DECLARAÇÃO ENDEREÇADA A CIDADÃOS NÃO FANÁTICOS
de: Brasilino Godinho
O signatário, Brasilino Godinho, viveu sob o regime de Salazar durante quatro décadas (quarenta anos, não são quatro dias). E nesse longo período não se limitou a ver passar os comboios. Ou, distraído, a olhar para o ar, alheio ao que se passava em redor.
Na qualidade de cidadão vulgar e sem vinculações de política partidária, sentiu no corpo e na alma tudo aquilo que caracterizou a natureza, os métodos e os instrumentos da orientação política do ditador, António Oliveira Salazar.
Com a autoridade que lhe advém da sua experiência de vida e do conhecimento directo, quotidiano e presencial, da ditadura salazarista, está em singulares condições de confirmar que o artigo "ALHOS E BUGALHOS", de Manuel O. Pina é:
A APRECIAÇÃO MAIS CORRECTA, MAIS LÚCIDA, MAIS SÉRIA E MAIS CONFORME À REALIDADE DO QUE FOI O REGIME DE SALAZAR, QUE APARECEU ATÉ HOJE NO SÍTIO "PORTUGALCLUB. Quem disser o contrário mente! Entendo assistir-me o dever de dar testemunho da Verdade e a obrigação ética de aqui a realçar.
Brasilino Godinho
EQUILIBRIO
Gabriel Cipriano / Rio de Janeiro
Gostaríamos ter dito o que Brasilino Godinho falou sobre o ensaio "ALHOS E BOGALHOS" de O. Pina. Sentimos, e pensamos exatamente isso.
Por entre tantos extremismos, tanta irritação, ódios e vulgaridades, alguém usou o bom senso para uma análise ampla, correta e definitiva, sobre Salazarismo e suas consequências...
Parabens ao Brasilino por sua sagaz observação, e parabens ao Pina pelo equilibrio de sua análise. São páginas destas que redimem o cascavélico.
Em nosso linguajar, "palermice," NUNCA MAIS (*)
(*) Edgar Alan Poe.
Alhos e Bugalhos
Por: Manuel O. Pina
Considerar que a recente vitória do nome de Salazar num recente concurso televisivo tenha sido uma vitória política, que algo aconteceu que vai influir politicamente no país daqui para o futuro, é confundir alhos com bugalhos. Embora alguns aqui se tenham regozijado com o desenrolar e o desfecho de tal concurso, como se de uma grande vitória eleitoral se tratasse, o que é facto é que o evento envolveu uma minoria ridícula do povo português. Essa minoria pode continuar a gritar e a votar no Salazar que, certamente, não irá mudar absolutamente nada.
Considerar que os actuais serviços de informação ou, serviços secretos (como lhes quiserem chamar) sejam uma reedição da antiga PIDE/DGS, é confundir alhos com bugalhos. Todos os países têm os seus próprios serviços de informação, uns mais secretos que outros, cuja finalidade única é a defesa da integridade do Estado. Em Estados ditatoriais, esta função ganha outros contornos, a defesa da integridade do Estado passa também a incluir a perseguição, prisão e tortura, muitas vezes a morte, de cidadãos que simplesmente não estão de acordo com a política vigente ou que se manifestam verbalmente ou por escrito contra essa política. Era assim com a PIDE/DGS, e não adianta tentarem dizer que é mentira pois, historicamente, já está mais do que comprovado. A PIDE prendeu e torturou milhares de pessoas pelo simples motivo de não estarem de acordo com o regime do Estado Novo. Pretender ignorar isto é, no mínimo, estúpido, e denota a prepotência e a intolerância das pessoas que o fazem.
Nos regimes democráticos os serviços de informação têm o seu campo de actuação perfeitamente definido e não interferem na vida regular dos cidadãos, a não ser que haja provas de que alguns desses cidadãos tenham praticado actos, venham a praticar, ou se organizem com esse fim, de tentar destruir o Estado de alguma maneira virulenta ou violenta.
Comparando o que acontecia no tempo de Salazar e o que acontece hoje, vemos claramente que há diferenças fundamentais:
No tempo de Salazar a PIDE entrava na casa de qualquer um, sem qualquer mandato judicial, e revirava tudo à procura de documentos comprometedores. Esses documentos podiam ser um simples livro, colocado no Index do Estado Novo. Hoje esta situação não só é impossível como é inimaginável.
No tempo de Salazar a PIDE prendia pessoas, sem qualquer mandato judicial, levada por denúncia ou por suspeita de pertencerem a algum partido de esquerda ou organização afim. Hoje as pessoas podem pertencer a qualquer partido, mesmo a um partido quer tenha Salazar como patrono, podem possuir vasta documentação, que não vão ser presas por isso.
No tempo de Salazar uma pessoa era presa se escrevesse e tentasse publicar qualquer texto que contrariasse a política vigente. Hoje qualquer pessoa pode escrever o que quiser, que nada acontece. Como prova está aqui o Portugalclub onde têm aparecido coisas escritas que, no tempo de Salazar dava direito a uma estadia prolongada nos calabouços da António Maria Cardoso.
No tempo de Salazar os adversários políticos eram perseguidos, presos e, em alguns casos, mortos. Foi assim com Humberto Delgado. Hoje os adversários políticos perdem ou ganham as próximas eleições, e têm ampla liberdade de expressarem as suas opiniões.
Dizer-se que hoje existem presos políticos em Portugal é despudor, é falta de vergonha, ou pior, é provocação gratuita. Ou então é um profundo desconhecimento da verdadeira realidade dos dias de hoje. Misturar críticas à inépcia deste ou de qualquer outro governo eleito democraticamente, com insinuações de polícia política, é confundir alhos com bugalhos, é não saber o que está a dizer.
Portanto, quem hoje comemora e votou em Salazar nesse famigerado concurso, deve estar de acordo com os processos da sua polícia política, deve estar de acordo em que as pessoas podem ser presas sem haver qualquer culpa formada a respeito delas, que as suas casas podem ser reviradas de alto a baixo, num profundo desprezo e falta de respeito pelos cidadãos. Deve estar de acordo que os adversários políticos devem ser sumariamente eliminados ou presos em campos de retiro como Peniche ou o Tarrafal. Devem estar de acordo em que as pessoas devem ser caladas por qualquer meio que seja necessário, que devem ser amordaçadas nas suas opiniões e, se tentarem manifestá-las, prisão com elas. Quem assim votou e comemora, deve rever-se nesse paraíso idílico que foi o Estado Novo.
Quem hoje comemora a "estrondosa" vitória de Salazar talvez não se lembre que a desgraça da descolonização, a forma como foi feita, é culpa, em última análise, do próprio Salazar. Se ele tivesse dialogado com os movimentos independentistas, se tivesse procurado alguma forma de acordo para a autodeterminação e independência dos territórios ultramarinos, e não se remetesse à sua postura autista de não dialogar com ninguém, talvez as pessoas que foram tão prejudicadas, que tiveram que abandonar tudo o que tinham, não tivessem passado por essa situação e hoje ainda pudessem permanecer nos lugares que habitavam. A descolonização foi o que foi, não por culpa do Mário Soares, ou do Álvaro Cunhal, ou do Rosa Coutinho, ou do PREC, ou do Otelo, ou seja lá de quem for. Foi culpa exclusiva do próprio Salazar ao recusar-se a negociar e defender os interesses dos portugueses que habitavam nas colónias. Como bom e grande ditador que era, não se importou de sacrificar vidas e bens, só por causa da sua política teimosa e autista. Foi assim também com a Índia portuguesa, em que escreveu a Vassalo e Silva para que as forças portuguesas se deixassem sacrificar. É este o homem que provocou assim tanto contentamento? É este o homem e o regime que querem de novo para Portugal? Pobre Portugal e pobres portugueses...
Manuel O. Pina
sábado, 31 de março de 2007
sábado, 17 de março de 2007
Conhecimento - Realidade ou Ilusão? (2)
As pessoas que me lêem dizem que falo muito de Física Quântica, como se ela fosse a solução e a resposta para as questões que nos preocupam, há muito procuradas e finalmente encontradas. É verdade que sinto um certo fascínio por essa nova modalidade da Física, não tanto porque seja a resposta definitiva às perguntas que nos fazemos há séculos, mas porque trás uma nova compreensão e entendimento do que é a Criação. Ela própria prova que não há respostas definitivas para nada e que, aquilo que consideramos conhecimento pode não passar de um conjunto de falsas suposições. A Física Quântica traz-nos um novo enfoque sobre questões como a verdadeira natureza do universo, da matéria, dos mundos subtis e, pode até ajudar-nos a compreender melhor o que é a existência e a vida.
Quando cheguei à concepção do mar cósmico em que tudo está ligado por conexões invisíveis, explicando dessa forma fenómenos incompreensíveis para a nossa mente racional, a Física Quântica veio comprovar que estava no caminho certo. Então, se o caminho é este, há que o desbravar em todos os aspectos que for possível e estiverem ao nosso alcance, mesmo correndo o risco de uma certa repetição.
Durante séculos, desde os tempos da Grécia antiga, a filosofia procurou preencher as lacunas que havia na imensa teia que constituía o enredado do nosso conhecimento. Fê-lo com relativo sucesso porque, na verdade, nunca respondeu às questões essenciais, deixando-nos sempre uma sensação de vazio, de falta de alguma coisa que não sabíamos bem o que era. A Filosofia, como arte intelectual, manteve-se sempre na periferia, tentando explicar os fenómenos a partir do exterior. Nunca foi ao concreto, à verdadeira essência dos fenómenos. O Mito da Caverna de Platão é talvez a grande excepção, pois remete-nos para a natureza ilusória das nossas percepções.
As regras cartesianas, assim como as leis de Newton, trouxeram-nos a concepção de um universo predeterminado e mecânico, em que tudo podia ser previsto em função de leis matemáticas exactas. Não explicavam contudo os fenómenos que fugiam inteiramente a essas regras. Newton explicou como funcionava a gravidade, mas ninguém sabe o que é, verdadeiramente, a gravidade. Fenómenos como a levitação, por exemplo, ficaram assim sem qualquer explicação, permanecendo um autêntico mistério. Como é que se pode caminhar sobre um braseiro sem sofrer a menor queimadura, como acontece na Índia, com alguns Yogis, e na Venezuela, com uma seita meio católica meio xamânica? Como é que se pode beber um copo de ácido sulfúrico como se tratasse de um copo de água fresca? São coisas que escapam completamente ao conhecimento cartesiano.
A religião procurou ocupar todos esses espaços vazios, explicando esses estranhos fenómenos como sendo manifestações de origem divina ou satânica, conforme se encaixassem nos seus cânones e dogmas. Na verdade a religião reduziu tudo a uma questão de fé, explicando desta forma aquilo que não era capaz de explicar.
Ao mergulharmos no mundo subatómico começámos a vislumbrar algo nunca antes previsto, que a matéria não é nada daquilo que pensávamos ser. Se por um lado algumas coisas começaram a ter uma explicação mais consentânea com a verdade, por outro lado surgiram outras coisas que viraram do avesso todas as nossas anteriores concepções. Descobriu-se, por exemplo, que ainda que o mundo subatómico seja um imenso vazio, esse vazio é pura ilusão. Na verdade está repleto de energia tão poderosa que, se devidamente utilizada e manipulada, poderia produzir vários “big bangs” idênticos àquele que, supostamente, está na origem do nosso universo.
A Física Quântica é uma disciplina criada por gente louca que tenta compreender o que verdadeiramente se passa com a matéria. Só gente louca pode enveredar por caminhos pouco ortodoxos, estranhos e impensáveis para os padrões tradicionais de pesquisa. Mas essa gente louca abriu-nos horizontes tão vastos que, a ciência daqui para o futuro, já nada terá a ver com a ciência do passado.
Durante séculos acreditámos que a matéria era algo estável, firme e previsível. As leis de Newton vieram dar-nos a certeza de que era assim, demonstrando a razão porque determinadas coisas aconteciam ou existiam. Ficámos sossegados quando percebemos a simplicidade aparente das leis de gravitação universal. Tudo estava explicado. A Física, entendida através da Matemática, era uma ciência exacta, não havia como contestá-la.
O primeiro grande abanão a este primado da ciência foi dado por um físico, também ele meio louco, Einstein, através da sua Teoria da Relatividade e da sua concepção de curvaturas do espaço-tempo, para explicar a força da gravidade. As suas concepções acerca do universo foram absolutamente revolucionárias, tanto que os físicos actuais continuam a debruçar-se sobre as suas ideias. Mas mesmo Einstein se manteve fiel às leis cartesianas de previsibilidade da matéria.
A primeira noção da formidável quantidade de energia contida numa pequeníssima porção de matéria foi-nos dada pelas bombas atómicas, mais propriamente chamadas bombas nucleares, uma vez que é através da cisão do núcleo de um átomo que se processa a tremenda libertação de energia.
Como disse atrás, a matéria não é o que, durante muito tempo pensávamos que fosse. Os átomos e as partículas subatómicas ocupam um espaço insignificante, tornando esse mundo que constitui todas as formas de matéria conhecidas, um enorme vazio, mas um vazio pleno de energia. Fenómenos estranhos acontecem nesse meio: partículas desaparecem e ninguém sabe para onde vão; depois aparecem de novo e ninguém sabe de onde vêm.
Quando olhamos para uma peça de matéria, seja ela qual for, madeira, plástico, metal, pensamos que nada mais se passa senão uma associação de átomos reunidos em determinada proporção, constituindo a estrutura da peça que vemos. No entanto, na sua estrutura atómica, que é um enorme vazio, fenómenos misteriosos se passam, como aquele do aparecimento e desaparecimento das partículas. Mais complicado ainda, pela nossa simples observação influenciamos fenómenos no interior dessa peça.
Se não houvesse nenhuma ligação entre o que pensamos, idealizamos ou visualizamos, e a estrutura daquele objecto, a nossa observação seria absolutamente inócua, nada aconteceria. Mas não é isso o que sucede. Daí que temas como criação mental, ou de que nós somos co-criadores com o Criador, ou ainda a afirmação evangélica de que a fé pode mover montanhas, ganham um novo sentido.
Da mesma forma que podemos influenciar o que se passa no interior de um objecto, também o podemos fazer em relação a acontecimentos. Uma das experiências mais estranhas que me aconteceram pode ter a ver com essa capacidade que muito raramente usamos, porque a desconhecemos ou, porque não sabemos utilizá-la. Estava com o meu carro parado junto dos semáforos do cruzamento da avenida com a rua que passa defronte da Universidade Católica em Lisboa, quando aparece a luz verde para voltar à esquerda. Quando um carro a meu lado arrancou para voltar à esquerda, vi uma mota em grande velocidade, na outra faixa, em sentido contrário. Instantaneamente vi que não havia forma de evitar o acidente mas, ao mesmo tempo, visualizei a mota a passar pelo carro, sem lhe tocar. Não houve acidente nenhum, a mota passou a centímetros à frente do carro que, por qualquer razão desconhecida, abrandou a sua marcha. O condutor do carro apanhou o maior susto e parou logo a seguir, saindo do carro para se acalmar. Fui conversar com ele, que me disse só ter visto a mota quando ela passara à sua frente.
Alguém religioso logo diria: milagre! E daria graças a Deus por ter evitado uma pequena catástrofe. Mas julgo que no caso, como em muitos outros que acontecem, não houve qualquer intervenção divina. Mas também não houve acaso, nem sorte, coisas que não existem mas podem ser a conclusão de uma mente cartesiana, que não vê nada mais além da visão mecanicista dos acontecimentos. Terei influenciado aquele acontecimento, numa fracção de décimos de segundo e evitado, assim, uma tragédia? Não sei. A Física Quântica diz-me que é provável.
Olhamos para um objecto e pensamos que é sólido. Vemo-lo nas suas linhas bem definidas e podemos sentir pelo tacto a sua dureza, a sua textura e o seu feitio. Pura ilusão. Nada é sólido. Até os átomos que formam esse objecto não passam de pontinhos perdidos no enorme vazio, cujos núcleos cercados de nuvens de electrões e outras partículas podem desaparecer e reaparecer. Na verdade a matéria não possui substância. Segundo a Física Quântica, a única coisa sólida que existe nesse objecto desprovido de substância, é um pensamento, uma informação concentrada. As coisas não são feitas de substância, mas de ideias e conceitos os quais, por sua vez, são formados por ideias. Difícil, não?
Quando alguém afirmou que o universo não é mais do que o resultado de um pensamento de Deus, não estava longe da verdade. Quando um astrónomo chinês escreveu um livro a que deu o título “O Universo que nós criámos”, também não estava enganado. Estas duas concepções são aparentemente semelhantes e dizem a mesma coisa. Mas não são. Entre as duas, prefiro a do astrónomo chinês, pois, a ideia de Deus, da forma como é vulgarmente entendida e divulgada, é uma concepção puramente humana – nós criámos Deus à nossa imagem e semelhança. Quer isto dizer que fomos nós, seres humanos, que criámos tudo? Certamente que não, mas que por intermédio da nossa mente fazemos parte do processo criador.
Que a matéria não seja mais do que o resultado de pensamentos concentrados, é uma ideia extremamente revolucionária, que nos obriga a despirmo-nos das velhas vestes cartesianas e vestirmos as novas, onde somos participantes efectivos e responsáveis por tudo quanto é criado e pelos acontecimentos que, de alguma forma ainda desconhecida, influenciamos de maneira irreversível.
Quando se diz que não há caminhos predeterminados, que somos nós que construímos o nosso próprio caminho, acrescentaria que, não só construímos o nosso caminho, como ajudamos a construir o caminho de todos e de tudo quanto existe. Ninguém é inocente, somos todos responsáveis pelo mundo em que vivemos.
Quando cheguei à concepção do mar cósmico em que tudo está ligado por conexões invisíveis, explicando dessa forma fenómenos incompreensíveis para a nossa mente racional, a Física Quântica veio comprovar que estava no caminho certo. Então, se o caminho é este, há que o desbravar em todos os aspectos que for possível e estiverem ao nosso alcance, mesmo correndo o risco de uma certa repetição.
Durante séculos, desde os tempos da Grécia antiga, a filosofia procurou preencher as lacunas que havia na imensa teia que constituía o enredado do nosso conhecimento. Fê-lo com relativo sucesso porque, na verdade, nunca respondeu às questões essenciais, deixando-nos sempre uma sensação de vazio, de falta de alguma coisa que não sabíamos bem o que era. A Filosofia, como arte intelectual, manteve-se sempre na periferia, tentando explicar os fenómenos a partir do exterior. Nunca foi ao concreto, à verdadeira essência dos fenómenos. O Mito da Caverna de Platão é talvez a grande excepção, pois remete-nos para a natureza ilusória das nossas percepções.
As regras cartesianas, assim como as leis de Newton, trouxeram-nos a concepção de um universo predeterminado e mecânico, em que tudo podia ser previsto em função de leis matemáticas exactas. Não explicavam contudo os fenómenos que fugiam inteiramente a essas regras. Newton explicou como funcionava a gravidade, mas ninguém sabe o que é, verdadeiramente, a gravidade. Fenómenos como a levitação, por exemplo, ficaram assim sem qualquer explicação, permanecendo um autêntico mistério. Como é que se pode caminhar sobre um braseiro sem sofrer a menor queimadura, como acontece na Índia, com alguns Yogis, e na Venezuela, com uma seita meio católica meio xamânica? Como é que se pode beber um copo de ácido sulfúrico como se tratasse de um copo de água fresca? São coisas que escapam completamente ao conhecimento cartesiano.
A religião procurou ocupar todos esses espaços vazios, explicando esses estranhos fenómenos como sendo manifestações de origem divina ou satânica, conforme se encaixassem nos seus cânones e dogmas. Na verdade a religião reduziu tudo a uma questão de fé, explicando desta forma aquilo que não era capaz de explicar.
Ao mergulharmos no mundo subatómico começámos a vislumbrar algo nunca antes previsto, que a matéria não é nada daquilo que pensávamos ser. Se por um lado algumas coisas começaram a ter uma explicação mais consentânea com a verdade, por outro lado surgiram outras coisas que viraram do avesso todas as nossas anteriores concepções. Descobriu-se, por exemplo, que ainda que o mundo subatómico seja um imenso vazio, esse vazio é pura ilusão. Na verdade está repleto de energia tão poderosa que, se devidamente utilizada e manipulada, poderia produzir vários “big bangs” idênticos àquele que, supostamente, está na origem do nosso universo.
A Física Quântica é uma disciplina criada por gente louca que tenta compreender o que verdadeiramente se passa com a matéria. Só gente louca pode enveredar por caminhos pouco ortodoxos, estranhos e impensáveis para os padrões tradicionais de pesquisa. Mas essa gente louca abriu-nos horizontes tão vastos que, a ciência daqui para o futuro, já nada terá a ver com a ciência do passado.
Durante séculos acreditámos que a matéria era algo estável, firme e previsível. As leis de Newton vieram dar-nos a certeza de que era assim, demonstrando a razão porque determinadas coisas aconteciam ou existiam. Ficámos sossegados quando percebemos a simplicidade aparente das leis de gravitação universal. Tudo estava explicado. A Física, entendida através da Matemática, era uma ciência exacta, não havia como contestá-la.
O primeiro grande abanão a este primado da ciência foi dado por um físico, também ele meio louco, Einstein, através da sua Teoria da Relatividade e da sua concepção de curvaturas do espaço-tempo, para explicar a força da gravidade. As suas concepções acerca do universo foram absolutamente revolucionárias, tanto que os físicos actuais continuam a debruçar-se sobre as suas ideias. Mas mesmo Einstein se manteve fiel às leis cartesianas de previsibilidade da matéria.
A primeira noção da formidável quantidade de energia contida numa pequeníssima porção de matéria foi-nos dada pelas bombas atómicas, mais propriamente chamadas bombas nucleares, uma vez que é através da cisão do núcleo de um átomo que se processa a tremenda libertação de energia.
Como disse atrás, a matéria não é o que, durante muito tempo pensávamos que fosse. Os átomos e as partículas subatómicas ocupam um espaço insignificante, tornando esse mundo que constitui todas as formas de matéria conhecidas, um enorme vazio, mas um vazio pleno de energia. Fenómenos estranhos acontecem nesse meio: partículas desaparecem e ninguém sabe para onde vão; depois aparecem de novo e ninguém sabe de onde vêm.
Quando olhamos para uma peça de matéria, seja ela qual for, madeira, plástico, metal, pensamos que nada mais se passa senão uma associação de átomos reunidos em determinada proporção, constituindo a estrutura da peça que vemos. No entanto, na sua estrutura atómica, que é um enorme vazio, fenómenos misteriosos se passam, como aquele do aparecimento e desaparecimento das partículas. Mais complicado ainda, pela nossa simples observação influenciamos fenómenos no interior dessa peça.
Se não houvesse nenhuma ligação entre o que pensamos, idealizamos ou visualizamos, e a estrutura daquele objecto, a nossa observação seria absolutamente inócua, nada aconteceria. Mas não é isso o que sucede. Daí que temas como criação mental, ou de que nós somos co-criadores com o Criador, ou ainda a afirmação evangélica de que a fé pode mover montanhas, ganham um novo sentido.
Da mesma forma que podemos influenciar o que se passa no interior de um objecto, também o podemos fazer em relação a acontecimentos. Uma das experiências mais estranhas que me aconteceram pode ter a ver com essa capacidade que muito raramente usamos, porque a desconhecemos ou, porque não sabemos utilizá-la. Estava com o meu carro parado junto dos semáforos do cruzamento da avenida com a rua que passa defronte da Universidade Católica em Lisboa, quando aparece a luz verde para voltar à esquerda. Quando um carro a meu lado arrancou para voltar à esquerda, vi uma mota em grande velocidade, na outra faixa, em sentido contrário. Instantaneamente vi que não havia forma de evitar o acidente mas, ao mesmo tempo, visualizei a mota a passar pelo carro, sem lhe tocar. Não houve acidente nenhum, a mota passou a centímetros à frente do carro que, por qualquer razão desconhecida, abrandou a sua marcha. O condutor do carro apanhou o maior susto e parou logo a seguir, saindo do carro para se acalmar. Fui conversar com ele, que me disse só ter visto a mota quando ela passara à sua frente.
Alguém religioso logo diria: milagre! E daria graças a Deus por ter evitado uma pequena catástrofe. Mas julgo que no caso, como em muitos outros que acontecem, não houve qualquer intervenção divina. Mas também não houve acaso, nem sorte, coisas que não existem mas podem ser a conclusão de uma mente cartesiana, que não vê nada mais além da visão mecanicista dos acontecimentos. Terei influenciado aquele acontecimento, numa fracção de décimos de segundo e evitado, assim, uma tragédia? Não sei. A Física Quântica diz-me que é provável.
Olhamos para um objecto e pensamos que é sólido. Vemo-lo nas suas linhas bem definidas e podemos sentir pelo tacto a sua dureza, a sua textura e o seu feitio. Pura ilusão. Nada é sólido. Até os átomos que formam esse objecto não passam de pontinhos perdidos no enorme vazio, cujos núcleos cercados de nuvens de electrões e outras partículas podem desaparecer e reaparecer. Na verdade a matéria não possui substância. Segundo a Física Quântica, a única coisa sólida que existe nesse objecto desprovido de substância, é um pensamento, uma informação concentrada. As coisas não são feitas de substância, mas de ideias e conceitos os quais, por sua vez, são formados por ideias. Difícil, não?
Quando alguém afirmou que o universo não é mais do que o resultado de um pensamento de Deus, não estava longe da verdade. Quando um astrónomo chinês escreveu um livro a que deu o título “O Universo que nós criámos”, também não estava enganado. Estas duas concepções são aparentemente semelhantes e dizem a mesma coisa. Mas não são. Entre as duas, prefiro a do astrónomo chinês, pois, a ideia de Deus, da forma como é vulgarmente entendida e divulgada, é uma concepção puramente humana – nós criámos Deus à nossa imagem e semelhança. Quer isto dizer que fomos nós, seres humanos, que criámos tudo? Certamente que não, mas que por intermédio da nossa mente fazemos parte do processo criador.
Que a matéria não seja mais do que o resultado de pensamentos concentrados, é uma ideia extremamente revolucionária, que nos obriga a despirmo-nos das velhas vestes cartesianas e vestirmos as novas, onde somos participantes efectivos e responsáveis por tudo quanto é criado e pelos acontecimentos que, de alguma forma ainda desconhecida, influenciamos de maneira irreversível.
Quando se diz que não há caminhos predeterminados, que somos nós que construímos o nosso próprio caminho, acrescentaria que, não só construímos o nosso caminho, como ajudamos a construir o caminho de todos e de tudo quanto existe. Ninguém é inocente, somos todos responsáveis pelo mundo em que vivemos.
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