9. A Atlântida – Origem da nossa civilização?
“O Atlântico era então navegável e havia, diante do desfiladeiro que vós chamais de Colunas de Hércules uma ilha maior do que a Líbia e a Ásia.”(Platão)
Deve haver poucos temas sobre os quais se tenha escrito e contado tanto como o que se escreveu e contou acerca da Atlântida. As bibliotecas do mundo inteiro estão cheias das mais diversas versões acerca daquele “continente perdido”. A noção, que todos mais ou menos temos, acerca da Atlântida, é que se tratava de uma civilização altamente evoluída, com técnicas e conhecimentos ainda não ao alcance do homem de hoje; uma terra mítica, no sentido do “Jardim do Éden”, em que as pessoas viviam felizes no meio do maior fausto e riqueza. Mas será que era assim?
O relato mais antigo nos chegou acerca da Atlântida, devemo-lo a Platão, nos seus diálogos “Timeu” e “Crítias”. Para os gregos, que foram buscar a história da Atlântida ao Egipto (Platão, como muitos outros filósofos gregos, esteve no Egipto onde foi iniciado nos “Mistérios”), ela teria sido destruída e submersa numa catástrofe ocorrida nove mil anos antes da época de Sólon. Mas os egípcios sabiam mais do que isso, sabiam que esse episódio se referia à última Atlântida, porque houvera outras Atlântidas anteriores no tempo, tão antigas que se perdiam na memória. Supõe-se que toda a história da Atlântida estaria secretamente guardada num templo de Tebas, no Egipto, cujo último sumo-sacerdote conhecedor desses segredos terá sido Jetro, supostamente sogro de Moisés, que teria também iniciado este nesses segredos. Nas “Noções Gerais sobre a Cabala” de Sédir, capítulo incluído no livro “A Cabala” de Papus, encontramos a seguinte referência a propósito: “... é suficiente saber que na época em que vivia o jovem hebreu salvo das águas, os templos de Tebas continham os arquivos sacerdotais dos Atlantes e os da Igreja de Ram. Estes últimos eram uma síntese do esoterismo da raça negra recolhido pela antiga Índia, invadida pelos brancos. Por outro lado, Moisés recolheu nos templos de Jetro, último sobrevivente dos sacerdotes negros, os mistérios puros dessa raça. Assim, a tradição oral que o pastor dos hebreus deixa aos 70 eleitos por ele compreendia o conjunto de todas as tradições ocultas que a Terra havia recebido desde a sua origem”.
Para muitos autores, como é o caso deste, Sédir, Moisés realmente existiu, apesar das pesquisas históricas lançarem sérias reservas sobre a sua presumível existência, pois historicamente não existem fontes que provem de que ele era mais do que um mito criado pelos judeus. Para esses autores ele seria um alto iniciado nos “Mistérios Egípcios” e teria estado também em contacto com o denominado “Clube de Magos” da Caldeia, onde teria completado todo o seu conhecimento acerca das ciências ocultas. De posse de todo esse conhecimento teria sido o autor dos primeiros cinco livros da Bíblia. Não cabe aqui nesta crónica demonstrar a existência ou não existência de Moisés. No entanto, é algo estranho que a sua história seja muito semelhante à de Sargão I da Acádia (Baixa Mesopotâmia), que viveu cerca de duzentos anos antes.
Uma vez que o povo hebreu é originário da Mesopotâmia, o próprio Abraão era natural de Ur, nada mais natural que as suas histórias sejam muito semelhantes às daquela região. Assim, é muito provável que o Pentateuco, os tais primeiros cinco livros da Bíblia, nos quais se inclui o Génesis, tenha sido escrito por sacerdotes judeus após a sua libertação do cativeiro na Babilónia. Até porque a cosmogonia caldeia sobre a Criação é muito semelhante à do Génesis.
Todas as civilizações antigas constituem de certo modo um enigma, principalmente as que se localizaram na região do Médio Oriente, como o caso da Suméria, da Caldeia e da Babilónia. Mas entre todas, a que parece constituir o enigma maior é a egípcia, talvez pela monumentalidade que nos legou e por todo o acervo escrito, que graças a Champolion e à Pedra da Roseta, pôde ser traduzido. No entanto, apesar do imenso caudal das coisas que pudemos decifrar da sua escrita hieroglífica não sabemos, na verdade, quem eram realmente os egípcios e de onde vieram. Como não sabemos onde foram buscar os conhecimentos que lhes permitiram construir as pirâmides de Gizé e a Esfinge, nem quando estes monumentos foram realmente construídos. Às pirâmides, os egiptólogos e os arqueólogos atribuem uma antiguidade de 2.500 a 2.700 anos a. C., mas à esfinge já não são tão seguros, dizem que a sua construção é anterior a 2.500 anos a. C. Outros, no entanto, afirmam que tanto as pirâmides como a esfinge são bem mais antigos. Já vimos atrás que a esfinge simboliza em si os quatro animais sagrados do Zodíaco – a evolução divina e terrestre, e diz-se também que as pirâmides, principalmente a maior, aquela a que se atribui o nome de Kéops, contém profundos conhecimentos, principalmente a história da humanidade passada e futura.
Num texto recente sobre os mistérios do “Triângulo das Bermudas”, encontrei uma história bem estranha. Em 1970, um naturopata americano chamado Dr. Ray Brown, fazia pesquisas submarinas com alguns amigos perto das Bahamas, num local chamado “A Língua do Oceano”, em busca de vestígios da Atlântida. Durante um dos seus mergulhos aconteceu ele separar-se dos amigos e viu-se de repente perante uma construção em forma piramidal e perfeitamente lisa. Nadou à volta e encontrou uma entrada, por onde passou para o interior da pirâmide. Não havia algas nem corais dentro da pirâmide, as paredes eram absolutamente lisas e emitiam uma espécie de luz que lhe permitia ver tudo à sua volta. De entre os vários objectos estranhos que ele viu no interior, a sua atenção foi chamada para uma esfera de cristal de uns dez centímetros de diâmetro, que ele recolheu quando se movimentava para abandonar o local. No momento em que ele deixava a pirâmide sentiu uma presença invisível e uma voz que lhe disse para não voltar ali nunca mais.
Com receio do objecto vir a ser confiscado pelo governo americano, o Dr. Brown não revelou a existência da estranha esfera de cristal até ao ano de 1975, quando a mostrou pela primeira vez num seminário psíquico em Phoenix. Depois disso, poucas vezes o cristal tem sido mostrado em público. As pessoas dizem que, olhando profundamente para o interior do cristal, vêem três pirâmides em tamanhos decrescentes, e aqueles que conseguem atingir um estado de meditação mais profundo, dizem que conseguem ver uma quarta pirâmide em primeiro plano em relação às outras três.
Poderemos ver nestas três pirâmides as de Gizé, as quais também são de tamanhos diferentes? Um médium de N. York disse, em transe, que a esfera tinha pertencido a Thoth, o deus egípcio, o qual tinha sido responsável pela construção de uma cripta secreta de conhecimento em Gizé, perto das três grandes pirâmides.
De um outro ângulo e em condições especiais, muitas pessoas afirmam ter visto um grande olho humano olhando-os serenamente. Temos aqui o “olho que tudo vê” ou o “olho da consciência” da mitologia egípcia.
Outros fenómenos parecem acontecer nas proximidades da estranha esfera de cristal, mas o que nos importa são aqueles que se referem acima estabelecerem um relação inequívoca entre um aparente achado de origem atlante e o Egipto. Não podemos estabelecer uma relação directa, pelo menos de forma exotérica, para além deste facto estranho e do enigma que constitui a origem da ciência egípcia que levou à construção das pirâmides e da esfinge. Pode haver muitas explicações, que as há seguramente, e até já se fizeram filmes a respeito, mas o mistério permanece insolúvel. Quem eram os egípcios? Seriam eles atlantes?
Uma organização suíça dedicada, segundo o título, à promoção da consciência espiritual na Internet, publicou recentemente um relatório da autoria de Mark Hammons com o título “Vestígios Acessíveis da Atlântida”. Há coisas muito curiosas neste relatório. Por exemplo, diz que o fundo do oceano Atlântico está cheio de lixo atlante, como os americanos sabem muito bem; que os atlantes não eram humanos (!?) ou pré-humanos, que eram adaptações criadas artificialmente a partir de hominídeos terrestres com uma consciência a quatro dimensões (!?); que eram, em certo sentido, intrusos neste mundo, que eram extraterrestres; que a consciência atlante evoluiu de uma forma etérea, quase incorpórea, uma variação de quatro dimensões, para uma forma mais física e sensual; que a evolução dos atlantes foi uma intrusão da consciência de quatro dimensões num plano de três dimensões, uma colónia de extraterrestres.
O relatório continua com explicações sobre a movimentação da crosta terrestre e a causa do afundamento do continente. Mas diz mais, que os atlantes viviam séculos ou milénios, mas que a duração da sua vida foi diminuindo à medida que o corpo ia ficando mais denso. Que não houve apenas uma Atlântida, que houve várias que se foram sucedendo de cataclismo em cataclismo, e que se quisermos encontrar vestígios dessas Atlântidas, podemos procurar no fundo do oceano, principalmente no “mar dos sargaços” onde encontraremos muitos, mas também em terra firme os há, nomeadamente na costa do Golfo do México, onde a marinha americana tem desenvolvido intensas buscas, que não torna públicas por não estar propriamente interessada em arqueologia, mas sim em tentar encontrar a tecnologia que os atlantes usavam para controlar a energia.
Acredite nisto quem quiser, mas o que surpreende mais nesta descrição é a similitude que existe com o que a tradição nos conta acerca da criação do homem, isto é, que este começou por ser um homem etéreo, incorpóreo, e que depois, por acção dos seres celestes se foi transformando no homem físico, como vimos nos capítulos atrás. Por esta razão me parece, que tanto o Génesis da Bíblia como a Cosmogonia Caldeia, poderão ter sido decalcados, com adequadas adaptações, da história da Atlântida via santuários egípcios onde estes segredos estariam guardados.
A época da passagem da 3ª para a 4ª raça, o desaparecimento da Lemúria e a sobrevivência de uma elite no novo continente, terá acontecido há mais de um milhão de anos. Para os que se recusam a aceitar esta antiguidade do homem na Terra, devo dizer que a Arqueologia moderna está cheia de evidências que comprovam que o homem é muito mais antigo do que a ciência oficial está disposta a admitir. O naturalista francês De Quatrefages, no seu estudo sobre as raças humanas, afirmou que o homem não variou um átimo na sua estrutura física desde o período pós-terciário, ou mesmo antes. Ora sendo o período terciário compreendido entre 65 e 1,6 milhões de anos, atira a antiguidade do homem, tal como é hoje, para alguns milhões de anos. Por outro lado, como se disse atrás, a arqueologia moderna tem provas dessa antiguidade. Vejamos:
· Em 1979, em Laetoli, na Tanzânia, foram descobertas pegadas humanas idênticas às actuais, com 3,6 milhões de anos.
· Em Kanapoi, no Quénia, foi descoberto em 1965 um osso humano do braço, igual aos ossos de hoje, com 4 milhões de anos de antiguidade.
· Em 1913, em Olduvai Gorge, na Tanzânia, foi descoberto um esqueleto humano, anatomicamente moderno, num extracto fóssil com 1 milhão de anos de idade.
· Objectos vários construídos indubitavelmente pelo homem têm sido descobertos um pouco por toda a parte, com uma antiguidade que reporta entre 2 a 25 milhões de anos. Um desses objectos, com cerca de 5 milhões de anos de existência, é uma concha onde se acha desenhada a face de um homem.
· Foram descobertas ferramentas de pedra com idades variando entre 2,5 e 55 milhões de anos.
· Em Portugal, o paleontologista Carlos Ribeiro no final do século XIX, descobriu ferramentas de pedra num extracto fóssil cuja idade variava de 5 a 25 milhões de anos.
· Um crânio humano, de anatomia idêntica aos actuais, com a idade de 3 a 4 milhões de anos, foi descoberto em Castanedolo, Itália, em 1880.
· São hoje vulgares os achados com idades entre 250 mil e 1 milhão de anos.
· Sobre a questão do “Australopitecos” ter sido considerado como o ancestral símio do homem, o antropologista C. E. Oxnard escreveu em 1975, no seu livro “Unicidade e Diversidade na Evolução Humana”, que não é possível que qualquer desta variedade de hominídeos possa ter qualquer ligação filogenética com o genes humano.
Dizíamos então, que o início da 4ª raça na Atlântida, originada pelos sobreviventes da Lemúria, se passou há mais de um milhão de anos. Nessa altura, o território atlante compreendia o que é hoje grande parte da América do Norte e Central, o Golfo do México e estendia-se para nordeste ocupando o que hoje é a Inglaterra e os Países Nórdicos; estendia-se em curva para sul e estava separada da África do Norte, já emersa, por um estreito braço de mar. Para atingir a África do Norte e a Ásia Meridional, que já fizera parte da Lemúria, os atlantes não tinham mais do que atravessar esse estreito canal.
Diz a antiga tradição que os primeiros atlantes se separaram em “bons”” e “maus”, uns adorando o espírito invisível da Natureza, cujo raio sentiam dentro de si mesmos, outros rendendo culto fanático aos espíritos da Terra, aos quais se aliaram. Estes últimos foram os que os egípcios e os fenícios chamaram de “Cabiros”, os gregos de “Titãs”, os hindus de “Rakhasas” ou “Daityas”. Édouard Schuré descreve o povo atlante dessa época assim: “O período atlântido (...) representa, na história, a passagem da animalidade à humanidade propriamente dita, isto é, o primeiro desenvolvimento do “eu” consciente, de onde consideráveis faculdades do ser humano deviam brotar como uma flor em germinação. Não obstante, o atlante primitivo aproximar-se mais do animal do que do homem actual, não o imaginamos um ser degradado como o selvagem de hoje, seu descendente degenerado. Certamente, a análise, o raciocínio e a síntese, nossas conquistas, não existiam nele senão num estado rudimentar. Possuíam, ao contrário, certas faculdades psíquicas que deveriam atrofiar-se na humanidade posterior: a percepção instintiva da alma das coisas, a segunda visão em estado de vigília ou de sono, uma acuidade singular dos sentidos, uma memória tenaz e uma vontade impulsiva, cuja acção se exercia de maneira magnética sobre todos os seres vivos, algumas vezes até sobre os elementos.”
Este ser gigante que aqui vemos descrito como possuindo algumas faculdades que hoje talvez nos façam falta, faculdades essas que foram sendo, ao longo do tempo, obscurecidas pela razão e pelo intelecto, usava a flecha de ponta de pedra. O seu corpo era poderoso, mas muito mais elástico e menos denso do que o do homem actual. Tinha o olhar fixo e cintilante das serpentes e ouvia tão bem que conseguia escutar a erva crescer e o caminhar das formigas. O seu rosto lembrava o de indivíduos de certas tribos indígenas da América e o das esculturas dos templos do Peru. Era um rosto rude, de fronte fugidia.
Possuindo um corpo quase etéreo, era durante a noite, durante o sono, que o atlante era instruído pelos guias divinos, os Manus, pois, quando adormecia, o seu corpo pouco denso permitia-lhe uma ascensão fácil no plano astral. Esta forma de instrução, apesar de à partida nos parecer estranha, não constitui propriamente uma novidade para alguns dos seres humanos que hoje povoam a Terra. Quando adormecemos, e embora o nosso corpo seja muito mais denso do que naquela altura, muitas vezes acontece de forma involuntária elevarmo-nos a esse plano astral e aí entrarmos em contacto com outros seres também elevados a esse plano ou que vivem permanentemente nesse plano. Naturalmente que não é o nosso corpo físico que se eleva, mas o nosso corpo psíquico cuja densidade é muito inferior à do outro. Depois, quando despertamos, temos a impressão de ter sonhado, a recordação é muito imprecisa, não sabemos se sonhámos ou não, mas tudo o que apreendemos nesse plano onde estivemos fica registado no nosso inconsciente. Alguns de nós podem fazer isto de forma consciente e recordam todos os pormenores vividos.
Quando despertava, o atlante tinha a sensação de ter vivido num mundo superior e ter conversado com os deuses. Diz Édouard Schuré que, a longínqua lembrança desta época criou todas as lendas do paraíso terrestre. Para os egípcios é o reino dos deuses que precede o reino de Schesu-Hor dos reis solares e dos reis iniciados; para os hebreus e os cristãos, foi o paraíso terrestre de Adão e Eva guardado por Querubins; para os gregos, a idade de ouro em que os deuses caminhavam sobre a Terra revestidos de ar.
Há cerca de oitocentos mil anos, um terrível dilúvio abateu-se sobre a Atlântida que sofreu vastas devastações. Ficou separada da América por um estreito e da Irlanda e Inglaterra que, juntamente com a Escandinávia, formaram uma ilha à parte.
Novas e terríveis devastações ocorreram há cerca de duzentos mil anos. A Atlântida foi novamente separada, agora em duas ilhas, uma ao norte chamada Ruta e outra ao sul de nome Daitia. Nesta altura a Europa estava já formada e, durante os três períodos intercalados por estes dois cataclismos, a comunicação com o território que é hoje europeu e a África do Norte fazia-se com extrema facilidade.
Nova ocorrência geológica há oitenta mil anos, acabou por reduzir a Atlântida aos restos da grande ilha de Ruta, uma ilha que ficava mais ou menos a igual distância da América e da Europa. É desta ilha, a que chama de Poseidon, que nos fala Platão nos seus diálogos. Esta ilha acabou também por ser tragada pelo oceano no ano de 9564 antes de Cristo, conforme relato dos sacerdotes egípcios a Sólon.
As catástrofes que acabaram por mergulhar definitivamente a Atlântida no fundo do oceano ocorreram num espaço de tempo entre oitocentos mil e 9 mil anos antes de Cristo. Antes do primeiro cataclismo, já vimos que os atlantes existiam, talvez como descendentes dos últimos lemurianos, o que faz com que a Atlântida tenha existido durante mais de um milhão de anos. Isto é muito tempo, seja como for que analisemos a questão, muita coisa se passou, não podemos ter qualquer espécie de dúvida.
Como vimos acima, os primitivos atlantes eram instruídos durante o sono pelos deuses, ou pelos Manus, ou pelos Arcanjos, que assim continuavam a sua obra de construção do Homem. Naquela altura, os atlantes já eram macho e fêmea, já tinha ocorrido a “queda”, já tinha havido a chamada “guerra dos céus” e os Anjos rebeldes já tinham procriado nas filhas dos homens, portanto, os atlantes primitivos seriam os descendentes desse cruzamento do “céu” com a terra.
Estes homens-deuses gigantes não eram propriamente pacíficos, pois estão na origem de muitos mitos e lendas que nos chegaram do fundo do passado: como a lenda dos Titãs, da ligação de Urano e Geia, deuses do céu e da terra, e de como Urano entrou em conflito com os próprios filhos; como o mito de Osíris, morto e esquartejado por seu irmão Seth; como a lenda irlandesa dos Thuata-de-Dannan, em que duas raças procedentes do mar se enfrentam em solo gaélico. A luta pelo território e pelo poder já vem desde a origem da raça humana.
Independentemente da evolução dos povos que habitaram e governaram as várias Atlântidas, há um facto muito curioso e com o qual concordam os geólogos e os arqueólogos, contrariando a Teoria da Evolução de Darwin, no que se refere ao homem, e demonstrando que aparentemente o homem evoluiu até ao seu estado actual por interferência exterior a ele. Acreditemos ou não na acção de seres celestes, vejamos:
· Durante um período que durou, calcula-se, entre trezentos e quatrocentos mil anos, o Paleolítico Inferior, o homem que se designou de Neandertal habitou a Terra dedicando-se à caça em condições muito adversas.
· De repente, o homem de Neandertal desaparece e é substituído por um povo mais evoluído de caçadores, que é o homem de Cro-Magnon, que permanece por um período de quinze mil anos a que se chamou de Paleolítico Superior.
· Ao fim desses quinze mil anos, não se sabe também o que aconteceu ao homem de Cro-Magnon. Assiste-se a um período de mais ou menos cinco mil anos em que nada acontece, chamado “marasmo mesolítico”.
· Então, cerca de quatro mil e quinhentos anos antes de Cristo, acontece o “mistério” – o homem dá um salto gigantesco no caminho da evolução civilizacional e começa a operar autênticos prodígios: aprende a arte da agricultura, domestica animais, descobre a cerâmica, inventa a roda, usa a pedra de forma mais eficaz e funcional, veste-se com tecidos manufacturados, aplica técnicas cirúrgicas, adquire uma consciência religiosa definida.
Tudo isto contradiz o que temos estado a falar sobre a evolução do homem na Terra, sobre a sua antiguidade e sobre a Atlântida. Mas isto é natural, pois trata-se da versão da ciência oficial, que não contempla a hipótese do homem existir há muito mais tempo e em condições muito mais civilizadas do que ela apresenta. Apesar disto, não deixa de constituir um autêntico mistério o salto prodigioso que o homem deu cerca de 4 mil e quinhentos anos antes de Cristo.
Por esta versão, durante um longo período de 300 a 400 mil anos o homem era um ser meio selvagem que vivia dos parcos recursos que a caça lhe facultava, caça esta feita em condições muito adversas de clima e dificuldades levantadas pela natureza. Este homem desaparece, não se sabe como, e é substituído por outro mais evoluído, que continua a viver da caça durante um curto espaço de quinze mil anos. Depois vem o torpor, uma espécie de adormecimento, em que não se sabe que espécie de homem habitava a Terra. Quando acorda deste letargo, começam a surgir as civilizações como se fossem tiradas do chapéu de um ilusionista de feira, as civilizações que fizeram a história que conhecemos.
Há uma pergunta que surge naturalmente em toda esta história: como aprenderam os homens, de repente, tudo aquilo e se lançaram no caminho civilizacional, que não parou até aos dias de hoje? Além desta pergunta, existe também uma questão que é o paralelismo com a civilização atlante da mesma altura, mas isto veremos mais adiante.
Nas mesmas épocas do homem de Neandertal e de Cro-Magnon, e mesmo anteriormente a elas, os seres primitivos da Atlântida foram evoluindo e multiplicando-se. À medida que o seu corpo físico se foi tornando mais denso, foram diminuindo de estatura. Cada catástrofe geológica foi precedida de um período de prosperidade e de um período de decadência. Houve guerras, conquistas, êxodos, e o atlante foi-se dividindo em várias sub-raças, sete para ser preciso, que eram ramos da original raça-mãe.
O número sete, consideremo-lo de forma simbólica ou não, aparece em todas as cronologias antigas sobre a Criação. Por exemplo:
· No Génesis da Bíblia, a Criação foi feita em seis dias, e Deus descansou no sétimo dia.
· Nos fragmentos das Tábuas Caldeias que contam a Lenda Babilónica da Criação, são mencionados sete seres humanos, com caras de corvos, isto é, de tez negra, seres estes que os sete Grandes Deuses criaram.
· Na Cabala, estes sete seres são os sete Reis de Edom.
· Os textos hindus dos “Purânas” falam em sete Manus.
· Na Arca de Noé, os animais, as aves e todas as restantes criaturas foram reunidas em número de sete.
· O número sete aparece constantemente referido no Livro dos Mortos egípcio e no Zendavesta persa, assim com em numerosas lendas entre os maias da América Central.
· Na América Central há referências a “sete cidades” e a “sete grutas” como originárias do homem. Lembremo-nos também que, nos Açores, existe uma lagoa chamada de “sete cidades” e à qual estão ligadas muitas lendas de natureza esotérica.
· Para a “Doutrina Secreta” houve sete Deuses criadores que criaram sete homens primordiais em sete locais diferentes na Terra.
· Para alguns cabalistas, a Criação só se realiza, de facto, através das últimas sete Sefiras, uma vez que as três primeiras são puras emanações divinas.
À medida em que as guerras iam acontecendo e o atlante se dividindo nestas sete sub-raças, o seu índice de civilização ia também aumentando. O apogeu da civilização atlante ocorreu, supomos, depois da penúltima destruição, que aconteceu cerca de 80 mil anos antes de Cristo. Édouard Schuré diz que este apogeu foi atingido pela mão dos “Toltecas”, cujo nome se encontra entre as tribos mexicanas e que era uma das sete sub-raças. Os Toltecas eram diferentes dos Rmoahalls e dos Tlavatis, duas sub-raças que se digladiaram durante bastante tempo e cujas características principais eram o grande vigor físico, coragem e destreza. A estas características, que também não lhes faltavam, os Toltecas acrescentaram uma memória mais fiel e uma profunda necessidade de veneração para com os chefes. Eram um povo de tez acobreada, de talhe alto, traços fortes e regulares. O sábio ancião e o guerreiro intrépido eram honrados. As qualidades, transmitidas de pai para filho, tornaram-se o princípio da vida patriarcal e a tradição implantou-se na raça. Estabeleceu-se deste modo a realeza sacerdotal, edificada sobre uma sabedoria conferida pelos seus superiores, herdeiros espirituais do Manu da raça primitiva. Estes reis-sacerdotes eram personagens de grande sabedoria e detinham poderes como o da vidência e adivinhação. Eram, verdadeiramente, reis iniciados. Grande foi o seu poder durante longos séculos, o qual lhes advinha de uma compreensão singular entre si e de uma comunhão instintiva com as forças cósmicas e as hierarquias invisíveis, exercendo-o de modo auspicioso. Este poder, protegido por certo mistério, rodeou-se de majestade religiosa e de grande pompa, de acordo com aquela época de sentimentos simples e sensações fortes.
Mas, como deixámos antever atrás, este apogeu da civilização atlante coloca um problema curioso. Isto acontecia quando, no resto do mundo vivia o pobre homem de Neandertal, vestindo peles de animais e caçando o que podia para se alimentar. O mesmo acontecia em relação ao homem de Cro-Magnon, embora este fosse contemporâneo de uma civilização atlante já decadente. Como é possível que, vivendo na mesma época, tanto o homem de Neandertal como o de Cro-Magnon não tivessem beneficiado dos conhecimentos desenvolvidos pelos atlantes, uma vez que as deslocações entre continentes e, no caso particular a Europa, não eram difíceis? Até parece que as coisas se passavam em planetas diferentes. Olhando para o mundo actual, vemos que apesar do incrível desenvolvimento civilizacional imprimido a todo o globo, existem tribos dispersas em locais afastados que vivem como se estivessem ainda na idade da pedra. Então neste caso, tanto o homem de Neandertal como o de Cro-Magnon, não são representantes da humanidade da altura, mas membros de tribos que habitavam regiões não ocupadas pelos atlantes ou com os quais não mantinham contacto. A não ser que, tanto um como o outro, não sejam representantes de coisa nenhuma, mas sim o pretexto para a ciência oficial basear a sua doutrina de evolução do homem.
De uma maneira ou de outra, ficamos com a forte impressão de que o prodigioso desenvolvimento da Atlântida na sua época áurea se confinou ao seu próprio território, e que o conhecimento que haviam adquirido só transbordou para outras regiões do planeta depois da sua destruição definitiva, cerca de 10 mil anos antes de Cristo, através de imigrantes ou sobreviventes do seu último cataclismo.
Não podemos deixar de ver em toda a sumptuosidade egípcia e na forma como os faraós se apresentavam e eram considerados, a herança de costumes e valores da Atlântida do tempo dos Toltecas. O fausto, a pompa e a circunstância que rodeavam os reis-sacerdotes Toltecas transferiram-se para as civilizações que começaram a florescer na região do Médio Oriente cerca de 5 mil anos antes de Cristo. Mas mais importante que o fausto foi a herança da noção do relacionamento desses reis-sacerdotes com os seres superiores, com os guias divinos, vindo a transformar-se na crença de que os reis detinham o ceptro por direito devido à sua descendência divina. Esta crença impregnou todas as monarquias reinantes, inclusive dentro do cristianismo, até ao fim da Idade Média.
No Egipto, os faraós eram considerados seres divinos, e só se casavam com as suas próprias irmãs, porque elas tinham o mesmo sangue e a mesma origem divina. Os hititas, os assírios, os babilónios, os caldeus, todos eles acreditavam que os seus soberanos reinavam por mandato do céu. Os hebreus, que se consideravam e consideram ainda hoje o povo eleito de Deus, agiam do mesmo modo, os seus reis eram reis divinos, pois David foi coroado rei da Casa de Israel por incumbência de Javé, seu Deus, e todos os seus sucessores, a começar por seu filho Salomão, foram assim considerados de descendência divina. O próprio Novo Testamento relata que Jesus era da descendência de David, e por isso, era por inerência divino. O Evangelho de S. Mateus começa por dizer, justificando a ascendência divina de Jesus: “Livro de origem de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão, etc.”
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