Filosoficamente, conhecimento é a forma de entendimento que representa o acto de conhecer implicitamente contido na coisa conhecida. De acordo com Platão, conhecimento é a crença verdadeira e justificada. Já Aristóteles dividia o conhecimento em três áreas: científica, prática e técnica. Para alguns o conhecimento é o acto ou actividade de conhecer, realizado por meio da razão ou da experiência. Ao longo dos séculos, muitos autores se expressaram acerca do que entendiam por conhecimento.
Apesar de todas as tentativas para se definir o que é o conhecimento, parece que, afinal, ninguém sabe o que é. Há coisas que são muito difíceis de definir, ou mesmo impossíveis. Para mim conhecimento é a percepção de algo de que tomo consciência, independentemente de se tratar de algo verdadeiro ou falso, porque aqui, nas definições, entra muito da subjectividade inerente a todo o ser humano. É mais fácil tomar conhecimento ou tomar consciência de algo em que se acredita, e aqui entram os aspectos das crenças, do que numa coisa que, à partida pensamos ser falsa, porque não faz parte daquilo em que acreditamos. Cada um tem a sua própria percepção da realidade, de acordo com as suas experiências e aquilo em que acredita. Por isso se diz que a verdade absoluta não existe, que existe apenas a verdade de cada um.
Costuma-se dizer que quem conta um conto acrescenta um ponto. Isto quer dizer que cada um, ao tomar conhecimento de determinada ocorrência, seja por via escrita, oral ou presencial, ao passar adiante a informação acrescenta-lhe algo que vem da sua própria subjectividade. Tive há muitos anos uma experiência que demonstra isto de forma bem clara. Frequentava nessa altura um curso de técnica de ensino e um dos professores resolveu fazer uma experiência. Colocou todos fora da sala, menos um dos alunos, e fechou a porta. Na parede desdobrou uma tapeçaria representando uma cena da Idade Média e pediu ao aluno para olhar atentamente para a tapeçaria e os seus pormenores. Passados uns cinco minutos dobrou de novo a tapeçaria e chamou um dos alunos que estava fora da sala. Pediu àquele que tinha visto a tapeçaria para contar ao aluno que tinha chamado os pormenores do que tinha visto. Este segundo aluno, depois de receber a informação do primeiro, teria que a transmitir ao próximo. Assim, sucessivamente, foram entrando os alunos e recebendo a informação do que entrara anteriormente. Depois do último ter entrado e recebido a informação do penúltimo, o professor desdobrou a tapeçaria para todos poderem ver. A gargalhada foi geral, a descrição feita pelo penúltimo aluno não correspondia minimamente ao que estava na tapeçaria.
Um dia destes alguém me perguntou: já parou para pensar do que é que os pensamentos são feitos? Fiquei mudo e quieto, pois saber responder a isso é quase o mesmo que saber sobre a verdadeira natureza de Deus. Todos conhecemos os pensamentos, mas não sabemos nada, rigorosamente, sobre a sua verdadeira natureza. Podem ser bons, podem ser maus e podem ser perigosos.
Os pensamentos podem ser perigosos porque podem criar noções erradas e levar os outros a acreditar nelas. Os pensamentos geram suposições, e as pessoas são levadas a acreditar que essas suposições são verdadeiras. Basta olharmos para a História e vermos o que tem acontecido. Durante séculos alguém supôs que o mundo era plano, logo, quem entendesse que era redondo corria sérios riscos de ir parar a uma fogueira da Inquisição. No século XIX, alguém do alto da sua enorme sabedoria, definiu que a velocidade máxima que o homem podia atingir era a velocidade do cavalo em corrida, qualquer coisa como cerca de sessenta quilómetros por hora. Em parte isto até é verdade, acima daquela velocidade os riscos são maiores, mas não é por causa da velocidade, mas devido a acidentes que possam ocorrer. Poderíamos dar numerosos exemplos em como as falsas suposições originadas em pensamentos nos têm enganado ao longo da História.
Talvez a mais notável descoberta do século XX, para além da Teoria da Relatividade de Einstein e da sua fórmula mágica, E=mc2, que pode atirar-nos a todos para o paraíso, o purgatório ou o inferno, para onde cada um se sentir melhor, foi a descoberta da mecânica quântica, tida inicialmente como um desvario de alguns cientistas loucos. A mecânica quântica veio revolucionar, voltar completamente do avesso muitas concepções que tínhamos como certas e que faziam parte do conhecimento geral.
Tanto a religião como as várias formas de materialismo nos têm tirado a noção de nos sentirmos responsáveis. Qualquer coisa que aconteça é porque Deus assim o quis ou, de maneira mais chã, a responsabilidade é do governo, do egoísmo da sociedade, e por aí vai. Nós não nos sentimos responsáveis por nada, os responsáveis são sempre os outros ou qualquer instituição de costas bem largas para levar com toda a frustração que sentimos e todo o nosso desamor. Mas a mecânica quântica diz-nos: alto! Você é responsável! E não nos dá nenhuma solução ou resposta reconfortante. Diz-nos apenas: quer mudar as coisas? Mude-se a si mesmo. E diz-nos mais; o mundo é muito grande e cheio de mistérios.
Que mistérios são estes? O que julgamos conhecer (saber) é real ou pura ilusão? Vivemos num mundo virtual ou aquilo que vemos e tocamos é real?
Durante toda a vida fomos levados a acreditar que tudo acontecia fora de nós e que nada tinha a ver como que se passava no nosso interior. A mecânica quântica ensina-nos o contrário. Ela diz que o que se passa dentro de nós é que vai criar o que acontece fora, portanto, somos sempre responsáveis por tudo quanto aconteça ao nosso redor.
Uma das coisas mais estranhas é o que se passa com os nossos olhos e o nosso cérebro. Quem é que vê, o cérebro ou os olhos? Se examinarmos o cérebro de uma pessoa a olhar determinados objectos, verificamos que uma zona anterior do cérebro é activada. Mas se pedirmos a essa pessoa para fechar os olhos e tentar lembrar-se dos objectos, a mesma zona do cérebro é activada. Isto quer dizer que quem vê, realmente, é o cérebro, que os olhos não passam de lentes que transmitem determinadas impressões ao cérebro. O cérebro não consegue estabelecer uma diferença entre o que vê e o que se lembra. Isto passa-se com o que aconteceu recentemente ou com algo que aconteceu no passado, ao visualizarmos uma cena do passado activamos os mesmos neurónios que viram a cena.
Todas as nossas lembranças passadas compõem aquilo a que podemos chamar conhecimento. Resta saber se esse conhecimento corresponde a uma realidade, ou se é apenas ilusão induzida pelo que o cérebro conseguiu reter. O cérebro processa muito mais informação do que aquela de que tomamos conhecimento. Processa cerca de 400 mil milhões de bits por segundo, mas somente nos damos conta de 2.000 bits. A diferença é assustadora. Isto quer dizer que o cérebro sabe mais do que nós?
A constatação de que o cérebro processa um volume incomensuravelmente maior do que aquilo de que tomamos conhecimento pode levar-nos a concluir que os chamados fenómenos paranormais, a intuição e até a inspiração, resultam dessa camada de informação que nos é desconhecida. No entanto, o cérebro talvez tenha restrições em relação ao que os olhos vêem. Como uma câmara fotográfica, os olhos vêem mais do que aquilo que o cérebro regista, pois o cérebro só regista o que já é conhecido, que já é do seu conhecimento.
Isto é um paradoxo, sem dúvida. Por um lado o cérebro recebe muito mais informação do que aquela de que tomamos consciência, por outro lado há uma inibição em registar o que não conhece. O que se passa é que somos presas do que está impresso na nossa memória, qualquer coisa estranha nunca antes vista nem imaginada, não tem lugar entre o enorme aglomerado de informação que constitui o nosso conhecimento. A propósito disto há aquela história que já contei numa das crónicas anteriores, que não sei se é verdadeira, mas que ilustra o funcionamento dos nossos olhos e do nosso cérebro. Quando Colombo chegou às Caraíbas nenhum nativo conseguia enxergar as caravelas na linha do horizonte. A razão de não verem os navios deve-se a eles não constarem do seu conhecimento. Um xamã notou um movimento estranho nas águas e começou a imaginar o que provocaria aquele movimento. Só ao fim de alguns dias de constante observação é que começou a ver os navios e, nessa altura, descreve o que vê para os outros membros da tribo. Como todos acreditavam nele, começaram também a enxergar os barcos.
Portanto, sem nos darmos conta estamos limitados ao que o cérebro capta e ao que armazena em memória. O cérebro não distingue o que se passa dentro de nós do que se passa no exterior. O conhecimento é assim um conjunto de percepções que formam um mundo virtual único para cada indivíduo.
Os costumes, os hábitos da sociedade, formam padrões de associação que vão condicionar a actividade do nosso cérebro, seja o que vemos e aprendemos desde a mais tenra idade até às experiências adultas. Dir-se-ia assim que todos teriam então o mesmo conjunto de percepções e, neste caso, estaríamos a lidar com a realidade. Isto só é verdadeiro em parte, porque cada indivíduo acrescenta as suas vivências, os seus estudos, as suas observações, as suas crenças, formando esse mundo virtual que é o seu conhecimento.
Desta forma o conhecimento não é realidade nem ilusão, é antes a mistura das duas coisas pois, se existe uma certa percepção da realidade, existe também uma grande carga a que podemos chamar imaginação ou ilusão. Condicionados pelo mundo exterior e pelo armazenamento interior de sensações e percepções, acabamos por não saber distinguir a realidade da ilusão.
Como tenho afirmado em várias crónicas que escrevi, não estamos sozinhos no universo, estamos ligados a todos e a tudo através daquilo que chamo de mar cósmico. Sendo assim, a consciência colectiva também está imersa nesse misto de realidade e ilusão, influenciando tudo quanto existe no universo.
1 comentário:
Bastante perturbador !! Mas excelente :D
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