Onde está a verdade?
“No vazio está o gérmen de todas as coisas. E este gérmen é a Suprema Verdade”
Lao Tse – Século VII a. C.
Nas três crónicas anteriores abordei o assunto de Fátima pela perspectiva histórica dos acontecimentos que levaram à construção de um dos maiores santuários da cristandade. No aspecto histórico podemos dizer que há duas Fátimas: A Fátima 1, a oficial, aquela que se projectou no mundo católico como o local das aparições de Maria; a Fátima 2, aquela cujos fenómenos foram preanunciados e depois ocultados por interesses de poder temporal. Analisando os factos na sua origem e com base nos primeiros depoimentos dos videntes, podemos dizer que Fátima 1 não corresponde à verdade e Fátima 2 está impregnada de uma verdade histórica e misteriosa. Evidentemente que tudo foi feito para tornar verdadeira a Fátima 1: memórias de Lúcia, livros, filmes, etc. Isto com pleno sucesso, pois hoje quase ninguém quer saber da Fátima 2, daquilo que verdadeiramente aconteceu na Cova da Iria em 1917.
Ninguém parece ter reparado que os fenómenos ocorreram entre Maio e Outubro, envolvendo o solstício de Verão (no Hemisfério Norte) e o equinócio do Outono, tendo sido anunciados antes da Primavera. Ou seja, antes da Primavera é o anúncio de um renascimento, no Verão a maturidade, no Outono o anúncio da morte próxima, configurada no Inverno. Nos ritos pagãos da Antiguidade todas estas épocas tinham um significado muito especial e eram comemoradas com festas e rituais apropriados. Esta tradição sobreviveu dentro do cristianismo pois, não é por acaso que as festas e romarias se realizam dentro daquele período.
A mensagem não oficial de Fátima, aquela que consta dos primeiros inquéritos, não é uma mensagem de sacrifício, mas de esperança e anúncio dos tempos vindouros. Lúcia é convidada pela entidade a aprender a ler. Trata-se de um convite de libertação e um anúncio de novos tempos onde a mulher se tem vindo a libertar dos velhos grilhões e a humanidade a livrar-se gradualmente das velhas vestes dogmáticas e opressoras. Infelizmente o que ocorreu foi justamente o oposto, o aprofundamento das velhas dependências psicológicas e emocionais que são, em síntese, a mensagem oficial de Fátima.
Ensina-nos a Física Quântica que somos os construtores do mundo que nos rodeia. Que somos os nossos próprios criadores, ou seja, que criamos tudo quanto existe, desde ideias, pensamentos, até às coisas materiais, as quais influenciamos permanentemente pelos nossos pensamentos, sentimentos e emoções. Desta forma, se muita gente, milhões de pessoas acreditarem em algo que não tenha existido historicamente, esse algo ganha vida própria e passa a ser uma verdade inquestionável. O inconsciente colectivo é o repositório das ansiedades, dos desejos, do desespero, da esperança, dos sonhos, dos pensamentos, das emoções do ser humano. A verdade histórica deixa de ter importância, fica reduzida ao pó das gavetas e das prateleiras das bibliotecas, e passa a ser uma verdade que, nos tempos actuais, poderíamos chamar de verdade virtual. Mas não deixa de ser real pelo facto de lhe chamarmos virtual. E quando esta verdade virtual se cristaliza no inconsciente colectivo, torna-se indestrutível, porque se alimenta permanentemente da fé dos que nela acreditam. Sempre foi assim desde que há História, muitas coisas que hoje assumimos como verdades absolutas nunca aconteceram na realidade.
Se por um lado há efeitos positivos para a sociedade nesta cristalização de ideias no inconsciente colectivo, principalmente na uniformização de comportamentos que tornam viável a vida em sociedade, por outro lado tem também efeitos nocivos, pois é dessa cristalização que resultam os dogmas e o fanatismo religioso ou político.
No caso de Fátima a verdade histórica foi anulada por uma verdade construída, que vem sendo alimentada dia a dia, ano a ano, pela fé dos devotos e peregrinos que projectam nela a sua crença, as suas ansiedades, adversidades, desespero, esperando sempre um milagre de compaixão que alivie a carga e as dores da existência. A verdade de Fátima é a verdade dos peregrinos das longas jornadas a pé, dos penitentes ferindo os joelhos à volta da capela para pagamento de alguma promessa, dos milhões de devotos espalhados por todo o mundo, que levam até ela o penhor das suas orações.
A verdade de Fátima tornou-se indestrutível e inquestionável pela vontade dos peregrinos e devotos, não importa se corresponde ou não a uma verdade histórica.
segunda-feira, 17 de março de 2008
sábado, 8 de março de 2008
Os Segredos de Fátima III
Fátima – de Altar Português a Altar do Mundo
Uma das questões que tem incomodado a Igreja é a posição assumida pelo papa Pio XII durante a 2ª Grande Guerra, ao não condenar explicitamente Hitler e o nazismo. Tenho ouvido ao longo do tempo várias razões tentando explicar a sua estranha neutralidade no conflito. Há quem diga que foi para não prejudicar os católicos alemães e que afinal, quando os nazis invadiram Roma, ele mandou receber uns milhares de refugiados no Vaticano, a maioria deles judeus. Milhares de judeus também conseguiram refúgio em muitos conventos de Itália. Uma outra explicação me foi dada por um bispo português. Segundo este bispo a posição de Pio XII justificava-se porque ele sabia que o perigo real não estava no nazismo, mas sim no comunismo liderado pela Rússia de Estaline. Respondi-lhe que a questão não era política, mas humanitária, e não compreendia a posição do Vaticano perante o genocídio que estava a ser cometido contra o povo judeu e outras raças e etnias, como os ciganos. É óbvio que Pio XII poderia ter tomado uma posição coerente com os princípios evangélicos, condenando Hitler e o nazismo, assim como Estaline e o comunismo. Tinha também um bom pretexto, pois Hitler já se tinha manifestado contra a hierarquia e organização da Igreja em vários discursos, dizendo no entanto que era um crente em Deus – ninguém sabe de que Deus é que ele falava. Mas não o fez, manteve-se na posição de Pilatos, lavando as mãos em relação ao que estava a acontecer.
Mas o assunto começa a fazer algum sentido se o analisarmos a partir de uma perspectiva anticomunista, posição desde sempre assumida pela Igreja ou, pela grande maioria dos seus membros. Lembremo-nos da “Teologia da Libertação” defendida por alguns padres da América do Sul, que foi condenada pelo Vaticano e os padres, se não foram excomungados, foram proibidos de continuar a exercer a sua função de sacerdotes.
É neste contexto anticomunista que Fátima assume um papel predominante. Deixa de ser um assunto relativamente incómodo para a Igreja, que não sabe exactamente como encarar os factos ocorridos com os videntes, e passa a altar português para o mundo, representando as forças ideológicas que se opõem à expansão comunista. Estando localizada em Portugal, país que a partir de 1926 passou a ser governado pelas forças conservadoras antidemocráticas e anticomunistas, era a situação ideal para a transformar na “luz do mundo” no combate contra as trevas do comunismo, entendido por muitos sectores conservadores como a encarnação da besta do Apocalipse. De notar que o reconhecimento oficial de Fátima pela Igreja só aconteceu em 1930, reconhecimento não alheio certamente à implementação do regime saído da revolução de 28 de Maio de 1926.
Tanto assim é que, ainda nos anos vinte as declarações de Lúcia continuam mais ou menos coerentes com as primeiras impressões transmitidas aos sacerdotes encarregados dos primeiros inquéritos. Como mostrei na crónica anterior, em 1935, dezoito anos depois das aparições, Lúcia declara a Antero de Figueiredo que nunca afirmara que a aparição era Nossa Senhora, mas sim uma mulherzinha muito bonita.
As coisas mudam completamente a partir daquele ano. Entre 1935 e 1941 Lúcia é instada a escrever as suas memórias. Nestas parece desmentir muitas das anteriores declarações e assumir um papel anticomunista. É nesta altura que começa a tomar forma a história do segredo, dividido em três partes: a visão do inferno com as almas dos pecadores (comunistas) em eterna agonia; a oração e penitência exigida aos fieis para a conversão da Rússia; a parte que se manterá secreta até aos anos oitenta.
A decisão de escrever as memórias não parte de Lúcia, mas sim em obediência a um pedido, ou ordem expressa, do bispo de Leiria. Lúcia mal sabe escrever, mas as suas memórias aparecem bem escritas, num português correcto, prova de que foram corrigidas, emendadas e alteradas para se enquadrarem nas intenções programáticas e ideológicas da Igreja. Estamos a falar de uma Igreja extremamente conservadora no seio de um Estado conservador, ideologicamente coincidente, ou seja, duas forças semelhantes com objectivos comuns. À política obscurantista da Igreja, o Estado Novo complementa com a ideia de que os portugueses apenas precisam de saber ler, escrever e contar, não precisam de cursos superiores.
Entretanto, na sua miserável vida de clausura a que foi submetida, Lúcia começa a ter uma vaga noção do enorme poder que representa. No mundo católico é a testemunha viva da relação com Deus através de Nossa Senhora. Fazendo a vontade dos “doutores” da Igreja, transforma-se num ser cuja importância vai crescendo à medida em que vai “criando” as suas memórias. Já não é importante que sejam verdadeiras, é preciso que se conformem com os desígnios da Igreja.
O “casamento” entre a Igreja e o Estado Novo começa a mudar de figura com a eclosão da guerra colonial e a sua expansão a três frentes. Muitos sectores influentes da Igreja reconhecem o direito dos povos à autodeterminação e repudiam a guerra que se desenrola, pois não vêem no conflito uma solução para o problema das colónias. O Vaticano fica assim entre a espada e a parede. Prova desse mal-estar é a visita que Paulo VI faz à Índia em 1964, que deixa Salazar furioso, considerando que essa visita era uma afronta a Portugal. Esse mal-estar continuou na visita a Fátima de Paulo VI, em 1967.
Gradualmente o Vaticano vai tomando conta de Fátima. A autoridade sobre o Santuário deixou de ser portuguesa, o facto das aparições terem acontecido ali, em solo português, transforma-se em mero acidente.
Lúcia sente-se cada vez mais importante. O documento do segredo está em poder do Vaticano, de cuja dependência passou a estar Fátima. Recusa um pedido do Reitor de Fátima para responder a um questionário, dizendo que só o fará se o Reitor obtiver autorização de Roma. O questionário nunca foi respondido, não se sabe se por falta de autorização, ou se essa autorização chegou a ser pedida. Lúcia já não é portuguesa, está acima de qualquer português, pois nela só Roma é que pode mandar.
Controlada pelo Vaticano, Fátima deixou de ser um altar português e passou a altar do mundo. No entanto, não ganhou nada com a troca em termos teológicos, pois continua a integrar uma mensagem de sacrifício, de penitência, de exaltação de culpa, de opressão, de fanatismo, oferecendo como caminho de salvação um comportamento retrógrado, involutivo, digno das trevas da Idade Média e não consentâneo com os tempos actuais. Em Fátima não há amor, há apenas castigo.
Uma das questões que tem incomodado a Igreja é a posição assumida pelo papa Pio XII durante a 2ª Grande Guerra, ao não condenar explicitamente Hitler e o nazismo. Tenho ouvido ao longo do tempo várias razões tentando explicar a sua estranha neutralidade no conflito. Há quem diga que foi para não prejudicar os católicos alemães e que afinal, quando os nazis invadiram Roma, ele mandou receber uns milhares de refugiados no Vaticano, a maioria deles judeus. Milhares de judeus também conseguiram refúgio em muitos conventos de Itália. Uma outra explicação me foi dada por um bispo português. Segundo este bispo a posição de Pio XII justificava-se porque ele sabia que o perigo real não estava no nazismo, mas sim no comunismo liderado pela Rússia de Estaline. Respondi-lhe que a questão não era política, mas humanitária, e não compreendia a posição do Vaticano perante o genocídio que estava a ser cometido contra o povo judeu e outras raças e etnias, como os ciganos. É óbvio que Pio XII poderia ter tomado uma posição coerente com os princípios evangélicos, condenando Hitler e o nazismo, assim como Estaline e o comunismo. Tinha também um bom pretexto, pois Hitler já se tinha manifestado contra a hierarquia e organização da Igreja em vários discursos, dizendo no entanto que era um crente em Deus – ninguém sabe de que Deus é que ele falava. Mas não o fez, manteve-se na posição de Pilatos, lavando as mãos em relação ao que estava a acontecer.
Mas o assunto começa a fazer algum sentido se o analisarmos a partir de uma perspectiva anticomunista, posição desde sempre assumida pela Igreja ou, pela grande maioria dos seus membros. Lembremo-nos da “Teologia da Libertação” defendida por alguns padres da América do Sul, que foi condenada pelo Vaticano e os padres, se não foram excomungados, foram proibidos de continuar a exercer a sua função de sacerdotes.
É neste contexto anticomunista que Fátima assume um papel predominante. Deixa de ser um assunto relativamente incómodo para a Igreja, que não sabe exactamente como encarar os factos ocorridos com os videntes, e passa a altar português para o mundo, representando as forças ideológicas que se opõem à expansão comunista. Estando localizada em Portugal, país que a partir de 1926 passou a ser governado pelas forças conservadoras antidemocráticas e anticomunistas, era a situação ideal para a transformar na “luz do mundo” no combate contra as trevas do comunismo, entendido por muitos sectores conservadores como a encarnação da besta do Apocalipse. De notar que o reconhecimento oficial de Fátima pela Igreja só aconteceu em 1930, reconhecimento não alheio certamente à implementação do regime saído da revolução de 28 de Maio de 1926.
Tanto assim é que, ainda nos anos vinte as declarações de Lúcia continuam mais ou menos coerentes com as primeiras impressões transmitidas aos sacerdotes encarregados dos primeiros inquéritos. Como mostrei na crónica anterior, em 1935, dezoito anos depois das aparições, Lúcia declara a Antero de Figueiredo que nunca afirmara que a aparição era Nossa Senhora, mas sim uma mulherzinha muito bonita.
As coisas mudam completamente a partir daquele ano. Entre 1935 e 1941 Lúcia é instada a escrever as suas memórias. Nestas parece desmentir muitas das anteriores declarações e assumir um papel anticomunista. É nesta altura que começa a tomar forma a história do segredo, dividido em três partes: a visão do inferno com as almas dos pecadores (comunistas) em eterna agonia; a oração e penitência exigida aos fieis para a conversão da Rússia; a parte que se manterá secreta até aos anos oitenta.
A decisão de escrever as memórias não parte de Lúcia, mas sim em obediência a um pedido, ou ordem expressa, do bispo de Leiria. Lúcia mal sabe escrever, mas as suas memórias aparecem bem escritas, num português correcto, prova de que foram corrigidas, emendadas e alteradas para se enquadrarem nas intenções programáticas e ideológicas da Igreja. Estamos a falar de uma Igreja extremamente conservadora no seio de um Estado conservador, ideologicamente coincidente, ou seja, duas forças semelhantes com objectivos comuns. À política obscurantista da Igreja, o Estado Novo complementa com a ideia de que os portugueses apenas precisam de saber ler, escrever e contar, não precisam de cursos superiores.
Entretanto, na sua miserável vida de clausura a que foi submetida, Lúcia começa a ter uma vaga noção do enorme poder que representa. No mundo católico é a testemunha viva da relação com Deus através de Nossa Senhora. Fazendo a vontade dos “doutores” da Igreja, transforma-se num ser cuja importância vai crescendo à medida em que vai “criando” as suas memórias. Já não é importante que sejam verdadeiras, é preciso que se conformem com os desígnios da Igreja.
O “casamento” entre a Igreja e o Estado Novo começa a mudar de figura com a eclosão da guerra colonial e a sua expansão a três frentes. Muitos sectores influentes da Igreja reconhecem o direito dos povos à autodeterminação e repudiam a guerra que se desenrola, pois não vêem no conflito uma solução para o problema das colónias. O Vaticano fica assim entre a espada e a parede. Prova desse mal-estar é a visita que Paulo VI faz à Índia em 1964, que deixa Salazar furioso, considerando que essa visita era uma afronta a Portugal. Esse mal-estar continuou na visita a Fátima de Paulo VI, em 1967.
Gradualmente o Vaticano vai tomando conta de Fátima. A autoridade sobre o Santuário deixou de ser portuguesa, o facto das aparições terem acontecido ali, em solo português, transforma-se em mero acidente.
Lúcia sente-se cada vez mais importante. O documento do segredo está em poder do Vaticano, de cuja dependência passou a estar Fátima. Recusa um pedido do Reitor de Fátima para responder a um questionário, dizendo que só o fará se o Reitor obtiver autorização de Roma. O questionário nunca foi respondido, não se sabe se por falta de autorização, ou se essa autorização chegou a ser pedida. Lúcia já não é portuguesa, está acima de qualquer português, pois nela só Roma é que pode mandar.
Controlada pelo Vaticano, Fátima deixou de ser um altar português e passou a altar do mundo. No entanto, não ganhou nada com a troca em termos teológicos, pois continua a integrar uma mensagem de sacrifício, de penitência, de exaltação de culpa, de opressão, de fanatismo, oferecendo como caminho de salvação um comportamento retrógrado, involutivo, digno das trevas da Idade Média e não consentâneo com os tempos actuais. Em Fátima não há amor, há apenas castigo.
sexta-feira, 7 de março de 2008
Os Segredos de Fátima II
"Nas coisas desta vida não há outra certeza senão serem todas incertas e mudáveis"
(Joana da Gama, portuguesa do tempo de Galileu)
Os acontecimentos de Fátima em 1917 foram um fenómeno OVNI?
A maior dúvida que se abate sobre quem pretende pesquisar Fátima e o que realmente aconteceu em 1917 é a seguinte: se os fenómenos ocorridos ali de Maio a Outubro não tivessem sido aproveitados e adaptados em termos religiosos, teriam a repercussão que vieram a ter? A minha resposta terá que ser, necessariamente, negativa: não, não teriam, da mesma forma que outros fenómenos semelhantes têm acontecido um pouco por toda a parte e não têm sido objecto de grande divulgação, excepto entre alguns grupos de pesquisadores dos fenómenos a que atribuem uma origem alienígena.
Algumas pessoas me têm perguntado o porquê do meu interesse em desmistificar Fátima, se não seria melhor deixar as coisas como estão, acreditando-se ou não que ali se passou um fenómeno religioso. A isso respondo que não pretendo desmistificar os santuários e cultos marianos, cultos de origem pagã adaptados e adoptados pelo cristianismo na figura de Maria, mãe de Jesus, que substituíram os antigos cultos à Grande Mãe, à Mãe Natureza, etc. Mas Fátima é diferente, Fátima foi transformada num culto penoso e sacrificial, digno de uma Igreja de trevas e muito semelhante aos seus processos da Idade Média.
Porque é que os fenómenos de Fátima se tornaram conhecidos e ganharam a dimensão que se conhece, enquanto outros fenómenos semelhantes ficaram no esquecimento? Por estranho que possa parecer, os fenómenos de Fátima iniciados no dia 13 de Maio de 1917 foram anunciados com antecedência. Assim, vejo dois motivos principais para a repercussão e expansão que Fátima teve: o anúncio em jornais de que algo extraordinário estava para acontecer em 13 de Maio e o testemunho de extra-videntes e de pessoas presentes no local dos acontecimentos.
No dia 7 de Fevereiro de 1917, um grupo espírita de Lisboa recebeu uma estranha mensagem anunciando para o dia 13 de Maio a vinda de uma luz brilhante, mensagem assinada por Stella Matutina (estrela da manhã, correspondente ao planeta Vénus). Este grupo achou que a mensagem não era igual às que habitualmente recebia e assim, decidiu publicá-la em anúncio no Diário de Notícias, na edição do dia 10 de Março.
Muitas outras mensagens circularam pelo país, apontando todas para o dia 13 de Maio, porém, não indicando o lugar em que tal acontecimento transcendente ocorreria. Três jornais do Porto, o Primeiro de Janeiro, o Jornal de Notícias e o Liberdade, receberam um postal assinado por um "espírita António" que ninguém conhecia, anunciando um fenómeno extraordinário para o dia 13 de Maio. No próprio dia 13 de Maio pela manhã, os leitores destes jornais puderam ler o assunto nas primeiras páginas. No Primeiro de Janeiro teve honras de editorial assinado pelo jornalista Guedes de Oliveira.
Como não foi indicado o local em que o fenómeno transcendente iria acontecer, no dia 13 de Maio de 1917 os três videntes estavam sozinhos. No entanto, mais alguém presenciou coisas estranhas, como a paralisação do rebanho de ovelhas à guarda dos videntes, talvez Maria Carreira, cuja filha em 28 de Julho desse ano foi surpreendida por um ser que, anos mais tarde, não soube dizer se era menino ou menina.
A notícia da primeira aparição espalhou-se rapidamente. Segundo os registos paroquiais, em Junho há 40 pessoas, em Julho 4 a 5 mil, em Agosto 15 a 18 mil, em Setembro 25 a 30 mil, em Outubro 40 a 50 mil. Em Agosto não houve conversa com a entidade, pois os videntes tinham sido levados para Vila Nova de Ourém. No entanto, toda a gente presente no local foi testemunha de objectos luminosos deslocarem-se entre as nuvens, de relâmpagos e trovões sem nenhum sinal de trovoada. Nesse mesmo dia 13 de Agosto um observatório francês registou fenómenos luminosos estranhos no céu.
A descrição da imagem com que Lúcia conversava, não tem nada de semelhante com a imagem oficial da Senhora de Fátima, que foi adoptada. Já disse anteriormente que essa imagem foi baseada nas imagens da Senhora da Conceição. Segundo as palavras de Lúcia na altura, era uma mulherzinha muito bonita que não devia ter mais de 12 ou 14 anos de idade e tinha de altura mais ou menos um metro e dez.
"Eu nunca disse que era Nossa Senhora, mas uma mulherzinha bonita", disse ainda Lúcia em 1935 a Antero de Figueiredo.
"Se os cachopos viram uma mulher vestida de branco, quem poderia ser senão Nossa Senhora?", afirmou um tio de Jacinta e Francisco. Ora bem, deste exemplo se infere que, na cultura popular, que nada sabia de fenómenos OVNI, uma aparição desta natureza só podia ser coisa do demónio ou de Deus e, se era de Deus, só podia ser Nossa Senhora, mãe de Jesus.
Continuando na descrição feita por Lúcia ao pároco de Fátima, responsável pelo primeiro inquérito, ela afirmou que a saia da entidade chegava apenas aos joelhos. O pároco transcreveu esta informação como saia curta mas, mesmo assim, não conforme com a decência e moral católicas em que a saia devia chegar aos pés. O responsável seguinte pelo inquérito, o cónego Formigão, também ouviu da boca dos videntes a mesma informação, que a saia chegava apenas aos joelhos.
As alterações feitas pelos clérigos às descrições ouvidas da boca dos videntes são prova evidente da manipulação operada por eles para tornar as aparições mais de acordo com o catolicismo. O retrato físico descrito por Lúcia e pelos outros videntes não tem nada a ver com a imagem estereotipada da mãe de Jesus: era uma figura de aparência feminina, muito bonita; aparecia rodeada de luz que cegava; media cerca de 1,10 metros de altura; aparentava ter entre 12 e 14 anos de idade; vestia uma saia travada que chegava apenas aos joelhos; o vestuário era branco, mas a saia e o manto tinham uns cordõezinhos em quadriculado, dourados; o casaco tinha dois ou três cordõezinhos nos punhos; tinha as pernas cobertas por meias brancas; a cabeça estava envolta em algo que lhe cobria as orelhas e os cabelos; segurava nas mãos o que parecia um terço (um círculo com uma cruz é o símbolo de Vénus e do feminino); Na cintura tinha uma bola luminosa; o pescoço era rodeado por uma espécie de argolas; deslizava vinda do alto, do lado nascente, e voltava a subir a pouco e pouco, no sentido oeste. É interessante notar que a bola luminosa foi transformada em "borla" e as argolas à volta do pescoço no "Sagrado Coração de Maria".
Para completar a descrição, alguns testemunhos de outras pessoas: ouviam uma voz muito fina como se fosse o zumbido de uma abelha; no momento em que Lúcia se despedia e olhava para o alto, ouviam um som como o rugido de um foguete a elevar-se; durante as aparições eram vistos vários objectos luminosos rodearem o local.
Evidentemente que estas descrições feitas na mesma altura dos acontecimentos, nada têm a ver com a imagem oficial nem com o que Lúcia escreveu entre 1935 e 1941, mais tarde em 1989. Nesta altura já estava perfeitamente instruída e manipulada pelos padres, principalmente pelos jesuítas que eram seus confessores.
Como nota final, para as descrições socorri-me da obra de Fina D'Armada, um historiadora que passou grande parte da sua vida pesquisando o fenómeno de Fátima e sobre o qual escreveu vários livros.
(Joana da Gama, portuguesa do tempo de Galileu)
Os acontecimentos de Fátima em 1917 foram um fenómeno OVNI?
A maior dúvida que se abate sobre quem pretende pesquisar Fátima e o que realmente aconteceu em 1917 é a seguinte: se os fenómenos ocorridos ali de Maio a Outubro não tivessem sido aproveitados e adaptados em termos religiosos, teriam a repercussão que vieram a ter? A minha resposta terá que ser, necessariamente, negativa: não, não teriam, da mesma forma que outros fenómenos semelhantes têm acontecido um pouco por toda a parte e não têm sido objecto de grande divulgação, excepto entre alguns grupos de pesquisadores dos fenómenos a que atribuem uma origem alienígena.
Algumas pessoas me têm perguntado o porquê do meu interesse em desmistificar Fátima, se não seria melhor deixar as coisas como estão, acreditando-se ou não que ali se passou um fenómeno religioso. A isso respondo que não pretendo desmistificar os santuários e cultos marianos, cultos de origem pagã adaptados e adoptados pelo cristianismo na figura de Maria, mãe de Jesus, que substituíram os antigos cultos à Grande Mãe, à Mãe Natureza, etc. Mas Fátima é diferente, Fátima foi transformada num culto penoso e sacrificial, digno de uma Igreja de trevas e muito semelhante aos seus processos da Idade Média.
Porque é que os fenómenos de Fátima se tornaram conhecidos e ganharam a dimensão que se conhece, enquanto outros fenómenos semelhantes ficaram no esquecimento? Por estranho que possa parecer, os fenómenos de Fátima iniciados no dia 13 de Maio de 1917 foram anunciados com antecedência. Assim, vejo dois motivos principais para a repercussão e expansão que Fátima teve: o anúncio em jornais de que algo extraordinário estava para acontecer em 13 de Maio e o testemunho de extra-videntes e de pessoas presentes no local dos acontecimentos.
No dia 7 de Fevereiro de 1917, um grupo espírita de Lisboa recebeu uma estranha mensagem anunciando para o dia 13 de Maio a vinda de uma luz brilhante, mensagem assinada por Stella Matutina (estrela da manhã, correspondente ao planeta Vénus). Este grupo achou que a mensagem não era igual às que habitualmente recebia e assim, decidiu publicá-la em anúncio no Diário de Notícias, na edição do dia 10 de Março.
Muitas outras mensagens circularam pelo país, apontando todas para o dia 13 de Maio, porém, não indicando o lugar em que tal acontecimento transcendente ocorreria. Três jornais do Porto, o Primeiro de Janeiro, o Jornal de Notícias e o Liberdade, receberam um postal assinado por um "espírita António" que ninguém conhecia, anunciando um fenómeno extraordinário para o dia 13 de Maio. No próprio dia 13 de Maio pela manhã, os leitores destes jornais puderam ler o assunto nas primeiras páginas. No Primeiro de Janeiro teve honras de editorial assinado pelo jornalista Guedes de Oliveira.
Como não foi indicado o local em que o fenómeno transcendente iria acontecer, no dia 13 de Maio de 1917 os três videntes estavam sozinhos. No entanto, mais alguém presenciou coisas estranhas, como a paralisação do rebanho de ovelhas à guarda dos videntes, talvez Maria Carreira, cuja filha em 28 de Julho desse ano foi surpreendida por um ser que, anos mais tarde, não soube dizer se era menino ou menina.
A notícia da primeira aparição espalhou-se rapidamente. Segundo os registos paroquiais, em Junho há 40 pessoas, em Julho 4 a 5 mil, em Agosto 15 a 18 mil, em Setembro 25 a 30 mil, em Outubro 40 a 50 mil. Em Agosto não houve conversa com a entidade, pois os videntes tinham sido levados para Vila Nova de Ourém. No entanto, toda a gente presente no local foi testemunha de objectos luminosos deslocarem-se entre as nuvens, de relâmpagos e trovões sem nenhum sinal de trovoada. Nesse mesmo dia 13 de Agosto um observatório francês registou fenómenos luminosos estranhos no céu.
A descrição da imagem com que Lúcia conversava, não tem nada de semelhante com a imagem oficial da Senhora de Fátima, que foi adoptada. Já disse anteriormente que essa imagem foi baseada nas imagens da Senhora da Conceição. Segundo as palavras de Lúcia na altura, era uma mulherzinha muito bonita que não devia ter mais de 12 ou 14 anos de idade e tinha de altura mais ou menos um metro e dez.
"Eu nunca disse que era Nossa Senhora, mas uma mulherzinha bonita", disse ainda Lúcia em 1935 a Antero de Figueiredo.
"Se os cachopos viram uma mulher vestida de branco, quem poderia ser senão Nossa Senhora?", afirmou um tio de Jacinta e Francisco. Ora bem, deste exemplo se infere que, na cultura popular, que nada sabia de fenómenos OVNI, uma aparição desta natureza só podia ser coisa do demónio ou de Deus e, se era de Deus, só podia ser Nossa Senhora, mãe de Jesus.
Continuando na descrição feita por Lúcia ao pároco de Fátima, responsável pelo primeiro inquérito, ela afirmou que a saia da entidade chegava apenas aos joelhos. O pároco transcreveu esta informação como saia curta mas, mesmo assim, não conforme com a decência e moral católicas em que a saia devia chegar aos pés. O responsável seguinte pelo inquérito, o cónego Formigão, também ouviu da boca dos videntes a mesma informação, que a saia chegava apenas aos joelhos.
As alterações feitas pelos clérigos às descrições ouvidas da boca dos videntes são prova evidente da manipulação operada por eles para tornar as aparições mais de acordo com o catolicismo. O retrato físico descrito por Lúcia e pelos outros videntes não tem nada a ver com a imagem estereotipada da mãe de Jesus: era uma figura de aparência feminina, muito bonita; aparecia rodeada de luz que cegava; media cerca de 1,10 metros de altura; aparentava ter entre 12 e 14 anos de idade; vestia uma saia travada que chegava apenas aos joelhos; o vestuário era branco, mas a saia e o manto tinham uns cordõezinhos em quadriculado, dourados; o casaco tinha dois ou três cordõezinhos nos punhos; tinha as pernas cobertas por meias brancas; a cabeça estava envolta em algo que lhe cobria as orelhas e os cabelos; segurava nas mãos o que parecia um terço (um círculo com uma cruz é o símbolo de Vénus e do feminino); Na cintura tinha uma bola luminosa; o pescoço era rodeado por uma espécie de argolas; deslizava vinda do alto, do lado nascente, e voltava a subir a pouco e pouco, no sentido oeste. É interessante notar que a bola luminosa foi transformada em "borla" e as argolas à volta do pescoço no "Sagrado Coração de Maria".
Para completar a descrição, alguns testemunhos de outras pessoas: ouviam uma voz muito fina como se fosse o zumbido de uma abelha; no momento em que Lúcia se despedia e olhava para o alto, ouviam um som como o rugido de um foguete a elevar-se; durante as aparições eram vistos vários objectos luminosos rodearem o local.
Evidentemente que estas descrições feitas na mesma altura dos acontecimentos, nada têm a ver com a imagem oficial nem com o que Lúcia escreveu entre 1935 e 1941, mais tarde em 1989. Nesta altura já estava perfeitamente instruída e manipulada pelos padres, principalmente pelos jesuítas que eram seus confessores.
Como nota final, para as descrições socorri-me da obra de Fina D'Armada, um historiadora que passou grande parte da sua vida pesquisando o fenómeno de Fátima e sobre o qual escreveu vários livros.
terça-feira, 4 de março de 2008
Os segredos de Fátima
Ultimamente tem-se falado muito no 3º segredo de Fátima que, aparentemente e por vontade de Lúcia, deveria ter sido conhecido do público em geral em 1960, mas, sabe-se lá porquê, parece que ninguém teve coragem de o revelar.
Mas falar do 3º segredo dá a entender que houve outros dois anteriormente.. Na verdade não se tratou de segredos, mas de revelações feitas por Lúcia à altura das aparições, revelações que lhe teriam sido comunicadas pela Senhora.
A primeira destas revelações dizia que a guerra iria acabar nesse ano de 1917. Estava-se na altura em plena 1ª Grande Guerra, a guerra mais estúpida de todas, porque ninguém sabe exactamente o que a motivou, para além dos egos imperialistas e incompetência militarista de generais e marechais. Ora a guerra não terminou nesse ano, mas no armistício assinado mais de um ano depois, no dia 11 de Novembro de 1918, que pôs fim à inútil carnificina de milhões de seres humanos.
O 2º segredo ou revelação, era a conversão da Rússia ao Sagrado Coração de Maria. Não se sabe bem o que queria dizer esta canversão, uma vez que a Rússia sempre foi um país cristão, onde a Igreja Católica Ortodoxa teve sempre grande poder. Corria o ano de 1917, por coincidência o ano da revolução bolchevique, que levou à instauração do comunismo na Rússia e países satélites, formando a confederação que passou a ser designada por União Soviética. Não se percebe uma revelação feita numa altura em que as coisas estavam a correr exactamente ao contrário. Se era uma revelação em relação ao futuro, então tratava-se de uma profecia acerca da desarticulação do império comunista que ocorreu mais de 70 anos depois. Entretanto, que se saiba, não houve nenhuma conversão.
Do muito que já li e pesquisei sobre Fátima, fiquei com a convicção de que tudo não passa de uma enorme manipulação. Os segredos não são segredos, inclusive o terceiro que, ao longo do tempo foi sendo conhecido por padres, bispos, cardeais e papas. Se foi sendo conhecido por tanta gente, deixou de ser segredo, a não ser que tivesse passado à condição de segredo de Estado do Vaticano ou que não pudesse ser revelado por obrigação de silêncio dos clérigos. Por outro lado a manutenção de uma ideia de segredo é favorável e, ao mesmo tempo, incómoda para a Igreja. Tal como nas profecias, a ideia de segredo comporta em si a ideia de algo calamitoso, de algo horrível que está previsto acontecer. Esta situação é favorável à Igreja pois vem na linha das antigas profecias, como as do Apocalipse, e provocam através do medo um acréscimo à fé dos crentes e mesmo um considerável aumento do número desses crentes. É desfavorável porque trás consigo também a ideia de predeterminismo, quer dizer, seja o que for que façamos tudo tem que acontecer conforme o previsto.
A história de Fátima e dos seus segredos não parece ser mais do que o resultado de alucinaçõs de Lúcia, fomentadas por clérigos fanáticos e bem aproveitadas pela Igreja. Confinada a um convento logo após os acontecimentos na Cova da Iria, impedida de comunicar com o exterior e de trocar correspondência até com os próprios pais, Lúcia escreveu as suas memórias em completa clausura, fora do mundo, obedecendo às ordens do bispo de Leiria. Lúcia escreveu a primeira série de memórias entre 1935 e 1941, a segunda séria já em 1989 ou seja, muitos anos depois dos acontecimentos verificados e depois de passarem pelo crivo censor da Igreja. Nestas condições é legítimo presumir que as suas memórias contêm muito da sua imaginação criativa, que são verdadeiras alucinações originadas pelas severas condições de recolhimento a que foi sujeita. Na altura em que foi enclausurada e obrigada inclusive a mudar o seu nome para Maria das Dores, retirando-lhe a própria individualidade, Lúcia era uma menina que não teria mais do que 15 anos de idade, meio analfabeta e com uma cultura rural e primária de camponesa. Estava portanto em condições ideais para ser manipulada e levada a comportar-se e a exprimir-se de acordo com as exigências impostas pela Igreja. Esta não podia deixá-la solta e livre no mundo pois, para além de não servir aos seus intentos, ainda podia vir a acusá-la de bruxaria.
Se não me engano e recorrendo apenas à memória, foi nos anos oitenta que o Vaticano tornou pública pela primeira vez a terceira parte do 3º segredo. A primeira e segunda partes já eram conhecidas: a primeira dizia respeita à visão do inferno para onde seriam atiradas as almas que não se convertessem; a segunda referia-se à eclosão da 2ª Grande Guerra. Como esta segunda parte foi escrita em 1941, foi mais uma constatação de facto do que de uma profecia, pois a guerra já tinha começado.
A revelação da terceira parte do segredo não foi feita de forma clara e transparente, quero dizer, não foi lido o texto que Lúcia terá escrito. Segundo algumas interpretações, diria respeito a um atentado contra um padre vestido de branco que Lúcia teria associado ao Santo Padre, o qual caminhava numa cidade reduzida a escombros entre muita gente morta e ferida, acabando por ele, o Santo Padre, também ser morto, assim como muitos outros sacerdotes. Quando João Paulo II sofreu aquele atentado na Praça de São Pedro, logo vieram dizer que Sse tratava do acontecimento previsto nessa terceira parte do terceiro segredo. Só que, neste caso, não havia uma cidade em escombros nem ninguém mais foi morto ou ferido, além do próprio Papa. Outras interpretações dizem que essa terceira parte diz respeito à crise que a humanidade atravessará, com divisões e desavenças no seio da Igreja, entre padres, bispos e cardeais.
Não sei porque razão esta terceira parte tem que se referir, necessariamente, à Cúria Romana. Em relação à primeira interpretação, o único caso parecido que se conhece é o do bispo de Dili, Ximenes Belo que, vestido de branco quando da invasão indonésia, caminhou entre mortos e feridos numa cidade em escombros e teve que fugir para as montanhas para salvar a própria vida. No segundo caso não se conhecem até ao momento desavenças grav es dentro da Igreja, excepto uma tensão crescente entre os progressistas, defensores da aplicação integral das deliberações tomadas no Concílio Vaticano II, e os conservadores, os que não querem implementar aquelas deliberações e que têm sido liderados pelos últimos Papas, com especial relevância para João Paulo II e o actual Bento XVI. Portanto, é muito natural que as divergências se aprofundem e vejamos, a curto ou médio prazo, um novo “cisma” se instalar nas hostes da Igreja Romana.
Em que é que estas revelações ou segredos são diferentes das visões que várias pessoas chamadas “médiuns” vão tendo por toda a parte? Em nada, com apenas uma diferença: aquelas são suportadas pela Igreja; as últimas não são reconhecidas por ela, a que chama normalmente de manifestações demoníacas.
O verdadeiro segredo de Fátima ainda está por revelar. O verdadeiro segredo tem a ver com o que realmente se passou em Fátima em 1917. A Igreja apropriou-se desse segredo, confinou a vidente sobrevivente à clausura de um convento e transformou Fátima numa autêntica mina de ouro, com milhões de devotos que anualmente ali deixam milhões de euros. A própria imagem da Senhora de Fátima não tem nada de parecido com a figura que Lúcia dizia ter visto e com quem tinha conversado. A imagem da Senhora de Fátima foi construída a partir do modelo das imagens da Senhora da Conceição.
Para algumas pessoas, incluindo alguns teólogos e alguns responsáveis do Santuário, os acontecimentos de 1917 não passaram de um fenómeno OVNI. Então, o verdadeiro segredo está bem guardado e nunca será revelado. Quanto aos outros três, nunca existiram de facto, a não ser na mente alucinada de Lúcia e no fanatismo de alguns padres e bispos. Em Fátima nunca aconteceram nem acontecem milagres, provas evidentes de que alguma força superior ou divina ali exerce o seu poder. O único milagre de Fátima são os rios de dinheiro que para ali correm abundantemente. A mensagem de Fátima é essencialmente sacrificial e o terço é uma prática de origem e raiz pagãs, pois não tem nada a ver com a mensagem dos Evangelhos, onde a única oração ensinada por Jesus foi o Pai Nosso.
Este assunto merece ainda um maior e melhor tratamento, como por exemplo a tendência de alguns sectores da Igreja se esforçarem por manter a população no maior obscurantismo e ignorância ou, o papel que Fátima desempenhou na sustentação do Estado Novo e da guerra coplonial em três frentes. Mas isto deixo para outras calendas
Mas falar do 3º segredo dá a entender que houve outros dois anteriormente.. Na verdade não se tratou de segredos, mas de revelações feitas por Lúcia à altura das aparições, revelações que lhe teriam sido comunicadas pela Senhora.
A primeira destas revelações dizia que a guerra iria acabar nesse ano de 1917. Estava-se na altura em plena 1ª Grande Guerra, a guerra mais estúpida de todas, porque ninguém sabe exactamente o que a motivou, para além dos egos imperialistas e incompetência militarista de generais e marechais. Ora a guerra não terminou nesse ano, mas no armistício assinado mais de um ano depois, no dia 11 de Novembro de 1918, que pôs fim à inútil carnificina de milhões de seres humanos.
O 2º segredo ou revelação, era a conversão da Rússia ao Sagrado Coração de Maria. Não se sabe bem o que queria dizer esta canversão, uma vez que a Rússia sempre foi um país cristão, onde a Igreja Católica Ortodoxa teve sempre grande poder. Corria o ano de 1917, por coincidência o ano da revolução bolchevique, que levou à instauração do comunismo na Rússia e países satélites, formando a confederação que passou a ser designada por União Soviética. Não se percebe uma revelação feita numa altura em que as coisas estavam a correr exactamente ao contrário. Se era uma revelação em relação ao futuro, então tratava-se de uma profecia acerca da desarticulação do império comunista que ocorreu mais de 70 anos depois. Entretanto, que se saiba, não houve nenhuma conversão.
Do muito que já li e pesquisei sobre Fátima, fiquei com a convicção de que tudo não passa de uma enorme manipulação. Os segredos não são segredos, inclusive o terceiro que, ao longo do tempo foi sendo conhecido por padres, bispos, cardeais e papas. Se foi sendo conhecido por tanta gente, deixou de ser segredo, a não ser que tivesse passado à condição de segredo de Estado do Vaticano ou que não pudesse ser revelado por obrigação de silêncio dos clérigos. Por outro lado a manutenção de uma ideia de segredo é favorável e, ao mesmo tempo, incómoda para a Igreja. Tal como nas profecias, a ideia de segredo comporta em si a ideia de algo calamitoso, de algo horrível que está previsto acontecer. Esta situação é favorável à Igreja pois vem na linha das antigas profecias, como as do Apocalipse, e provocam através do medo um acréscimo à fé dos crentes e mesmo um considerável aumento do número desses crentes. É desfavorável porque trás consigo também a ideia de predeterminismo, quer dizer, seja o que for que façamos tudo tem que acontecer conforme o previsto.
A história de Fátima e dos seus segredos não parece ser mais do que o resultado de alucinaçõs de Lúcia, fomentadas por clérigos fanáticos e bem aproveitadas pela Igreja. Confinada a um convento logo após os acontecimentos na Cova da Iria, impedida de comunicar com o exterior e de trocar correspondência até com os próprios pais, Lúcia escreveu as suas memórias em completa clausura, fora do mundo, obedecendo às ordens do bispo de Leiria. Lúcia escreveu a primeira série de memórias entre 1935 e 1941, a segunda séria já em 1989 ou seja, muitos anos depois dos acontecimentos verificados e depois de passarem pelo crivo censor da Igreja. Nestas condições é legítimo presumir que as suas memórias contêm muito da sua imaginação criativa, que são verdadeiras alucinações originadas pelas severas condições de recolhimento a que foi sujeita. Na altura em que foi enclausurada e obrigada inclusive a mudar o seu nome para Maria das Dores, retirando-lhe a própria individualidade, Lúcia era uma menina que não teria mais do que 15 anos de idade, meio analfabeta e com uma cultura rural e primária de camponesa. Estava portanto em condições ideais para ser manipulada e levada a comportar-se e a exprimir-se de acordo com as exigências impostas pela Igreja. Esta não podia deixá-la solta e livre no mundo pois, para além de não servir aos seus intentos, ainda podia vir a acusá-la de bruxaria.
Se não me engano e recorrendo apenas à memória, foi nos anos oitenta que o Vaticano tornou pública pela primeira vez a terceira parte do 3º segredo. A primeira e segunda partes já eram conhecidas: a primeira dizia respeita à visão do inferno para onde seriam atiradas as almas que não se convertessem; a segunda referia-se à eclosão da 2ª Grande Guerra. Como esta segunda parte foi escrita em 1941, foi mais uma constatação de facto do que de uma profecia, pois a guerra já tinha começado.
A revelação da terceira parte do segredo não foi feita de forma clara e transparente, quero dizer, não foi lido o texto que Lúcia terá escrito. Segundo algumas interpretações, diria respeito a um atentado contra um padre vestido de branco que Lúcia teria associado ao Santo Padre, o qual caminhava numa cidade reduzida a escombros entre muita gente morta e ferida, acabando por ele, o Santo Padre, também ser morto, assim como muitos outros sacerdotes. Quando João Paulo II sofreu aquele atentado na Praça de São Pedro, logo vieram dizer que Sse tratava do acontecimento previsto nessa terceira parte do terceiro segredo. Só que, neste caso, não havia uma cidade em escombros nem ninguém mais foi morto ou ferido, além do próprio Papa. Outras interpretações dizem que essa terceira parte diz respeito à crise que a humanidade atravessará, com divisões e desavenças no seio da Igreja, entre padres, bispos e cardeais.
Não sei porque razão esta terceira parte tem que se referir, necessariamente, à Cúria Romana. Em relação à primeira interpretação, o único caso parecido que se conhece é o do bispo de Dili, Ximenes Belo que, vestido de branco quando da invasão indonésia, caminhou entre mortos e feridos numa cidade em escombros e teve que fugir para as montanhas para salvar a própria vida. No segundo caso não se conhecem até ao momento desavenças grav es dentro da Igreja, excepto uma tensão crescente entre os progressistas, defensores da aplicação integral das deliberações tomadas no Concílio Vaticano II, e os conservadores, os que não querem implementar aquelas deliberações e que têm sido liderados pelos últimos Papas, com especial relevância para João Paulo II e o actual Bento XVI. Portanto, é muito natural que as divergências se aprofundem e vejamos, a curto ou médio prazo, um novo “cisma” se instalar nas hostes da Igreja Romana.
Em que é que estas revelações ou segredos são diferentes das visões que várias pessoas chamadas “médiuns” vão tendo por toda a parte? Em nada, com apenas uma diferença: aquelas são suportadas pela Igreja; as últimas não são reconhecidas por ela, a que chama normalmente de manifestações demoníacas.
O verdadeiro segredo de Fátima ainda está por revelar. O verdadeiro segredo tem a ver com o que realmente se passou em Fátima em 1917. A Igreja apropriou-se desse segredo, confinou a vidente sobrevivente à clausura de um convento e transformou Fátima numa autêntica mina de ouro, com milhões de devotos que anualmente ali deixam milhões de euros. A própria imagem da Senhora de Fátima não tem nada de parecido com a figura que Lúcia dizia ter visto e com quem tinha conversado. A imagem da Senhora de Fátima foi construída a partir do modelo das imagens da Senhora da Conceição.
Para algumas pessoas, incluindo alguns teólogos e alguns responsáveis do Santuário, os acontecimentos de 1917 não passaram de um fenómeno OVNI. Então, o verdadeiro segredo está bem guardado e nunca será revelado. Quanto aos outros três, nunca existiram de facto, a não ser na mente alucinada de Lúcia e no fanatismo de alguns padres e bispos. Em Fátima nunca aconteceram nem acontecem milagres, provas evidentes de que alguma força superior ou divina ali exerce o seu poder. O único milagre de Fátima são os rios de dinheiro que para ali correm abundantemente. A mensagem de Fátima é essencialmente sacrificial e o terço é uma prática de origem e raiz pagãs, pois não tem nada a ver com a mensagem dos Evangelhos, onde a única oração ensinada por Jesus foi o Pai Nosso.
Este assunto merece ainda um maior e melhor tratamento, como por exemplo a tendência de alguns sectores da Igreja se esforçarem por manter a população no maior obscurantismo e ignorância ou, o papel que Fátima desempenhou na sustentação do Estado Novo e da guerra coplonial em três frentes. Mas isto deixo para outras calendas
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