassavam por todo o lado. A moral era baixa ou, em muitos casos não havia sequer regras morais, excepto aquelas impostas pela Igreja Católica que, no meio de toda aquela confusão estava mais interessada em firmar o seu poder temporal em vez de se preocupar com a moral reinante. Salvo raras excepções, os membros do clero não primavam também por um comportamento moral que fosse um reflexo de bons costumes para a sociedade.
O sistema social em vigor na Idade Média contribuía fortemente para esta situação. Os camponeses, chamados em algumas regiões “moços da gleba”, não tinham nenhuns direitos, a própria vida dependia da vontade e, muitas vezes, do humor dos seus senhores. Não tinham direito a qualquer propriedade e o que conseguiam produzir da terra lhes era retirado quase na totalidade pelo dono da terra. Não tinham direito a manter a sua família dentro de padrões morais, as suas filhas serviam muitas vezes de concubinas satisfazendo os apetites sexuais dos nobres e dos filhos dos nobres desocupados, que as largavam depois para casarem com um camponês qualquer e continuar a sua vida de miséria. Não havia a menor possibilidade de um camponês ascender na escala social, atingir um estatuto de nobreza ou ser um religioso. Estas situações estavam reservadas à classe nobre. Quer dizer, havia apenas três classes sociais: a Nobreza, o Clero e o Povo. O povo nunca poderia deixar de ser povo, nascia povo, vivia povo e morria povo, muitas vezes morria a defender as terras do seu senhor ou a ajudar o seu senhor a atacar as terras de outros.
Na Nobreza as coisas também não eram fáceis. O único que tinha direito a herdar o título, a fortuna e as propriedades era o filho varão mais velho que estivesse vivo na hora da morte do seu progenitor. Todos os outros filhos e filhas não tinham direito a nada. Os filhos varões tinham três opções de vida: ou ficavam a viver à conta do irmão mais velho, que seria o conde, o duque ou o marquês; ou colocavam-se ao serviço como cavaleiros de um senhor qualquer e passavam a vida a pelejar; ou entravam para um seminário ou um mosteiro e tornavam-se religiosos. Muitos tornavam-se cavaleiros andarilhos oferecendo os seus serviços aqui e ali, até um dia serem mortos numa refrega qualquer. Esta situação está magistralmente relatada na obra “D. Quixote de la Mancha” de Cervantes. O tolo do D. Quixote procura desesperadamente um motivo que justifique a sua existência e a sua condição de cavaleiro andarilho. Dulcineia, a dama por quem se mete em todas as aventuras é a sua anima, o seu lado feminino que procura compensar a brutalidade da sua profissão de cavaleiro. Em outras palavras é o seu Graal pessoal, que procura alcançar, sujeitando-se às cenas e atitudes mais ridículas.
As filhas da Nobreza tinham um destino complicado: ou a família as conseguia casar com algum senhor de bens, normalmente um casamento negociado, ou seguiam o caminho religioso entrando para um convento, onde seguiriam o percurso normal de noviça a freira.
A situação era praticamente incontrolável e havia que encontrar uma saída para ela. No sul da Europa, no norte de África e pressionando o Império Bizantino estava o inimigo principal, o império dos infiéis que, além de tudo o mais, ocupavam a Terra Santa. O Papa Urbano II clamou pela defesa dos peregrinos na Terra Santa e mandou organizar aquela que foi classificada como 1ª Cruzada. Foi assim que começou a “Guerra Santa”, a “Jihad” cristã, que não mais parou durante os próximos séculos.
Esta 1ª Cruzada foi chamada de Cruzada dos Cavaleiros, porque os elementos que a compunham eram em grande parte constituídos por nobres, gente que pertencia à nobreza europeia. Mas reuniu também muita da escumalha que abundava na Europa e que não se tinha juntado à outra Cruzada, essa chamada de Cruzada Popular ou dos Mendigos. O Papa prometeu as maiores indulgências a quem permanecesse na Cruzada, todos os pecados seriam perdoados e um lugar no céu estaria à sua espera. Quantos mais infiéis matasse, mais fácil seria a sua entrada no Paraíso.
Esta 1ª Cruzada conseguiu reconquistar Jerusalém para a cristandade, à custa de um autêntico banho de sangue em que ninguém foi poupado, homens, mulheres, crianças, velhos, judeus, cristãos ortodoxos, todos foram chacinados. Para além deste feito odioso, a 1ª Cruzada conseguiu destruir a sociedade mais culta e evoluída da época.
Segundo alguns autores, a 1ª Cruzada teria à partida cerca de 600.000 homens entre combatentes e pessoal de apoio. Outros afirmam que não teria mais do que 60.000. Acredito mais neste último número, que deve estar mais próximo da realidade, pois muitos cronistas antigos gostavam de exagerar os números. Como no caso de Maara, cidade tomada pelos cruzados no seu caminho para Jerusalém em que o cronista árabe Ibn al-Athir afirma: “Durante três dias, eles passaram as pessoas a fio de espada, matando mais de cem mil criaturas e fazendo muitos prisioneiros” . Isto é um perfeito exagero pois Maara, na altura, não deveria ter mais do que dez mil habitantes. Mas não é exagerada a descrição do cronista Raul de Caen quando se refere aos acontecimentos de Maara: “Em Maara, os nossos coziam pagãos adultos nos caldeiros, enfiavam as crianças em espetos e devoravam-nas assadas” . Necessidade de sobrevivência ou fanatismo? Provavelmente ambas as coisas, pois se por um lado parece que a fome grassava nas fileiras cruzadas, por outro lado os “franji”, como eram chamados pelos árabes, não deviam considerar aquela gente como seres humanos. Como o facto se tornou demasiadamente conhecido, os chefes da Cruzada viram-se obrigados a enviar uma carta ao Papa em que afirmavam: Uma terrível fome atormentou o exército em Maara e pô-lo na cruel necessidade de se alimentar dos cadáveres dos sarracenos” .
Dos 60.000 que havia à partida da 1ª Cruzada, apenas uns 15.000 chegaram á vista de Jerusalém, seu objectivo final. Pelo caminho, as doenças, a fome, a sede, os naufrágios, as batalhas que tiveram que travar contra os seus opositores, foram dizimando o exército cruzado. Antecedendo o banho de sangue em que se transformaria a tomada da Cidade Santa, os cruzados organizaram uma procissão em volta das muralhas da cidade, agradecendo e pedindo a ajuda divina para o assalto final.
As Cruzadas oficiais duraram até 1291, ano em que a 9ª Cruzada perdeu a fortaleza do Acre, o último bastião cristão na Palestina. Mas além destas 9 oficiais houve outras. Já falámos da Cruzada Popular ou dos Mendigos, que se adiantou à 1ª Cruzada. Organizada por um monge, Pedro o Eremita, que conseguiu convencer uma multidão de deserdados da sorte, incluindo mulheres, velhos e crianças, a deslocar-se até à Palestina para resgatar os lugares santos, e dirigida por um cavaleiro tipo D. Quixote, Guautério Sem-Haveres, foi uma Cruzada tumultuosa, criando desacatos pelos lugares por onde ia passando, matando quantos judeus encontravam pelo caminho. Quando chegou às portas de Constantinopla não passava de uma multidão de maltrapilhos esfomeados e mal equipados. Expulsos de Constantinopla por terem começado também a saquear a cidade, foram completamente dizimados pelos turcos quando tentaram tomar Niceia.
Uma cruzada fora do contexto de combate e reconquista das terras tomadas pelos infiéis, foi a Cruzada Albigense, convocada pelo Papa Inocêncio III para combater o catarismo que grassava no sul de França, numa região conhecida pelo nome de Languedoc. Nessa altura já a Inquisição estava perfeitamente actuante e foi ela que conduziu a Cruzada às mais nefastas consequências, culminando com uma imensa fogueira em frente do castelo de Montségur em que os últimos 256 cátaros, que tinham resistido até ao fim, foram queimados vivos.
Sobre os cátaros, assim como sobre praticamente toda a actividade da Inquisição durante séculos, sabemos apenas a versão dos "vencedores”, quer dizer, a versão oficial que a Igreja permitiu que fosse conhecida. Toda a restante documentação, se é que houve alguma outra documentação, foi destruída e queimada. Mesmo assim, o quadro que nos chega é suficientemente tenebroso e perfeito reflexo do que se designou como Idade das Trevas. No caso cátaro, toda a região próxima de Toulouse e Carcassone foi pilhada e suas vilas e aldeias arrasadas. Centenas e centenas de pessoas foram queimadas vivas, numa selvajaria digna de um filme de terror. A “Santa Cruzada”, como também foi chamada, é responsável pelo extermínio de mais de 15 mil homens, mulheres e crianças na cidade de Beziers. Quando perguntaram a Arnaud Amaury, arcebispo de Narbonne e representante oficial do Papa como é que distinguia os hereges dos crentes verdadeiros, ele respondeu:”Mate-os todos. Deus reconhecerá os seus”. O Papa Inocêncio III por sua vez havia prometido a todos os que permanecessem na Cruzada durante pelo menos 40 dias, a completa absolvição de todos os pecados.
A Cruzada Albigense dá-nos um retrato do que era o domínio da Igreja romana sobre toda a Europa. Ao domínio temporal juntava o domínio espiritual. Ninguém se podia afastar dos seus dogmas e da sua doutrina, sob pena de cair na alçada da Sagrada Inquisição. O catarismo foi um movimento de retorno aos princípios cristãos primordiais e que rapidamente conquistou numerosos adeptos, não só no sul de França, mas também no reino de Aragão, na antiga Germânia, na antiga Bulgária, um pouco por toda a parte, onde tomou nomes diferentes. Pagaram todos muito caro pela tentativa de se libertarem dos aguilhões da Igreja romana.
Para completar o quadro tenebroso em que se vivia e que estava presente no espírito das Cruzadas, houve também uma Cruzada das Crianças, realizada a partir da França e da Alemanha e baseada na crença de que somente almas puras (crianças) poderiam libertar Jerusalém. Foi um desastre completo, a maioria das crianças morreu de fome e de frio e as que sobreviveram acabaram por ser vendidas como escravos no norte de África.
A Jihad cristã iria durar mais de cinco séculos, conduzida magistralmente pela Inquisição, que soube levar o terror a todos os cantos do mundo conhecido.
Segundo a interpretação de muçulmanos mais eruditos, este combate realiza-se a dois níveis: o interno e o externo. Internamente, trata-se da luta que o homem trava consigo mesmo, tentando controlar os seus desejos e emoções mais primárias para que se torne num homem justo de acordo com os mandamentos de Allah. Externamente é a luta pela defesa da Nação Islâmica, quando esta se encontra ameaçada.
Como em todas as religiões, existem os grupos e elementos mais radicais que interpretam as coisas à sua maneira e de modo a coincidirem com os seus objectivos. Estes elementos, de que os talibãs são o exemplo vivo, interpretam a “Jihad” como a guerra contra o infiel, sendo infiel todo aquele que não segue as regras do Islão. Portanto, trata-se, neste caso, da chamada “Guerra Santa” que o mundo muçulmano trava contra o Ocidente. Infelizmente temos hoje numerosos exemplos desta “Guerra Santa”, traduzidos em atentados contra alvos ocidentais ou, contra Israel, que representa esse mundo ocidental e é uma faca espetada no meio da nação árabe. A escalada de violência a que temos assistido nos últimos tempos reflecte a luta entre o islamismo radical e as forças “satânicas” do poder ocidental, mas este será assunto para uma outra crónica de características diferentes.
Não se sabe quando é que a designação de “Guerra Santa” começou a ser usada. Talvez tenha começado a ser usada quando da invasão árabe da Península Ibérica, em 711, embora não se possa chamar propriamente de invasão árabe, dado que se tratava mais de povos berberes do norte de África, conhecidos como mouros. Mas esta invasão foi mais para atender um pedido de ajuda dos povos submetidos pelo império Visigodo do que por iniciativa dos muçulmanos. Pela primeira vez na Europa se defrontavam duas religiões: de um lado os muçulmanos, do outro os cristãos, tratando-se uns aos outros por infiéis.
Claro que já tinha havido confrontos, mas não na Europa. Depois da morte de Muhammad (632), os muçulmanos lançam-se contra o Império Bizantino (cristão ortodoxo) e conseguem conquistar a Síria, a Palestina e o Egipto. Os bizantinos conseguem manter a sua capital, Constantinopla. Lançam-se depois contra a Europa do sul e as ilhas mediterrânicas. E assim, conquistam um extenso império mas, devido à sua natureza tolerante e uma brilhante cultura, muito acima da existente na Europa na época, não conseguem manter a unidade desse império que, a pouco e pouco começa a desagregar-se. Por um lado começam a ter de enfrentar a reacção dos países cristãos no seu esforço de reconquista, por outro lado começam a aparecer novos califas e potentados que tentam a separação e independência nos territórios mais distantes.
No início do 2º milénio a Europa era o que ficou expresso nos romances da demanda do Santo Graal como “uma terra devastada”. Este tema prende-se com a situação que se vivia na Europa naquele tempo. Ultrapassada a data “fatídica” do 1º milénio, carregada com as sombras negras das profecias de fim do mundo, a Europa vivia num autêntico caos, dominada pelo poder absoluto de Roma. Terra devastada refere-se à dissolução de costumes, ausência de valores morais e à injustiça de uma sociedade compartimentada entre nobres ociosos, padres viciosos e uma população miserável e escravizada. Esta população era constituída maioritariamente por camponeses que trabalhavam a terra para os seus senhores. Não possuíam a terra, não eram escravos, pois não podiam ser vendidos, mas viviam numa servidão absoluta ligada à terra de onde não poderiam nunca sair. Se a terra fosse vendida, esses servos acompanhavam a terra para os novos senhores. A sua situação miserável e de servidão era imutável. Apesar da quase totalidade da população estar agregada à terra, a agricultura era incipiente na maioria dos Estados. Os nobres e senhores das terras passavam o tempo quase exclusivamente a guerrearem-se mutuamente, a combater uns com os outros, conquistando terras e castelos e fazendo variar as fronteiras indefinidamente. A fome e a doença grassavam por todo o lado. A moral era baixa ou, em muitos casos não havia sequer regras morais, excepto aquelas impostas pela Igreja Católica que, no meio de toda aquela confusão estava mais interessada em firmar o seu poder temporal em vez de se preocupar com a moral reinante. Salvo raras excepções, os membros do clero não primavam também por um comportamento moral que fosse um reflexo de bons costumes para a sociedade.
O sistema social em vigor na Idade Média contribuía fortemente para esta situação. Os camponeses, chamados em algumas regiões “moços da gleba”, não tinham nenhuns direitos, a própria vida dependia da vontade e, muitas vezes, do humor dos seus senhores. Não tinham direito a qualquer propriedade e o que conseguiam produzir da terra lhes era retirado quase na totalidade pelo dono da terra. Não tinham direito a manter a sua família dentro de padrões morais, as suas filhas serviam muitas vezes de concubinas satisfazendo os apetites sexuais dos nobres e dos filhos dos nobres desocupados, que as largavam depois para casarem com um camponês qualquer e continuar a sua vida de miséria. Não havia a menor possibilidade de um camponês ascender na escala social, atingir um estatuto de nobreza ou ser um religioso. Estas situações estavam reservadas à classe nobre. Quer dizer, havia apenas três classes sociais: a Nobreza, o Clero e o Povo. O povo nunca poderia deixar de ser povo, nascia povo, vivia povo e morria povo, muitas vezes morria a defender as terras do seu senhor ou a ajudar o seu senhor a atacar as terras de outros.
Na Nobreza as coisas também não eram fáceis. O único que tinha direito a herdar o título, a fortuna e as propriedades era o filho varão mais velho que estivesse vivo na hora da morte do seu progenitor. Todos os outros filhos e filhas não tinham direito a nada. Os filhos varões tinham três opções de vida: ou ficavam a viver à conta do irmão mais velho, que seria o conde, o duque ou o marquês; ou colocavam-se ao serviço como cavaleiros de um senhor qualquer e passavam a vida a pelejar; ou entravam para um seminário ou um mosteiro e tornavam-se religiosos. Muitos tornavam-se cavaleiros andarilhos oferecendo os seus serviços aqui e ali, até um dia serem mortos numa refrega qualquer. Esta situação está magistralmente relatada na obra “D. Quixote de la Mancha” de Cervantes. O tolo do D. Quixote procura desesperadamente um motivo que justifique a sua existência e a sua condição de cavaleiro andarilho. Dulcineia, a dama por quem se mete em todas as aventuras é a sua anima, o seu lado feminino que procura compensar a brutalidade da sua profissão de cavaleiro. Em outras palavras é o seu Graal pessoal, que procura alcançar, sujeitando-se às cenas e atitudes mais ridículas.
As filhas da Nobreza tinham um destino complicado: ou a família as conseguia casar com algum senhor de bens, normalmente um casamento negociado, ou seguiam o caminho religioso entrando para um convento, onde seguiriam o percurso normal de noviça a freira.
A situação era praticamente incontrolável e havia que encontrar uma saída para ela. No sul da Europa, no norte de África e pressionando o Império Bizantino estava o inimigo principal, o império dos infiéis que, além de tudo o mais, ocupavam a Terra Santa. O Papa Urbano II clamou pela defesa dos peregrinos na Terra Santa e mandou organizar aquela que foi classificada como 1ª Cruzada. Foi assim que começou a “Guerra Santa”, a “Jihad” cristã, que não mais parou durante os próximos séculos.
Esta 1ª Cruzada foi chamada de Cruzada dos Cavaleiros, porque os elementos que a compunham eram em grande parte constituídos por nobres, gente que pertencia à nobreza europeia. Mas reuniu também muita da escumalha que abundava na Europa e que não se tinha juntado à outra Cruzada, essa chamada de Cruzada Popular ou dos Mendigos. O Papa prometeu as maiores indulgências a quem permanecesse na Cruzada, todos os pecados seriam perdoados e um lugar no céu estaria à sua espera. Quantos mais infiéis matasse, mais fácil seria a sua entrada no Paraíso.
Esta 1ª Cruzada conseguiu reconquistar Jerusalém para a cristandade, à custa de um autêntico banho de sangue em que ninguém foi poupado, homens, mulheres, crianças, velhos, judeus, cristãos ortodoxos, todos foram chacinados. Para além deste feito odioso, a 1ª Cruzada conseguiu destruir a sociedade mais culta e evoluída da época.
Segundo alguns autores, a 1ª Cruzada teria à partida cerca de 600.000 homens entre combatentes e pessoal de apoio. Outros afirmam que não teria mais do que 60.000. Acredito mais neste último número, que deve estar mais próximo da realidade, pois muitos cronistas antigos gostavam de exagerar os números. Como no caso de Maara, cidade tomada pelos cruzados no seu caminho para Jerusalém em que o cronista árabe Ibn al-Athir afirma: “Durante três dias, eles passaram as pessoas a fio de espada, matando mais de cem mil criaturas e fazendo muitos prisioneiros” . Isto é um perfeito exagero pois Maara, na altura, não deveria ter mais do que dez mil habitantes. Mas não é exagerada a descrição do cronista Raul de Caen quando se refere aos acontecimentos de Maara: “Em Maara, os nossos coziam pagãos adultos nos caldeiros, enfiavam as crianças em espetos e devoravam-nas assadas” . Necessidade de sobrevivência ou fanatismo? Provavelmente ambas as coisas, pois se por um lado parece que a fome grassava nas fileiras cruzadas, por outro lado os “franji”, como eram chamados pelos árabes, não deviam considerar aquela gente como seres humanos. Como o facto se tornou demasiadamente conhecido, os chefes da Cruzada viram-se obrigados a enviar uma carta ao Papa em que afirmavam: Uma terrível fome atormentou o exército em Maara e pô-lo na cruel necessidade de se alimentar dos cadáveres dos sarracenos” .
Dos 60.000 que havia à partida da 1ª Cruzada, apenas uns 15.000 chegaram á vista de Jerusalém, seu objectivo final. Pelo caminho, as doenças, a fome, a sede, os naufrágios, as batalhas que tiveram que travar contra os seus opositores, foram dizimando o exército cruzado. Antecedendo o banho de sangue em que se transformaria a tomada da Cidade Santa, os cruzados organizaram uma procissão em volta das muralhas da cidade, agradecendo e pedindo a ajuda divina para o assalto final.
As Cruzadas oficiais duraram até 1291, ano em que a 9ª Cruzada perdeu a fortaleza do Acre, o último bastião cristão na Palestina. Mas além destas 9 oficiais houve outras. Já falámos da Cruzada Popular ou dos Mendigos, que se adiantou à 1ª Cruzada. Organizada por um monge, Pedro o Eremita, que conseguiu convencer uma multidão de deserdados da sorte, incluindo mulheres, velhos e crianças, a deslocar-se até à Palestina para resgatar os lugares santos, e dirigida por um cavaleiro tipo D. Quixote, Guautério Sem-Haveres, foi uma Cruzada tumultuosa, criando desacatos pelos lugares por onde ia passando, matando quantos judeus encontravam pelo caminho. Quando chegou às portas de Constantinopla não passava de uma multidão de maltrapilhos esfomeados e mal equipados. Expulsos de Constantinopla por terem começado também a saquear a cidade, foram completamente dizimados pelos turcos quando tentaram tomar Niceia.
Uma cruzada fora do contexto de combate e reconquista das terras tomadas pelos infiéis, foi a Cruzada Albigense, convocada pelo Papa Inocêncio III para combater o catarismo que grassava no sul de França, numa região conhecida pelo nome de Languedoc. Nessa altura já a Inquisição estava perfeitamente actuante e foi ela que conduziu a Cruzada às mais nefastas consequências, culminando com uma imensa fogueira em frente do castelo de Montségur em que os últimos 256 cátaros, que tinham resistido até ao fim, foram queimados vivos.
Sobre os cátaros, assim como sobre praticamente toda a actividade da Inquisição durante séculos, sabemos apenas a versão dos "vencedores”, quer dizer, a versão oficial que a Igreja permitiu que fosse conhecida. Toda a restante documentação, se é que houve alguma outra documentação, foi destruída e queimada. Mesmo assim, o quadro que nos chega é suficientemente tenebroso e perfeito reflexo do que se designou como Idade das Trevas. No caso cátaro, toda a região próxima de Toulouse e Carcassone foi pilhada e suas vilas e aldeias arrasadas. Centenas e centenas de pessoas foram queimadas vivas, numa selvajaria digna de um filme de terror. A “Santa Cruzada”, como também foi chamada, é responsável pelo extermínio de mais de 15 mil homens, mulheres e crianças na cidade de Beziers. Quando perguntaram a Arnaud Amaury, arcebispo de Narbonne e representante oficial do Papa como é que distinguia os hereges dos crentes verdadeiros, ele respondeu:”Mate-os todos. Deus reconhecerá os seus”. O Papa Inocêncio III por sua vez havia prometido a todos os que permanecessem na Cruzada durante pelo menos 40 dias, a completa absolvição de todos os pecados.
A Cruzada Albigense dá-nos um retrato do que era o domínio da Igreja romana sobre toda a Europa. Ao domínio temporal juntava o domínio espiritual. Ninguém se podia afastar dos seus dogmas e da sua doutrina, sob pena de cair na alçada da Sagrada Inquisição. O catarismo foi um movimento de retorno aos princípios cristãos primordiais e que rapidamente conquistou numerosos adeptos, não só no sul de França, mas também no reino de Aragão, na antiga Germânia, na antiga Bulgária, um pouco por toda a parte, onde tomou nomes diferentes. Pagaram todos muito caro pela tentativa de se libertarem dos aguilhões da Igreja romana.
Para completar o quadro tenebroso em que se vivia e que estava presente no espírito das Cruzadas, houve também uma Cruzada das Crianças, realizada a partir da França e da Alemanha e baseada na crença de que somente almas puras (crianças) poderiam libertar Jerusalém. Foi um desastre completo, a maioria das crianças morreu de fome e de frio e as que sobreviveram acabaram por ser vendidas como escravos no norte de África.
A Jihad cristã iria durar mais de cinco séculos, conduzida magistralmente pela Inquisição, que soube levar o terror a todos os cantos do mundo conhecido.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Segredos do Cristianismo - IV - Origens Pagãs dos Rituais da Igreja
Na minha segunda crónica sobre este assunto, falei sobre a natureza pagã do Cristianismo. Embora isto possa ter chocado algumas pessoas, que continuam a achar que paganismo é algo de demoníaco e portanto, que o Cristianismo não pode ter tido tal génese, a origem dos rituais seguidos pelas igrejas cristãs é, definitivamente, pagã. Isto aplica-se também, de forma indirecta, à Maçonaria que, nos primeiros tempos, estava intimamente ligada à religião que acabava de emergir. Esta parte será objecto de outra crónica mas, posso adiantar que Paulo era mação e era denominado nos círculos restritos que frequentava como “o Mestre Construtor”.
São conhecidos vários mitos pagãos sobre o nascimento de um “salvador” que, durante a sua curta vida faz milagres, depois padece, é morto e ressuscita ao terceiro dia. Estes mitos anteriores ao Cristianismo existiram na região a que chamamos Médio Oriente ou, em regiões muito próximas. Mas indo um pouco mais longe, para um lugar bem distante, encontramos na frígida Finlândia uma lenda muito semelhante à da Virgem Maria. É Mariatta, Virgem-Mãe das terras nórdicas.
Ukko, o Grande Espírito, que mora no céu, escolhe encarnar-se em Homem-Deus através da virgem Mariatta. Repudiada pelos pais, que não acreditam que continue virgem estando grávida, abriga-se num estábulo onde, numa manjedoura, nasce o Santo Menino. A lenda tem continuação: a determinada altura o Menino desaparece e Mariatta vai à sua procura; pede ajuda à estrela, mas esta não consegue ajudá-la; acontece o mesmo com a Lua; somente o Sol, com pena dela, lhe diz:
“Acolá está a criança dourada;
Lá repousa dormindo teu Santo-Menino,
Encoberto pela água até à cintura,
Escondido pelos caniços e juncos.
Este poema faz lembrar uma das muitas versões do nascimento de Hórus, no Egipto, em que sua mãe, Ísis, sabendo-o ameaçado de morte por Seth, que já causara antes a morte de Osíris, o esconde no Nilo, no meio de caniços e juncos. Ísis também concebe Hórus como virgem pois, tendo recolhido e reunido os pedaços de Osíris depois da sua morte, não consegue encontrar o falo. Mas, por artes mágicas, consegue engravidar e gerar Hórus.
A palavra igreja deriva do termo latino “ecclesia”, ou do grego “ekklesia”, significando assembleia. Portanto, o verdadeiro significado de igreja é a assembleia de fiéis, e não o edifício onde se realizam os rituais. O termo mais apropriado para o edifício será templo, o local onde se realiza o culto. Durante os primeiros 250 anos da nossa era os grupos cristãos que se formaram não tinham templos nem altares, aliás abominavam uns e outros por serem locais de adoração pagã. Os cristãos primitivos seguiam os ensinamentos de Paulo, de que o homem era o único templo de Deus, no qual o Espírito Santo, o espírito de Deus, permanecia. Somente durante o reinado do imperador Deocleciano (235-284) adoptaram o costume pagão de adoração em templos.
Os altares foram copiados da “Ara Máxima” da Roma pagã. As aras (altares) romanas eram pedras quadradas que se colocavam perto de túmulos ou em templos, consagradas principalmente aos deuses dos lares. Os celtas também usavam essas pedras quadradas nas suas cerimónias druídicas, como por exemplo na Irlanda, onde os reis eram coroados sobre uma pedra idêntica – existe uma dessas pedras na abadia de Westminster, em Londres.
A palavra missa, ritual maior do cristianismo, deriva do hebraico “missah” ou “mizda”, que significa oferenda. Também deriva do latim “messis”, que significa colheita, donde Messias, aquele que faz amadurecer as colheitas. Nas festas romanas em honra da deusa Ceres, o ajudante do Grande Sacerdote, vestido de branco, colocava sobre a Hóstia (a oferenda do sacrifício), um pão de trigo, água e vinho. Esta oferenda era então erguida pelo Grande Sacerdote. A oferenda simbolizava os três reinos da Natureza: o pão de trigo, o reino vegetal; o cálice ou vaso de sacrifício, o mineral; e a estola do Grande Sacerdote, feita de pura lã branca de cordeiro, pousava uma das extremidades sobre o cálice.
Esta cerimónia é repetida, gesto por gesto, pelos padres modernos. No fim lavam os dedos das mãos, tal como o Grande Sacerdote que dizia: “Lavo minhas mãos entre o justo e rodearei o teu altar, ó Grande Deusa! (Ceres). Depois dava três voltas ao altar levando as oferendas e erguendo o cálice acima da sua cabeça, coberto com a extremidade da sua estola. Na Igreja grega, o padre cobre o cálice com a extremidade da sua estola pousada sobre um dos ombros.
O paganismo é frequentemente associado a idolatria, dado que se adoram vários deuses representados por estátuas ou imagens pintadas. O cristianismo faz exactamente o mesmo em termos de rituais, de objectos usados nesses rituais e nas vestimentas dos seus sacerdotes: O acto de confissão descende directamente dos romanos pagãos, em que nas cerimónias de sacrifício, o sacerdote sacrificador devia confessar-se antes do início da cerimónia; os sacerdotes de Júpiter usavam um chapéu preto, alto e quadrado, em tudo idêntico ao dos sacerdotes arménios e gregos modernos; a sotaina preta dos padres católicos romanos é a mesma dos sacerdotes de Mitra. O Rei-Sacerdote da Babilónia (de notar que Abraão nasceu na Babilónia) usava um anel de ouro com sinete, as suas sandálias eram beijadas pelos súbditos e usava também um manto branco e uma tiara de ouro com duas pequenas faixas. O Papa possui um anel idêntico, as suas sandálias também são beijadas e usa um manto de cetim branco bordado com estrelas de ouro, além da tiara com as pequenas faixas cobertas de pedras preciosas. A vestimenta de linho branco é a mesma dos sacerdotes de Ísis. Os antigos pagãos usavam água santa, ou lustral, para se purificarem e purificarem as cidades, os campos, os templos, uma prática em tudo semelhante à usada actualmente com as pias de água benta nas igrejas.
Os antigos egípcios, como em todo o mundo pagão, adoravam inúmeros deuses, cada um dedicado a determinado objectivo, como protecção contra doenças, auxílio nas colheitas, apoio na maternidade, etc. No entanto, eles tinham a noção de que havia um Deus acima de todos os outros ou, dois ou três mais importantes que todos os outros. Era algo semelhante ao que se passa com o hinduísmo, onde praticamente cada família adora um deus pessoal mas, acima desses mais de trezentos mil deuses adorados pelos hindus, está a Trindade Hindu constituída por Brahma, Vixnu e Shiva, uma coisa parecida com a Trindade Cristã, com a diferença de que as divindades hindus têm todas, mesmo estas principais, uma contraparte feminina.
Mas muitas das divindades egípcias eram manifestações ou expressões de uma divindade maior, como no caso de Ísis, que assumia outros nomes e paramentos conforme a função que era esperada por parte da deusa. Ísis foi tão importante que, muitas das deusas gregas, romanas e celtas eram expressões dela, Ísis, a Grande-Mãe. Acontece exactamente o mesmo no mundo cristão, em que Maria assume várias expressões e se tem manifestado em vários locais com nomes diferentes. Como exemplos temos Fátima, Guadalupe, Aparecida e, as várias Nossas Senhoras como a Senhora da Conceição, Senhora dos Remédios, Senhora dos Navegantes, etc., etc. O culto destas Senhoras e também de Senhores, como expressões de Cristo, pode levar-nos a entender que existe uma tendência politeísta no mundo cristão, tendência essa herdada do paganismo.
Em termos de idolatria, parece não haver dúvidas para ninguém que as igrejas estão cheias de estátuas e imagens. A Igreja Ortodoxa repudia as estátuas, mas utiliza imagens pintadas. O protestantismo aboliu por completo estátuas e imagens mas, por outro lado, aprofundou o antropomorfismo de Deus, transformando Jesus no criador de todas as coisas, como acontece com muitas das chamadas Igrejas Evangélicas.
A figuração, idealização ou antropomorfização de Deus, isto é, a transformação de Deus numa figura humana, não estava presente nos grupos gnósticos conhecedores dos Mistérios Interiores, que deram origem ao cristianismo. Eles entendiam que Deus estava para além da compreensão humana. Os pagãos adoravam os seus deuses figurando-os em termos humanos ou representando-os como animais ou, como no caso do Antigo Egipto, em figuras meio humanas, meio animais. Alguns dos deuses gregos eram também monstros ou autênticas aberrações. Acontece o mesmo ainda hoje na Índia onde, por exemplo, o deus Ganesh, o filho de Shiva e Parvati, é representado por um elefante.
O cristianismo desenvolveu-se com gente que não conhecia os Mistérios Interiores, apenas os Exteriores e, ao estabelecerem que Jesus era o Filho unigénito de Deus, quer dizer, consubstancial ao Pai, deram o passo essencial para a antropomorfização de Deus, transformando-o num ser com figura humana, não sabendo exactamente como figurá-lo, mas socorrendo-se da figura de Jesus para representá-lo junto da grande massa dos fiéis. Os evangélicos, para além do autêntico carnaval em que transformaram o seu culto, foram mais longe e transformaram Jesus no Deus responsável por toda a Criação. Se estou a exagerar nesta acepção, sugiro que vejam os dísticos colados nos vidros dos carros e as numerosas mensagens que circulam na Internet.
São conhecidos vários mitos pagãos sobre o nascimento de um “salvador” que, durante a sua curta vida faz milagres, depois padece, é morto e ressuscita ao terceiro dia. Estes mitos anteriores ao Cristianismo existiram na região a que chamamos Médio Oriente ou, em regiões muito próximas. Mas indo um pouco mais longe, para um lugar bem distante, encontramos na frígida Finlândia uma lenda muito semelhante à da Virgem Maria. É Mariatta, Virgem-Mãe das terras nórdicas.
Ukko, o Grande Espírito, que mora no céu, escolhe encarnar-se em Homem-Deus através da virgem Mariatta. Repudiada pelos pais, que não acreditam que continue virgem estando grávida, abriga-se num estábulo onde, numa manjedoura, nasce o Santo Menino. A lenda tem continuação: a determinada altura o Menino desaparece e Mariatta vai à sua procura; pede ajuda à estrela, mas esta não consegue ajudá-la; acontece o mesmo com a Lua; somente o Sol, com pena dela, lhe diz:
“Acolá está a criança dourada;
Lá repousa dormindo teu Santo-Menino,
Encoberto pela água até à cintura,
Escondido pelos caniços e juncos.
Este poema faz lembrar uma das muitas versões do nascimento de Hórus, no Egipto, em que sua mãe, Ísis, sabendo-o ameaçado de morte por Seth, que já causara antes a morte de Osíris, o esconde no Nilo, no meio de caniços e juncos. Ísis também concebe Hórus como virgem pois, tendo recolhido e reunido os pedaços de Osíris depois da sua morte, não consegue encontrar o falo. Mas, por artes mágicas, consegue engravidar e gerar Hórus.
A palavra igreja deriva do termo latino “ecclesia”, ou do grego “ekklesia”, significando assembleia. Portanto, o verdadeiro significado de igreja é a assembleia de fiéis, e não o edifício onde se realizam os rituais. O termo mais apropriado para o edifício será templo, o local onde se realiza o culto. Durante os primeiros 250 anos da nossa era os grupos cristãos que se formaram não tinham templos nem altares, aliás abominavam uns e outros por serem locais de adoração pagã. Os cristãos primitivos seguiam os ensinamentos de Paulo, de que o homem era o único templo de Deus, no qual o Espírito Santo, o espírito de Deus, permanecia. Somente durante o reinado do imperador Deocleciano (235-284) adoptaram o costume pagão de adoração em templos.
Os altares foram copiados da “Ara Máxima” da Roma pagã. As aras (altares) romanas eram pedras quadradas que se colocavam perto de túmulos ou em templos, consagradas principalmente aos deuses dos lares. Os celtas também usavam essas pedras quadradas nas suas cerimónias druídicas, como por exemplo na Irlanda, onde os reis eram coroados sobre uma pedra idêntica – existe uma dessas pedras na abadia de Westminster, em Londres.
A palavra missa, ritual maior do cristianismo, deriva do hebraico “missah” ou “mizda”, que significa oferenda. Também deriva do latim “messis”, que significa colheita, donde Messias, aquele que faz amadurecer as colheitas. Nas festas romanas em honra da deusa Ceres, o ajudante do Grande Sacerdote, vestido de branco, colocava sobre a Hóstia (a oferenda do sacrifício), um pão de trigo, água e vinho. Esta oferenda era então erguida pelo Grande Sacerdote. A oferenda simbolizava os três reinos da Natureza: o pão de trigo, o reino vegetal; o cálice ou vaso de sacrifício, o mineral; e a estola do Grande Sacerdote, feita de pura lã branca de cordeiro, pousava uma das extremidades sobre o cálice.
Esta cerimónia é repetida, gesto por gesto, pelos padres modernos. No fim lavam os dedos das mãos, tal como o Grande Sacerdote que dizia: “Lavo minhas mãos entre o justo e rodearei o teu altar, ó Grande Deusa! (Ceres). Depois dava três voltas ao altar levando as oferendas e erguendo o cálice acima da sua cabeça, coberto com a extremidade da sua estola. Na Igreja grega, o padre cobre o cálice com a extremidade da sua estola pousada sobre um dos ombros.
O paganismo é frequentemente associado a idolatria, dado que se adoram vários deuses representados por estátuas ou imagens pintadas. O cristianismo faz exactamente o mesmo em termos de rituais, de objectos usados nesses rituais e nas vestimentas dos seus sacerdotes: O acto de confissão descende directamente dos romanos pagãos, em que nas cerimónias de sacrifício, o sacerdote sacrificador devia confessar-se antes do início da cerimónia; os sacerdotes de Júpiter usavam um chapéu preto, alto e quadrado, em tudo idêntico ao dos sacerdotes arménios e gregos modernos; a sotaina preta dos padres católicos romanos é a mesma dos sacerdotes de Mitra. O Rei-Sacerdote da Babilónia (de notar que Abraão nasceu na Babilónia) usava um anel de ouro com sinete, as suas sandálias eram beijadas pelos súbditos e usava também um manto branco e uma tiara de ouro com duas pequenas faixas. O Papa possui um anel idêntico, as suas sandálias também são beijadas e usa um manto de cetim branco bordado com estrelas de ouro, além da tiara com as pequenas faixas cobertas de pedras preciosas. A vestimenta de linho branco é a mesma dos sacerdotes de Ísis. Os antigos pagãos usavam água santa, ou lustral, para se purificarem e purificarem as cidades, os campos, os templos, uma prática em tudo semelhante à usada actualmente com as pias de água benta nas igrejas.
Os antigos egípcios, como em todo o mundo pagão, adoravam inúmeros deuses, cada um dedicado a determinado objectivo, como protecção contra doenças, auxílio nas colheitas, apoio na maternidade, etc. No entanto, eles tinham a noção de que havia um Deus acima de todos os outros ou, dois ou três mais importantes que todos os outros. Era algo semelhante ao que se passa com o hinduísmo, onde praticamente cada família adora um deus pessoal mas, acima desses mais de trezentos mil deuses adorados pelos hindus, está a Trindade Hindu constituída por Brahma, Vixnu e Shiva, uma coisa parecida com a Trindade Cristã, com a diferença de que as divindades hindus têm todas, mesmo estas principais, uma contraparte feminina.
Mas muitas das divindades egípcias eram manifestações ou expressões de uma divindade maior, como no caso de Ísis, que assumia outros nomes e paramentos conforme a função que era esperada por parte da deusa. Ísis foi tão importante que, muitas das deusas gregas, romanas e celtas eram expressões dela, Ísis, a Grande-Mãe. Acontece exactamente o mesmo no mundo cristão, em que Maria assume várias expressões e se tem manifestado em vários locais com nomes diferentes. Como exemplos temos Fátima, Guadalupe, Aparecida e, as várias Nossas Senhoras como a Senhora da Conceição, Senhora dos Remédios, Senhora dos Navegantes, etc., etc. O culto destas Senhoras e também de Senhores, como expressões de Cristo, pode levar-nos a entender que existe uma tendência politeísta no mundo cristão, tendência essa herdada do paganismo.
Em termos de idolatria, parece não haver dúvidas para ninguém que as igrejas estão cheias de estátuas e imagens. A Igreja Ortodoxa repudia as estátuas, mas utiliza imagens pintadas. O protestantismo aboliu por completo estátuas e imagens mas, por outro lado, aprofundou o antropomorfismo de Deus, transformando Jesus no criador de todas as coisas, como acontece com muitas das chamadas Igrejas Evangélicas.
A figuração, idealização ou antropomorfização de Deus, isto é, a transformação de Deus numa figura humana, não estava presente nos grupos gnósticos conhecedores dos Mistérios Interiores, que deram origem ao cristianismo. Eles entendiam que Deus estava para além da compreensão humana. Os pagãos adoravam os seus deuses figurando-os em termos humanos ou representando-os como animais ou, como no caso do Antigo Egipto, em figuras meio humanas, meio animais. Alguns dos deuses gregos eram também monstros ou autênticas aberrações. Acontece o mesmo ainda hoje na Índia onde, por exemplo, o deus Ganesh, o filho de Shiva e Parvati, é representado por um elefante.
O cristianismo desenvolveu-se com gente que não conhecia os Mistérios Interiores, apenas os Exteriores e, ao estabelecerem que Jesus era o Filho unigénito de Deus, quer dizer, consubstancial ao Pai, deram o passo essencial para a antropomorfização de Deus, transformando-o num ser com figura humana, não sabendo exactamente como figurá-lo, mas socorrendo-se da figura de Jesus para representá-lo junto da grande massa dos fiéis. Os evangélicos, para além do autêntico carnaval em que transformaram o seu culto, foram mais longe e transformaram Jesus no Deus responsável por toda a Criação. Se estou a exagerar nesta acepção, sugiro que vejam os dísticos colados nos vidros dos carros e as numerosas mensagens que circulam na Internet.
sábado, 6 de setembro de 2008
Segredos do Cristianismo - III - Uma religião cisamada
As religiões do “Livro” sempre se caracterizaram por profundas cisões no seu seio, exceptuando talvez o Judaísmo que, apesar de várias ramificações e tendências, estas não têm constituído desavenças graves entre os seus praticantes.
O Islamismo dividiu-se em duas facções principais, os xiitas e os sunitas, em razão dos sucessores de Muhammad (Maomé), pelo menos os primeiros três califas, terem sido usurpadores na opinião dos xiitas. Isto tornou-os inimigos permanentes.
O Cristianismo é uma religião dividida desde as suas mais remotas origens. Como já vimos na minha primeira crónica acerca deste assunto, os primeiros grupos cristãos não se entendiam em questões importantes como a verdadeira natureza de Jesus. Salientava-se uma corrente importante chamada arianismo, nome derivado do seu promotor, Arius, que negava a consubstancialidade entre Jesus e Deus e, portanto, a Trindade. Para Arius, Jesus era filho de Deus, subordinado a Ele, e não o próprio Deus, o qual seria um grande e eterno mistério, oculto em si mesmo, e que nenhuma criatura conseguiria revelá-lo, visto que Deus não podia se revelar a si mesmo.
Esta doutrina não tinha nada de extraordinário, pois estava de acordo com o pensamento judaico acerca da natureza de Deus como é explicado na Cabala e surgia directamente dos grupos gnósticos que tinham adoptado o Cristianismo. No entanto, apesar desta doutrina ser aceite pela maioria dos grupos cristãos, outros havia que começavam a assumir uma posição dogmática e consideravam o Pai, o Filho e o Espírito Santo como três manifestações da mesma natureza. Foi esta posição que foi assumida oficialmente no Concílio de Niceia liderado por Constantino e o arianismo foi considerado uma heresia, sendo Arius e outros apoiantes da sua posição sido expulsos do Concílio. Apesar disso, o arianismo não foi erradicado, antes pelo contrário, pois continua a ser um elemento de discórdia dentro do Cristianismo.
A palavra “cisma” quer dizer divisão e é aplicada, quase exclusivamente, no Cristianismo. Historicamente, apesar do Cristianismo viver em permanente cisma, por isso o título desta crónica, uma religião cismada, são considerados dois grandes cismas: o Cisma do Oriente e o Cisma do Ocidente.
O Cisma do Oriente refere-se à cisão entre a Igreja Católica Romana e Igreja Católica Ortodoxa. Para esta cisão contribuíram motivos de natureza política e de natureza religiosa ou teológica. Embora os motivos políticos tivessem criado sérios problemas para a unidade da Igreja, foram certamente motivos teológicos os responsáveis pelo definitivo desentendimento entre as duas Igrejas.
Por motivos políticos temos a grande reserva que os ortodoxos tinham em relação à dependência de Roma, reserva agravada com a divisão do Império Romano em Império do Ocidente e do Oriente, este com capital em Constantinopla . Enquanto os ortodoxos se fundavam numa organização clássica e conservadora, em que cada um dos patriarcas era dono e senhor do seu burgo, não guardando obediência a ninguém, senão ao sínodo dos patriarcas, os ocidentais obrigavam à dependência de Roma de todas as igrejas cristãs. O fosso foi agravado pelo saque de Constantinopla na 4ª Cruzada em 1204, em que os ocidentais saquearam a cidade e massacraram a população a qual, na sua grande maioria, era cristã ortodoxa.
As razões teológicas que dividem a Igreja Oriental da Ocidental prendem-se, essencialmente, com aquilo que foi designado como “filioque”, que quer dizer “do Filho ou procedente do Filho”. No Concílio de Niceia, em 325, foi adoptado um Credo, que é uma declaração de fé ou profissão de fé cristã, tendo sido aceite por ambas as Igrejas. Este Credo foi revisto mais tarde no Concílio de Constantinopla, em 381, e continuou a ser aceite. Mais tarde foi acrescentado o “filioque” e tudo se complicou. O que é, afinal, o “filioque”?
O “filioque” é um acrescento feito mais tarde pela Igreja latina em que coloca o Espírito Santo proveniente do Pai e do Filho e consubstancial ao Pai e ao Filho, declaração inaceitável pela Igreja Ortodoxa, pois para esta o Espírito Santo provém apenas do Pai ou por intermédio do Filho. Exemplo do “filioque” acrescentado ao Credo:
“Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida,
e procede do Pai e do Filho;
e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado:
Ele que falou pelos Profetas.”
Este acrescento que provocou a ira dos ortodoxos foi criado por monges latinos em Jerusalém. Para o Papa Leão III este acréscimo ao Credo era ilícito, mas os monges insistiram, tomando uma posição de força por se acharem sob a protecção do imperador Carlos Magno. Este, para resolver a questão, convocou um sínodo em Aquisgrano, onde a doutrina do “filioque” foi aprovada. Apesar disto a Santa Sé manteve-se na sua negativa em aprovar tal acréscimo, mas os cristãos ocidentais continuaram a exercer pressão para que fosse aprovado pela mais alta instância. Em 1013, o imperador do Sacro Império Romano, Henrique II, insistiu junto do Papa Bento VIII para que inserisse o “filioque” no Credo. O Papa acabou por concordar em 1014. Os ortodoxos, pela voz de Fócio, Patriarca de Alexandria, reagiram acusando os latinos de "transgressores da Palavra de Deus, corruptores da doutrina de Jesus Cristo, dos Apóstolos e dos padres; seriam novos Judas a dilacerar os membros de Cristo".
Estava aberta a chaga que iria separar definitivamente a Igreja Oriental da Ocidental. As acusações continuaram com o patriarca Cerulário de Constantinopla a fazer uma tremenda campanha contra os latinos por causa da natureza do Espírito Santo contemplado no “filioque”. A separação definitiva deu-se em 1054, quando o papa enviou a Constantinopla um cardeal para tentar conciliar as posições. Infelizmente parece que a missão desse cardeal não foi bem sucedida, pois acabou por excomungar o patriarca Cerulário e este, entendendo que a excomunhão incluía toda a Igreja bizantina, excomungou também o Papa Leão IX. Este foi o que ficou designado como o Grande Cisma do Oriente, que continua em vigor, pois as duas Igrejas nunca conseguiram um acordo até hoje.
Quando ao Cisma do Ocidente, não houve razões de natureza teológica na sua origem, mas razões políticas. Deu-se entre 1378 e 1417, com Papas e Antipapas, uns em Roma e outros em Avinhão, na França, chegando a haver também Antipapas em Pisa, na Itália. Cada um deles recebia apoios dos reinos europeus, que se dividiram também entre apoiar o Papa de Avinhão ou o Papa de Roma. O assunto ficou resolvido em 1417, sediando definitivamente a sede do papado em Roma.
Isto tudo não é nenhuma novidade, consta dos manuais de História e a própria Internet está cheia de informações a respeito. Resta saber a razão dos Cismas, principalmente na Igreja Ocidental pois, para além daqueles que foram considerados historicamente, na verdade tem havido, ao longo do tempo, uma constante instabilidade nessa instituição chamada Igreja Católica Romana. Desde a Reforma e a Contra-Reforma, à separação da Igreja de Inglaterra, aos problemas com a Igreja Americana, até à recente Teologia da Libertação na América Latina, cujos promotores foram duramente castigados pelo Vaticano, tudo isto tem levado a um sucessivo esvaziamento do seu poder e implantação na sociedade, embora as estatísticas continuem a dizer que os católicos são a maioria absoluta nos países do Ocidente. O protestantismo tem vindo a ganhar muito terreno nos últimos tempos pela via das Igrejas Evangélicas. Não incluímos como Cismas os vários movimentos considerados heréticos, como no caso dos Cátaros, assunto que será objecto de outra crónica.
Ao contrário das Igrejas Ortodoxas, que se mantiveram independentes entre si, divididas em patriarcados, cada um com suas características diferentes em função da região em que está implantado, a Igreja Católica Romana transformou-se num império, herdeiro administrativo do extinto Império Romano do Ocidente, com o Sumo Pontífice, cargo anteriormente atribuído aos imperadores romanos, sediado em Roma. Para os ortodoxos, Cristo é o chefe da Igreja, para os latinos, é o Papa, o Sumo Pontífice que dirige de forma autocrática todo a imensidão do mundo católico romano. Hoje restringido ao Vaticano, Estado independente que não chega a ter meio quilómetro quadrado de área, é o chefe incontestado e incontestável da espiritualidade católica, fundamentando o seu poder através dos dogmas que foram sendo incluídos nos cânones da Igreja através dos séculos.
Os dogmas são verdades incontestáveis, não admitem discussão. Existem hoje 46 dogmas, perfeitamente listados para quem quiser consultar a Internet. Por estranho que possa parecer, e celibato dos padres não é um dogma, depende apenas da vontade do Papa.
No seio de uma religião ditadora, que ditou ordens à Europa e ao mundo pós descobertas, é natural que tenham vindo a surgir dissidências e, quando o ramo não verga, quebra. Tirando o caso do Budismo, que não é uma religião, mas uma filosofia, não conheço nenhuma outra religião que dependa assim de um poder absoluto e centralizado. Talvez seja este o motivo principal das dissidências, dos cismas, das divisões de uma Igreja que, apesar da popularidade dos últimos Papas, difícil de compreender principalmente para o mundo feminino, continua a viver numa crise permanente e escondida. Hoje já não pode enviar exércitos para impor a sua doutrina aos povos submetidos
O Islamismo dividiu-se em duas facções principais, os xiitas e os sunitas, em razão dos sucessores de Muhammad (Maomé), pelo menos os primeiros três califas, terem sido usurpadores na opinião dos xiitas. Isto tornou-os inimigos permanentes.
O Cristianismo é uma religião dividida desde as suas mais remotas origens. Como já vimos na minha primeira crónica acerca deste assunto, os primeiros grupos cristãos não se entendiam em questões importantes como a verdadeira natureza de Jesus. Salientava-se uma corrente importante chamada arianismo, nome derivado do seu promotor, Arius, que negava a consubstancialidade entre Jesus e Deus e, portanto, a Trindade. Para Arius, Jesus era filho de Deus, subordinado a Ele, e não o próprio Deus, o qual seria um grande e eterno mistério, oculto em si mesmo, e que nenhuma criatura conseguiria revelá-lo, visto que Deus não podia se revelar a si mesmo.
Esta doutrina não tinha nada de extraordinário, pois estava de acordo com o pensamento judaico acerca da natureza de Deus como é explicado na Cabala e surgia directamente dos grupos gnósticos que tinham adoptado o Cristianismo. No entanto, apesar desta doutrina ser aceite pela maioria dos grupos cristãos, outros havia que começavam a assumir uma posição dogmática e consideravam o Pai, o Filho e o Espírito Santo como três manifestações da mesma natureza. Foi esta posição que foi assumida oficialmente no Concílio de Niceia liderado por Constantino e o arianismo foi considerado uma heresia, sendo Arius e outros apoiantes da sua posição sido expulsos do Concílio. Apesar disso, o arianismo não foi erradicado, antes pelo contrário, pois continua a ser um elemento de discórdia dentro do Cristianismo.
A palavra “cisma” quer dizer divisão e é aplicada, quase exclusivamente, no Cristianismo. Historicamente, apesar do Cristianismo viver em permanente cisma, por isso o título desta crónica, uma religião cismada, são considerados dois grandes cismas: o Cisma do Oriente e o Cisma do Ocidente.
O Cisma do Oriente refere-se à cisão entre a Igreja Católica Romana e Igreja Católica Ortodoxa. Para esta cisão contribuíram motivos de natureza política e de natureza religiosa ou teológica. Embora os motivos políticos tivessem criado sérios problemas para a unidade da Igreja, foram certamente motivos teológicos os responsáveis pelo definitivo desentendimento entre as duas Igrejas.
Por motivos políticos temos a grande reserva que os ortodoxos tinham em relação à dependência de Roma, reserva agravada com a divisão do Império Romano em Império do Ocidente e do Oriente, este com capital em Constantinopla . Enquanto os ortodoxos se fundavam numa organização clássica e conservadora, em que cada um dos patriarcas era dono e senhor do seu burgo, não guardando obediência a ninguém, senão ao sínodo dos patriarcas, os ocidentais obrigavam à dependência de Roma de todas as igrejas cristãs. O fosso foi agravado pelo saque de Constantinopla na 4ª Cruzada em 1204, em que os ocidentais saquearam a cidade e massacraram a população a qual, na sua grande maioria, era cristã ortodoxa.
As razões teológicas que dividem a Igreja Oriental da Ocidental prendem-se, essencialmente, com aquilo que foi designado como “filioque”, que quer dizer “do Filho ou procedente do Filho”. No Concílio de Niceia, em 325, foi adoptado um Credo, que é uma declaração de fé ou profissão de fé cristã, tendo sido aceite por ambas as Igrejas. Este Credo foi revisto mais tarde no Concílio de Constantinopla, em 381, e continuou a ser aceite. Mais tarde foi acrescentado o “filioque” e tudo se complicou. O que é, afinal, o “filioque”?
O “filioque” é um acrescento feito mais tarde pela Igreja latina em que coloca o Espírito Santo proveniente do Pai e do Filho e consubstancial ao Pai e ao Filho, declaração inaceitável pela Igreja Ortodoxa, pois para esta o Espírito Santo provém apenas do Pai ou por intermédio do Filho. Exemplo do “filioque” acrescentado ao Credo:
“Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida,
e procede do Pai e do Filho;
e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado:
Ele que falou pelos Profetas.”
Este acrescento que provocou a ira dos ortodoxos foi criado por monges latinos em Jerusalém. Para o Papa Leão III este acréscimo ao Credo era ilícito, mas os monges insistiram, tomando uma posição de força por se acharem sob a protecção do imperador Carlos Magno. Este, para resolver a questão, convocou um sínodo em Aquisgrano, onde a doutrina do “filioque” foi aprovada. Apesar disto a Santa Sé manteve-se na sua negativa em aprovar tal acréscimo, mas os cristãos ocidentais continuaram a exercer pressão para que fosse aprovado pela mais alta instância. Em 1013, o imperador do Sacro Império Romano, Henrique II, insistiu junto do Papa Bento VIII para que inserisse o “filioque” no Credo. O Papa acabou por concordar em 1014. Os ortodoxos, pela voz de Fócio, Patriarca de Alexandria, reagiram acusando os latinos de "transgressores da Palavra de Deus, corruptores da doutrina de Jesus Cristo, dos Apóstolos e dos padres; seriam novos Judas a dilacerar os membros de Cristo".
Estava aberta a chaga que iria separar definitivamente a Igreja Oriental da Ocidental. As acusações continuaram com o patriarca Cerulário de Constantinopla a fazer uma tremenda campanha contra os latinos por causa da natureza do Espírito Santo contemplado no “filioque”. A separação definitiva deu-se em 1054, quando o papa enviou a Constantinopla um cardeal para tentar conciliar as posições. Infelizmente parece que a missão desse cardeal não foi bem sucedida, pois acabou por excomungar o patriarca Cerulário e este, entendendo que a excomunhão incluía toda a Igreja bizantina, excomungou também o Papa Leão IX. Este foi o que ficou designado como o Grande Cisma do Oriente, que continua em vigor, pois as duas Igrejas nunca conseguiram um acordo até hoje.
Quando ao Cisma do Ocidente, não houve razões de natureza teológica na sua origem, mas razões políticas. Deu-se entre 1378 e 1417, com Papas e Antipapas, uns em Roma e outros em Avinhão, na França, chegando a haver também Antipapas em Pisa, na Itália. Cada um deles recebia apoios dos reinos europeus, que se dividiram também entre apoiar o Papa de Avinhão ou o Papa de Roma. O assunto ficou resolvido em 1417, sediando definitivamente a sede do papado em Roma.
Isto tudo não é nenhuma novidade, consta dos manuais de História e a própria Internet está cheia de informações a respeito. Resta saber a razão dos Cismas, principalmente na Igreja Ocidental pois, para além daqueles que foram considerados historicamente, na verdade tem havido, ao longo do tempo, uma constante instabilidade nessa instituição chamada Igreja Católica Romana. Desde a Reforma e a Contra-Reforma, à separação da Igreja de Inglaterra, aos problemas com a Igreja Americana, até à recente Teologia da Libertação na América Latina, cujos promotores foram duramente castigados pelo Vaticano, tudo isto tem levado a um sucessivo esvaziamento do seu poder e implantação na sociedade, embora as estatísticas continuem a dizer que os católicos são a maioria absoluta nos países do Ocidente. O protestantismo tem vindo a ganhar muito terreno nos últimos tempos pela via das Igrejas Evangélicas. Não incluímos como Cismas os vários movimentos considerados heréticos, como no caso dos Cátaros, assunto que será objecto de outra crónica.
Ao contrário das Igrejas Ortodoxas, que se mantiveram independentes entre si, divididas em patriarcados, cada um com suas características diferentes em função da região em que está implantado, a Igreja Católica Romana transformou-se num império, herdeiro administrativo do extinto Império Romano do Ocidente, com o Sumo Pontífice, cargo anteriormente atribuído aos imperadores romanos, sediado em Roma. Para os ortodoxos, Cristo é o chefe da Igreja, para os latinos, é o Papa, o Sumo Pontífice que dirige de forma autocrática todo a imensidão do mundo católico romano. Hoje restringido ao Vaticano, Estado independente que não chega a ter meio quilómetro quadrado de área, é o chefe incontestado e incontestável da espiritualidade católica, fundamentando o seu poder através dos dogmas que foram sendo incluídos nos cânones da Igreja através dos séculos.
Os dogmas são verdades incontestáveis, não admitem discussão. Existem hoje 46 dogmas, perfeitamente listados para quem quiser consultar a Internet. Por estranho que possa parecer, e celibato dos padres não é um dogma, depende apenas da vontade do Papa.
No seio de uma religião ditadora, que ditou ordens à Europa e ao mundo pós descobertas, é natural que tenham vindo a surgir dissidências e, quando o ramo não verga, quebra. Tirando o caso do Budismo, que não é uma religião, mas uma filosofia, não conheço nenhuma outra religião que dependa assim de um poder absoluto e centralizado. Talvez seja este o motivo principal das dissidências, dos cismas, das divisões de uma Igreja que, apesar da popularidade dos últimos Papas, difícil de compreender principalmente para o mundo feminino, continua a viver numa crise permanente e escondida. Hoje já não pode enviar exércitos para impor a sua doutrina aos povos submetidos
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Cadernos Esotéricos
Devido aos temas focados em algumas das minhas crónicas e sabendo o que está para vir, um amigo sugeriu-me: porque não fazer uma série versando o esoterismo? Pensei no assunto e aceitei a ideia. Decidi assim organizar uma sequência de crónicas a que darei o título principal de “Cadernos Esotéricos”.
O esoterismo é tradicionalmente considerado como algo que se sabe e se transmite boca a ouvido, de forma oculta e secreta, de iniciado para iniciado. Não será este o caso dos “Cadernos Esotéricos”, dado que os assuntos serão tornados públicos, mas seguindo o velho axioma de “quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja”. Falarei de coisas que a maioria das pessoas desconhece e revelarei, talvez, alguns segredos que se escondem por detrás das instituições religiosas e ordens iniciáticas, assim como procurarei falar de alguns mistérios da Antiguidade que perduram até hoje.
Nestes cadernos incluirei as duas primeiras crónicas sobre os segredos do Cristianismo e as próximas que escreverei sobre o assunto. Versarei sobre assuntos como “Os Templários”, “As Virgens Negras”, “As Origens dos Rituais na Igreja e na Maçonaria”, “O Caminho de Santiago”, “Ísis e as suas várias Manifestações”, e outros temas que vierem à calha. Darei a minha interpretação sobre as revelações do crânio de cristal efectuadas através de um “médium”.
Quem não souber o que é o crânio de cristal, sugiro uma consulta ao “Google”, onde há vários artigos acerca dele e que o descrevem com exactidão. Não se trata de uma invenção, como há muitas na Internet. Eles existem (há vários crânios), foram encontrados em diversos locais sobre a Terra e permanencem um enigma para os cientistas, que não conseguem conceber como é que terão sido feitos e porquê o formato de crânio. Falarei sobre as revelações do crânio encontrado em escavações numa antiga cidade maia, no ano de 1923 (ou 1927 conforme as diferentes versões), por Anna Le Guillon Mitchell-Hedges, filha adoptiva do arqueólogo inglês F. A. Mitchell-Hedges. Em 1983 foi feita uma experiência de contacto mediúnico com o crânio pela “médium” inglesa Carole Davis, a qual estabeleceu contacto com o crânio ou, com inteligências que responderam às questões colocadas através do crânio.
Estes cadernos serão publicados no blog das Crónicas Avulsas e comentários que possam fazer serão sempre bem vindos.
O esoterismo é tradicionalmente considerado como algo que se sabe e se transmite boca a ouvido, de forma oculta e secreta, de iniciado para iniciado. Não será este o caso dos “Cadernos Esotéricos”, dado que os assuntos serão tornados públicos, mas seguindo o velho axioma de “quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja”. Falarei de coisas que a maioria das pessoas desconhece e revelarei, talvez, alguns segredos que se escondem por detrás das instituições religiosas e ordens iniciáticas, assim como procurarei falar de alguns mistérios da Antiguidade que perduram até hoje.
Nestes cadernos incluirei as duas primeiras crónicas sobre os segredos do Cristianismo e as próximas que escreverei sobre o assunto. Versarei sobre assuntos como “Os Templários”, “As Virgens Negras”, “As Origens dos Rituais na Igreja e na Maçonaria”, “O Caminho de Santiago”, “Ísis e as suas várias Manifestações”, e outros temas que vierem à calha. Darei a minha interpretação sobre as revelações do crânio de cristal efectuadas através de um “médium”.
Quem não souber o que é o crânio de cristal, sugiro uma consulta ao “Google”, onde há vários artigos acerca dele e que o descrevem com exactidão. Não se trata de uma invenção, como há muitas na Internet. Eles existem (há vários crânios), foram encontrados em diversos locais sobre a Terra e permanencem um enigma para os cientistas, que não conseguem conceber como é que terão sido feitos e porquê o formato de crânio. Falarei sobre as revelações do crânio encontrado em escavações numa antiga cidade maia, no ano de 1923 (ou 1927 conforme as diferentes versões), por Anna Le Guillon Mitchell-Hedges, filha adoptiva do arqueólogo inglês F. A. Mitchell-Hedges. Em 1983 foi feita uma experiência de contacto mediúnico com o crânio pela “médium” inglesa Carole Davis, a qual estabeleceu contacto com o crânio ou, com inteligências que responderam às questões colocadas através do crânio.
Estes cadernos serão publicados no blog das Crónicas Avulsas e comentários que possam fazer serão sempre bem vindos.
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