sábado, 15 de novembro de 2008

Cadernos Esotéricos - O Papa João XXIII era um Mestre Iniciado (?) - 3ª Parte

Naturalmente que nem as profecias, nem a iniciação de João XXIII podem ser provadas com documentos ou fotografias. Logo vêm a correr dizer: isso é tudo uma invenção desse escritor italiano, pode lá ser um Papa iniciado na tradição rosacruz! As profecias foram entregues a Pier Carpi num volume com vários documentos manuscritos, numa visita nocturna por um desconhecido. Esses documentos continham as profecias e a história da iniciação de Roncalli. Pier Carpi fotocopiou os documentos e devolveu os originais ao portador desconhecido.
Não é de estranhar que um sacerdote católico tenha sido iniciado numa das tradições mais antigas, condenada em todos os tempos pela doutrina da Igreja. Roncalli não foi, nem é caso único dentro da Igreja Católica. Ao longo dos tempos, muitos sacerdotes se dedicaram ao oculto, à sabedoria secreta, à alquimia, apesar da política exotérica da Igreja ser absolutamente contrária a essas actividades. O exemplo talvez mais conhecido é o de Eliphas Levi, que depois de ser ordenado diácono, acabou por ser expulso da Igreja, não por ter interesse no ocultismo, mas por se ter apaixonado por uma bela jovem chamada Adelle Allenbach.
Isto não quer dizer que dentro da Igreja exista algum grupo dedicado ao esoterismo, enquanto que para o público se manifesta o culto exotérico. Poderá haver alguns elementos que, à revelia da hierarquia, se dedicam a essas actividades. Porque existem muitos segredos não revelados, muitas “chaves” do antigo conhecimento repousam ignoradas ou permanentemente escondidas dentro de duas grandes religiões: o cristianismo e o islamismo.
Um dia, numa das muitas visitas que fiz a Santiago de Compostela, encontrei alguém com quem acabei por ter uma conversa interessante. Uma das coisas que me disse, quando comentei que o Caminho de Santiago era bem mais antigo que a própria Igreja, foi que esta também tinha várias faces ou estágios; que não me deixasse enganar pelas aparências e pelo exoterismo, porque dentro da Igreja havia várias Igrejas. Assim, tínhamos a Igreja inicial, a Igreja de Paulo, o instrutor, o construtor; depois veio a Igreja de Pedro, aquela que se estabeleceu em poder, representando a pedra bruta que precisa de ser trabalhada, a obra ao negro, o culto exotérico; tínhamos ainda a Igreja de João, a interiorização, a transformação, a apreensão dos símbolos no seu verdadeiro significado, a obra ao branco; finalmente a Igreja de Tiago, o caminhante das estrelas, a transubstanciação, a obra ao vermelho, o culto esotérico.
É óbvio que os documentos entregues pelo desconhecido (que não era desconhecido) ao autor do livro suscitam dúvidas sobre a sua autenticidade. Um leigo não será capaz de estabelecer a sua veracidade, porque não tem o conhecimento necessário para o fazer. Os crentes de uma qualquer religião também serão incapazes de ver se os documentos são genuínos, uma vez que se encontram envolvidos emocionalmente num culto exotérico, sem acesso à compreensão dos símbolos – não conseguem ver, por exemplo, que a custódia ou o ostensório é um símbolo solar, um círculo dourado rodeado de raios dourados.
Somente os gnósticos conhecedores da antiga tradição, talvez também os verdadeiros martinistas que permanecem incógnitos, os S.I.I., conseguem decifrar se o que se passou com Roncalli é verdadeiro ou falso. Certamente os rosacruzes, os que leram os livros de T. e M.
O encontro em sonhos com o seu mestre, que não são sonhos, mas contactos no astral, a leitura dos livros T. e M. numa língua estranha, mas que, estranhamente, se tornam inteligíveis a quem foi dado o privilégio de os ler, são sintomas que conhecemos de outras situações e que nos dão a garantia de estarmos a trilhar um caminho verdadeiro.
Numa crónica anterior transcrevi o documento denominado “A Mesa dos Três Mestres”, resultante de um encontro em Paris desses três grandes iniciados: Cagliostro, Saint Germain e Saint-Martin. Esse encontro destinou-se a deixar uma mensagem para aqueles que pretendessem seguir um caminho iniciático.
Cagliostro, o mestre desconhecido, o fundador do ritual egípcio da maçonaria, perseguido pela Inquisição, acabou os seus dias emparedado numa pequena cela. Saint Germain, o viajante que sempre se manteve longe das sociedades iniciáticas, íntimo de poderosos, espalhou as suas ideias por toda a parte e depois desapareceu (desapareceu?). Saint-Martin, que recebeu de Martinez de Pasqually os fundamentos para o martinismo que impulsionou, pois nas verdade ele não fundou nenhuma Ordem Martinista. Todos eles se encontraram com o Mestre, em sonhos que não eram sonhos; todos eles se reconhecem nas três cores sagradas.
Roncalli recebeu a visita do Mestre várias vezes e, quando estava preparado, soube encontrar o caminho que o levou ao templo em que foi iniciado.
A tradição rosacruz em que Roncalli foi iniciado é a mesma que Christian Rosencreutz foi beber no Islão, na viagem que fez ao Oriente no início do século XV. Nessa viagem terá conseguido entrar em contacto com os cenáculos esotéricos islâmicos onde conheceu antigos segredos e ganhou a confiança dos Antigos que lhe mostraram e lhe deram a ler os livros de T. e M. De volta à Europa, organizou a Ordem Rosacruz que, a partir daí, passou a ter influência determinante nos movimentos esotéricos iniciáticos, desde o martinismo à maçonaria e às várias sociedades rosacruzes que se estabeleceram desde então. O rosacrucianismo passou a ser o fundamento de todo o conhecimento esotérico e alquímico. No entanto, algumas dessas sociedades ditas rosacruzes tentaram inovar, estabelecer princípios baseados em crenças religiosas e não na verdadeira tradição, desvirtuando completamente a sabedoria que nos foi legada pelos Antigos.
Introduzido no templo, Roncalli deparou-se com tudo quanto lhe tinha sido transmitido pelo seu Mestre, aquele cujo rosto é sempre igual, como semelhantes ficam os rostos dos que são iniciados. Sobre a mesa central em formato pentagonal, a Bíblia aberta mostrando o evangelho de João; uma espada de punho de prata; dois candelabros de bronze, de três braços cada um e três velas vermelhas; entre os candelabros o símbolo da Ordem em que Roncalli ia ser iniciado. Debaixo desse símbolo, que não posso descrever, três rosas em tecido – uma branca, uma vermelha e uma preta.
O ambiente estava fracamente iluminado. Junto a três paredes Roncalli viu três cadeiras, sobre as quais repousavam três túnicas de linho branco. Sentiu passos leves atrás de si – era o Mestre, que agora lhe sorria e lhe começou a explicar os símbolos presentes. Usava ao pescoço o símbolo da Ordem em prata, preso a um cordão feito de nós templários.
Chegou a uma altura da cerimónia em que foi pedido a Roncalli para escolher um nome. Johannes, disse ele sem hesitar. Depois da imposição da espada, seguiu-se o juramento de fidelidade à Ordem, de nunca revelar os seus segredos, de seguir a tradição, de praticar sempre o bem, etc.
Mais pormenores encontram-se no livro de Pier Carpi, mas nada é revelado com respeito ao símbolo da Ordem. Nada é verdadeiramente revelado, senão aquelas coisas que um profano pode saber. No entanto, aquilo que está descrito é o bastante para todos aqueles que já passaram por uma iniciação semelhante e conhecem o que falta aqui nesta crónica e no livro.
Que melhor maneira de terminar esta série de crónicas sobre João XXIII senão o poema de Fernando Pessoa “No Túmulo de Christian Rosencreutz”:

I
Quando, despertos deste sono, a vida,
Soubermos o que somos, e o que foi
Essa queda até Corpo, essa descida
Até à Noite que nos a Alma obstrui,
Conheceremos pois toda a escondida
Verdade do que é tudo que há ou flui?
Não: nem na Alma livre é conhecida…
Nem Deus, que nos criou, em Si a inclue.
Deus é o Homem de outro Deus maior.
Adam Supremo, também teve Queda;
Também, como foi nosso Criador,
Foi criado, e a Verdade lhe morreu…
De além o Abismo, Sprito Seu, Lha veda;
Aquém não a há no Mundo, Corpo Seu.
II
Mas antes era o Verbo, aqui perdido
Quando a Infinita Luz, já apagada,
Do Caos, chão do Ser, foi levantada
Em Sombra, e o Verbo ausente escurecido.
Mas se a Alma sente a sua forma errada,
Em si, que é Sombra, vê enfim luzido
O Verbo deste Mundo, humano e ungido,
Rosa Perfeita, em Deus crucificada.
Então, senhores do limiar dos Céus,
Podemos ir buscar além de Deus
O Segredo do Mestre e o Bem profundo;
Não só de aqui, mas já de nós, despertos,
No sangue atual de Cristo enfim libertos
Do a Deus que morre a geração do Mundo.
III
Ah, mas aqui, onde irreais erramos,
Dormimos o que somos, e a verdade,
Inda que enfim em sonhos a vejamos,
Vemo-la, porque em sonho, em falsidade.
Sombras buscando corpos, se os achamos
Como sentir a sua realidade?
Com mãos de sombra, Sombras, que tocamos?
Nosso toque é ausência e vacuidade.
Quem desta Alma fechada nos liberta?
Sem ver, ouvimos para além da sala
Calmo na falsa morte a nós exposto,
O Livro ocluso contra o peito posto,
Nosso Pai Rósea-cruz conhece e cala.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Cadernos Esotéricos - O Papa João XXIII era um Mestre Iniciado (?) - 2ª Parte

“A Religião do Deus que se fez homem encontrou-se com a religião — porque é uma religião — do homem que se faz Deus.”

A frase acima faz parte de um dos muitos comentários negativos que tenho lido acerca do Concílio Vaticano II. Salvo algumas excepções, a crítica ao Concílio é cerrada, por parte dos que se sentiram ultrajados pelas reformas propostas, muitas das quais nunca chegaram a ser implementadas. Esta frase faz parte do discurso de encerramento do Concílio proferido por Paulo VI e provocou a ira dos sectores mais conservadores da Igreja.
Uma das acusações que se faz ao Concílio é a de que as “impiedades” erigidas em sistema, como a revolução anarquista, o comunismo, os diversos socialismos e as maçonarias, não foram condenadas, antes pelo contrário aceites como processos de evolução humana. Que outros concílios e Papas anteriores se chocaram e lutaram contra estas várias formas da religião do homem que se faz Deus.
É interessante constatar que, quando falam em “impiedades” se esquecem de falar do nazismo, contra o qual a Igreja não reagiu e manteve uma atitude dúbia, e dos vários fascismos ou regimes fascizantes, com os quais a Igreja colaborou. Por exemplo, uma das grandes contribuições para o fascismo italiano de Benito Mussolini foi a encíclica Rerum Novarum” do Papa Leão XIII, publicada em 1892 e que defendia o corporativismo de Estado como uma solução para a crise do operariado após a Revolução Industrial. São conhecidos os apoios explícitos da Igreja aos regimes de Franco em Espanha e Salazar em Portugal.
É interessante também notar que nenhum dos ferozes críticos das “impiedades” se referiu aos milhões de mortos provocados pela Inquisição, esta sim, uma enorme impiedade para com o ser humano. Nem se referiu também às perseguições movidas contra os heréticos e as numerosas heresias (consideradas pela Igreja) que foram surgindo durante os séculos de obscurantismo em que a Igreja foi senhora absoluta das vidas e haveres das pessoas. As enormes labaredas das fogueiras estão aí para nos lembrar esse passado macabro.
Lembrando de novo Alessandro Cagliostro, a última vítima da Inquisição, que foi praticamente emparedado vivo numa cela reduzida tendo apenas um catre de madeira para dormir, alguém um dia deixou sobre esse catre um ramo de rosas amarrado com três fitas, uma preta, outra branca, outra vermelha, as cores da iniciação martinista e gnóstica, além de terem também um grande significado para os alquimistas, pois simbolizam a matéria densa, a obra ao branco e a obra ao rubro.
Quem acusa o Concílio de se abrir ao mundo, de procurar o ecumenismo considerando todos os seres humanos como filhos de Deus, independentemente da sua religião ou filosofia, deveria encolher-se de vergonha pelo papel que a sua Igreja desempenhou ao longo dos quase dois mil anos. Porque não são apenas os cristãos que são irmãos, somos todos irmãos, não importa a credo, a cor, a pobreza ou a riqueza, ou ainda a opção política. Porque tudo isto é transitório na longa ascensão do homem até Deus, tudo passa, tudo muda, a única coisa imutável é a aspiração humana de um dia se tornar Deus, porque o Cristo já vive no interior de cada um, basta despertá-lo.
Tudo tem sido feito para ofuscar a figura de João XXIII, cujas relações com o mundo espiritual exterior à Igreja constituem um grande embaraço para aqueles que acham que o único caminho espiritual reservado ao homem é através do catolicismo. A sua iniciação rosacruz e as suas relações com metropolitas da Igreja Ortodoxa e com elementos preponderantes da maçonaria são uma “pedra no sapato” da Igreja Católica. Da sua iniciação rosacruz, que terá acontecido quando da sua estadia na Turquia, em 1935, nasceram as Profecias que foram publicadas por Pier Carpi em 1976. Aparentemente não tiveram mais nenhuma publicação posterior, o que leva a crer que a Igreja Católica continua a ter o braço bem comprido.
Nessa campanha de ofuscamento levada a cabo por sectores conservadores da Igreja, foi impresso em Manila, nas Filipinas (?) um diário atribuído a João XXIII, que teria sido encontrado por uma empregada de limpeza do Vaticano, quando limpava umas arrecadações. Nesse diário João XXIII teria anotado experiências que lhe aconteceram, como várias visitas nocturnas da Virgem Maria e de Jesus Cristo, assim como algumas profecias prevendo tempos difíceis para o futuro.
Ora bem, não é credível que algo tão importante como o diário de um Papa encontrado dentro do Vaticano fosse parar às Filipinas para aí ser publicado; não é credível que um diário de João XXIII tivesse sido abandonado numa qualquer arrecadação do Vaticano; não é credível que João XXIII tivesse usado outro diário, além do que o acompanhou toda a vida, para anotar esperiências fantásticas. Quanto às pretensas profecias, que são poucas, apenas uma meia dúzia, trata-se de uma manobra para fazer esquecer as verdadeiras, aquelas que foram escritas em 1935.
Uma das profecias (as verdadeiras) prevê a sua própria eleição para Papa e a abertura do Concílio Vaticano II:
“Depois tornar-se-á Pai o inesperado, filho dos campos e das águas.
Eu não o vejo. Receio por sua causa, por sua época. Pela Mãe.
Caminhará entre pessoas divididas, prontas a pôr e a arrancar a túnica do redentor. Gritará muito no seu coração, falará docemente. Acreditarão nele. A luta será dura.
Entre os papeis do Pai morto encontrará o plano para reunir os pastores e falar ao rebanho. Ousará o que jamais foi ousado. Errará, mas será um bem. Desejará conhecer o mundo e dá-lo a conhecer aos simples através dos seus olhos. Rebentará o escândalo, mas todos compreenderão.
As suas cartas ficarão.
Morrerá longe dos pastores antes de os voltar a chamar. Os seus papeis serão escondidos. Os seus papeis serão roubados. Pouco se falará dele. Mas no dia em que o Pai que vier depois dele, surgindo do nevoeiro, for atingido, também a sua voz será ouvida entre os túmulos. O Pai morto abrirá o sétimo sigilo.
Para ele peço perdão.”
Esta profecia é uma das mais fáceis de interpretar, as outras, quase todas, são extremamente herméticas. O Pai é o Papa, a Mãe é a Igreja. O plano para o Concílio estava entre os papeis de Pio XII. De facto, João XXIII morreu numa altura em que o Concílio tinha sido interrompido. O Papa que o sucedeu veio do nevoeiro, de Milão, cidade conhecida por ter muito nevoeiro. Quanto ao resto… cabe a cada um tentar fazer a sua própria interpretação.
(Continua)

domingo, 2 de novembro de 2008

Cadernos Esotéricos - O Papa João XXIII era um Mestre Iniciado (?) - 1ª Parte

“Ano de 1935. A vida não é fácil para Ângelo Roncalli, arcebispo de Masembria, delegado apostólico na Turquia. Também ele, assim como todos os sacerdotes e religiosos, por causa das perseguições, deve andar em trajes civis. É vigiado, não podendo movimentar-se à vontade. Há espiões por todo o lado. Todavia, os que se aproximavam dele achavam que tinha um ar de grande serenidade, que não era só aquela alegria que tinha sempre sabido transmitir aos outros, principalmente nos momentos difíceis. Foi exactamente naquela época que ele iniciou o contacto com o mundo desconhecido.
Ângelo Roncalli fora iniciado na tradição rosacruciana, sob o nome de Johannes – João, o nome que escolheria ao ser eleito pontífice da Igreja Católica.”(As Profecias do Papa João XXIII, Edições António Ramos, Lisboa, 1977).
Quem conhece um pouco da história da Igreja Católica concordará que João XXIII, apesar do seu curto reinado, deixou uma marca indelével na História, não só da Igreja, como da Humanidade. A sua vida foi árdua, cheia de espinhos, dificuldades que soube ultrapassar com rara mestria. Filho de uma família numerosa de camponeses, conseguiu ordenar-se padre depois de ingressar no seminário de Bérgamo e depois, com uma bolsa de estudos, no seminário romano de Apollinar, onde se formou em Teologia e conseguiu grandes conhecimentos da língua hebraica. Durante todo o tempo de estudos e depois, durante o resto da sua vida, escreveu um diário a que mais tarde foi dado o nome de “Diário da Alma”, onde anotou as suas angústias, as suas ansiedades, afinal, tudo quanto lhe ia na alma.
Foi sempre escolhido para missões extremamente difíceis e imprevistas – a própria eleição para Papa foi uma grande surpresa para ele, que não a esperava de modo nenhum. Conheceu o mundo da Cúria romana pela mão do Papa Bento XV, que o introduziu na Sagrada Congregação de Propaganda da Fé. Em 1925 foi elevado a bispo em Roma. Como arcebispo de Aeropoli foi enviado para a Bulgária, onde procurou um contacto difícil com as comunidades cristãs e conseguiu encontrar-se com Sepanosse Hovegnimian, metropolita dos Arménios (Igreja Ortodoxa), superando obstáculos seculares e abrindo caminho para um projecto que não mais o abandonaria, o ecumenismo. Ainda na Bulgária é nomeado por Roma como primeiro delegado apostólico naquele país. Em 1935 é nomeado bispo de Masembria e colocado como núncio apostólico na Grécia e na Turquia, países onde há muito tempo a Igreja encontrava enormes dificuldades. Em 1941, de visita a Sófia, ciente dos perigos que corria em relação ao conservadorismo da Igreja, avistou-se com o metropolita ortodoxo, Stefan, a quem abraçou como irmão.
Em 1944 é colocado em França como núncio apostólico. De Gaulle exigira do Vaticano o envio de alguém para resolver um problema: queria afastar os bispos e prelados que tinham colaborado com os nazis e nomear outros de sua escolha. Com extrema habilidade e diplomacia, conseguiu levar por diante o seu plano de reestruturação da Igreja em França, não fazendo a vontade do governo mas também não criando clivagens. Pelo seu trabalho conseguiu a maior admiração por parte de De Gaulle. Tornou-se amigo de ministros maçónicos e anticlericais, abrindo a sua casa e sentando à sua mesa as pessoas mais diversas e mesmo inimigos políticos. Depois da morte de Pio XII, De Gaulle recomendou ao seu embaixador junto da Santa Sé que agisse o melhor possível a favor de Roncalli. Em 15 de Janeiro de 1953 recebeu, de acordo com a tradição, no palácio do Eliseu em Paris, o barrete cardinalício, das mãos do então presidente da República Francesa e seu amigo pessoal, Vincent Auriol. Na mesma altura Pio XII nomeia-o patriarca de Veneza.
Anotou no seu “Jornal da Alma” que esperava terminar a sua vida como patriarca de Veneza mas, seis anos depois, Pio XXII morre e Roncalli parte para Roma para participar no Conclave que acabaria por elegê-lo Papa. O preferido do Conclave era o arcebispo de Milão, Giovanni Montini mas Pio XII não o elevara a cardeal. Isto foi feito por João XXIII logo após a sua eleição.
Uma das suas primeiras preocupações como Papa foi a preparação de um Concílio ecuménico, reunindo ali todas as tendências que havia dentro da Igreja e tentando superar uma crise que já era visível. Encontrara a ideia nas anotações do seu predecessor, Pio XII, e, quando as forças mais conservadoras do Vaticano previam uma década para a preparação do Concílio, João XXIII preparou-o em alguns meses. Foi assim que no dia 25 de Janeiro de 1959, João XXIII, usando as vestes de bispo de Roma, anunciou na Igreja de São Paulo a iminente celebração de um sínodo para a diocese de Roma e de um concílio para a Igreja Católica. Esta notícia teve o efeito de uma bomba nos meios eclesiásticos, principalmente nos mais conservadores e imobilistas, que não queriam nenhuma alteração ao “status quo”. Ao anunciar o concílio, João XXIII correu um risco tremendo, pois não é nenhuma novidade que quando um Papa entra por caminhos menos conservadores e inovadores, o Vaticano funciona como uma monarquia: se o rei não serve, mata-se o rei. Foi assim com João Paulo I, acerca do qual ainda hoje se especula se foi assassinado ou vítima de um enfarto do miocárdio.
O Concílio Vaticano II seria o Concílio de uma certa viragem da Igreja Católica. Infelizmente João XXIII não pôde assistir às conclusões do Concílio, às mudanças que ele propunha. Quem o fez foi Montini, o cardeal que o substituiu na cadeira pontifícia sob o nome de Paulo VI, o primeiro Papa a viajar pelo mundo e o primeiro a viajar de avião. Apesar da reacção do clero conservador, uma nova era se abria para a Igreja Católica, que poderia ser bem melhor se muitas das decisões tomadas no Concílio não tivessem sido encerradas definitivamente numa gaveta.
(Continua)