Ultimamente tem-se falado muito no 3º segredo de Fátima que, aparentemente e por vontade de Lúcia, deveria ter sido conhecido do público em geral em 1960, mas, sabe-se lá porquê, parece que ninguém teve coragem de o revelar.
Mas falar do 3º segredo dá a entender que houve outros dois anteriormente.. Na verdade não se tratou de segredos, mas de revelações feitas por Lúcia à altura das aparições, revelações que lhe teriam sido comunicadas pela Senhora.
A primeira destas revelações dizia que a guerra iria acabar nesse ano de 1917. Estava-se na altura em plena 1ª Grande Guerra, a guerra mais estúpida de todas, porque ninguém sabe exactamente o que a motivou, para além dos egos imperialistas e incompetência militarista de generais e marechais. Ora a guerra não terminou nesse ano, mas no armistício assinado mais de um ano depois, no dia 11 de Novembro de 1918, que pôs fim à inútil carnificina de milhões de seres humanos.
O 2º segredo ou revelação, era a conversão da Rússia ao Sagrado Coração de Maria. Não se sabe bem o que queria dizer esta canversão, uma vez que a Rússia sempre foi um país cristão, onde a Igreja Católica Ortodoxa teve sempre grande poder. Corria o ano de 1917, por coincidência o ano da revolução bolchevique, que levou à instauração do comunismo na Rússia e países satélites, formando a confederação que passou a ser designada por União Soviética. Não se percebe uma revelação feita numa altura em que as coisas estavam a correr exactamente ao contrário. Se era uma revelação em relação ao futuro, então tratava-se de uma profecia acerca da desarticulação do império comunista que ocorreu mais de 70 anos depois. Entretanto, que se saiba, não houve nenhuma conversão.
Do muito que já li e pesquisei sobre Fátima, fiquei com a convicção de que tudo não passa de uma enorme manipulação. Os segredos não são segredos, inclusive o terceiro que, ao longo do tempo foi sendo conhecido por padres, bispos, cardeais e papas. Se foi sendo conhecido por tanta gente, deixou de ser segredo, a não ser que tivesse passado à condição de segredo de Estado do Vaticano ou que não pudesse ser revelado por obrigação de silêncio dos clérigos. Por outro lado a manutenção de uma ideia de segredo é favorável e, ao mesmo tempo, incómoda para a Igreja. Tal como nas profecias, a ideia de segredo comporta em si a ideia de algo calamitoso, de algo horrível que está previsto acontecer. Esta situação é favorável à Igreja pois vem na linha das antigas profecias, como as do Apocalipse, e provocam através do medo um acréscimo à fé dos crentes e mesmo um considerável aumento do número desses crentes. É desfavorável porque trás consigo também a ideia de predeterminismo, quer dizer, seja o que for que façamos tudo tem que acontecer conforme o previsto.
A história de Fátima e dos seus segredos não parece ser mais do que o resultado de alucinaçõs de Lúcia, fomentadas por clérigos fanáticos e bem aproveitadas pela Igreja. Confinada a um convento logo após os acontecimentos na Cova da Iria, impedida de comunicar com o exterior e de trocar correspondência até com os próprios pais, Lúcia escreveu as suas memórias em completa clausura, fora do mundo, obedecendo às ordens do bispo de Leiria. Lúcia escreveu a primeira série de memórias entre 1935 e 1941, a segunda séria já em 1989 ou seja, muitos anos depois dos acontecimentos verificados e depois de passarem pelo crivo censor da Igreja. Nestas condições é legítimo presumir que as suas memórias contêm muito da sua imaginação criativa, que são verdadeiras alucinações originadas pelas severas condições de recolhimento a que foi sujeita. Na altura em que foi enclausurada e obrigada inclusive a mudar o seu nome para Maria das Dores, retirando-lhe a própria individualidade, Lúcia era uma menina que não teria mais do que 15 anos de idade, meio analfabeta e com uma cultura rural e primária de camponesa. Estava portanto em condições ideais para ser manipulada e levada a comportar-se e a exprimir-se de acordo com as exigências impostas pela Igreja. Esta não podia deixá-la solta e livre no mundo pois, para além de não servir aos seus intentos, ainda podia vir a acusá-la de bruxaria.
Se não me engano e recorrendo apenas à memória, foi nos anos oitenta que o Vaticano tornou pública pela primeira vez a terceira parte do 3º segredo. A primeira e segunda partes já eram conhecidas: a primeira dizia respeita à visão do inferno para onde seriam atiradas as almas que não se convertessem; a segunda referia-se à eclosão da 2ª Grande Guerra. Como esta segunda parte foi escrita em 1941, foi mais uma constatação de facto do que de uma profecia, pois a guerra já tinha começado.
A revelação da terceira parte do segredo não foi feita de forma clara e transparente, quero dizer, não foi lido o texto que Lúcia terá escrito. Segundo algumas interpretações, diria respeito a um atentado contra um padre vestido de branco que Lúcia teria associado ao Santo Padre, o qual caminhava numa cidade reduzida a escombros entre muita gente morta e ferida, acabando por ele, o Santo Padre, também ser morto, assim como muitos outros sacerdotes. Quando João Paulo II sofreu aquele atentado na Praça de São Pedro, logo vieram dizer que Sse tratava do acontecimento previsto nessa terceira parte do terceiro segredo. Só que, neste caso, não havia uma cidade em escombros nem ninguém mais foi morto ou ferido, além do próprio Papa. Outras interpretações dizem que essa terceira parte diz respeito à crise que a humanidade atravessará, com divisões e desavenças no seio da Igreja, entre padres, bispos e cardeais.
Não sei porque razão esta terceira parte tem que se referir, necessariamente, à Cúria Romana. Em relação à primeira interpretação, o único caso parecido que se conhece é o do bispo de Dili, Ximenes Belo que, vestido de branco quando da invasão indonésia, caminhou entre mortos e feridos numa cidade em escombros e teve que fugir para as montanhas para salvar a própria vida. No segundo caso não se conhecem até ao momento desavenças grav es dentro da Igreja, excepto uma tensão crescente entre os progressistas, defensores da aplicação integral das deliberações tomadas no Concílio Vaticano II, e os conservadores, os que não querem implementar aquelas deliberações e que têm sido liderados pelos últimos Papas, com especial relevância para João Paulo II e o actual Bento XVI. Portanto, é muito natural que as divergências se aprofundem e vejamos, a curto ou médio prazo, um novo “cisma” se instalar nas hostes da Igreja Romana.
Em que é que estas revelações ou segredos são diferentes das visões que várias pessoas chamadas “médiuns” vão tendo por toda a parte? Em nada, com apenas uma diferença: aquelas são suportadas pela Igreja; as últimas não são reconhecidas por ela, a que chama normalmente de manifestações demoníacas.
O verdadeiro segredo de Fátima ainda está por revelar. O verdadeiro segredo tem a ver com o que realmente se passou em Fátima em 1917. A Igreja apropriou-se desse segredo, confinou a vidente sobrevivente à clausura de um convento e transformou Fátima numa autêntica mina de ouro, com milhões de devotos que anualmente ali deixam milhões de euros. A própria imagem da Senhora de Fátima não tem nada de parecido com a figura que Lúcia dizia ter visto e com quem tinha conversado. A imagem da Senhora de Fátima foi construída a partir do modelo das imagens da Senhora da Conceição.
Para algumas pessoas, incluindo alguns teólogos e alguns responsáveis do Santuário, os acontecimentos de 1917 não passaram de um fenómeno OVNI. Então, o verdadeiro segredo está bem guardado e nunca será revelado. Quanto aos outros três, nunca existiram de facto, a não ser na mente alucinada de Lúcia e no fanatismo de alguns padres e bispos. Em Fátima nunca aconteceram nem acontecem milagres, provas evidentes de que alguma força superior ou divina ali exerce o seu poder. O único milagre de Fátima são os rios de dinheiro que para ali correm abundantemente. A mensagem de Fátima é essencialmente sacrificial e o terço é uma prática de origem e raiz pagãs, pois não tem nada a ver com a mensagem dos Evangelhos, onde a única oração ensinada por Jesus foi o Pai Nosso.
Este assunto merece ainda um maior e melhor tratamento, como por exemplo a tendência de alguns sectores da Igreja se esforçarem por manter a população no maior obscurantismo e ignorância ou, o papel que Fátima desempenhou na sustentação do Estado Novo e da guerra coplonial em três frentes. Mas isto deixo para outras calendas
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