Todos estamos habituados a ver aqueles truques que alguns dizem que são de magia, mas na verdade trata-se de ilusão, por isso as pessoas que os fazem se chamam ilusionistas, e não magos.
Os truques de ilusionismo baseiam-se numa técnica muito simples, embora de muito difícil execução. Com palavras e gestos dirige-se e controla-se a atenção do espectador, de modo a ele não ver o truque que está a ser feito. As luzes e a decoração do cenário ajudam à ilusão. O jogo da vermelhinha é o protótipo: com três cartas ou três copos com uma bola dentro muda-se a posição com gestos precisos e rápidos, ao mesmo tempo que o executante vai dizendo uma ladainha, conversa para desviar a atenção. A partir de determinado momento, o espectador julga que sabe onde está a carta ou o copo com a bola e depois verifica que se enganou.
Ao contrário do que se pensa normalmente, não somos enganados pelos nossos olhos, somos enganados pelo nosso cérebro. Porque vemos com o cérebro e não com os olhos e, como o nosso pensamento é muito subjectivo, acabamos por ver aquilo que queremos ver e não o que deveríamos ver. Isto parece complicado, mas não é assim tão difícil de entender. A nossa atenção é atraída por aquilo que nos é mais agradável ou mais fácil. Quando um ilusionista no palco faz aquelas deambulações e aqueles gestos teatrais, atrai dessa forma a atenção do nosso cérebro, num processo lúdico de divertimento. Certo de ter desviado a nossa atenção, o ilusionista vai criando o seu truque. No final ficamos convencidos que não perdemos um detalhe do que ele fez e ficamos admirados com o resultado.
Naturalmente que há uma porção de detalhes que o espectador não vê. Alçapões, paredes falsas, fundos falsos, luzes coloridas etc., tudo fazendo parte da decoração propositada para iludir. Enquanto as coisas se limitaram aos palcos dos teatros ou aos circos, o trabalho era todo feito à vista e em tempo real. A televisão veio acrescentar novas condições a essa arte. Pela televisão nunca sabemos que truques cinematográficos terão sido aplicados.
No entanto, apesar de sabermos que tudo não passa de truques mais ou menos bem feitos, há casos que nos deixam a pensar. Lembro-me de ter visto um oriental, julgo que japonês, com uma moeda por debaixo de uma garrafa transparente. Cobriu a garrafa com um pano e, quando a descobriu, a moeda estava dentro da garrafa. Acontece porém, que a moeda nem sequer passava pelo gargalo. Como é que a moeda foi parar dentro da garrafa? Truque de cinema, dado que o vi pela televisão? Mas havia assistência à volta do ilusionista. Teria sido aquela assistência hipnotizada, enquanto a garrafa era simplesmente trocada por outra com uma moeda dentro? Tudo é possível.
Mas para além dos ilusionistas, que são não verdade artistas de palco, há outros fenómenos que fogem completamente da racionalidade e que não se enquadram no que conhecemos das leis da natureza nem se encaixam no saber científico dos nossos dias. Falo dos magos, gurus, ou o que se lhes quiserem chamar, que, aparentemente, têm a capacidade de produzir autênticos milagres.
Toda a gente já ouviu falar de “Yogis” hindus que conseguem caminhar sobre um braseiro sem se queimarem, conseguem beber um copo de ácido sulfúrico como se fosse água fresca e conseguem materializar e desmaterializar objectos. O que conhecemos sobre a materialização vem-nos da Bíblia, do Novo Testamento, onde se descrevem alguns milagres de Jesus, como a multiplicação dos pães e dos peixes, ou a da transformação da água em vinho. Isto não nos surpreende à partida, dado que Jesus é considerado filho de Deus e, portanto, com capacidades muito superiores às dos simples mortais que somos todos nós. Mas parece que essa capacidade não era exclusiva de Jesus. Segundo rezam algumas crónicas, havia uns magos na Caldeia que tinham também esse poder. Por outro lado, parece que nem todos os milagres atribuídos a Jesus terão sido realizados por ele, para por uma personagem conhecida do mundo esotérico e místico chamado Apolónio de Tiana.
A primeira reacção que surge em relação a estas coisas é a de não acreditarmos. Que provavelmente não é bem assim, que as crónicas dos magos da Caldeia talvez não sejam verdadeiras, que Apolónio de Tiana não tenha realizado nada do que se lhe atribui, enfim, fazemos uma reserva mental a tudo quanto contribua para desestabilizar a nossa crença de que apenas Jesus, pela sua condição divina, teria sido o único ser a realizar esses prodígios.
Pois é, mas parece que essas coisas continuam a ser feitas nos nossos dias. As habilidades dos “Yogis” hindus já foram testemunhadas por muita gente e, quanto a materialização de objectos, toda a gente já ouviu falar ou conhece o Sai Baba. No seu “ashram” no sul da Índia, onde já estive, ele materializa objectos que depois oferece às pessoas que os solicitaram, como relógios em ouro, pulseiras, etc. Parece que também tem a faculdade de vomitar da sua boca objectos metálicos em formato de ovos, cujo nome não me lembro de momento. Quando assisti a uma cerimónia com o Sai Baba no seu “ashram” não vi nada disto, mas acredito nas descrições que já foram feitas a respeito e até já assisti a um filme onde se vê ele vomitar os tais ovos.
Ainda há bem pouco tempo vivia na ilha de Chipre um indivíduo a que chamavam o Mago de Strovolos. Não fazia aquelas habilidades, não materializava objectos, mas tratava as doenças das pessoas de uma forma muito especial. Usava as mãos para retirar tumores ou para corrigir a estrutura óssea, sem qualquer derramamento de sangue e não deixando a mínima cicatriz. Tinha também a faculdade de tratar as pessoas à distância por meio de projecção astral. Verdade ou não, há um livro que descreve tudo isto e explica que os tratamentos não eram feitos com o seu corpo físico, mas sim com o seu corpo etérico. Ou seja, as mãos que entravam nos corpos para retirar os tumores e acertarem os ossos, não eram as suas mãos físicas, mas as etéricas, o que permitia que pudesse tratar pessoas por projecção astral, uma vez que o seu corpo físico não estava presente.
Há uns anos atrás apareceram nas Filipinas uns curandeiros que tratavam as pessoas da mesma forma. Isto originou um grande afluxo de gente oriunda de todas as partes do mundo, em busca de alívio para os seus males. No entanto, a acção desses curandeiros era uma mascarada, tendo sido demonstrado que não passava de truques de ilusionismo. As pessoas não eram realmente tratadas, mas de qualquer das formas muitas sentiam alívio, o que pode ser explicado pelo chamado efeito placebo, que não cabe aqui falar a respeito, mas que poderá ser objecto de uma futura crónica.
Sou por natureza céptico em relação a estes fenómenos mas, tenho que confessar, que há coisas para as quais não encontro explicação. No início dos anos sessenta estava eu a trabalhar em Luanda quando recebo a visita de um desses magos ou ilusionistas. Não me lembro do nome dele mas, na altura estava a funcionar em Luanda uma feira popular, em tudo semelhante à de Lisboa, com restaurantes, carrosséis e várias barracas de adivinhos, tarólogos, etc. Esse indivíduo também tinha uma barraca lá. Fiz um comentário acerca do meu descrédito dessas coisas e ele disse-me:
- Você não acredita? Então vou lhe dizer uma coisa. Tem no seu bolso três moedas e vou-lhe dizer que modas são e quais os anos de cunhagem.
Para meu espanto disse-me exactamente o valor das moedas e o ano de cunhagem. Fiquei simplesmente pasmado. As moedas estavam o meu bolso havia tempo e nem eu sabia qual o valor delas. Ele disse-me mais ainda, que eu não acreditava que ele fosse capaz de colocar uma pessoa em estado de levitação, como fazia no seu espectáculo todas as noites na feira. Disse-me para aparecer na feira que ele faria uma demonstração especial só para mim.
Nessa noite fui à feira. Entrei na barraca dele, que estava vazia de espectadores no momento e ele disse-me que ia fazer a demonstração que me tinha prometido. Chamou a sua assistente, uma rapariga que devia ser sua filha e, perante os meus olhos, colocou-a no ar, em posição horizontal, sem nada, aparentemente, a sustentá-la. Depois disse-me:
- Já que você não acredita, veja por si mesmo, procure com as suas mãos o que quer que seja que esteja a sustentá-la no ar.
Fui verificar. Passei as minhas mãos por todos os lados, por cima, por baixo, nada, não havia nada a sustentá-la. Saí de lá convencido que tinha de facto assistido a um fenómeno de pura magia, algo que transcendia a minha compreensão.
Nunca mais ouvi falar deste sujeito. Terminada a feira popular de Luanda, parece que se eclipsou. Nunca vi um anúncio seu em jornais nem nunca soube de ninguém que o conhecesse. Lembro-me que era um homem forte, relativamente baixo e de meia-idade.
Anos mais tarde, em Lisboa, alguém me recomendou um livro em francês. Tomei nota do livro e, durante uns meses nunca mais pensei no assunto. Chegado o mês de Junho, com a abertura da Feira do Livro, achei que talvez fosse uma boa altura de o adquirir. Passei pela Feira e fui à banca da editora perguntar pelo livro. A pessoa que me atendeu, um indivíduo em tudo semelhante nas feições e compleição física ao mago de Luanda, disse-me que na Feria não se podiam vender livros em línguas estrangeiras. Mas ao ver o meu desapontamento, perguntou-me qual era o livro que eu queria. Aí surgiu um problema, não me lembrava do título do livro. “Mas temos dezenas de livros em francês deste autor ainda não traduzidos para o português. Se me disser o título, trago-lho amanhã, mas não diga nada a ninguém que lho vendi aqui”. – Disse-me ele. Respondi-lhe que não me lembrava do nome do livro mas, que no dia seguinte, como trabalhava ali perto, lho traria.
No dia seguinte, ao fim da tarde, passei de novo pela banca, já com a informação sobre o título do livro. Logo que me viu chegar, a pessoa que me tinha atendido no dia anterior disse-me: “Já tenho aqui o seu livro”. E mostrou-mo. Fiquei atónito. “Como é que sabia que era esse livro?” – Perguntei. Como resposta, ele apenas sorriu. Limitou-se depois a embrulhá-lo e a desejar-me uma boa leitura. O livro era “La voie du silence” de Omraam Mikhael Aivanhov.
Magia ou Ilusão?
1 comentário:
não entendi nda!!!
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