sexta-feira, 7 de março de 2008

Os Segredos de Fátima II

"Nas coisas desta vida não há outra certeza senão serem todas incertas e mudáveis"
(Joana da Gama, portuguesa do tempo de Galileu)

Os acontecimentos de Fátima em 1917 foram um fenómeno OVNI?
A maior dúvida que se abate sobre quem pretende pesquisar Fátima e o que realmente aconteceu em 1917 é a seguinte: se os fenómenos ocorridos ali de Maio a Outubro não tivessem sido aproveitados e adaptados em termos religiosos, teriam a repercussão que vieram a ter? A minha resposta terá que ser, necessariamente, negativa: não, não teriam, da mesma forma que outros fenómenos semelhantes têm acontecido um pouco por toda a parte e não têm sido objecto de grande divulgação, excepto entre alguns grupos de pesquisadores dos fenómenos a que atribuem uma origem alienígena.
Algumas pessoas me têm perguntado o porquê do meu interesse em desmistificar Fátima, se não seria melhor deixar as coisas como estão, acreditando-se ou não que ali se passou um fenómeno religioso. A isso respondo que não pretendo desmistificar os santuários e cultos marianos, cultos de origem pagã adaptados e adoptados pelo cristianismo na figura de Maria, mãe de Jesus, que substituíram os antigos cultos à Grande Mãe, à Mãe Natureza, etc. Mas Fátima é diferente, Fátima foi transformada num culto penoso e sacrificial, digno de uma Igreja de trevas e muito semelhante aos seus processos da Idade Média.
Porque é que os fenómenos de Fátima se tornaram conhecidos e ganharam a dimensão que se conhece, enquanto outros fenómenos semelhantes ficaram no esquecimento? Por estranho que possa parecer, os fenómenos de Fátima iniciados no dia 13 de Maio de 1917 foram anunciados com antecedência. Assim, vejo dois motivos principais para a repercussão e expansão que Fátima teve: o anúncio em jornais de que algo extraordinário estava para acontecer em 13 de Maio e o testemunho de extra-videntes e de pessoas presentes no local dos acontecimentos.
No dia 7 de Fevereiro de 1917, um grupo espírita de Lisboa recebeu uma estranha mensagem anunciando para o dia 13 de Maio a vinda de uma luz brilhante, mensagem assinada por Stella Matutina (estrela da manhã, correspondente ao planeta Vénus). Este grupo achou que a mensagem não era igual às que habitualmente recebia e assim, decidiu publicá-la em anúncio no Diário de Notícias, na edição do dia 10 de Março.
Muitas outras mensagens circularam pelo país, apontando todas para o dia 13 de Maio, porém, não indicando o lugar em que tal acontecimento transcendente ocorreria. Três jornais do Porto, o Primeiro de Janeiro, o Jornal de Notícias e o Liberdade, receberam um postal assinado por um "espírita António" que ninguém conhecia, anunciando um fenómeno extraordinário para o dia 13 de Maio. No próprio dia 13 de Maio pela manhã, os leitores destes jornais puderam ler o assunto nas primeiras páginas. No Primeiro de Janeiro teve honras de editorial assinado pelo jornalista Guedes de Oliveira.
Como não foi indicado o local em que o fenómeno transcendente iria acontecer, no dia 13 de Maio de 1917 os três videntes estavam sozinhos. No entanto, mais alguém presenciou coisas estranhas, como a paralisação do rebanho de ovelhas à guarda dos videntes, talvez Maria Carreira, cuja filha em 28 de Julho desse ano foi surpreendida por um ser que, anos mais tarde, não soube dizer se era menino ou menina.
A notícia da primeira aparição espalhou-se rapidamente. Segundo os registos paroquiais, em Junho há 40 pessoas, em Julho 4 a 5 mil, em Agosto 15 a 18 mil, em Setembro 25 a 30 mil, em Outubro 40 a 50 mil. Em Agosto não houve conversa com a entidade, pois os videntes tinham sido levados para Vila Nova de Ourém. No entanto, toda a gente presente no local foi testemunha de objectos luminosos deslocarem-se entre as nuvens, de relâmpagos e trovões sem nenhum sinal de trovoada. Nesse mesmo dia 13 de Agosto um observatório francês registou fenómenos luminosos estranhos no céu.
A descrição da imagem com que Lúcia conversava, não tem nada de semelhante com a imagem oficial da Senhora de Fátima, que foi adoptada. Já disse anteriormente que essa imagem foi baseada nas imagens da Senhora da Conceição. Segundo as palavras de Lúcia na altura, era uma mulherzinha muito bonita que não devia ter mais de 12 ou 14 anos de idade e tinha de altura mais ou menos um metro e dez.
"Eu nunca disse que era Nossa Senhora, mas uma mulherzinha bonita", disse ainda Lúcia em 1935 a Antero de Figueiredo.
"Se os cachopos viram uma mulher vestida de branco, quem poderia ser senão Nossa Senhora?", afirmou um tio de Jacinta e Francisco. Ora bem, deste exemplo se infere que, na cultura popular, que nada sabia de fenómenos OVNI, uma aparição desta natureza só podia ser coisa do demónio ou de Deus e, se era de Deus, só podia ser Nossa Senhora, mãe de Jesus.
Continuando na descrição feita por Lúcia ao pároco de Fátima, responsável pelo primeiro inquérito, ela afirmou que a saia da entidade chegava apenas aos joelhos. O pároco transcreveu esta informação como saia curta mas, mesmo assim, não conforme com a decência e moral católicas em que a saia devia chegar aos pés. O responsável seguinte pelo inquérito, o cónego Formigão, também ouviu da boca dos videntes a mesma informação, que a saia chegava apenas aos joelhos.
As alterações feitas pelos clérigos às descrições ouvidas da boca dos videntes são prova evidente da manipulação operada por eles para tornar as aparições mais de acordo com o catolicismo. O retrato físico descrito por Lúcia e pelos outros videntes não tem nada a ver com a imagem estereotipada da mãe de Jesus: era uma figura de aparência feminina, muito bonita; aparecia rodeada de luz que cegava; media cerca de 1,10 metros de altura; aparentava ter entre 12 e 14 anos de idade; vestia uma saia travada que chegava apenas aos joelhos; o vestuário era branco, mas a saia e o manto tinham uns cordõezinhos em quadriculado, dourados; o casaco tinha dois ou três cordõezinhos nos punhos; tinha as pernas cobertas por meias brancas; a cabeça estava envolta em algo que lhe cobria as orelhas e os cabelos; segurava nas mãos o que parecia um terço (um círculo com uma cruz é o símbolo de Vénus e do feminino); Na cintura tinha uma bola luminosa; o pescoço era rodeado por uma espécie de argolas; deslizava vinda do alto, do lado nascente, e voltava a subir a pouco e pouco, no sentido oeste. É interessante notar que a bola luminosa foi transformada em "borla" e as argolas à volta do pescoço no "Sagrado Coração de Maria".
Para completar a descrição, alguns testemunhos de outras pessoas: ouviam uma voz muito fina como se fosse o zumbido de uma abelha; no momento em que Lúcia se despedia e olhava para o alto, ouviam um som como o rugido de um foguete a elevar-se; durante as aparições eram vistos vários objectos luminosos rodearem o local.
Evidentemente que estas descrições feitas na mesma altura dos acontecimentos, nada têm a ver com a imagem oficial nem com o que Lúcia escreveu entre 1935 e 1941, mais tarde em 1989. Nesta altura já estava perfeitamente instruída e manipulada pelos padres, principalmente pelos jesuítas que eram seus confessores.
Como nota final, para as descrições socorri-me da obra de Fina D'Armada, um historiadora que passou grande parte da sua vida pesquisando o fenómeno de Fátima e sobre o qual escreveu vários livros.

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