AS FIGURAS DE OUROS
Os Ouros ou Discos estão relacionados com o elemento Terra. Se o Ar é filho do Fogo e da Água (Príncipes), assim também é a Terra (Princesas). Juntamente com a Água, a Terra é um elemento feminino, receptivo e passivo. A Água representa o indiferenciado, o oceano anterior à organização do Cosmos; a Terra é o lugar onde se desenvolveram as manifestações e as diferenças.
As quatro figuras de Ouros representam quatro maneiras distintas de abordar a matéria, seja o corpo físico ou os assuntos materiais.
O Cavaleiro de Ouros:
Representa o aspecto do Fogo na Terra. Na natureza são as montanhas, vales e desfiladeiros, os terramotos, o calor do núcleo do planeta e a lava vulcânica.
Este Cavaleiro tem um cavalo completamente diferente dos outros Cavaleiros. Este cavalo não está a pular, a voar, a correr; este cavalo está a pastar, as suas patas vão engrossando à medida que se aproximam do chão, até parecerem troncos firmemente enraizados.
O Cavaleiro está vestido com uma armadura negra e uma capa que se funde com a vegetação. O seu elmo está adornado com a cabeça de um cervo, símbolo de fecundidade e abundância.
Na mão direita segura um malho para debulhar o trigo que cresce a seus pés, indicando que a sua tarefa é a produção de alimento.
Com o grande escudo parece estar a proteger o campo fértil de possíveis incursões de depredadores.
Este Cavaleiro é um trabalhador da terra que, em retribuição, cobre as suas necessidades. É um ser simples, pouco dado a pensar, pois não tem Ar, e também pouco conectado com o seu lado sentimental e as suas emoções, pois também não tem Água. A sua relação com a terra é energética, coloca a sua energia, Fogo, no mais concreto e sólido.
À primeira vista parece tratar-se de um ser rude, primitivo, mas seu contacto com a terra alimenta o seu lado feminino. Pode ser tanto um camponês como um metalúrgico.
No pior dos casos, trata-se de uma pessoa exageradamente servil, incapaz de tomar decisões, que só sabe cumprir ordens, executando normalmente trabalhos pesados.
Pode também ser uma pessoa ligada harmoniosamente à natureza.
A Rainha de Ouros:
Sendo o aspecto da Agua na Terra, representa a vegetação, a biomassa.
A Rainha está sentada num trono de vegetação exuberante. A sua atenção está dirigida para o deserto que aparece ao fundo, pensando talvez em fertilizá-lo.
Na mão esquerda segura uma esfera dourada, símbolo da perfeição e totalidade. Na mão direita segura um bastão terminado num cristal em cujo interior vemos um hexagrama inscrito num hexágono, significando que o poder da Rainha está firmemente estruturado, estabilizado e equilibrado.
Esta Rainha está coroada com os chifres espiralados de Markhor, a grande cabra dos Himalaias, indicando o seu poder gerador. Outra cabra aos pés da Rainha indica que a Grande Obra é fertilizar.
A cabra macho representa a potência viril, a força vital, a libido, as forças criativas ao nível material.
A Rainha é a dona da terra e usa os recursos materiais segundo a voz do seu coração. Está por trás do processo de criação e crescimento da vida no planeta. Não é nem inteligente nem fogosa, mas, como incorpora os elementos Terra e Água, está em contacto com as suas emoções, sensações corporais e a realidade da vida que a rodeia.
A Rainha de Ouros é prática, sensual, carinhosa, generosa, trabalhadora, serena, sensível, protectora e amante do lar e das crianças.
O Príncipe de Ouros:
Este Príncipe é o aspecto aéreo da Terra. Na natureza representa as flores, os frutos, as sementes, os aromas e os sons.
O seu carro é puxado por um touro, animal associado aos ritos de fecundidade e cujos chifres lembram o formato da Lua. O touro é símbolo de força e bravura, por isso também considerado um animal solar.
O elmo do Príncipe é encimado por um touro alado, indicando que nele estão as qualidades do touro no plano mais elevado e transcendental.
A mão esquerda está apoiada sobre uma esfera dourada, onde se vêm marcadas a linha do Equador e alguns Meridianos. No centro da esfera está um paralelepípedo que, no dizer de Crowley, significa a função intelectual aplicada ao trabalho de produção.
Na mão direita segura um bastão terminado numa cruz, indicando que a sua obra se faz ao nível material.
O seu carro encontra-se repleto de produtos do campo. O fundo da carta mostra também sementes, flores e espigas, tudo relacionado com a agricultura e a colheita.
A mente deste Príncipe está voltada exclusivamente para assuntos materiais. Da sua análise da natureza e dos mercados extrai conclusões que aplica, procurando sempre obter benefícios materiais. Pode ser um economista ou um agrónomo. Como não tem Água, não se importa com os sentimentos alheios, nem se o seu trabalho poderá prejudicar outros. É também frio e calculista, porque não tem Fogo na sua composição.
A Princesa de Ouros:
Sendo Terra a dobrar, esta Princesa representa o aspecto mais sólido do elemento Terra.
O aspecto mais sólido de Terra é constituído pelos cristais, os quais, além de serem os elementos mais densos, têm também um lado subtil, abstracto, conectado com as energias cósmicas, transcendendo a própria matéria. Desta forma, esta carta abrange os dois mundos: o material e o espiritual.
A Princesa de Ouros tem uma atitude introvertida e de intensa reflexão. É introvertida sem dúvida, mas a reflexão não existe, pois não tem Ar. Ela vive ligada às suas sensações físicas internas. Está em profundo contacto com o seu corpo, sem mente, sem emoções, sem desejos. Esta situação acaba por fazê-la cair numa atitude meditativa, através da qual a espiritualidade poderá desabrochar.
A Princesa só se observa e observa o mundo, sem julgamentos, preconceitos, análises, conclusões ou princípios, sem exaltação, aceitando-se e aceitando. Desta forma vai equilibrando os opostos da sua natureza. Na mão esquerda segura um disco onde YIN e YANG geram o Universo, da mesma forma que seu ventre gera uma nova vida.
Com a mão direita segura uma lança apontada para baixo, para a terra, tendo na ponta um cristal, a pedra de Kether, mostrando a luz mais sublime e pura nas profundezas do elemento mais denso.
Os chifres da abundância e fecundidade adornam a cabeça da Princesa.
Ela harmoniza-se com o Universo deixando que a vida flua através de si. A seu lado um altar adornado com as espigas de trigo de Deméter, indica a sua participação na última materialização do processo de criação. Sem fazer nada ela realiza.
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