10. Decadência e Ressurreição
“A alma da terra queixava-se a Brahma dizendo-lhe: «A raça dos filhos da impiedade multiplicou-se até ao infinito. O orgulho deles é insuportável e eu gemo na opressão, sob o peso da iniquidade: Vem em meu socorro, ó Brahma!»” (A Lenda de Krishna – extracto do Bhagavadam, Livro Canónico Hindu – Eliphas Levi)
Este é o último capítulo da série em que pretendi efectuar uma espécie de voo de ave sobre as questões primordiais que têm afligido o género humano desde que anda sobre a Terra. Escolhi este título, “Decadência e Ressurreição”, no sentido de que a morte não existe, existe apenas transformação. Da mesma forma que o homem não morre, assim as civilizações não morrem, prosseguem sob outras formas, mas sempre num processo de transformação. As civilizações sucedem-se umas às outras, a um período de decadência sucede-se um período de ressurgimento ou renascimento. Sempre foi assim e assim será.
Já vimos que a Atlântida não era a “terra do leite e mel”, o paraíso perdido, que muitos podem pensar. De facto, não era essa terra de eleição, e basta pensarmos que, se os atlantes conseguiram desenvolver uma capacidade única no domínio da energia, como é que se deixaram arrastar para o fundo do mar sem terem tomado as providências necessárias que salvaguardasse, pelo menos o essencial, da sua civilização? Naturalmente, que alguma coisa foi salva das águas, que houve sobreviventes, mas estes talvez não tenham querido, ou não tenham podido refazer em outras terras o que tinha levado à perdição da Atlântida.
Um texto da autoria de Mark Hammons e denominado “Cientismo = A Criança Atlante das Trevas”, diz que os atlantes não desapareceram, que continuaram e continuam, de reencarnação em reencarnação, e que hoje estão aí, fazendo as mesmas coisas à Terra que os atlantes fizeram, que apenas os nomes são outros. Que estes seres eram experimentadores obcecados em transformações materiais. Que causaram terríveis danos à Terra, simplesmente porque detinham esse poder. Que envenenaram a biosfera, romperam estruturas da Terra para tomar dela tudo quando desejavam sem nenhum respeito pela sua integridade. Que em todos os níveis a poluição era imensa. Diz ainda que eles fizeram isto tudo porque assumiram que a sua existência era mais importante que o sistema planetário em que estavam integrados.
As pessoas tendem a pensar que os atlantes eram uma grande civilização de seres iluminados. É verdade que havia estes seres na Atlântida, verdadeiros sábios e pessoas de muito elevada estatura moral, mas eram uma pequena minoria. A maioria ignorou todos os avisos, não quis saber de nada, ocupada apenas com a satisfação do seu egoísmo.
Infelizmente, parece que este relato pertence à nossa actualidade, pois todos bem sabemos o que o homem tem feito à Terra, principalmente neste curto período que não chega a dois séculos, desde a “revolução industrial” até aos dias de hoje. O amanhã apresenta-se com cores muito escuras pois, apesar das tímidas reacções que aparecem um pouco por toda a parte, o homem, na realidade, continua a sua marcha a caminho da ruptura com as forças planetárias.
Neste início de século e de milénio, assistimos a um sentimento curioso que parece ter estado sempre escondido ou adormecido no interior de cada um, que é o sentimento de um desastre iminente, parece que todos estamos à espera que algo de muito mau venha a acontecer ao planeta. Abundam as profecias, as antigas e as novas; descobrem-se profecias escondidas nos versículos do Antigo Testamento e até nos Salmos; estudam-se e encontram-se novas revelações nas profecias de Nostradamus; já há uma data para o anunciado fim do mundo, 21 de Dezembro de 2012, segundo um calendário maia; encontram-se novas interpretações para o Apocalipse de S. João. Sem querer aprofundar muito a questão e para além de constatar o facto do planeta ter atingido um estado quase crítico devido à ganância e à falta de respeito que o homem tem tido para com a natureza, julgo que este sentimento tem a ver com memórias longínquas de outras catástrofes, aquelas que se abateram sucessivamente sobre a Atlântida.
Os reis-sacerdotes toltecas que levaram a Atlântida ao apogeu do seu desenvolvimento material imprimiram também entre a população um elevado código de valores morais e espirituais. Mas como sempre acontece, a lei da dualidade está sempre presente em todos os seus aspectos, há sempre o lado luminoso e o lado sombra. Ao mesmo tempo que a civilização tolteca assentava em bases de natureza elevada, foram-se desenvolvendo também outros sentimentos inferiores. Se por um lado se procurava a harmonia com os poderes do alto, pelo outro lado se cultuavam cada vez mais os poderes das trevas, a magia negra. Sendo a Atlântida um conjunto de sub-raças, todas elas oriundas da raça-raíz dos sobreviventes da Lemúria, cada uma delas constituiu-se como uma nação diferente, ou seja, a Atlântida era uma mapa de nações e cada uma delas era governada ou tinha a supremacia de uma das sub-raças. Isto fazia com que houvesse guerras frequentes, com vencedores subjugando os vencidos, ou tratados de paz com o correspondente estabelecimento de novas fronteiras.
Uma dessas nações era dominada pelos turanianos, uma raça de tez amarelada, que mantinham com os toltecas um tratado de amizade e boa vizinhança. Só que a partir de determinada altura, os turanianos cortaram os laços que os ligavam aos poderes do alto, romperam o pacto fraternal com os toltecas e, sob o impulso da ambição e da luxúria substituíram os cultos por outros de natureza sangrenta. Acabaram por submeter a nação tolteca cujos reis e seus seguidores, não podendo resistir ao ímpeto agressivo dos invasores, se refugiaram no norte sob a protecção de uma nação aliada, os tlavatlis.
É durante o reinado dos turanianos que a Atlântida conhece a sua fase mais negra, da qual nunca mais se recompôs, pois foi no fim desta fase que acabou por desaparecer nas águas. É o império da cobiça, da violência e do terror. A magia negra toma conta dos templos onde passam a sacrificar-se animais e até seres humanos. Os governantes endeusam-se, erguem estátuas a si próprios e fazem-se rodear de multidões de homens e mulheres escravizados. A mulher torna-se um instrumento de prazer, o delírio sensual cresce assustadoramente e a poligamia passa a ser uma situação normal. Esta decadência de costumes e de valores, esta entrega às forças mais inferiores durou séculos até à extinção completa desta ilha de Poseidon descrita por Platão, que aconteceu cerca de dez mil anos antes de Cristo.
Entretanto, desde o início do domínio dos turanianos, alguns dos povos da Atlântida, fugindo do despotismo, da injustiça e da escravatura, foram emigrando para oriente. Estes imigrantes que caminhavam para oriente para fugir das calamidades da sua terra eram amarelos uns, outros de cor acobreada, outros vermelhos, outros ainda negros. Estas eram as cores das sub-raças existentes na Atlântida e que povoaram o mundo um pouco por toda a parte. No entanto, um outro povo também emigrou e se fixou inicialmente na região que é hoje a Irlanda. Este era um povo de raça branca, a origem dos semitas e dos arianos. Não se sabe exactamente como apareceu este povo de raça branca na Atlântida, provavelmente por cruzamentos múltiplos das várias sub-raças ali existentes.
Esta raça branca encetou uma longa caminhada rumo aos planaltos da Ásia central, um êxodo que durou provavelmente alguns séculos, pois se fixaram primeiramente no norte, numa região alargada que compreendia a Irlanda de hoje, a Inglaterra e os Países Nórdicos. Estes homens eram conduzidos por guias, os mesmos guias que tinham instruído os reis toltecas, e em cada paragem que faziam, em cada região que iam ocupando, era um tempo em que os homens aprendiam mais alguma coisa.
A variante ariana desta raça, veio a dar origem aos árias da Índia, aos iranianos, aos gregos, aos celtas e aos povos germânicos, numa altura em que a sua caminhada se fez em sentido contrário, ou seja, depois de terem atingido os altos planaltos da Ásia central, daí retornaram para se estabelecerem em vastas regiões até à Europa ocidental. A outra variante, a semítica, estabeleceu-se na Caldeia e é a origem dos povos semitas do Médio Oriente, como os caldeus, os babilónios, os assírios e os hebreus.
Aqui surge uma pergunta: então os egípcios? Qual a origem deles e da sua portentosa civilização? Os egípcios não eram de origem ariana ou semita, embora os nazis quando no poder na Alemanha e durante a Segunda Grande Guerra, na sua louca e hilariante (dramática para os que sofreram as suas consequências) procura da “raça pura ariana” tenham tentado estabelecer fortes laços de aliança com os egípcios e com algumas das nações árabes, no pressuposto de terem uma origem comum. Claro que tinham uma origem comum, mas também os semitas a tinham. Essa origem era a Atlântida, e os primitivos egípcios, os que ergueram aquela formidável civilização, eram de raça vermelha, como vermelhos eram os índios da América do Norte e os maias da América Central.
Isto poderá fazer pensar que esses povos que foram migrando ao longo dos séculos da decadência da Atlântida, iam ocupando a “terra de ninguém”, isto é, que o resto do mundo estava vazio e eles simplesmente ocupavam as terras onde chegavam. Naturalmente que não eram assim. Quando a Lemúria acabou houve outros sobreviventes além daquela elite que se estabeleceu na Atlântida. Estes sobreviventes devem ser a origem primitiva dos actuais nativos da Austrália e dos malaios, assim como alguns dos povos que têm vivido no sul da África e até da Índia. Por outro lado, como vimos atrás, havia outros seres humanos organizados em tribos mais ou menos selvagens, os quais são muito provavelmente representados pelo homem de Neandertal e pelo homem de Cro-Magnon. O que acontecia com essas migrações é o que tem acontecido sempre: os invasores submetiam os naturais e impunham-lhes as suas leis e os seus costumes, ou eram absorvidos pelas populações locais, com as quais se cruzavam em todos os aspectos, não só em termos culturais mas também fisicamente. Os povos que resultaram destes cruzamentos pacíficos, ou mesmo violentos, se por um lado mantiveram certos traços que revelavam as suas origens, por outro lado eram, de facto, o resultado dessa mistura de raças, ao ponto de nenhuma das raças que emigrou da Atlântida se ter mantido na sua pureza original. Esta pureza, se existiu, foi apenas no princípio.
Um outro aspecto importante é que não foram apenas os homens de raça branca que emigraram, outros também o fizeram, como os vermelhos, os amarelos e os negros, e todos transportaram com eles toda a carga cultural da sua terra de origem, os valores e os costumes mais elevados, mas também os outros, o conhecimento das forças inferiores. Por isso, porque nem tudo o que esses emigrantes trouxeram era bom, nem todos eram homens preocupados em fazer o bem, havia muitos que procuravam o poder sobre os outros homens através de práticas de magia negra. Entre os semitas da Caldeia estabeleceram-se cultos a deuses sanguinários, como o culto a Moloc que exigia sacrifícios humanos. Sacrifícios humanos eram também prática comum entre os aztecas do México, descendentes degenerados dos maias, estes oriundos também da Atlântida. Entre os arianos espalhados um pouco por toda a Europa, havia também cultos sanguinários. Para além dos sacrifícios humanos, vulgarizaram-se os sacrifícios de animais, mesmo entre os hebreus e os egípcios, que mantinham templos com essa finalidade. Apesar de toda a instrução recebida dos Manus, dos guias divinos, muitas das populações adoptaram práticas aberrantes.
Nós sabemos que todos os grupos humanos são dirigidos por uma elite, a qual fornece os líderes necessários à sua condução. Tanto em política como em religião, há sempre uma elite que dirige as coisas, e os líderes não são mais, na maioria das vezes, do que a ponta do “iceberg”, são apenas instrumentos controlados por essas elites. O exemplo recente mais conhecido é o caso do Hitler, na Alemanha, e o caso de todos os ditadores que governaram muitos dos países na primeira metade do século passado. Por outro lado, a democracia também não altera grandemente as coisas, porque afinal as pessoas escolhem os líderes que a elite já escolheu e catapultou para a ribalta das eleições.
Na história da humanidade que conhecemos, são muito raros os líderes que apareceram espontaneamente, ou por inspiração divina, e se tornaram guias de povos, orientando-os e governando-os com sabedoria. A grande maioria destes homens sábios prefere manter-se por detrás do pano, nos bastidores, procurando controlar os acontecimentos pela influência junto das forças dominantes. Foi assim no Egipto, com o faraó Tutmés III, que através de um colégio de sábios procurou estabelecer, ou restabelecer, o culto à divindade única, façanha conseguida mais tarde, por Amenófis ou Amenhotep IV, mais conhecido por Akhenaton. Todo este esforço foi frustrado, porque a elite que sustinha Akhenaton não detinha, verdadeiramente, o poder político e religioso do Egipto. Este poder há muito que tinha caído nas mãos dos sacerdotes.
Da mesma forma que aconteceu na Atlântida, o Egipto entrou em decadência pela prática e vontade destes sacerdotes e dos faraós que se seguiram a Akhenaton, restabelecendo o culto a Amon e entregando-se a práticas de natureza inferior. O texto que se segue retirado da obra “Egipto Secreto” de Paul Brunton, é um claro retrato do que aconteceu ao Egipto nos últimos tempos:
“Os que violentaram as tumbas dos antigos egípcios, libertaram forças que puseram em perigo o mundo. Abriram, sem o saber, os túmulos daqueles cujo ofício era a magia. Na fase final da história egípcia, a feitiçaria e a magia negra eram prática corrente. Quando se escureceu a Luz Branca da verdade que refulgia anteriormente, as fétidas sombras de falsas doutrinas materialistas avançaram e generalizou-se a prática de mumificação, acompanhada do seu complicado ritual complementar. Havia um elemento de interesse pessoal oculto, tratando de prolongar e conservar o laço físico com o mundo da matéria: o embalsamamento do corpo.
Nesse sombrio período, aqueles que possuíam muitos conhecimentos e pouca piedade, invocavam as forças infernais das trevas. Às vezes, o embalsamamento era para proteger o espírito da destruição no “purgatório” que o aguardava depois da morte. Em quase todos os casos, esses homens preparavam os seus túmulos antes de morrer. Uma vez pronta a tumba, invocavam um ente do mundo dos espíritos, criação elemental artificial, imperceptível aos sentidos físicos, por vezes bom, mas geralmente maldoso, para que protegesse e vigiasse a múmia, actuando na sepultura como um espírito guardião. Essas forças eram, frequentemente, satânicas, ameaçadoras e destruidoras. Estavam dentro das tumbas fechadas e podiam continuar existindo durante milénios. Quando as tumbas foram abertas, saiu uma verdadeira chusma de perniciosos entes do infra-mundo dos espíritos que se lançaram em fúria sobre o nosso mundo físico. Esses espíritos elementais peculiarmente criados são, neste século, suficientes em quantidade para, do seu reino invisível que, embora imaterial e etéreo é assaz próximo e poderoso, influir na existência física dos seres viventes e aterrorizar o mundo.”
É uma descrição terrível, esta, sobre os últimos tempos da que um dia foi uma incomparável civilização. Terrível também porque o homem, na sua cupidez e ignorância, tem vindo a profanar esses locais que estavam destinados a ficarem adormecidos por toda a eternidade, libertando toda uma legião de seres que, de uma maneira ou de outra, têm vindo a exercer uma influência perniciosa sobre a humanidade. E não se diga que muito do que foi profanado foi por motivos científicos e de investigação, porque afinal, nada se acrescentou de conhecimento sobre o Egipto através deste processo. Por exemplo, não se ficou a saber, na verdade, mais sobre Tutankhamon depois da descoberta da sua câmara funerária com a múmia e ornamentos intactos.
Tal como o movimento aparente do Sol no céu diurno, todas as civilizações nascem, vão-se elevando lentamente até atingirem o zénite do meio-dia. É nesta altura que atingem o seu apogeu, todo o esplendor do que foram adquirindo no difícil caminho ascendente. Depois, começam a descida, degenerando e envelhecendo lentamente, até se perderem definitivamente na agonia do ocaso. Acontece o mesmo com o homem e com todos os seres criados – nascem, crescem, atingem o apogeu, depois vão envelhecendo até a morte os fazer partir. O caminho ascendente de crescimento é uma via festiva e renovadora, é quando o verde viceja nos campos e a natureza se veste de cores; o caminho descendente é uma via dolorosa, no homem é todo o cortejo das doenças, das impotências, das faculdades diminuídas; nas civilizações é a degeneração de costumes, a inversão de valores, o emergir da parte obscura do homem. Esta parte obscura esteve e está sempre presente, em todas as circunstâncias, apenas ofuscada pela luminosidade dos períodos áureos. E quando essa luz vai diminuindo é que ela se começa a manifestar em toda a sua força, até controlar completamente o corpo moribundo e acabar de o matar.
Segundo a “Doutrina Secreta”, o homem existe sobre a Terra há dezoito milhões de anos, e durante este tempo imenso tem evoluído nas suas formas até se tornar no que é hoje. Começou por um ser etéreo e andrógino igual aos anjos, depois um pouco mais denso e hermafrodita, mais tarde, à medida que a densidade do seu corpo físico aumentava, separou-se em dois sexos diferentes e complementares. A este respeito, o “Zohar” hebreu diz que o homem que se separa da humanidade, recusando amor a uma companheira, não encontrará lugar depois da morte na grande síntese humana, que permanecerá fora, estranho às leias de atracção e às transformações da vida.
Pois é disto que se trata – transformações da vida. Toda a história que temos vindo a tentar contar sobre o nascimento e evolução cósmica, a formação do homem e a sucessão das suas várias formas através das humanidades que foi constituindo, tudo isto não é mais do que as transformações da vida a que o homem tem estado sujeito, por ser o objectivo de toda a Criação, porque tudo foi feito e está feito em função do homem. O mesmo livro que referimos no parágrafo anterior, o “Zohar” diz que o equilíbrio do homem é também o da natureza, e que sem o homem, o mundo não existiria. Porque o homem é o receptáculo do pensamento divino que cria e conserva o mundo; o homem é a razão de ser da Terra; tudo quanto existiu antes dele foi trabalho preparatório para o seu nascimento e sem o concurso dele a criação inteira teria sido um aborto.
Isto é o que nos diz o “Zohar”. Foi por isto, por o homem antigo ter criado a ideia de que era o reflexo do pensamento divino e ser a razão de ser de toda a Criação, que idealizou Deus como um ancião de longas barbas brancas e o colocou num trono no céu, como vem também descrito no Apocalipse de S. João. Neste, somos surpreendidos logo no primeiro capítulo, onde se diz que João foi arrebatado aos céus em espírito e se viu defronte de “Aquele” que estava no meio dos “sete candelabros de ouro”, tinha numa das mãos “sete estrelas” e lhe disse para escrever o que via e depois lhe ditou cartas para enviar às “sete igrejas”. “Aquele” diz a João que as “sete estrelas” são os anjos das “sete igrejas” e que os “sete candelabros” são as “sete igrejas”. Não precisamos de fazer nenhum esforço para vermos aqui retratado o que a antiga tradição diz: que houve sete deuses criadores que criaram sete homens diferentes em sete locais da Terra, ou seja, que as “sete estrelas” são os Anjos (Arcanjos), os “sete candelabros” os sete Homens (Adão) primordiais, as “sete igrejas” os sete locais da Terra. Por outro lado, as “sete igrejas” podem também significar as “sete raças” que a antiga tradição diz serem as raças raiz, cinco das quais já estão consumados pois, de acordo com essa mesma tradição, nós actualmente pertencemos à quinta raça, ou somos uma variante dessa quinta raça.
Olhando para a história da Atlântida, não podemos também deixar de ver ali um esboço, quase uma cópia, de toda a tradição que nos fala sobre a criação do homem. Segundo esta, quando os sobreviventes lemurianos chegaram à Atlântida, estava-se na transição da 3ª para a 4ª raça, e desta vêem-se a originar as várias sub-raças da 5ª que povoam a Terra, 5ª raça que são os emigrantes que fugiram da Atlântida. Ora, se nos remetermos apenas à história da Atlântida, encontramos exactamente a mesma sequência. Vejamos:
· Temos um primeiro período que podemos chamar de 1ª raça, quando os lemurianos, conduzidos por Manu, chegam à Atlântida há mais de um milhão de anos.
· O primeiro cataclismo acontece há cerca de oitocentos mil anos, originando um segundo período, que podemos chamar de 2ª raça.
· Este segundo período termina com outro cataclismo, há cerca de duzentos mil anos. O período que se segue podemos chamar de 3ª raça.
· Há oitenta mil anos, a Atlântida foi de novo destruída. O período que se seguiu e terminou há doze mil anos, podemos chamar de 4ª raça.
· Portanto, nós somos a 5ª raça, aquela que se originou na Atlântida durante a vigência da 4ª raça, nos imigrantes que demandaram as terras do oriente e nos sobreviventes do último cataclismo.
Acabamos por não saber se esta história foi decalcada da tradição acerca da Criação e da criação do Homem, ou se o Génesis, a cosmogonia caldeia e toda a tradição antiga são inspirações da história atlante.
O que sabemos, é que o homem em todo o seu extenuante e longo caminhar sobre a Terra, tem tido sempre uma capacidade impar de regeneração e de renascimento. Ele é um criador, cria civilizações, cria mundos, os quais, ou por degeneração ou por calamidades, são destruídos, para renascerem mais tarde com outros homens, também eles renascidos. Como a fénix, que no mito se consome no fogo a cada quinhentos anos para depois renascer vivificada, o homem parece ressurgir das cinzas para continuar a criar, reforçado pelos ensinamentos do passado, mas cometendo, talvez, os mesmos erros. No Antigo Egipto, a fénix representava o Sol, que morre no anoitecer e renasce na aurora do dia. Para a tradição cristã, a fénix é o símbolo da imortalidade e da ressurreição.
No seu caminhar sobre a Terra, o homem vive permanentemente a luta da sua dualidade que se manifesta em todos os aspectos, pois ele é macho e fêmea, ele é positivo e negativo, mas também é corpo material e espírito. Como diz Aldous Huxley na “Filosofia Perene”: “Eu sou o poeta do corpo e o poeta da Alma. Os prazeres do Céu estão em mim e as dores do inferno estão em mim. Os primeiros eu cultivo e alimento em mim mesmo, os segundos eu traduzo para uma nova língua”.
Por ser assim um ser duplo na sua essência, tudo o que o homem cria é um reflexo de si mesmo, e carrega consigo essa carga dual na busca sempre precária do equilíbrio. As civilizações são o reflexo dos homens que as criam, as compõem e nelas vivem, e se elas entram em decadência depois de atingirem o seu apogeu, é porque os homens que as constituem se deixaram subjugar pelo seu lado sombrio. É como se tratasse de uma nova “queda”. Foi assim com todas as civilizações que existiram até aos dias de hoje, e será sempre assim, até o homem conseguir atingir um estado de perfeição que não lhe permita mais ver-se subjugado pelos valores mais obscuros do plano material. Até lá, estará sempre sujeito à “queda”, mas, haverá sempre a esperança da ressurreição.
Apesar de todas as iniquidades que vemos acontecer no dia a dia, apesar de todas as angústias que nos assaltam neste início de milénio, apesar de todas as profecias anunciarem as maiores desgraças para a humanidade, essa esperança reside no coração de cada um, porque seja o que for que venha a acontecer, o homem sobreviverá para continuar a missão que lhe foi conferida pelo Criador. E para terminar, julgo adequadas as palavras de Victor-Emile Michelet, num poema seu intitulado “O Silêncio”.
O Silêncio
Não terás outra morada além do teu coração,
Pois na Terra, onde somos peregrinos,
Ninguém construirá morada permanente:
Não terás outra morada além do teu coração.
Então, ao redor dele, na atmosfera ardente,
Que dele nasce, que o envolve e que aspira
Todos os raios vindos das coisas que deseja,
Evoca o silêncio e o divino silêncio;
A forma que reveste a primeira hipóstase
Te levará nas quatro asas do êxtase.
A vida interior é feita de silêncio.
É o palácio que tem por base o silêncio.
É a flor do fogo: o silêncio é o vaso,
O silêncio é o vaso onde bebes a beleza.
Tu que passas aqui, com certeza mas sacudido
Entre tua vida real e tua vida aparente,
Tua vida real, tenebrosa e veemente
Como a paixão, o trovão e a morte,
Cobre com um véu de sombra e noite o tesouro
Dessa vida interior, que escolhe
Entre tuas almas a melhor e mais pura,
Para que nada atente para seu mistério intenso,
E que sua força virgem, integral, se aplique
A edificar a arte em que as mãos do silêncio
Venham a tecer o manto da tua alegria.
Victor-Emile Michelet
Obras consultadas para a elaboração desta série de crónicas dedicadas à evolução do homem e do universo:
1. A “BÍBLIA”.
2. “A DOUTRINA SECRETA” de Helena Petrovna Blavatsky – Editora Pensamento – São Paulo, Brasil.
3. “APÓCRIFOS – OS PROSCRITOS DA BÍBLIA” – compilação de Maria Helena de Oliveira Tricca – Editora Mercuryo – São Paulo, Brasil.
4. “AS PROFECIAS DO PAPA JOÃO XXIII” de Pier Carpi – Edições António Ramos – Lisboa, Portugal.
5. “O CAMINHO DA KABBALAH” de Z’ev bem Shimon Halevi – Editora Siciliano – São Paulo, Brasil.
6. “TRATADO DA REINTEGRAÇÃO DOS SERES CRIADOS” de Martinets de Pasquallys – Edições 70 – Lisboa, Portugal.
7. “A EVOLUÇÃO DIVINA DA ESFINGE AO CRISTO” de Édouard Schuré – Editora Ibrasa – Instituição Brasileira de Difusão Cultural, Lda – São Paulo, Brasil.
8. “O LIVRO EGÍPCIO DOS MORTOS” traduzido para o inglês por E. A. Wallis Budge – Editora Pensamento – São Paulo, Brasil.
9. “A CABALA” de Papus – Editora Martins Fontes – Sociedade das Ciências Antigas – São Paulo, Brasil.
10. “AS ORIGENS DA CABALA” de Eliphas Levi – Editora Pensamento – São Paulo, Brasil.
11. “OS SOBREVIVENTES DA ATLÂNTIDA” de Juan G. Atienza – Editora Mercuryo – São Paulo, Brasil.
12. “THE BERMUDA TRIANGLE” de Geoffrey Keyte – Internet.
13. “ACCESSIBLE REMAINS OF ATLANTIS” de Mark Hammons – Internet.
14. “FORBIDDEN ARQUEOLOGY” de Michael Cremo, Richard L. Thompson e Stephen Bernath – Internet.
15. “SCIENTISM = ATLANTEAN CHILDREN OF DARKNESS/BELIAL de Mark Hammons – Internet.
16. “EGIPTO SECRETO” de Paul Brunton. Editora Pensamento – São Paulo, Brasil.
17.
18. “A FILOSOFIA PERENE” de Aldous Huxley.
19. “BHAGAWAN SRI SATHYA SAI BABA” – “MATERIALIZATIONS” – Internet.
Sem comentários:
Enviar um comentário