Toda a gente conhece a história do Cavalo de Tróia. É tão conhecida a história e o seu significado que até alguns vírus informáticos que infectam de vez em quando os computadores tomaram esse nome. É também o nome de uma série de livros acerca de uma presumível viagem no tempo, mais precisamente ao tempo de Jesus. Na verdade trata-se de uma armadilha, de uma introdução de algo estranho dentro de um ambiente para daí tirar vantagem. Foi o que aconteceu em Tróia, aparentemente, pois não se sabe se o episódio foi real, uma vez que não consta da Ilíada, a obra-prima de Homero. Verdade ou não, o que é certo é que tem servido de inspiração a muita gente.
Durante muito tempo a Ilíada foi considerada um relato fantasioso acerca de uma presumível guerra entre aqueus (gregos) e troianos motivada pelo rapto da bela Helena. Não se sabe ao certo se terá sido mesmo rapto, ou se Helena, filha de Zeus, o chefe dos deuses, e de Leda, rainha de Esparta, portanto uma semideusa, que acabou por casar com Menelau, rei de Esparta, não terá fugido por vontade própria com o jovem príncipe Páris que a levou para Tróia. No final de toda a trama, terá acabado os seus dias na companhia de Páris, protegidos pelos deuses Apolo e Afrodite.
Verdadeira ou falsa, esta história de Helena pertence ao reino do romantismo, pois Homero não fala dela e uma outra lenda grega refere que a guerra foi provocada por Zeus para diminuir o número de homens sobre a Terra. Para Homero, a guerra de Tróia foi instigada pelos deuses para satisfazer os seus caprichos. Agindo directa ou indirectamente, por vezes de forma visível, outras invisível, os deuses atiçaram os pobres dos humanos nessa luta dramática pela posse de Tróia. Por detrás de tudo estava Zeus, que observava com satisfação o desenrolar das batalhas. Ele autorizara os outros deuses a tomarem o partido que quisessem mas, quando verificou que os deuses tinham começado a ferir-se mutuamente, ordenou-lhes que parassem e se mantivessem fora da luta dos mortais.
Homero descreve-nos que enquanto os guerreiros e os deuses dormiam profundamente na planície após um dia de intensa luta, Zeus mantinha-se acordado pensando em como poderia honrar Aquiles (Ulisses) e, ao mesmo tempo, provocar grandes destruições nos navios dos aqueus. Quando os aqueus e os troianos acertaram uma trégua para que os seus líderes pudessem resolver a contenda numa luta corpo a corpo, os deuses ficaram muito descontentes com a ideia, porque ficavam privados do espectáculo diário de morticínios de parte a parte. Instruíram de imediato a deusa Minerva para se deslocar ao campo de batalha e fazer com que os troianos fossem os primeiros a romper a trégua, atacando os aqueus. Durante a noite, para que os combates pudessem prosseguir, a deusa iluminou o campo de batalha.
A Ilíada descreve em pormenor a guerra de Tróia e o envolvimento dos deuses que tomaram partido por um ou outro lado. Durante muito tempo esta descrição foi considerada uma fantasia de Homero, um poeta sobre cuja existência ainda hoje existem dúvidas. De facto não se sabe se existiu um personagem chamado Homero e pensa-se que a Ilíada, assim como a Odisseia, sejam compilações de vários autores. Tradicionalmente Homero é representado como um velho cego, conforme mostra um busto grego bem conhecido. Supõe-se que terá vivido por volta do século VII antes da nossa era, altura em que começaram a aparecer os primeiros escritos gregos, mas são apenas conjecturas, ninguém tem a certeza de nada.
Como a Ilíada foi considerada uma fantasia de um poeta imaginário, então Tróia nunca existiu de facto, pensava-se. Aliás, toda aquela descrição do envolvimento dos deuses não passava de uma criação do imaginário grego. Para as religiões monoteístas que se vieram a impor mais tarde, as descrições dos deuses faziam parte das crenças pagãs e portanto, não eram para ser levadas a sério. Assim, a guerra de Tróia e a própria Tróia foi considerada apenas parte de um fascinante mas improvável conjunto de lendas gregas que os eruditos, com um sorriso de tolerância, denominaram mitologia. No entanto, grandes surpresas estavam para acontecer.
Em 1822 um certo Charles McLaren sugeriu que determinado monte da Turquia podia ser a localização da antiga cidade de Tróia. Ninguém acreditou nele. Somente em 1870, um rico comerciante alemão que estudara a Ilíada e acreditava que se tratava de uma história verídica, resolveu começar a escavar o local, aplicando no empreendimento toda a sua fortuna.
Este comerciante alemão, Heinrich Schliemann, era uma figura enigmática. Desde os 14 anos de idade que se sentira fascinado pelas obras de Homero e acreditava que se tratava de relatos verdadeiros e não imaginários. Arqueólogo amador, foi autodidacta em tudo em que se envolveu na vida, aprendia línguas com uma rapidez assombrosa, chegando a dominar 9 línguas, além do alemão. Tendo começado como aprendiz numa loja, emigrou para a Venezuela, de onde voltou mais tarde para a Europa. Vai para a Rússia e instala-se em São Petersburgo, onde acaba por abrir a sua própria loja, nesta altura já possuidor de uma fortuna considerável. Fascinado pelas obras de Homero, resolveu arriscar toda a sua fortuna na procura da antiga cidade de Tróia.
Para espanto dos eruditos e dos cépticos acerca da validade da história contada na Ilíada, à medida em que escavava foi descobrindo cidade sobre cidade, até chegar à sétima camada, onde encontrou a Tróia cantada por Homero.
O que fazer agora com a história de Homero? A cidade existia, portanto, essa parte era verdadeira. Teria havido mesmo uma guerra para diversão dos deuses, como dizia ele na Ilíada? O que dizer de frases como: “Enquanto os deuses se mantiveram afastados dos guerreiros mortais, os aqueus triunfaram, pois Aquiles (Ulisses), o semideus, agora estava com eles. Porém, devido ao crescente rancor entre os deuses e da ajuda que os gregos recebiam de Aquiles, Zeus mudou de ideia. Quando a mim, disse ele, ficarei aqui no Olimpo, sentado, a observar. Vós podereis tomar o lado que quiserdes, o dos gregos ou dos troianos.”
Esta guerra, se aconteceu, terá ocorrido entre 1300 e 1200 anos antes da nossa era. É interessante notar que até 1200 a. C., há inúmeras referências de deuses em todo o Oriente Médio, incluindo o Egipto. Há inúmeras histórias contando a participação de alguns dos deuses na condução das guerras, dirigindo eles próprios as operações ou instruindo humanos a fazê-lo. Os deuses tomam nomes diferentes em cada região, mas suspeito que sejam sempre os mesmos. É difícil, no entanto, identificar os deuses egípcios com os gregos ou os da Mesopotâmia. A Minerva ou Afrodite gregas podem ser a Ishtar mesopotâmica, ou a Ísis egípcia. Zeus, que odiava os homens, pode ser o Enlil da Mesopotâmia ou o Iahweh bíblico, pois qualquer deles era cruel e odiava os homens. O Ea ou Enki da Mesopotâmia, pode ser o RA egípcio, ou aquele que ajudou Noé a salvar-se da raiva desencadeada por Enlil, tentando destruir os homens através de um dilúvio.
Poderei não chegar a conclusões precisas mas tentarei, em próximos capítulos, aproximar-me bastante de uma verdade que os seres humanos procuram ignorar por razões de ordem religiosa ou científicas. Que os deuses habitaram a Terra, não há dúvidas, a própria Bíblia o confirma.
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